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2 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO INFERENCIAL

2.1 A TEORIA DAS IMPLICATURAS DE GRICE

2.1.3 As propriedades das implicaturas conversacionais

Segundo Costa (1984), as implicaturas conversacionais são produzidas em três situações:

(xi) naquela em que nenhuma máxima é violada;

(xiii) na circunstância em que o falante viola abertamente uma máxima com o claro objetivo de suscitar uma implicatura conversacional por meio de uma figura de linguagem.

I. Exemplo de situação na qual nenhuma máxima é violada

A: Vamos sair para conversar? B: Puxa, o tempo está tão feio...

A parece violar a máxima de relação. No entanto, em um diálogo, os interlocutores

partem do principio de que existe um objetivo comum na troca de informações, logo podemos supor se B está cooperando. Ou seja, no exemplo acima, o falante dá a quantidade de informação requisitada, fala conforme a verdade, é relevante e é claro, o que nos leva a concluir que o dito de B não violou nenhuma máxima e produziu uma implicatura que foi entendida por A, qual seja, de que não deseja sair.

II. Exemplo de situação na qual uma máxima é violada para preservar outra

A planeja, com ajuda de B, o itinerário de viagem para a França, onde mora C, um amigo que A deseja visitar. B, que viaja com A, não está de acordo com essa visita, porque causa um grande prolongamento do passeio. Segue o diálogo:

A: Onde mora C?

B: Em algum lugar do sul da França. (GRICE, 1989, p.32)

No diálogo acima, o Princípio da Cooperação é preservado, e B viola a máxima de Quantidade, fornecendo menos informação do que o requerido, com a intenção de preservar a máxima de Qualidade: de fato, C mora na região sul da França. Ou seja, B, embora não dê a exata informação pedida por A, não mente, e com essa atitude, torna possível inferir que B não é favorável à visita a C.

III. Exemplos de situações nas quais o falante viola abertamente uma máxima com claro objetivo de suscitar uma implicatura

(i) Violação da máxima de Quantidade

a. Por falta de informação

A: Paulo é mais responsável que Pedro. B: Cada um é cada um.

A resposta de B desconsidera a máxima de quantidade por ser totalmente não- informativa, posto que a resposta de B não dá a quantidade de informação pedida por A no nível do dito. No entanto, B tem objetivo de implicar que cada indivíduo tem seu jeito de ser, e que isto deve ser levado em consideração. B faz A chegar nessa implicatura a partir da quebra da máxima de quantidade.

b. Por excesso de informação

A: Como foi a cirurgia de sua mãe?

B: Foi ótima. Entrou no hospital às 8:00, logo foi encaminhada para a sala de cirurgia. Às 8h30 foi anestesiada, às 9h já iniciaram a cirurgia. Minha mãe foi para a sala de recuperação ao meio dia e voltou para o quarto às 17h. Às 19h já estava lúcida e recuperada.

No exemplo acima, fica claro que A recebeu uma quantidade de informações excessiva. Sendo assim, o falante viola a segunda Máxima de Quantidade e informa mais do que o requerido. Com isso, B pretende comunicar que não quer falar sobre a operação sofrida por sua mãe.

(ii) Violação da Máxima de Qualidade

A e B conversam sobre um colega que trabalha muito:

A: Onde está o Anderson? B: Deve estar trabalhando!

Nesse caso, está sendo violada a máxima de qualidade: como A e B sabem que Anderson trabalha muito, B afirma que o colega está trabalhando, mas não tem como provar factualmente o que afirma; logo, está afirmando algo para o qual não tem evidência adequada, quebrando a segunda máxima de qualidade e suscitando a inferência de que Anderson é muito trabalhador.

(iii) Violação da máxima de Relação

A e B estão falando da maneira como uma colega está vestida, quando B a vê entrar pela porta da sala:

A: Você viu a roupa que Cristina esta usando? B: Acho que vai chover amanhã.

Neste exemplo, B desconsidera a pergunta de A, e viola a máxima de relevância, pois afirma algo que não tem nenhuma relação com a pergunta de A, para sugerir que não pode responder o que lhe foi perguntado, por que Cristina está por perto.

(iv) Violação da máxima de Modo

a. Violação da máxima de obscuridade de expressões

A: Podemos nos encontrar naquele lugar? B: Com certeza.

A usa de obscuridade para que outros não entendam sobre o que está falando, porque não quer que outras pessoas saibam onde vão se encontrar. Como B sabe a que lugar A se refere, a implica que é nesse local, e B entende a comunicado.

b. Violação da máxima de ambigüidade de expressões

A: O que você achou da nova secretária? B: Muuuuito boa!

No exemplo acima, a palavra boa pode significar que a nova secretária é eficiente, ou, em um outro sentido, que a nova secretária é bonita. B se utiliza dessa ambigüidade para implicar que, na verdade, o que lhe interessa sé o físico da nova funcionária.

c. Violação da máxima de concisão

A, patroa de B, cansada da ineficiência de sua empregada com suas roupas, ensina:

“Vá até a lavanderia, pegue as roupas, separe-as, uma por uma, de acordo com suas cores, coloque na máquina, veja a quantidade de sabão em pó de acordo com o número de peças. Ligue a máquina e, quando ela acabar de lavar as roupas, estenda cuidadosamente, no varal do pátio, cada peça de roupa com dois pregadores...”

Ao invés de A ser objetiva e concisa, é prolixa, com a intenção de deixar claro que a empregada faça melhor seu trabalho. Há uma violação da máxima de brevidade, para que a empregada entenda que deve ser mais eficiente.

d. Violação da máxima de ordem

Ao contar para B que C casou e teve um filho, A diz: Nem sabes C teve um filho e

casou!

Neste caso, a máxima de modo que diz respeito à ordenação das palavras no enunciado, é quebrada. A intenção de A é trazer dúvidas sobre a conduta de C, pois o que é dito implica que C teve o filho antes de se casar.

Em linhas gerais6, esses são os principais pontos da Teoria das Implicaturas de Grice,

dos quais utilizaremos para proceder à análise dos comerciais selecionados (cf. capítulo 3),

Zaffari, Bienal e Renault Megane. Na próxima seção, a bordaremos em linhas gerais, a Teoria

da Relevância, importante teoria da comunicação inferencial.

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A expressão em linhas gerais é utilizada pelo fato de que o objetivo deste trabalho não é estudar em detalhamento, mas, isso sim utilizar os conceitos básicos de cada uma das teorias da comunicação inferencial

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