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X- Julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;" (grifou-se).

6 A Divisão em Correntes

6.4 Argumentos da Corrente Vencida 1 Princípios da Igualdade e República

6.4.6 Desenho institucional e Opinião Pública

6.4.6.1 A Busca Pela Honra no STF

Nesse ponto, a questão do desenho institucional se desloca para o esforço dos ministros em respaldar suas próprias atividades para o controle social realizado pela mídia. Isso porque se, de um lado as outras categorias demonstraram que uma das principais preocupações do STF esteve no acervo processual tornar-se maior ou menor, em virtude das alterações do foro, sobretudo a de gestão processual, de outro não faltaram argumentos para lidar com a opinião pública.

A diferença é que enquanto a corrente vencedora disse que o sentimento de impunidade advindo do controle social acabaria com a restrição de competências, a corrente vencida buscou refutar a ideia de que a alteração de competências implicaria na retirada de todos os problemas de corrupção e impunidade no país. Além disso, os ministros também afirmaram que esses dois problemas não são atribuíveis aos trabalhos dos ministros do STF. Por fim, eles apontaram erros da pesquisa acadêmica da FGV-Rio.

Quanto ao primeiro, Alexandre de Moraes diz que é necessário que a Corte demonstre à opinião popular que a restrição do foro, nos moldes da corrente vencida, não gera a prisão temporária ou preventiva de membros políticos, como ocorre com outros réus, ou seja, não reproduz necessariamente a pretensão de maior execução de penas por ilícitos. Isso porque a previsão do foro especial não se confunde com a imunidade material, por estar limitada a aspectos processuais.

No que se refere à defesa da “honra” dos trabalhos do judiciário, Dias Toffoli ocupa seu voto para fazer um reconhecimento do bom trabalho dos

173 Com relação a prerrogativa de foro a outros o cargos, o ministro cita a importância do foro aos prefeitos municipais. Isso porque, segundo ele, a fixação de competência para eventuais crimes praticados no TJ auxilia a retirada das influências negativas locais. Mais que isso, o foro não permite a efervescência de “paixões políticas” por parte de promotores que podem concorrer às prefeituras locais. A última consideração é que as instâncias inferiores estão mais sujeitas às pressões populares, políticas e midiáticas que podem alterar decisões, ameaçando a própria democracia.

. 124 ministros do passado e para justificar que em diversas ações nas quais ele próprio atuou o órgão não tem agido a favor da impunidade. O que o ministro pretende dizer com isso é que não se pode gerar uma má memória dos ministros do passado quanto ao julgamento de parlamentares federais.

Isso porque, de acordo com ele, desde a Constituição do império até a emenda 35/01, havia a necessidade de autorização legislativa para julgamento dos parlamentares pelo STF, o que gerava por si, limitações processuais à atuação do STF. Porém, o ministro aponta que essas competências foram expandidas na Corte, e, desse modo, ela se tornou o órgão mais transparente e imparcial de todo o poder judiciário174. Nesse sentido não cabe a opinião

pública dizer que a responsabilização dos políticos no STF estaria de alguma forma comprometida.

Por último, a corrente vencida ao tratar da pesquisa da FGV diz que ela ofende a imagem institucional do Supremo Tribunal Federal, além de iludir a população. O ministro Gilmar Mendes se destaca nesses argumentos, ao dizer que a imprensa não auxilia no combate a corrupção, pois endereça todo ataque à competência do foro e desconsidera críticas relevantes aos privilégios inconstitucionais de juízes e membros do MP.

O controle social da mídia nas competências do judiciário em julgar os políticos também é ineficiente, segundo o ministro, porque a imprensa é concentrada em poucos estados da federação. Isso faz crer que se o Supremo restringir as competências do artigo 102,I,b os órgãos de comunicação serão seletivos na investigação dos políticos denunciados. Assim, é possível perceber como a mídia influenciou o julgamento da AP 937 no momento da ação e como a própria escolha deste ministro em se comportar de modo desfavorável à alteração de competências do STF é influenciada por possíveis comportamentos da imprensa.

174 Nesse ponto o ministro reforça a ideia da figura estrutural do pêndulo da “centralização” e “descentralização”. Ela consiste em dizer que a prerrogativa de foro foi um instituto que durante as cartas constitucionais pode alternativamente, conferir maiores competências de julgamento ora aos poderes centrais, ora aos poderes locais. E justamente por esse movimento do pêndulo não se pode dizer que existia no passado impunidade e que, de repente, ministros imbuídos de um “iluminismo civilizatório” a mudaram para julgar mais políticos com a presença do foro.

. 125 6.4.6.2 Argumentos de Separação de Poderes

Ainda dentro da categoria “desenho institucional”, os ministros da corrente vencida reproduzem a preocupação com a violação da separação de poderes, devido à restrição de competências em matéria de foro. Como manifestação desse pensamento, o ministro Alexandre de Moraes diz que a abrangência do foro garante o bom funcionamento das instituições estatais.

O ministro Gilmar Mendes também concorda que o foro garante a independência parlamentar. Inclusive, para isso, ele diz que a Constituição estabeleceu a antecipação da prerrogativa na diplomação. E assim o fez não porque ela prevê que este ou aquele político cometerá crimes antes da posse, mas para que o futuro parlamentar não veja a sua independência ameaçada diante dos outros poderes, como o judiciário.

Por todo o exposto, a corrente vencida concluiu que se for para atender a opinião pública, os privilégios pertencentes aos outros poderes também deveriam ser diminutos. Mas essa corrente não ousa trazer esta argumentação para a ratio decidendi, justamente porque ultrapassaria os limites de atuação da Corte. Entretanto, a usa porque quer dizer que restringir as competências em função do desejo da mídia significa atentar contra o diálogo institucional, contra o Congresso e até mesmo contra as cláusulas pétreas constitucionais, que é o caso da separação dos poderes.