3. A RELAÇÃO DE TRABALHO versus A RELAÇÃO DE EMPREGO
3.3 A Reforma Trabalhista de 2017 e suas consequências para as
relações de emprego
A CLT desde o momento em que surgiu, até os dias atuais vem sofrendo
inúmeras alterações no seu conteúdo e, consequentemente, alterando
significativamente as características das relações de emprego ao longo do
tempo.
De maneira recente, a mais importante delas foi a reforma trabalhista, que
após aprovada, trouxe 117 mudanças com relação ao direito material e formal
presentes, na sua maioria, na própria Consolidação. Essa reforma foi aprovada
a partir da Lei nº 13.467/2017, na data de 13 de julho do referido ano, alterando
direitos e deveres elencados no diploma legal, a fim de desregulamentar e
flexibilizar as relações de trabalho.
De acordo com Maurício Godinho Delgado, a reforma foi construída com
base em teses ultraliberais que defendiam aguerridamente o Estado Mínimo, e
sob o frenesi de um momento de instabilidade política e também econômica, no
qual se realizou o impeachment da então presidenta eleita Dilma Roussef.
83Sendo a proposição do seu Projeto de Lei feita portanto pelo sucessor, o
presidente Michel Temer.
82 Para fundamentar essa decisão, o relator alegou restar comprovada a subordinação quando observado o controle de jornada de trabalho e as ordens e demandas dadas pelo empregador (ou preposto) ao trabalhador.
83 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais
Na mesma linha, Vólia Bonfim Cassar entende que a reforma trouxe
inúmeros prejuízos ao trabalhador com relação à direitos já garantidos pela
Constituição, representando um confronto com o princípio da proteção ao
trabalhador.
84Em se tratando da desregulamentação e das flexibilizações das relações
de trabalho, podemos citar por exemplo como consequência dessa reforma na
legislação trabalhista a eliminação das horas in itínere, que permitiam que fosse
considerado tempo à disposição do empregador o período que compreendesse
o trajeto do empregado ao trabalho em locais de difícil acesso; a criação do
contrato de trabalho intermitente, permitindo que o trabalhador passe a receber
sua remuneração calculada estritamente sobre as frações de horas trabalhadas;
a descaracterização da necessidade de homologação de rescisão de contrato
de trabalho, em sindicato da categoria, para trabalhadores com mais de um ano
de contrato; exclusão da natureza salarial que diversas parcelas possuiriam,
inclusive a dos intervalos trabalhistas não respeitados pelo empregador; e a
exclusão de variadas possibilidades de frações temporais que antes se
consideravam como tempo à disposição do empregador.
Com relação à Pejotização, a reforma trabalhista de 2017 abordou o tema
na redação do art. 442-B que tratará a respeito da contratação do autônomo,
descrevendo que: “cumpridas por este todas as formalidades legais, com ou sem
exclusividade, de forma contínua ou não, afasta a qualidade de empregado
prevista no art. 3o desta Consolidação”. (Grifos nossos).
85O intuito desse artigo é fazer uma tentativa, por parte do legislador, de
imprimir um sentimento de “normalidade” na possibilidade de contratar o
empregado como um trabalhador autônomo. Por isso, esse artigo sofre inúmeras
críticas sobre o seu conteúdo, como por exemplo a de Maurício Godinho Delgado
que relativiza a aplicação desse dispositivo quando presente na relação de
84 BONFIM, Vólia Cassar. Direito do trabalho: de acordo com a reforma trabalhista. 14ª Edição. São Paulo : Método, 2017
85 FILHO, Armando Casemiro Costa (Org.). Consolidação das Leis do Trabalho. LTr. 2019. 2ª Edição. Editora LTR. São Paulo: 2019.
trabalho o requisito da subordinação, o que atrairia para o trabalhador o vínculo
empregatício.
86Aplicar o conteúdo deste artigo representa uma afronta aos princípios
relativos ao direito do trabalho, como por exemplo ao da aplicação da norma
mais favorável, uma vez que os artigos 2º e 3º da Consolidação já deixaram
estabelecidos os requisitos para que o trabalhador seja considerado um
empregado, e contraria-los, seria colocar em risco a dignidade do trabalhador,
por deixa-lo numa situação de vulnerabilidade, sem a garantia de diversas
proteções. Além desses, também restaria prejudicado o princípio da primazia da
realidade, uma vez que atendido os requisitos da relação de emprego, não há o
que se falar em trabalho autônomo. Isso seria uma maneira de priorizar as
formalidades em detrimento dos fatos.
87Haviam sim, situações práticas que necessitavam de regulamentação e
que a reforma veio por preencher essas lacunas, como é o caso por exemplo do
acordo entre empregado e patrão na hora da rescisão contratual, que era uma
prática já existente, de maneira ilegal, e que foi abordado pela legislação e que
agora tem respaldo jurídico, assim como, quanto à possibilidade do
parcelamento de férias para o empregado. Entretanto, de modo geral
enxergamos a reforma trabalhista como sendo um grandioso sacrifício a diversas
garantias conquistadas ao longo do tempo pelos trabalhadores no intuito de
atender, muitas vezes, apenas a grupos específicos que visam apenas os seus
próprios interesses em detrimento da coletividade.
Diante disso, reforça-se a que a reforma trabalhista causou às relações
de trabalho, devendo ser observados suas inúmeras alterações ao longo de todo
o texto legal e importância dos reflexos que essas mudanças terão na vida dos
trabalhadores.
Então, entraremos agora na abordagem da temática principal desse
trabalho, a Pejotização e suas consequências.
86 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais
posteriores. 18a Edição. São Paulo : LTr, 2019.
87 LUZ, Nicholas Moura. A pejotização como instrumento de precarização das relações de
emprego. Tese de monografia (Graduação em Direito). Universidade Federal da Bahia.