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1. CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA

1.4 A Relação Preceptor-Educando

Ao analisar a prática da educação médica, Martins (2005) ressalta que é fácil perceber o tipo de relacionamento em que a hierarquização da relação preceptor-

residente-graduando-usuário se dá abertamente. Neste sistema, cabe ao residente e ao graduando todo o trabalho considerado físico e repetitivo, e ao preceptor o trabalho intelectual e de reflexão. Paralelamente a este processo, ocorre a precarização do serviço público, exercido pelos educandos, enquanto o preceptor privilegia os espaços do serviço privado em sua carga horária.

O educando se constrói, assim, através da superação das barreiras de inferiorização que sofre durante todo o processo de aprendizagem (no qual aprende inclusive a reproduzir o mesmo modelo aos que se seguem).

Desta forma, concretiza-se um currículo oculto, que consiste na aquisição de conhecimentos, habilidades e principalmente atitudes não dispostos nos projetos pedagógicos, mas observados no dia a dia da prática do preceptor(MARTINS, 2008).

Acredito que privilegiar a reflexão sobre os processos de trabalho do preceptor promove, a um só tempo, a possibilidade de aprimoramento das atividades de ensino aprendizagem e da própria atividade assistencial, elementos inseparáveis do seu fazer. Está imbricada aí a definição de Educação Permanente em Saúde, processo que coloca no centro das questões o cotidiano do trabalho – ou da formação – em saúde “que se permeabiliza pelas relações concretas que operam realidades e que possibilita construir espaços coletivos para a reflexão e avaliação de sentido dos atos produzidos no cotidiano” (CECCIM, 2005: 161).

Relação professor-aluno em sala de aula Muitos fatores influenciam as relações entre os alunos e o professor no cotidiano da sala de aula. A visão sobre o papel da educação que o professor e os alunos possuem torna-se uma orientação primordial para o trabalho desenvolvido na sala de aula. Neste movimento destaca-se:

Neste movimento destaca-se: o papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa reconhecer que juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos trazem muitos conhecimentos das experiências escolares e não escolares que vivenciaram durante a existência. (FREIRE, 1996)

O autor critica a concepção bancária da educação que considera os educandos meros receptores, sujeitos passivos de suas aprendizagens.

Essa realidade doutrina e adapta a realidade como algo dado, pré-determinado que deva permanecer intocado, realizado por uma relação de opressor/oprimido, na qual o aluno torna-se mero objeto de sua aprendizagem, na qual o professor é considerado o detentor do conhecimento e os transfere aos seus alunos como um depósito.

Neste contexto, o professor nesta concepção é o detentor da palavra, é aquele que pensa e tudo sabe para depositar nos alunos, os quais devem permanecer calados para tal recepção de informações, que deve escutar docilmente a palavra sem contestar.

Para tanto, esse professor não considera o conhecimento que os alunos trazem de suas experiências já vividas, o que para Freire (1996) é fundamental já que aprendemos muito por meio de nossas vivências, sendo que todas as pessoas, alunos ou professores sabem muitas coisas, diferentes e juntos podem aprofundar maiores conhecimentos.

No diálogo, deve-se valorizar os conhecimentos dos educandos, considerar suas visões de mundo e jamais opor-se como dono dos saberes.

Em relação a educação problematizadora fundamentada pelo diálogo, tem por objetivo, superar a contradição da relação de opressor-oprimido entre aluno e professor já que é chamado a conhecer e a participar da elaboração dos conhecimentos.

Assim, significa que não existe um saber acabado e definitivo, mas construído junto, entre o professor e o aluno. A educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o contexto em que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a libertação consciente e crítica da realidade.

Segundo Freire (1983, p79) “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. O autor considera o ser inacabado, que consciente de sua conclusão busca aprimorar-se para se tornar ser mais. Ser mais, nesta concepção só é possível quando uma pessoa reconhece a outra como ser livre, responsável, ético, esperançoso, capaz de inventar e recriar o cotidiano e não se adaptar a ele, mas se inserindo e intervindo ativamente.

Para Freire (1996), o papel do professor é de desafiador, capaz de promover a educação como prática de liberdade tem como função combater um naturalismo histórico que desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria história.

O professor é aquele que possui uma prática progressista que tende a desenvolver junto aos alunos uma capacidade crítica, a curiosidade para perguntar, conhecer, atuar, reconhecer, estimular a insubmissão, a indocilidade. Esse professor caminha por uma direção emancipadora, consciente de constituir-se constantemente a partir de uma curiosidade epistemológica construída pela superação de sua curiosidade ingênua, capaz de compreender sua função e o mundo criticamente, visando romper com “verdades” rotuladas socialmente que podem gerar preconceitos, discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os outros, pelo próprio exemplo.

Curiosidade epistemológica, para Freire (1996) é quando a curiosidade oriunda do senso comum se reconstrói tornando-se crítica.

Curiosidade ingênua, para Freire (1996) são as concepções de mundo oriundas do senso comum. O papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa reconhecer que juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos trazem muitos conhecimentos das experiências que vivenciaram durante a existência.

O papel do aluno, nesta perspectiva é assumir-se como ser histórico e social, como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. Cabe reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que representam na luta contra a negação da existência humana.

Calcado no desejo e na certeza de que o caminho para construção de um novo saber em saúde deve se ancorar na certeza de que, professores e alunos juntos podem perceber criticamente as razões que condicionam as situações nas quais se encontram como caminho para decisões, escolhas e intervenções.

Juntos, professor e alunos ensinam e aprendem simultaneamente, conhecem o mundo em que vivem criticamente e constroem relações de respeito mútuo, de justiça,

constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a sala de aula um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.38).

A prática educativa na sala de aula está vinculada à afetividade, a alegrias, ao domínio de conscientização acerca dos condicionamentos, assim como de suas possíveis transformações.

Outro fator imprescindível é a comunicação dialógica na sala de aula: que implica também no silêncio. Quem tem o que dizer deve saber que não é o único que tem, de forma a sempre incentivar, questionar e desafiar o outro que digam, respondam, participem. Implica disponibilidade para a escuta, com pleno direito de discordar, de se opor, de se posicionar e debater por meio de argumentos. O diálogo não reduz um ao outro, nem se torna um favor que um faz ao outro, ao contrário, implica respeito fundamental dos sujeitos neles engajados. (FREIRE, 1996, p.38).

Para Freire (1992), o diálogo, enquanto relação democrática é a possibilidade que dispomos de interagir ao pensar dos outros, para não fenecer no isolamento, já que o diálogo tem significação quando estamos juntos uns com os outros.

Paulo Freire nos alerta sobre isso: “Nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente determinados, nem tampouco livres dos condicionamentos genéticos, culturais, sociais, históricos, de classe, gênero, etc” (1996, p.38).

Nesta perspectiva, tende a combater uma prática autoritária que perpassa pela visão de que tudo sabe pautado pela crença de depositar o conhecimento aos seus alunos, que devem permanecer calados sem contestar. Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, pois nega o acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida.

Outro fator preponderante na relação professor e aluno está atrelado à concepção que o professor tem sobre o papel do aluno. Para Freire (1996) o papel do aluno está em assumir-se como ser histórico e social, como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. Capaz de reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que representam na luta contra a negação da existência humana.