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CAPÍTULO I – Evolução histórica da pena de prisão e das medidas de

1.2. A evolução das medidas de flexibilização da execução da pena de prisão

1.2.4. A Reforma Prisional (Penitenciária) de 1979

O modelo incipiente de medidas de flexibilização da execução da pena só viria a ser substituído pela Reforma de 1979, concretizada em dois momentos. No primeiro, através do Decreto-Lei n.º 783/76, de 29 de Outubro, que estabeleceu a orgânica e regras de funcionamento do tribunal de execução de penas, e no segundo momento, mediante o Decreto-Lei n.º 265/79, de 1 de Agosto, que consagrou os princípios fundamentais da execução de penas e do regime penitenciário.

No primeiro diploma referido estabeleceu-se a medida inovadora da saída precária prolongada que o Decreto-Lei n.º 265/79 viria a concretizar nos artigos 59.º e 61.º.

A Reforma de 1979 preconizou um modelo de execução da pena ressocializador83 e, para atingir esse desiderato, criou medidas de flexibilização da

execução da pena de prisão e de preparação para a liberdade. Essas medidas agrupavam-se em duas modalidades:

a) As licenças de saída do estabelecimento prisional; b) A colocação em regime aberto.

81 Em obras ou outros trabalhos ao ar livre, ocupando pelo menos 100 presos, por tempo não inferior a 2 anos de

permanência no local, desde que o afastamento do estabelecimento prisional não permitisse o alojamento neste – art. 3.º.

82 Para a execução de obras ou outros trabalhos de pequena duração ou nas proximidades dos estabelecimentos

prisionais – art. 31.º.

83 Bem patente no n.º do art. 2.º, ao estabelecer que «a execução das medidas privativas da liberdade deve orientar-

se de forma a reintegrar o recluso na sociedade, preparando-o para, no futuro, conduzir a sua vida de modo socialmente responsável, sem que pratique crimes.»

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O articulado do diploma de 1979 foi nesta matéria substancialmente alterado pelo Decreto-Lei n.º 49/80, de 22 de Março, designadamente para efeitos de esclarecimento das competências em cada uma das matérias.

O art. 14.º, n.º 2, previa a possibilidade de internamento do recluso em estabelecimento ou secção de regime aberto «quando não seja de recear que ele se subtraia à execução da pena ou que se aproveite das possibilidades que tal regime lhe proporciona para delinquir.» O regime aberto consiste numa modalidade de flexibilização da execução da pena de prisão caracterizada por se prescindir, total ou parcialmente, de medidas contra o perigo de evasão dos reclusos.

A primeira regulamentação sobre os requisitos a preencher para a colocação em regime aberto foi feita pela Circular da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais n.º 2/83/DCSDEPMS-I, de 17 de Fevereiro84. Foram criadas duas modalidades de regime

aberto: o regime aberto voltado para o interior (RAVI) e o regime aberto voltado para o exterior (RAVE). No regime aberto voltado para o interior os reclusos trabalhavam no estabelecimento prisional, dentro ou fora dos seus muros, sob uma vigilância descontínua. No regime aberto virado para o exterior os reclusos podiam adquirir qualificações escolares ou profissionais, exercer actividade laboral ou frequentar programas de tratamento, fora do estabelecimento prisional e sem qualquer vigilância.

As licenças de saída visavam o «restabelecimento de relações com a sociedade, de forma geral e progressiva» - art. 58.º, n.º 1.

Eram de cinco espécies:

i) Licenças de saída prolongada – art. 59.º; ii) Licenças de saída de curta duração – art. 60.º; iii) Licenças de saída por motivos especiais – art. 62.º;

iv) Licenças para comparência em juízo ou outro motivo justificado – art. 62.º- A;

v) Licenças de preparação da liberdade – art. 62.º-B.

Cumprido um quarto da pena e no mínimo seis meses, ao recluso em regime fechado podia ser concedida pelo juiz de execução de penas uma licença de saída

84 Posteriormente, várias Circulares alteraram pontualmente o regime, assinalando-se as n.ºs 22/85/DCSDEMPMS-

15, de 6 de Agosto, 32/90/GA-3, de 28 de Maio, 4/94/DCSDEPMS/3, de 21 de Novembro, e 8/DSS/98, de 31 de Dezembro.

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prolongada até 8 dias, renovável de 6 em 6 meses. Estando em regime aberto, podia beneficiar de semelhante benefício até 16 dias por ano, seguidos ou interpolados.

A concessão, pelo director do respectivo estabelecimento condicional, de licenças de saída de curta duração, pelo prazo máximo de 48 horas em cada trimestre, era admissível ao recluso internado em estabelecimento ou secção de regime aberto.

As licenças de saída por motivos especiais destinavam-se a proporcionar ao recluso cuidados de saúde que não era possível prestar no estabelecimento prisional e, em geral, à prática de um acto compatível com a situação de reclusão que devesse ser executado por absoluta necessidade fora do sistema prisional.

Constituíam motivos justificados para a concessão das licenças referidas em iii), sempre sob custódia, a necessidade de comparência em juízo e a existência de sérias razões familiares ou profissionais não incompatíveis com a ordem e a segurança públicas. A concessão destas licenças e das que resultavam de motivos especiais só podiam ser concedidas pela Direcção-Geral dos Serviços Prisionais.

As licenças de preparação para a liberdade eram concedidas, pela Direcção- Geral dos Serviços Prisionais, nas seguintes modalidades:

a) Saída do estabelecimento prisional, com ou sem custódia, a fim de trabalhar ou frequentar estabelecimentos de ensino de aperfeiçoamento profissional;

b) Saída do estabelecimento durante determinadas horas do dia, com ou sem custódia;

c) Autorização de saída pelo período máximo de 8 dias, sem custódia, durante os últimos 3 meses do cumprimento da pena;

d) Autorização de saída para trabalhar ou frequentar locais de ensino no exterior até 6 dias por mês, seguidos ou interpolados, sem custódia, nos últimos nove meses do cumprimento da pena.

Foi este o regime em vigor até 12 de Abril de 2010, data em que entrou em vigor o Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade, aprovado pela Lei nº 115/99, de 12 de Outubro, que continua a manter tanto o regime aberto, nas suas duas modalidades, como as licenças de saída. Como característica mais

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dominante, pode-se afirmar que as medidas de flexibilização da pena têm agora um âmbito ainda mais alargado, como se verá mais à frente.

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CAPÍTULO II

– AS MEDIDAS DE FLEXIBILIZAÇÃO NO