• Nenhum resultado encontrado

Fatos recentes relacionados ao bullying nos Estados Unidos

2 O TRATAMENTO HISTÓRICO DO BULLYING

2.4 Exemplos brasileiros e internacionais de casos de bullying nas escolas

2.4.1 Fatos recentes relacionados ao bullying nos Estados Unidos

É fácil identificar que os Estados Unidos dominam o cenário mundial quando se trata de exposição na mídia dos casos de bullying no país. Em artigo no The New York Times56 (Bullying Story Spurs Apology From Romney, em tradução livre, História sobre

bullying motiva desculpas de Romney), o candidato presidencial Mitt Romney é alvo de

“alegações de que, enquanto adolescente, ele assediou um colega de cursinho que depois se tornaria gay”.

A reportagem versa sobre repercussões da acusação, investiga pessoas envolvidas no possível episódio e levantou dúvidas sobre o caráter do candidato.

O jornal critica que “a resposta do Sr. Romney se alternou entre um ‘não me lembro’ a um vago pedido de desculpas por quaisquer brincadeiras de colegial levadas longe demais”.

Citemos a declaração do político: “Não há dúvidas de que eu fiz algumas coisas estúpidas no colegial e, obviamente, se feri alguém em virtude disso, eu ficaria muito sentido e me desculpo por isso”.

56 PARKER, A.; KANTOR, J. Bullying Story Spurs Apology From Romney, em tradução livre, “História sobre bullying

motiva desculpas de Romney”. 10 de maio de 2012. Disponível em: < www.nytimes.com/2012/05/11/us/politics/years-later- a-prep-school-bullying-case-snares-romney.html?_r=1>. Acesso em: 15 jun.2012.

Original em inglês: The day after President Obama endorsed gay marriage, Mitt Romney found himself responding to allegations that as a teenager he harassed a prep school classmate who later came out as gay. (…) Old acquaintances described an episode in which he bullied a fellow student. Mr. Romney acknowledged playing “pranks.” (…) And Mr. Romney’s response shifted from a do-not-remember to a vague apology for any high school pranks taken too far, and efforts to deal with any damage. “There’s no question that I did some stupid things in high school, and obviously, if I hurt anyone by virtue of that, I would be very sorry for it and apologize for it,” he told Fox News’s Neil Cavuto.

Dois dias depois, o The New York Times publicaria outra notícia relacionada ao

bullying, esta, por sua vez, com uma conotação positiva57(“The Winning Essays Are”, ou “Os

ensaios vencedores são...”, em tradução livre).

Em um concurso literário entre estudantes sobre bullying, em meio a 1,2 mil composições, uma havia sido escolhida como a melhor. O autor da matéria afirma que “muitos de nós, adultos, somos céticos em relação ao ‘barulho’ sobre o bullying”.

Ele relata ter recebido, via Twitter, uma mensagem questionando: “Como podem os frágeis garotos de hoje não conseguirem lidar com o bullying que nos fez adultos melhores, mais fortes?”.

Kristof responde ao questionamento dizendo que “ele deveria ler o que Madison Jaronski, 15, de New Hope, PA, escreveu”. Em seguida, reproduz as aspas da garota:

As lágrimas têm corrido pelo meu rosto; respirar é uma tarefa que agora parece impossível. Aproximo minhas pernas mais e mais de meu peito enquanto tento transformar a pressão em um conforto reanimador. Começo a me empedernir vagarosamente, e neste momento minhas lágrimas colorem de preto meu travesseiro.

A seguir, é citada Paulina Puskala, de 17 anos, da cidade de Marquette, em Michigan. “O problema hoje não é tanto o bullying em si – o bullying tem estado presente por séculos”, diz a garota. “O problema é que é difícil escapar dele [o bullying]”. Ela considera ainda que “os valentões aparelhados pela tecnologia têm a capacidade de assediar 24 horas por dia, sete dias por semana”. Notamos aqui uma ênfase dada pela vítima ao cyberbullying.

Muitos dos autores dessas redações afirmam que os adultos “ou ignoram o

bullying ou fazem vistas grossas para ele”, recaindo sobre os alunos a tarefa de fazer com que

o bullying se torne “fora de moda”.

57 KRISTOF, N. D. The Winning Essays Are. Em tradução livre: “Os ensaios vencedores são...”. 16 mai.2012. Disponível

em: <www.nytimes.com/2012/05/17/opinion/kristof-the-winning-essays-on-bullying-are.html?_r=1>. Acesso em: 15 jun. 2012. Original em inglês: Earlier this year, I announced an essay contest for teenagers about bullying. Some 1,200 essays later, we have our grand prize winner. (…) Plenty of adults are skeptical about the fuss over bullying. “How come the thin- skinned kids nowadays can’t handle the bullying that made us better, stronger adults?” one man wrote to me on Twitter. He should read what Madison Jaronski, 15, of New Hope, Pa., wrote: “Tears have been flooding down my face; breathing is a task that now seems impossible. I draw my legs closer and closer into my chest as I try to transform the pressure into reassuring comfort. I begin to slowly rock myself, and by now my tears have colored my pillow black (…) “Today’s problem isn’t so much the bullying itself — bullying has been around for centuries,” says Paulina Puskala, 17, of Marquette, Mich. “The problem is that it is difficult to escape it.” “Technology-enabled bullies contain the ability to harass 24/7,” she added. Many of the essay writers argue that adults are either oblivious to bullying or turn a blind eye to it. In any case, they say, students themselves have to take the lead in making bullying uncool. (…) And now excerpts from the grand prize-winning essay, which also contained a ray of hope. It’s by Lena Rawley, 17, of Montclair, N.J. “Teenage girls are cruel super-humans from a distant galaxy sent here to destroy us all,” she began. “They have the self-entitlement of a celebrity heiress and the aggression of a Roman gladiator. Like vampires, they feed off the blood of the weak. They’re pubescent monsters.” (…) “My experience, while evidently not ideal, is something that I would not change. I don’t see it as a stain upon the fabric of my life, but more like an embellishment. A decorative brooch I wear with pride, a brooch that cries: I overcame bullying, so can you.”

A redação vencedora, de Lena Rawley, 17 anos, de Montclair, Nova Jersey, narra como a jovem se fechou em seu próprio mundo de estudos e leituras para suportar um período difícil. Menciona a reportagem que o texto dela “contém um raio de esperança”:

Garotas adolescentes são super-humanas cruéis de uma galáxia distante enviadas aqui para destruir todos nós. (...) Como vampiros, elas se alimentam do sangue dos fracos. Elas são monstros na puberdade. (...) Minha experiência, se por um lado evidentemente não é a ideal, é algo que eu não mudaria. Eu não a vejo como uma mancha por sobre o tecido da minha vida, ao contrário, mais como um adorno. Um brocado decorativo que eu uso com orgulho, um brocado que chora: eu superei o bullying e você também pode fazer isso.

Outro caso bastante recente mostra a forma como a repercussão desse tipo de problema pode afetar os cidadãos norte-americanos atualmente – e as maneiras pelas quais eles têm procurado reagir58

Karen Klein, de 68 anos, que foi motorista de ônibus escolar por 20 anos antes de se tornar monitora, foi alvo de um grupo de alunos de sétima série. Eles dirigiram ofensas de extrema agressividade a ela, “sobre seu peso, seu aparelho de audição e suas glândulas sudoríparas”.

Tudo foi filmado por um dos alunos e, com o título “Fazendo a monitora do ônibus chorar”, o vídeo atingiu mais de 3,9 milhões de visitas em redes sociais e de compartilhamento de vídeo (Facebook e Youtube). Revoltado diante da situação, Max

58 PRESTON, J. Online Outrage Over Bullying of School Bus Monitor, em tradução livre, “Revolta online por bullying

cometido contra monitora de ônibus escolar”. 21 de junho de 2012. (The Lede – Blogging the News With Robert Mackey, 21 de junho de 2012, “Online Outrage Over Bullying of School Bus Monitor”, em tradução livre “Revolta online por bullying cometido contra monitora de ônibus escolar”).

Disponível em: <http://thelede.blogs.nytimes.com/2012/06/21/online-outrage-over-bullying-of-school-bus-monitor/>. Para o blog The Lede – Blogging the News With Robert Mackey. Acesso em: 15 junho 2012.

Original em inglês: More than $500,000 has now been raised online for a 68-year-old school bus monitor from Rochester, N.Y., after a cellphone video went viral this week, showing a group of seventh-grade boys on the school bus brutally mocking and taunting her. The monitor, Karen Klein, who drove a bus for the Greece Central School District for 20 years before becoming a monitor three years ago, was sitting in the back of the bus on Monday afternoon when the boys began pelting her with vile remarks and one profanity-laced insult after another about her weight, her hearing aid and her sweat glands. One of the four students captured the incident on his cellphone and posted it on his Facebook page. It found its way to YouTube on Tuesday, titled, “Making The Bus Monitor Cry,” where it has surpassed 3.9 million views. The video prompted outrage around the Internet with users on Reddit urging people to send Ms. Klein messages of support. Max Sidorov of Toronto responded to the video by creating an online “vacation fund” for Ms. Klein. The owners of the site said that the contributions for Karen’s vacation fund, with an original goal of $5,000, grew bigger and faster than any other project on the site. In interviews, Ms. Klein, a widow for the last 17 years, said she was deeply touched and overwhelmed by the outpouring of support for her since the video went viral. “It is not just the money,” she told Fox News. “It is the people.” (…) At a news conference on Thursday, school officials said they were starting the disciplinary process against the four boys involved in the incident. The last day of school was Tuesday. (…) Police officials said the four boys were cooperating with the investigation and three of them have made apologies to Ms. Klein. The police said that they were also concerned about threatening messages that have been made to the boys and their families. (…) Ms. Klein told the police she did not want criminal charges pursued against the boys, who are 12 and 13 years old but she hoped that they would not be allowed to ride the bus for at least a year.

Sidorov, de Toronto, lançou uma campanha para arrecadar um “fundo de férias” destinado a Karen.

Rapidamente, a proposta que era originalmente atingir US$ 5 mil, cresceu acima de qualquer iniciativa anterior no site no qual foi criado, ultrapassando US$ 500 mil. Karen, viúva há 17 anos, afirmou sentir-se “extasiada” pelo apoio que recebeu, não apenas pelo dinheiro. “É pelas pessoas”, declarou em entrevista.

Oficiais afirmaram ter iniciado “um processo disciplinar contra os quatro garotos envolvidos no incidente”. A polícia comunicou, ainda, que “os quatro garotos estavam cooperando com a investigação e três deles se desculparam com a Sra. Klein”. Outra preocupação surgiu diante das autoridades, uma vez que os garotos e suas famílias vêm recebendo ameaças. Karen Klein declarou à polícia que não desejava prestar queixa criminal contra os meninos, de 12 e 13 anos de idade, mas que ela esperava que eles fossem proibidos de pegar o ônibus por pelo menos um ano.

Finalmente, notícia atual envolvendo diretamente um caso de bullying nos EUA dá conta de um suicídio com causa provável por bullying, em que três jovens são acusados de responsabilidade por provocar o suicídio de um colega59

Em uma escola de nível médio em Morristown, Nova Jersey, “um calouro se suicidou três semanas depois de ser assediado, roubado e ameaçado por outros estudantes em março”.

O promotor do caso, Robert A. Bianchi, afirmou que o calouro Lennon Baldwin, de 15 anos, foi “aterrorizado por dois estudantes e pressionado ao ponto de dizer aos responsáveis do Morristown High School que ele não havia sido agredido, mas tinha sido meramente vítima de uma brincadeira”.

Na reportagem, o promotor declara que “este caso novamente assinala nossa necessidade de erradicar o bullying de nossa juventude, uma vez que consequências lamentáveis como esta são numerosas demais para estarem perto de serem aceitáveis”.

59 ASSOCIATED Press. 3 Charged in Bullying Before a Youth’s Suicide, Officials Say, tradução livre Três acusados de

bullying diante do suicídio de um jovem, afirmam autoridades. 30 mai.2012. Disponível em: <www.nytimes.com/2012/05/31/nyregion/charges-for-bullying-new-jersey-teenager-who-killed-himself.html>. Acesso em: 15 jun. 2012.

Original em ingles: MORRISTOWN, N.J. (AP) — A New Jersey high school freshman killed himself three weeks after being assaulted, robbed and threatened by other students in March, the authorities said Wednesday as they publicized criminal charges against the youths. The Morris County prosecutor, Robert A. Bianchi, said the freshman, Lennon Baldwin, 15, was terrorized by two students and pressured at one point to tell Morristown High School officials that he had not been assaulted, but was merely the victim of a prank. “This case again underscores our need as a society to eradicate the bullying of our youth, as regrettable consequences such as this case are far too numerous to be anywhere near aCódigo Civileptable,” Mr. Bianchi said.

Nos trechos citados percebemos que, mesmo em uma sociedade que convive há mais tempo com o bullying, ainda existe um forte descontentamento e preocupação social em torno do assunto. Veremos que isso não se dá por acaso: uma pesquisa norte-americana recente demonstra haver alta correlação entre bullying escolar e desfechos violentos.

A cobertura do tema também mostra uma tendência a mobilizações sociais em torno de casos específicos que venham a público e causem grande comoção. Pressionadas, as autoridades por vezes demonstram desconhecimento real do problema em suas falas, pretendendo extirpar das escolas algo que aparentemente as acompanha desde seu surgimento. Notamos que os jovens têm uma percepção bastante negativa sobre a atuação dos adultos, frequentemente considerando-os ausentes, sejam eles pais ou professores. Trata- se também de um importante detalhe, pois a análise da responsabilização desses outros atores envolvidos no problema também faz parte de nosso objetivo final.

Neste contexto, citemos o “The Bully Project”. Trata-se de uma campanha de alcance social inspirada pelo premiado documentário “Bully”, lançado nos EUA em março de 2012 e está disponível no site http://www.thebullyproject.com/. Segundo o roteiro do filme, “Este ano, mais de 13 milhões de crianças americanas serão vítimas de bullying nas escolas, on-line, nos ônibus, em casa, por meio de celulares e nas ruas de sua cidade, tornando-se a forma mais comum de violência entre os jovens neste país”. Esta é a sua mensagem conclusiva.

Bully (originalmente intitulado O Projeto Bully) é um documentário sobre

bullying nas escolas americanas. Dirigido por Lee Hirsch, o filme segue a vida de cinco

estudantes que enfrentam o assédio moral em sua rotina diária. Estreou em 2011, no Tribeca Film Festival e foi também exibido no Hot Docs Canadian International Documentary Festival e no Festival de Cinema de Los Angeles. O filme foi lançado nos cinemas dos Estados Unidos, em 30 de março 2012. O documentário foi produzido durante o ano letivo de 2009-2010 e segue alunos e suas famílias no Texas, Mississippi, Geórgia, Iowa e Oklahoma.

O documentário expõe a dor e a vida muitas vezes perigosa das crianças vítimas de intimidação violenta e constante, revelando um problema que transcende fronteiras geográficas raciais, étnicas e econômicas. Por essa janela aberta pelo filme, podemos ver, entre outros casos, o drama de um jovem torturado por ser “diferente”; de uma estudante lésbica, de 16anos, que sofre rejeição por parte dos colegas e também dos professores conservadores; o destroçamento de uma família após a morte de um rapaz que resolveu se livrar do pesadelo cometendo suicídio.