• Nenhum resultado encontrado

A Relevância: os benefícios contextuais e o esforço do processamento

2 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO INFERENCIAL

2.2 A TEORIA DA RELEVÂNCIA

2.2.2 A Relevância: os benefícios contextuais e o esforço do processamento

A base teórica sustentada por Sberber e Wilson (1995) sobre relevância é apoiada sobre dois fatores principais: os benefícios contextuais e o custo cognitivo da compreensão dos enunciados. A noção de relevância é, portanto, definida pelos efeitos contextuais do processamento de uma nova informação sobre o ambiente cognitivo do indivíduo (beneficio) e o esforço cognitivo (custo) desse processamento.

Para os autores, uma nova informação se relaciona com o ambiente cognitivo do ouvinte de três formas:

(i) Reforçando uma suposição anterior;

(ii) Indagando sobre uma suposição anterior e a eliminando;

(iii) Combinando com uma suposição anterior para produzir futuros efeitos contextuais.

Segundo Sperber e Wilson (1995), os efeitos contextuais são alcançados quando uma nova informação é processada e sobreposta às antigas, resultando numa alteração nas crenças anteriores armazenadas no ambiente cognitivo do interlocutor. Um contexto obterá uma maior relevância, quanto maiores forem os efeitos contextuais e quanto menor for o esforço no processamento da informação. Dessa forma, os efeitos contextuais podem acontecer nas seguintes situações:

(xiv) Por implicação contextual – informações velhas (ambiente cognitivo do indivíduo) + informações novas = suposições novas

(xv) Pelo fortalecimento ou enfraquecimento das suposições – as suposições novas ou reforçam ou enfraquecem as velhas, dependendo da fonte das novas informações, que pode ser a percepção, a dedução, a memória enciclopédica e/ou a decodificação.

(xvi) Pela eliminação de suposições contraditórias – a suposição mais fraca é eliminada em detrimento da mais forte.

No efeito contextual por implicação contextual, o ambiente cognitivo do ouvinte é modificado pela combinação das informações velhas, já presentes no ambiente cognitivo do indivíduo, com as informações novas, trazidas pelo falante. Para ilustrar essa categoria de efeito, veja a seguinte situação, retirada de Silveira e Feltes (1999, p.41)

Pedro: Você quer café?

Maria : Café me manteria acordada.

As suposições (s) candidatas à interpretação do enunciado de Maria podem ser:

S1: Café contém cafeína; S2: Café é um estimulante;

S3: Maria precisa concluir com urgência um trabalho; S4. Maria deve permanecer desperta.

S1, S2, S3 e S4, constituem o conjunto de C de suposições. O enunciado (b) constitui a suposição p que, contextualizada em C, deriva a implicação contextual (I):

I: Maria quer café;

Em outra situação, caso as suposições mudem, a implicação, consequentemente, será outra:

S1: Café contém cafeína; S2: Cafeína é estimulante; S3: Maria tem tido insônia; S4: Maria quer dormir.

Nesse caso, a contextualização de P em C deriva:

I: Maria não quer café.

Nos efeitos contextuais por fortalecimento ou enfraquecimento das suposições, também chamado de força das suposições, não se obtém necessariamente uma informação nova, mas a informação velha é apenas reforçada ou enfraquecida, dependendo da fonte da nova suposição: inputs sensoriais (visão, audição, olfato, tato, paladar), inputs lingüísticos (decodificação lingüística), ativação de suposições guardadas na memória (ativação do conhecimento particular do indivíduo) ou deduções, vindas de suposições adicionais.

Nessa segunda categoria de efeitos contextuais, a mesma situação descrita acima pode, ainda, derivar a implicação pela força das suposições: através do input visual (evidência de fonte sensória), Pedro pode perceber que Maria está agitada, que fortalece a conclusão implicada ‘Maria não quer café’; além disso, Maria pode dizer ‘Preciso dormir, estou exausta!’ (input lingüístico), o que fortalece a mesma suposição implicada; há, ainda, uma terceira possibilidade, que é a ativação dos conhecimentos enciclopédicos de Pedro relativos à Maria: ‘Maria é sensível a cafeína’, que acaba por fortalecer a suposição ‘Maria não quer café’.

Finalmente, para ilustrar o efeito contextual eliminação de suposições contraditórias, que resulta na eliminação da suposição mais fraca, observe a continuação da cena descrita acima:

Tendo interpretado a resposta de Maria como uma recusa a sua oferta de café, Pedro traz uma bandeja com apenas uma xícara de café, depositando-s sobre a mesa. Eis que Maria pega a xícara e toma o café.

A reação de Pedro é observar o input visual oferecido por Maria, que contradiz a sua posição anterior de que ela não queria café. A suposição por evidência sensória (input visual) é mais forte, o que faz com que a suposição inicial ‘Maria não quer café’ seja eliminada. Segundo Sperber e Wilson (1995), as suposições que são fortalecidas pela percepção tendem a ser mantidas, pois os mecanismos de percepção sensorial associam ao estímulo um conceito imediato.

É importante lembrar que o contexto, para Sperber e Wilson (1995), tem o sentido do nível da representação mental no ato da comunicação, e não o contexto físico, que, de acordo com os autores, não se altera. No nível da representação mental, o indivíduo traz consigo toda sua bagagem pessoal, suas crenças, cultura, e conhecimentos de todos os tipos. Assim, Sperber e Wilson (1995) observam que o contexto se forma ao longo do processamento da informação de um enunciado, partindo de um contexto inicial e se alterando conforme o acréscimo de suposições e com novas suposições contextuais. Dessa forma, o contexto ao qual a TR se refere é o contexto cognitivo.

O construto teórico de Sperber e Wilson (1995) sobre relevância não é determinado somente pelos efeitos contextuais a partir de novas suposições, mas também pelo esforço do processamento cognitivo. De acordo com Sperber e Wilson (1995), ao processar uma informação, existe um esforço e um gasto de energia mental que envolve atenção, memória e raciocínio. A atenção se concentra na suposição comunicada; a memória armazena e disponibiliza elementos pertinentes à informação; e o raciocínio soma-se à atenção e à memória para auxiliar no processamento do enunciado.

Os autores afirmam que este processamento acontece de forma econômica, na medida em que a mente processa as informações com o intuito de alcançar o máximo de efeitos contextuais com o mínimo de esforço. Ou seja, quanto maior o custo de processamento, menor a relevância da suposição, consequentemente, quanto o menos custo de processamento,

maior a relevância da suposição. Em outras palavras, a quantidade de esforço requerido só é justificada pelos efeitos alcançados. Sperber e Wilson (1995) definem comparativamente a Relevância como uma questão de graus:

Documentos relacionados