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O registro da Educação Profissional no Brasil remonta ao início do século XX, tendo como objetivo um foco mais assistencialista do que uma formação profissional voltada para o mercado de trabalho. Se de um lado, o processo de desenvolvimento da indústria nacional ainda não demandava grande quantidade de trabalhadores qualificados, por outro lado a educação profissional era vista como alternativa ao problema da ociosidade, que geravam altos índices de criminalidade e impediam o progresso do país. Neste contexto, segundo Kuenzer (2007, p. 27), o Estado brasileiro em 23 de setembro de 1909, assume a educação profissional e através do Decreto nº 7.566/1909, criou em diferentes unidades federativas, sob a jurisdição do Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, dezenove “Escolas de Aprendizes Artífices”, destinadas ao ensino profissional, primário e gratuito. O público alvo das primeiras escolas era formado por crianças, jovens e adultos que viviam à margem da sociedade, destinada ao que o governo chamava à época de “desafortunados”. De acordo com Fonseca (1961, p. 68), “habitou-se o povo de nossa terra a ver aquela forma de ensino como destinada somente a elementos das mais baixas categorias sociais”.

O processo de industrialização do Brasil ganhou impulso a partir da década de 1930, influenciando a Educação Profissional que passou a integrar as discussões, ganhando pauta relevante nas medidas governamentais. As décadas de 1930 e 1940 foram um período representativo para o desenvolvimento da educação nacional, quando essa ganha organicidade e oferece condições de expansão de sua oferta. As medidas desse período, contudo, não implicaram uma ruptura com a antiga forma dualista de conceber a educação, mantendo o caráter assistencialista da educação profissional (FREITAG, 1977). Segundo Wittaczik (2008),

a partir dos anos de 1940 o governo reestruturou a formação profissional e a qualificação de trabalhadores com a implantação do chamado “Sistema S”, que contribuiria para o fortalecimento e desenvolvimento da Educação Profissional, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, criado em 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, o Serviço Social do Comércio – SESC, e o Serviço Social da Indústria – SESI, todos criados em 1946, acompanhando o processo de evolução da industrialização brasileira com a entrada de capital internacional.

Segundo o Ministério da Educação (Brasil, 2009, p. 4), num texto comemorativo ao centenário da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica - RFEPT, destaca as mudanças provocadas pela “Reforma de Capanema” em 1941, que remodelou todo o ensino no país, e tinha como principais pontos:

O ensino profissional passou a ser considerado de nível médio; o ingresso nas escolas industriais passou a depender de exames de admissão; os cursos foram divididos em dois níveis, correspondentes aos dois ciclos do novo ensino médio: o primeiro compreendia os cursos básico industrial, artesanal, de aprendizagem e de mestria. O segundo ciclo correspondia ao curso técnico industrial, com três anos de duração e mais um de estágio supervisionado na indústria, e compreendendo várias especialidades. (BRASIL, 2009, p. 4).

A partir de 1960, a chegada de uma parcela significativa da população ao ensino secundário provoca forte pressão dos estudantes por acesso ao Ensino Superior. A lei 4.024/61 torna-se um instrumento importante neste processo de evolução da Educação Profissional, permitindo que os alunos concluintes de cursos técnicos pudessem prestar avaliação para ingressos em cursos superiores relativo à sua área de formação técnica. Um avanço na tentativa de unificação desses dois segmentos do sistema educacional.

A flexibilização e equiparação legal entre os diferentes ramos do ensino profissional, e entre este e o ensino secundário, para fins de ingresso nos cursos superiores, embora, na prática, continuassem a existir dois tipos de ensino com públicos diferenciados (FREITAG, 1977, p. 51).

A década de 1980 é conhecida como a “década perdida” devido ao acirramento de uma crise mundial que provocou profunda estagnação econômica na América Latina. No Brasil, assiste-se ao início da chamada Reforma do Estado, que se baseia no sucateamento e na

posterior privatização de instituições estatais, bem como na terceirização de serviços públicos essenciais. Para Freire (2006), essas privatizações e desnacionalização das grandes empresas trouxeram a modernização tecnológica e a terceirização de atividades secundárias, provocando o aumento do desemprego.

Cabe então à Educação Profissional formar trabalhadores estáveis, de quem se passa a exigir alto grau de abstração, capacidade para resolver problemas e de trabalhar em equipe. Todo esse processo, embora se dê em grau e velocidade diferenciados, contribui para se criar um cenário extremante fértil para se pensar em reformas educacionais. Segundo Tavares (2012), nos anos de 1990 o governo realiza mudanças profundas na legislação educacional que regulamenta o ensino profissionalizante, com objetivos claros de reduzir os gastos públicos e favorecer o empresariado deste ramo de ensino pela Rede privada (TAVARES, 2012, p. 7).

A reforma da educação processada no Brasil a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996, alterada pela Lei 11.741/2008 que veio para estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. No que diz respeito à Educação Profissional, são três os níveis de ensino definidos na lei: o Básico: o Técnico e o Tecnológico.

O nível básico destina-se à qualificação, à requalificação e à reprofissionalização de trabalhadores, independentemente de escolaridade prévia. O nível técnico destina-se a proporcionar habilitação profissional de Técnico de Nível Médio a alunos matriculados ou egressos do ensino médio, podendo ser oferecido de forma concomitante ou sequencial a este. Abrange, também, as respectivas especializações e qualificações técnicas. O nível tecnológico corresponde a cursos de nível superior, destinados à formação essencialmente vinculada à aplicação técnico-científica do conhecimento. Segundo a LDB, sua especificidade consiste no

caráter acentuadamente técnico da formação oferecida, distinguindo-se do bacharelado, que possui caráter mais acadêmico.

Todas essas mudanças contribuíram para o reconhecimento do Ensino Profissional no Brasil, consolidando esta modalidade de educação na formação e qualificação de jovens e adultos para o mercado de trabalho, principalmente em um momento em que o país necessita de mão de obra qualificada diante da competitividade e globalização da economia mundial.

Diante da sua importância, no início do século XXI o Estado Brasileiro assume uma postura mais progressista no campo da educação, sobretudo na Educação Profissional. Neste sentido, extingue-se o dispositivo legal que proibia a instalação de novas Escolas Técnicas mantidas pela União e passa a desenvolver um programa de expansão das Escolas Técnicas a partir da criação dos Institutos Federais de Educação. Assim, colaborando com esta perspectiva, a partir do sancionamento da lei 11.892/2008, 31 Centros Federais de Educação Tecnológica - Cefets, 75 Unidades Descentralizadas de Ensino - Uneds, 39 Escolas Agrotécnicas, sete Escolas Técnicas Federais e oito Escolas Vinculadas a universidades deixaram de existir para formar a Rede dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Essa Rede é formada ainda por instituições que não aderiram aos Institutos Federais, mas também oferecem educação profissional em todos os níveis. São dois CEFETs, 25 escolas vinculadas as Universidades, o Colégio Pedro II e uma Universidade Tecnológica.

Entre as finalidades e características dos Institutos Federais de Educação elencadas no referido normativo de constituição dos Institutos Federais Lei 11.892/2008, está a de ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional.

De 1909 até 2002 foram constituídas 140 unidades escolares, porém a partir de 2003 houve um incremento na abertura de novas escolas técnicas. Na primeira década do século XXI,

o Ministério da Educação entregou à população 214 escolas previstas no plano de expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Ciência e Tecnológica. Além disso, outras escolas foram federalizadas.

Atualmente integram a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – RFEPCT, 38 Institutos Federais, dois Centros Federais de Educação Tecnológica – CEFETs, o Colégio Pedro II e 23 escolas técnicas vinculadas às universidades federais. Segundo o MEC (2016), entre 2003 e 2016, o Ministério concretizou a construção de mais de 500 novas unidades referentes ao plano de expansão da educação profissional, totalizando 644 campi em funcionamento, como demonstram as Figuras 4 e 5.

Figura 4 - Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica - Em

Unidades

Fonte: Site da Rede Federal de Educação. http://institutofederal.mec.gov.br/expansao-da-rede-federal (2016).

Figura 5 - Quantidade de Municípios atendidos com a expansão da Rede Federal de Educação

Profissional, Científica e Tecnológica

Fonte: Fonte: Site da Rede Federal de Educação. http://institutofederal.mec.gov.br/expansao-da-rede-federal

(2016).

Ao longo dos últimos 100 anos as políticas públicas da Educação Profissional foram adequando-se às novas demandas apresentadas pela sociedade, influenciada pela economia e política de sua respectiva época. Neste processo, observa-se que a educação profissional no Brasil tem um longo processo com histórico de idas e vindas, de avanços e recuos, e por muito tempo andou as margens da educação formal. Atualmente, em virtude da rápida expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, a educação profissional ressurge como política pública de salvaguarda para o desenvolvimento da nação.

O Quadro 12, abaixo, sintetiza os principais acontecimentos de cada período histórico da Educação Profissional no Brasil, partindo dos primórdios da Educação Profissional no início do século XX até a primeira década do século XXI, destacando os normativos que cooperaram na consolidação desta modalidade de educação.

Quadro 12 - Linha do Tempo da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

Tecnológica

Ano Linha do Tempo da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica

1909

O presidente Nilo Peçanha assina o Decreto 7.566 em 23 de setembro, criando inicialmente 19 “Escolas de Aprendizes Artífices” subordinado ao Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio.

1927 O Congresso Nacional sanciona o Projeto de Fidélis Reis, que prevê o oferecimento obrigatório do ensino profissional no país. 1930 É criado o Ministério da Educação e Saúde Pública que passa a supervisionar as Escolas de Aprendizes e Artífices, através da Inspetoria do Ensino Profissional Técnico.

1937 Promulgada a nova Constituição Brasileira que trata pela primeira vez do ensino técnico, profissional e industrial. É assinada a Lei 378, que transforma as Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus Industriais, destinados ao ensino profissional, de todos os ramos e graus.

1941

Vigora uma série de leis, conhecidas como a “Reforma Capanema”, que remodelam todo o ensino no país. Os principais pontos:

- O ensino profissional passa a ser considerado de nível médio;

- O ingresso nas escolas industriais passa a depender de exames de admissão;

- Os cursos são divididos em dois níveis: curso básico industrial, artesanal, de aprendizagem e de mestria, e o segundo, curso técnico industrial.

1942 O Decreto 4.127, de 25 de fevereiro, transforma os Liceus Industriais em Escolas Industriais e Técnicas, passando a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do secundário.

1944 A participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial e o consequente empréstimo financeiro dos Estados Unidos ao Brasil no Governo Getúlio impulsionam a industrialização brasileira.

1956-

1961 O governo de Juscelino Kubitschek marca o aprofundamento da relação entre Estado e economia. O objetivo é formar profissionais orientados para as metas de desenvolvimento do país. 1959 As Escolas Industriais e Técnicas são transformadas em autarquias com o nome de Escolas Técnicas Federais, com autonomia didática e de gestão.

1961 O ensino profissional é equiparado ao ensino acadêmico com a promulgação da Lei 4.024 que fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O período é marcado por profundas mudanças na política de educação profissional.

1967 Decreto 60.731 transfere as Fazendas Modelos do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação e Cultura que passam a funcionar como escolas agrícolas.

1971

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira torna técnico-profissional todo currículo do segundo grau compulsoriamente. Um novo paradigma se estabelece: formar técnicos sob o regime da urgência.

1978 A Lei 6545 transforma três Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro) em Centros Federais de Educação Tecnológica.

1980- 1990

A globalização, nova configuração da economia mundial, também atinge o Brasil. O cenário é de profundas e polêmicas mudanças: a intensificação da aplicação da tecnologia se associa a uma nova configuração dos processos de produção.

1994

A Lei 8.948, de 8 de dezembro:

- Institui o Sistema Nacional de Educação Tecnológica, transformando, gradativamente, as ETFs e as EAFs em CEFETs;

- A expansão da oferta da educação profissional somente ocorrerá em parceria com Estados, Municípios e Distrito Federal, setor produtivo ou organizações não governamentais, que serão responsáveis pela manutenção e gestão dos novos estabelecimentos de ensino.

1996 Em 20 de novembro, a Lei 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB) dispõe sobre a Educação Profissional num capítulo próprio. 1997 O Decreto 2.208 regulamenta a educação profissional e cria o Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep). 1999 Retoma-se o processo de transformação das Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs). 2004 O Decreto 5.154 permite a integração do ensino técnico de nível médio ao ensino médio.

2005 Institui-se, pela Lei 11.195, que a expansão da oferta da educação profissional preferencialmente ocorrerá em parceria com Estados, Municípios e Distrito Federal, setor produtivo ou organizações não governamentais; lançada a primeira fase do Plano de Expansão da Rede Federal, com a construção de

60 novas unidades de ensino pelo Governo Federal. O CEFET Paraná passa a ser Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

2006

O Decreto 5.773 trata sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino.

É instituído, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação de Jovens e Adultos.

É lançado o Catálogo Nacional dos Cursos Superiores de Tecnologia.

2007 Lançada a segunda fase do Plano de Expansão da Rede Federal. Até 2010 serão 354 unidades. O Decreto 6.302 institui o Programa Brasil Profissionalizado. É lançado o Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos.

2008 Articulação para criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. 2009 Centenário da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Fonte: Site MEC. http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/centenario/linha.pdf (2016).