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A Reforma Trabalhista de 2017 e suas consequências para as

No documento JOSÉ DE ANCHIETA CRUZ NETO (páginas 41-44)

3. A RELAÇÃO DE TRABALHO versus A RELAÇÃO DE EMPREGO

3.3 A Reforma Trabalhista de 2017 e suas consequências para as

relações de emprego

A CLT desde o momento em que surgiu, até os dias atuais vem sofrendo

inúmeras alterações no seu conteúdo e, consequentemente, alterando

significativamente as características das relações de emprego ao longo do

tempo.

De maneira recente, a mais importante delas foi a reforma trabalhista, que

após aprovada, trouxe 117 mudanças com relação ao direito material e formal

presentes, na sua maioria, na própria Consolidação. Essa reforma foi aprovada

a partir da Lei nº 13.467/2017, na data de 13 de julho do referido ano, alterando

direitos e deveres elencados no diploma legal, a fim de desregulamentar e

flexibilizar as relações de trabalho.

De acordo com Maurício Godinho Delgado, a reforma foi construída com

base em teses ultraliberais que defendiam aguerridamente o Estado Mínimo, e

sob o frenesi de um momento de instabilidade política e também econômica, no

qual se realizou o impeachment da então presidenta eleita Dilma Roussef.

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Sendo a proposição do seu Projeto de Lei feita portanto pelo sucessor, o

presidente Michel Temer.

82 Para fundamentar essa decisão, o relator alegou restar comprovada a subordinação quando observado o controle de jornada de trabalho e as ordens e demandas dadas pelo empregador (ou preposto) ao trabalhador.

83 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais

Na mesma linha, Vólia Bonfim Cassar entende que a reforma trouxe

inúmeros prejuízos ao trabalhador com relação à direitos já garantidos pela

Constituição, representando um confronto com o princípio da proteção ao

trabalhador.

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Em se tratando da desregulamentação e das flexibilizações das relações

de trabalho, podemos citar por exemplo como consequência dessa reforma na

legislação trabalhista a eliminação das horas in itínere, que permitiam que fosse

considerado tempo à disposição do empregador o período que compreendesse

o trajeto do empregado ao trabalho em locais de difícil acesso; a criação do

contrato de trabalho intermitente, permitindo que o trabalhador passe a receber

sua remuneração calculada estritamente sobre as frações de horas trabalhadas;

a descaracterização da necessidade de homologação de rescisão de contrato

de trabalho, em sindicato da categoria, para trabalhadores com mais de um ano

de contrato; exclusão da natureza salarial que diversas parcelas possuiriam,

inclusive a dos intervalos trabalhistas não respeitados pelo empregador; e a

exclusão de variadas possibilidades de frações temporais que antes se

consideravam como tempo à disposição do empregador.

Com relação à Pejotização, a reforma trabalhista de 2017 abordou o tema

na redação do art. 442-B que tratará a respeito da contratação do autônomo,

descrevendo que: “cumpridas por este todas as formalidades legais, com ou sem

exclusividade, de forma contínua ou não, afasta a qualidade de empregado

prevista no art. 3o desta Consolidação”. (Grifos nossos).

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O intuito desse artigo é fazer uma tentativa, por parte do legislador, de

imprimir um sentimento de “normalidade” na possibilidade de contratar o

empregado como um trabalhador autônomo. Por isso, esse artigo sofre inúmeras

críticas sobre o seu conteúdo, como por exemplo a de Maurício Godinho Delgado

que relativiza a aplicação desse dispositivo quando presente na relação de

84 BONFIM, Vólia Cassar. Direito do trabalho: de acordo com a reforma trabalhista. 14ª Edição. São Paulo : Método, 2017

85 FILHO, Armando Casemiro Costa (Org.). Consolidação das Leis do Trabalho. LTr. 2019. 2ª Edição. Editora LTR. São Paulo: 2019.

trabalho o requisito da subordinação, o que atrairia para o trabalhador o vínculo

empregatício.

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Aplicar o conteúdo deste artigo representa uma afronta aos princípios

relativos ao direito do trabalho, como por exemplo ao da aplicação da norma

mais favorável, uma vez que os artigos 2º e 3º da Consolidação já deixaram

estabelecidos os requisitos para que o trabalhador seja considerado um

empregado, e contraria-los, seria colocar em risco a dignidade do trabalhador,

por deixa-lo numa situação de vulnerabilidade, sem a garantia de diversas

proteções. Além desses, também restaria prejudicado o princípio da primazia da

realidade, uma vez que atendido os requisitos da relação de emprego, não há o

que se falar em trabalho autônomo. Isso seria uma maneira de priorizar as

formalidades em detrimento dos fatos.

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Haviam sim, situações práticas que necessitavam de regulamentação e

que a reforma veio por preencher essas lacunas, como é o caso por exemplo do

acordo entre empregado e patrão na hora da rescisão contratual, que era uma

prática já existente, de maneira ilegal, e que foi abordado pela legislação e que

agora tem respaldo jurídico, assim como, quanto à possibilidade do

parcelamento de férias para o empregado. Entretanto, de modo geral

enxergamos a reforma trabalhista como sendo um grandioso sacrifício a diversas

garantias conquistadas ao longo do tempo pelos trabalhadores no intuito de

atender, muitas vezes, apenas a grupos específicos que visam apenas os seus

próprios interesses em detrimento da coletividade.

Diante disso, reforça-se a que a reforma trabalhista causou às relações

de trabalho, devendo ser observados suas inúmeras alterações ao longo de todo

o texto legal e importância dos reflexos que essas mudanças terão na vida dos

trabalhadores.

Então, entraremos agora na abordagem da temática principal desse

trabalho, a Pejotização e suas consequências.

86 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais

posteriores. 18a Edição. São Paulo : LTr, 2019.

87 LUZ, Nicholas Moura. A pejotização como instrumento de precarização das relações de

emprego. Tese de monografia (Graduação em Direito). Universidade Federal da Bahia.

No documento JOSÉ DE ANCHIETA CRUZ NETO (páginas 41-44)