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A reparação de danos no Código de Defesa do Consumidor

3 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATOS DE BULLYING

3.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil

3.1.1 Ação e omissão

3.1.2.1 A reparação de danos no Código de Defesa do Consumidor

A convivência harmônica do Código de Defesa do Consumidor com o Código Civil, no que diz respeito a princípios, como o de não causar dano e o de reparar

85 Ibid.

86 Ibid.

integralmente eventuais danos provocados, é expressa no primeiro com base em fato ou vício do produto ou serviço oferecido88:

A responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor surge das relações de consumo e derivam [sic] do fato do produto ou do serviço ou do seu vício. O Código de Defesa do Consumidor, ao regular a responsabilidade civil, não tomou por base somente os defeitos intrínsecos do bem ou serviço, mas também, e principalmente, a segurança que estes devem proporcionar ao consumidor. Por isso, quando se fala em defeito no âmbito das relações de consumo, é necessário bem estabelecer se a responsabilidade decorre do fato do produto ou do vício. Como já asseverado anteriormente, em regra a responsabilidade civil nas relações de consumo é objetiva – arts. 12, 14 e 18 e, por exceção, subjetiva, quando estabelecida com profissional liberal, como determina o art.14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor.

Quando se trata de relações de consumo, “contratuais ou extracontratuais”, a vítima de dano, “terá direito à reparação de todos os danos experimentados, sejam de ordem patrimonial, sejam de ordem não patrimonial, na exata extensão dos danos sofridos [...]”89.

Ainda, nas relações consumeristas, destacamos que a responsabilidade contratual é fundada no contrato, aquele instrumento legal por meio do qual as partes estabelecem critérios para interagirem, delimitando direitos e deveres de cada um. Por outro lado, a responsabilidade extracontratual é calcada no dever de não lesar90:

Outra diferenciação que se estabelece entre a responsabilidade civil contratual e a extracontratual diz respeito às fontes de que promanam. Enquanto a contratual tem a sua origem na convenção, a extracontratual a tem na inobservância do dever genérico de não lesar, de não causar dano a ninguém (neminem laedere), estatuído no art. 186 do Código Civil.

A questão do patrimônio sempre foi crucial ao Direito, conforme abordamos logo no início. Nas relações de consumo não é diferente. Contudo, ao abordarmos o dano patrimonial, a questão ganha novos contornos91:

A noção de dano só patrimonial compreende conceito por demais amplo, pelo qual o patrimônio de uma pessoa seria o conjunto de direitos, e nele estariam englobados os bens materiais e imateriais. Entrementes, a perfeita caracterização jurídica de dano patrimonial envolve somente os direitos de natureza econômica, ou seja, aqueles que podem ser reduzidos a valor pecuniário, portanto, o dano patrimonial caracteriza-se pela diminuição econômica do patrimônio, podendo ser aferido por simples cálculo aritmético, subtraindo-se do patrimônio existente antes do evento danoso o

88 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Curso de direito do consumidor. Barueri, SP: Manole, 2006, p. 146. 89 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Curso de direito do consumidor. Barueri, SP: Manole, 2006, p. 224, passim. 90 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 61.

patrimônio que restou após sua ocorrência, e o resultado será o dano experimentado pelo lesado.

[...]

Em derradeira análise, é dano patrimonial o reflexo do ato danoso projetado no patrimônio economicamente apreciável, vale dizer, passível de transformação no equivalente em dinheiro, seja quanto ao dano emergente seja quanto ao lucro cessante.

Inicialmente temos que a noção de dano exclusivamente patrimonial é bastante complexa, mas fica assentado que para obter ressarcimento por um dano dessa natureza há a necessidade de mensuração numérica do patrimônio afetado.

Uma das questões intrínsecas ao dano material é que este não decorre, necessariamente, de um dano direto a bem material. Pode um dano a determinado direito não material provocar o dano de ordem material92:

Todavia, é de se atentar que em alguns casos, embora o bem violado não seja de natureza patrimonial, o dano pode projetar-se neste campo, como pode dar-se o contrário, quando a lesão a direito imaterial dá origem a dano de natureza patrimonial. Na primeira hipótese, podemos ver claramente a ocorrência no caso de lesão corporal a ser humano em que o bem atingido – corpo – não é bem patrimonial, apesar de a vítima poder vir a experimentar danos de natureza patrimonial decorrentes dessa lesão no tocante aos gastos com médico, hospital e, ainda, os lucros cessantes se a vítima deixou de ganhar em razão da lesão corporal sofrida.

Neste ponto é primordial estabelecermos esta relação: que os danos patrimoniais podem advir de lesão a um direito ou bem imaterial.

É consequência dessa divisão dos danos em patrimoniais e não patrimoniais que emerge o instituto do dano moral, o qual também esmiuçaremos adiante.

Nossa doutrina, contudo, adotou amplamente a noção de dano moral como sinônimo para dano não patrimonial93:

A denominação dano moral decorre da divisão do dano em duas grandes categorias: dano patrimonial e dano não patrimonial. No Brasil, os danos dessa última categoria tiveram consagrada a denominação de dano moral, que foi plenamente incorporada pela doutrina – Carlos Alberto Bittar, Christiano Almeida do Vale, Pontes de Miranda, Aguiar Dias, Augusto Zenum, Wilson Melo de Souza etc. – e pela jurisprudência, tendo sido também adotada pela Constituição Federal no art. 5º, incs. V e X, prevendo a reparação do dano moral.

92 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Curso de direito do consumidor. Barueri, SP: Manole, 2006, p. 219. 93 ANDRADE, Ronaldo Alves de. Curso de direito do consumidor. Barueri, SP: Manole, 2006, p. 221.

Afirmamos que a complexidade crescente das relações sociais compele a responsabilidade civil ininterruptamente a buscar respostas para os anseios do ser humano expressos em suas atitudes e convicções. Temos ainda que a divisão dos danos em patrimoniais e não patrimoniais resultou na convicção de que estes últimos são danos morais, definição por demais ampla e complexa.