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A relação jurídica conseqüencial

6. A RELAÇÃO PRESCRICIONAL (CONSEQUENTE JURÍDICO)

6.2. A relação jurídica conseqüencial

Há ainda as relações prescricionais conseqüenciais, não tributárias.

Trata-se de relações jurídicas fixadas em normas primárias não tributárias, mas que, de certo modo, figuram como desdobramento daquelas relações fixadas em normas primárias tributárias.

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Em sentido contrário, ver CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 17ª edição. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 474.

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Em relação aos débitos tributários confessados para adesão a programas de parcelamentos de débitos

vencidos, creio que o tema merece análise mais profunda, por envolver questões que não são objeto deste estudo. Desse modo, ressalvo as conclusões aqui apresentadas para o caso da referida confissão.

A sentença judicial que declara a inexistência de determinada dívida e, consequentemente anula eventual penhora dela decorrente, por exemplo, constitui uma relação jurídica entre o suposto credor e devedor.

E, para que essa providência jurisdicional se efetive, o agente que representa o cartório de registro de imóveis onde se deu o respectivo registro e averbação fica obrigado a retirar o gravame até então averbado. Logo, ele passa a figurar numa relação jurídica constituída com o suposto devedor, que assume o direito subjetivo de ver retirado o gravame. Não sendo cumprida essa providência nos termos em que determinados naquela sentença, ele (o suposto devedor) passa a fazer jus ao direito de ação (obrigação de fazer) a ser exercido em face do tal agente cartorário.

Como se vê, essa segunda relação jurídica (consequencial), estabelecida entre o suposto devedor e o agente cartorário decorre, como desdobramento, da relação jurídica (básica ou fundamental) operada entre o suposto credor e devedor.

Portanto, deve-se esclarecer que a denominação conseqüencial aqui utilizada não guarda qualquer relação com expressão conseqüente utilizada por PAULO DE BARROS CARVALHO248 para indicar o elemento da estrutura lógico-sintática da norma tributária que, juntamente com o antecedente normativa, compõem essa estrutura formal.

Como já mencionado, a norma prescricional tributária geral e abstrata também disciplina a produção de outras normas jurídicas, não tributárias, ocasião em que assumem a qualificação de normas de estrutura ou normas de competência. Isto porque, além de extinguir a relação tributária material e a correspondente relação processual, ela impõe outras condutas, de ordem administrativa e jurisdicional, dentre outras, que se manifestam na produção de outras normas individuais e concretas.

Em tais hipóteses, a norma prescricional tributária geral e abstrata prescreve outras espécies de relação prescricional, como desdobramento das relações prescricionais básicas ou fundamentais, analisadas linhas acima. São as relações prescricionais conseqüenciais.

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Isto ocorre, por exemplo, na relação jurídica prescricional administrativa que obriga o procurador fazendário a se abster de propor a execução fiscal, isto é, proibindo-o de mover a ação executiva, bem como obrigando a desistência das ações já em curso.

Sob a perspectiva da Administração Pública, o ato de propor a execução fiscal consiste num ato administrativo249 (norma individual e concreta), sujeito ao controle de legalidade (judicial e administrativo) e sujeitando ao seu agente ao controle disciplinar da responsabilidade funcional. É nessa perspectiva que sobressaia o relevo na análise da relação prescricional conseqüencial, de ordem administrativa, por exemplo.

A norma jurídica que disciplina a hipótese prescricional estatal, por exemplo, prescreve um vínculo jurídico entre fisco e contribuinte, fulminando a relação tributária material ou primária (inciso V do art. 156 do CTN) e a relação “processual” ou secundária (art. 174 do CTN).

Além disso, como desdobramento dessa relação básica ou fundamental, outras relações jurídicas (conseqüenciais) também são constituídas. Dela decorre, por exemplo, uma relação prescricional conseqüencial que obriga o juiz a constituir o fato jurídico prescricional e o proíbe de constituir o indébito tributário já prescrito. Trata-se de relação jurídica de ordem processual, que tem como sujeito passivo o juiz.

Ademais, pode-se falar ainda na relação jurídica prescricional, de ordem administrativa, que obriga a desconstituição, por ato administrativo anulatório, da inscrição do crédito tributário na Dívida Ativa, etc.

Enfim, são várias as possíveis relações prescricionais conseqüenciais, em nível não tributário, fixadas em normas prescricionais de estrutura ou competência250, mas que decorrem da relação jurídica prescricional tributária básica ou fundamental.

249

Cf. PEIXOTO, Daniel Monteiro. Competência administrativa na aplicação do direito tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2006.

250

Nesse sentido, ver SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no direito tributário. 2ª edição. São Paulo: Max Limonad, 2001.

É nesse raciocínio que as normas prescricionais veiculadas pelo Código de Processo Civil e pelo Código Civil podem assumir a condição de normas de estrutura ou normas de conduta, a depender da perspectiva considerada.

7. A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE ORIGINÁRIA

Após este breve estudo analítico das categorias jurídicas relativas à prescrição tributária, tomadas como relevantes para a compreensão do tema, resta agora avançar no processo de conhecimento aqui desafiado, aplicando toda a formulação teórico-analítica até aqui apresentada na tentativa de oferecer uma solução razoável e possível para um tema controverso da pragmática jurídica, isto é, da operação e aplicação do direito positivo às relações intersubjetivas.

Sob a perspectiva da Ciência do direito, o problema eleito neste capítulo é o da compreensão da prescrição processual ou intercorrente, em nível geral e abstrato, no curso da lide ou no curso do processo, relacionada com período que sucede ao exercício do direito de ação, em face do contribuinte (devedor originário), denominada originária.