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X- Julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;" (grifou-se).

6 A Divisão em Correntes

6.2 A Presença dos Fundamentos nos Votos dos Ministros

6.3.4 Argumentos Históricos

6.3.5.1 A Redistribuição e a Prorrogação de Competências

A aplicação dos critérios de que os parlamentares federais devem ser julgados “no cargo” e “em função do cargo” implica redistribuir as competências entre os próprios órgãos do judiciário para saber qual deles deverá julgar um político denunciado. No caso da AP 937 essa necessidade se verificou a partir do entendimento de Barroso de que o crime cometido pelo

. 73 imputado não preencheria os critérios necessários à aplicação da competência do foro.

O ministro generaliza a ideia de que nenhuma competência originária do STF prevista na Constituição deve ser lida de maneira totalmente literal. Portanto, não atendidos os critérios que legitimam a fixação de competências apontadas pelo próprio Supremo, outros órgãos do Poder Judiciário serão responsáveis pelo julgamento desses ex-políticos, ou políticos que cometerem crimes não relacionados ao cargo, como uma lesão corporal em um contexto familiar, por exemplo.

No tocante à prorrogação de competências, em regra o STF não deveria ter iniciativa processual para esse entendimento, segundo os ministros da corrente vencedora. Entretanto, diante dos valores da racionalidade e da efetividade da prestação jurisdicional postas em alguns precedentes93 tal ideia

que vedaria a priori essa ação pelo STF é relativizada.

Por essa razão, ainda que caracterize matéria de direito estrito, o STF já se inclinou em sentido diverso sobre a prorrogação de competências. E nessas ocasiões, acabou auto perpetuando suas competências, sob a justificativa de que o processo deveria ser mais célere. Além disso, segundo Barroso, não faria sentido uma revisão constitucional ampla de conflitos reiterados que dados atores venham a fazer, neste caso de crimes idênticos feitos por parlamentares, ou conforme outros casos da Corte, como aqueles conflitos que se dão entre entes federativos e que não possam abalar o sistema federativo94,

e os problemas derivados de magistrados e servidores95, etc. Diante desses

93 A seguir, os precedentes serão mencionados: Cabimento de julgamento de ADI’s apenas para leis editadas posteriormente à Constituição; A competência do STF restará apenas aos casos de conflitos que envolvam o pacto federativo nos conflitos entre União e Estados; A competência do STF em julgar o CNJ, restará apenas no julgamento de atos positivos que o Conselho fizer, e sem possibilidade recursal; A competência do STF em julgar magistrados será mantida, desde que não envolva conflitos com outros servidores;

94 Pode-se pensar em um conflito que envolva atritos de competência tributária por exemplo, em que dois entes da federação discutem a legitimidade pela cobrança de mesma exação.

95 Nesse caso, não seriam problemas tão graves quanto o de magistrados contra magistrados, e assim dispensariam uma atuação do STF podendo ser resolvidas e instâncias inferiores.

. 74 casos também o STF reduziu suas competências originárias transferindo-as para instâncias inferiores.

Segundo o relator, o próprio cancelamento da súmula 39496 importou na

caracterização da competência restritiva. Logo, se em outro momento poderia se entender que a competência originária seria a regra, a súmula a introduz como exceção. Esse processo de redução de competências, contudo, não pode ser entendido como pioneiro.

Importa analisar, mais do que essas hipóteses de restrição de competências, que o STF também já realizou a prorrogação de competências no caso “Natan Donandon” – AP 396. Nesse julgado, um deputado que renunciou ao cargo pouco antes de ser julgado no plenário, com vistas a tentar fraudar a jurisdição, com o declínio de competências, para assim, ganhar mais tempo e impulsionar o prazo prescricional de sua prática delitiva não obteve êxito estratégico. Nesse caso, a relatora Cármen trouxe a tese da “perpetuação da jurisdição”, evitando a prescrição e a impunidade97.

Nesse sentido, a “perpetuação de competências” sinaliza um marco temporal objetivo que não permite a manipulação de jurisdições, nem a discricionariedade dos tribunais no manejo do “declínio de competências”. Resta o argumento de que a perpetuação de competências garante a identidade física do juiz, regra legal do parágrafo 2º do artigo 399 do CPP.98

Outra questão é que para o relator Barroso o foro especial tem como um dos maiores gargalos a questão da competência. Isso porque a maioria dos processos por foro inicia-se em outras instâncias judiciais e caem no STF, sendo apenas 5,94% a amostra de inquéritos iniciados na Corte que seguem como ações penais originárias para o STF.

96 “Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial

por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício.”

97 Outro exemplo que o relator traz sobre a prorrogação de competências é a prática de tribunais de justiça a que usam dessa ferramenta processual logo no início do julgamento, para evitar essas intempéries. A perpetuação de competências também encontra outros precedentes, segundo o relator, como a ação Penal 470 em que o Supremo decidiu por não desmembrar a ação, porque seria prejudicial à elucidação dos fatos e a ação penal 634, em que se entendeu que a partir do primeiro voto em sede de apelação criminal nos tribunais prorroga-se as competências.

. 75 Segundo Barroso, essa questão evidencia duas anomalias na atividade jurisdicional do STF: primeiro que, ao invés do órgão ser um tribunal de questões constitucionais, acaba tendo preponderância como um tribunal recursal, e segundo, mais de 90% de processos iniciados no órgão sofrem com declínio de competências e não com a resolução do processo no órgão.

Outro problema que a ausência da prorrogação de competências no STF gerava era a aplicação da literalidade do artigo 32 parágrafo 2º da EC 01/69, que prescrevia que “nos crimes comuns, os deputados e senadores serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”. Como Fachin relembra, o entendimento da Corte era o de que a competência do STF nessa questão se deslocava ex tunc, e por consequência, todas as decisões anteriores de outros órgãos judiciais eram nulificadas.

Entretanto, houve uma mudança nesse entendimento a partir do inquérito 571, uma vez que, de acordo com o ministro, atos anteriores ao deslocamento de competência ao Supremo seriam válidos no estado em que o processo se encontra, a fim de ressignificar o procedimento do declínio de competências.