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Os tipos de relação de trabalho

No documento JOSÉ DE ANCHIETA CRUZ NETO (páginas 28-33)

3. A RELAÇÃO DE TRABALHO versus A RELAÇÃO DE EMPREGO

3.1 A relação de trabalho

3.1.1 Os tipos de relação de trabalho

34 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais

posteriores. 18a Edição. São Paulo : LTr, 2019

35 PEREIRA, Leone. Pejotização: O trabalhador como pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2013.

36 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho. 10ª Edição. São Paulo : LTr, 2016

37 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do trabalho. 26ª Edição. São Paulo : Saraiva, 2011.

De acordo com Leone Pereira

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, entre as figuras existentes nas relações

de trabalho, podemos citar a do trabalhador autônomo, do trabalhador avulso,

do trabalhador eventual, de trabalhador voluntário, do estagiário e a do

trabalhador subordinado, receberia o status de empregado e seria o gerido pela

relação de emprego. Esses variados tipos de trabalhadores foram surgindo ao

longo do tempo na busca por preencher lacunas que foram surgindo pela

dinamicidade das relações sociais no espaço. Na sequência serão abordados os

diferentes tipos existentes de trabalhadores.

O trabalhador avulso tem sua definição por meio do Decreto 3.048/99

como sendo aquele que pode ser sindicalizado, ou não, e que prestará serviços

de natureza urbana ou rural a diversas empresas sem, no entanto, ser

considerado empregado, havendo obrigatoriamente, uma intermediação do

órgão gestor de mão de obra, conhecido pela sigla OGMO, ou do sindicato que

represente a categoria.

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Maurício Godinho Delgado entende que esse trabalhador é aquele que

oferta sua mão de obra por curtos períodos de tempo a diversos tomadores de

serviço sem se fixar a nenhum deles.

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Essa ausência de fixação caracteriza o

trabalho como sendo eventual, o que afasta a possibilidade do reconhecimento

do vínculo empregatício desse tipo de trabalhador.

Esse tipo de trabalho, durante muito tempo, esteve ligado apenas a figura

do trabalhador portuário. Entretanto, a partir da Lei nº 12.023/2009, foi criada a

figura do “trabalhador avulso não portuário”, que seria aquele que trabalharia na

carga e descarga de mercadorias, em áreas urbanas e rurais, totalmente fora de

áreas de porto, sem vínculo empregatício, com o intermédio obrigatório do

sindicato da categoria, fazendo uso de negociação coletiva.

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Apesar de parecido com o trabalhador eventual, o trabalhador avulso dele

se difere pois para a oferta de sua força de trabalho se necessita de uma

38 PEREIRA, Leone. Pejotização: O trabalhador como pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2013.

39 Nesse caso, nem a relação com o OGMO, nem com o sindicato da categoria, nem com o tomador de serviço se caracterizam como relação de emprego.

40 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais

posteriores. 18a Edição. São Paulo: LTr, 2019

41 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais

entidade que realize o intermédio com o tomador de serviço, intermediando o

recebimento de valores por aquele a quem o trabalho será realizado e,

consequentemente, repassando ao trabalhador autônomo.

Seguindo adiante, temos a figura do trabalhador eventual, que para a

concepção de Amauri Mascaro Nascimento seria aquele que “presta sua

atividade para múltiplos destinatários, sem se fixar continuadamente a nenhum

deles.”

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Essa definição se apega a ausência do requisito da habitualidade nesse

tipo de relação de trabalho, o que afasta o trabalhador da possibilidade de ter

seu vínculo empregatício reconhecido.

No mesmo sentido, as lições de Carlos Henrique Bezerra Leite nos

ensinam que o trabalhador eventual é aquele “subordinado atípico”, prestando

seus serviços de forma transitória e que não necessite permanentemente da

prestação de seus serviços pelo tomador, não sendo essenciais aos fins que a

empresa se destina.

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Diante disso, os Tribunais tem seguido a tendência de apenas considerar

eventuais os trabalhadores que não se inserem na dinâmica e nas atividades

normais inerentes ao trabalho da empresa, como é o caso, da terceira turma do

Tribunal Regional do Trabalho da 3ª região que julgou improcedente o Recurso

Ordinário 01353-2005.073.03.00.3.

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Outro modelo, um pouco diferente, mas que está inserido no rol das

relações de trabalho é o do estagiário que é regulamentado pela Lei

11.788/2008, também conhecida como Lei do estágio, que define, no seu Art. 1º,

essa relação como sendo um “ato educativo escolar supervisionado”. O estágio

é desenvolvido no próprio ambiente de trabalho e tem o intuito principal de

preparar o estagiário para o trabalho.

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Segundo Ricardo Resende, o estágio pode ser classificado como

obrigatório ou não obrigatório, sendo que será considerado obrigatório quando

42 Esse trabalho eventual é desempenhado por pouco tempo e é um serviço específico.

43 É justamente a realização transitória e não permanente do serviço pelo trabalhador que o caracteriza como eventual.

44 No recurso ordinário em tela, não foi reconhecido como eventual o trabalhador rural que trabalhava na colheita, uma vez que essa atividade é previsível e se insere no contexto normal do empregador rural.

45 O estágio pode ser realizado tanto pelo aluno do ensino superior, quanto do ensino médio ou profissionalizante, e, na modalidade profissional do ensino de jovens e adultos (EJA).

previsto na grade do curso e sendo requisito para sua formatura, e não

obrigatório quando for realizado de maneira facultativa pelo estagiário, contando

apenas como horas complementares.

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O estágio tem se tornado uma dos primeiros contatos do estudante com

o mercado de trabalho e, a partir dele, um excelente mecanismo de

aprendizagem para o estagiário.

Para que seja considerado um estagiário, é necessário que sejam

atendidos diversos requisitos presentes na lei que disciplina o estágio, tais como

a matrícula e a frequência mínima no curso, a celebração do termo de estágio,

que haja compatibilidade entre a atividade que será desenvolvida e o curso no

qual o estagiário está matriculado e o acompanhamento do estagiário por um

professor orientador, assim como por um supervisor designado pela empresa

onde ocorrerá o estágio.

É importante que se cumpra todas as exigências legais previstas na lei do

estágio e no termo de estágio, sob pena da caracterização do vínculo

empregatício.

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Por fim, temos a figura do trabalhador autônomo, que desempenha um

dos modelos mais importantes dentro do rol das relações de trabalho. Segundo

Sérgio Martins

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este trabalhador pode ser definido como a pessoa física que

“presta serviços habitualmente por conta própria a uma ou mais de uma pessoa,

assumindo o risco da sua atividade econômica”.

Nessa mesma esteira, Vólia Bomfin Cassar também define o trabalhador

autônomo como aquele que desempenha suas atividades por conta própria, com

risco próprio e com habitualidade, de maneira constante e periódica, tomando

como referencial ao próprio trabalhador, e não ao tomador de serviço.

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A CLT não prevê em seus dispositivos legais uma definição específica

para o trabalhador autônomo, entretanto, essa definição pode ser extraída da

Legislação da Previdência Social

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, onde este trabalhador mantém a condição

46 RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 4ª Edição. São Paulo : Método, 2014.

47 RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho Esquematizado. 4ª Edição. São Paulo : Método, 2014.

48 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 28ª Edição. São Paulo : Atlas, 2016

49 BONFIM, Vólia Cassar. Direito do trabalho: de acordo com a reforma trabalhista. 14ª Edição. São Paulo : Método, 2017.

50 BRASIL. Lei n. 5.890, de 8 de junho de 1973. Altera a legislação da Previdência Social e dá outras disposições.

de segurado perante o Instituto Nacional de Previdência Social. Em seu Art. 4º,

item “c”, a Lei 5.890/1973 o descreve como sendo: “o que exerce habitualmente,

e por conta própria, atividade profissional remunerada; o que presta serviços a

diversas empresas, agrupado ou não em sindicato; [...] o que presta serviço

remunerado mediante recibo, em caráter eventual, seja qual for a duração da

tarefa”.

Esse trabalhador, não é empregado, uma vez que apesar de possuir com

o tomador de serviços uma relação de trabalho de forma habitual, esta não se

configura como uma relação de emprego, pois não existe nessa relação o

elemento da subordinação, faltando direcionamento por parte do empregador e

também da ausência do requisito da pessoalidade, podendo haver substituição

do trabalhador por outro, sem que reste prejudicada a relação de trabalho.

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No que diz respeito à subordinação, Ricardo Resende entende que esse

é o principal requisito que diferencia esse tipo de trabalhador da figura do

empregado, uma vez que a substituição dessa característica pela autonomia

propriamente dita que esse trabalhador possui no desempenho das suas

atividades, faz com que se afaste a possibilidade de um vínculo de emprego.

Já com relação a pessoalidade, esse requisito é inexistente nesse tipo de

relação jurídica justamente pelo fato da substituição do trabalhador na realização

da atividade não é vedada, assim como o é na relação de emprego, permitindo

com maior flexibilidade que essa substituição seja feita.

A discussão com relação a esse tipo de profissional se concentra nos

casos onde os empregadores contratam os seus empregados na condição de

trabalhadores autônomos (Pejotização), afastando, na teoria, a relação de

emprego com este, entretanto, na prática, mantendo a relação de subordinação

com o trabalhador autônomo, o que ensejaria na nulidade do contrato de

natureza civil celebrado com este e no reconhecimento do vínculo empregatício

daquele para com este.

Já existem, inclusive, sentenças nos Tribunais Regionais do Trabalho no

sentido de que, quando comprovada a fraude por estar caracterizada a relação

de emprego no contrato do representante comercial, que é um tipo de

51 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais

trabalhador autônomo, seja por subordinação, seja pela falta de alteridade, ou

até mesmo pelo fato do autônomo estar totalmente incluso na dinâmica do

empregador, a nulidade do contrato deve ser decretada e o vínculo empregatício

reconhecido. Nessa esteira, podemos citar o Recurso Ordinário nº

0010345-03.2019.5.03.0082

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, do TRT-3.

Sentenças como esta demonstram que os Tribunais Regionais do

Trabalho tem se comportado de maneira a não tolerar esse tipo de fraude,

decretando a nulidade do contrato de prestação de serviços e reconhecendo o

vínculo de emprego real, existente entre o trabalhador e o empregador, fazendo

cair por terra a tentativa de enganar o judiciário.

No documento JOSÉ DE ANCHIETA CRUZ NETO (páginas 28-33)