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CAPÍTULO 3 ÁREA DE ESTUDO

3.2. As pesquisas de campo

3.2.2. A reserva extrativista do Iriri

Uma nova autorização69 para dar continuidade à pesquisa nas RESEXs da Terra do Meio foi submetida ao ICMBio no início de maio de 2017, logo após a entrega do relatório sobre o primeiro campo de pesquisa e elaborado no sistema eletrônico do governo - SISBIO, de acordo com as orientações fornecidas pelos gestores no escritório do ICMBio de Altamira. Nesta etapa, a ida às RESEXs contou com o apoio logístico do ICMbio, assim como de outros pesquisadores da UFPA Belém e Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) envolvidos com o projeto “Monitoramento Participativo da Caçae da Pesca na Terra do Meio”. A troca de conhecimento com a equipe de pesquisadores envolvida nesta etapa foi muito construtiva e este apoio inicial foi fundamental para a mobilização de um número maior de moradores para as reuniões de devolutiva da pesquisa, já que as comunidades são pequenas e dispersas por um território bem amplo e com pouca infraestrutura.

Ida para a RESEX do Iriri com equipe da UFPA e do ICMBio

As primeiras atividades planejadas durante este segundo campo foram as reuniões de devolutivas sobre o primeiro campo de pesquisa. Conforme havia me comprometido com os moradores entrevistados anteriormente, o retorno sobre os resultados preliminares da pesquisa foi realizado, com a finalidade de explicar também quais seriam os próximos passos. De 27 de maio a 02 de junho de 2017, foram realizadas cinco reuniões em diferentes localidades: Rio Novo, Manelito e São Francisco na RESEX do Iriri; e Morro do Anfrisio e Boa Saúde na RESEX

do Riozinho do Anfrisio.

Devolutiva da pesquisa no Morro do Anfrisio e atividade com as crianças na Boa Saúde RESEX do Riozinho do Anfrisio

Na segunda etapa, contando com apoio da AMORERI, fui até o Triunfo, localidade que faz divisa com a ESEC da Terra do Meio e a TI Xipaya. Ao longo deste percurso, foram visitadas inúmeras localidades e o levantamento de setores e pontos de pesca no Iriri foi realizado com apoio de moradores. Nesta etapa, a maior parte das entrevistas foi realizada durante a atividade diária dos ribeirinhos e, nesse sentido, destaca-se a ida aos pontos de pesca para conseguir conversar com os pescadores que, durante a época que os regatões deixam os isopores com gelo (antigamente se pescava no sal), eles não param de trabalhar.

Conforme se verifica no mapa abaixo, a localização geográfica e o formato da RESEX do Iriri implica quatro territórios vizinhos, a RESEX do Riozinho do Anfrísio que se inicia justamente onde o afluente Riozinho do Anfrisio encontra o rio Iriri, a oeste também está a TI Xipaya, a norte a TI Cachoeira Seca e a leste a sul a ESEC Terra do Meio.

Mapa da área de estudo elaborado pela autora em 2017 com software Q-GIS.

A terceira etapa teve início com a quinta reunião de retorno sobre o primeiro campo da pesquisa e, em seguida, um grupo focal foi conduzido na comunidade de São Francisco na RESEX do Iriri. O ponto principal de debate nesta reunião foi o projeto de Assistência Técnica à Pesca nas RESEXs, incluído como uma condicionante 2.24 na LO de Belo Monte em 2015 e ainda se encontra em negociação (até hoje) em 2018.

Há uma carta assinada pelas três associações das RESEXs - AMORERI, AMORA e AMOMEX – escrita com suporte do ISA em 2016 - que ressalta como os ribeirinhos da Terra do Meio já percebem os impactos de Belo Monte, além de apontar propostas sobre o que consideram prioridade para a elaboração deste projeto. Em particular, dentre as três RESEXs, as populações do Iriri têm a pesca como principal atividade econômica e são os mais diretamente interessados no assunto, além de a perceberem como uma oportunidade de melhorar suas condições de vida. Na carta entregue à NESA, os moradores afirmam que querem investir em outras cadeias produtivas para que a pressão sob o pescado possa diminuir. Esta preocupação ficou também evidenciada nas entrevistas realizadas coms os pescadores na Terra do Meio.

Os participantes do grupo focal foram provocados a refletir a respeito desta condicionante e os argumentos sobre alterações na cadeia produtiva e, especificimente, na redução da comercialização do pescado das RESEXs foram destacados pelos ribeirinhos: (i) após a construção da barragem, o recurso pesqueiro foi acumulado na Volta Grande do Xingu como, por exemplo, o Tucunaré (um peixe considerado “de primeira”, o que significa ter bom valor comercial), o que fez com que muitos pescadores da região fossem “mariscar” (pescar) nessa área com mais facilidade e rapidez e vendessem o peixe em Altamira e cidades próximas por um preço mais barato70 do que o que vem das RESEXs; (ii) o deslocamento compulsório relacionado à construção de Belo Monte que removeu ribeirinhos da “beirada” (várzea) do rio Xingu em Altamira acarretou a perda de consumidores do Pacu oriundo das RESEXs, já que, essa população depois que foi morar nos novos bairros construídos pela NESA - Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUCs)71 - não compra o peixe como faziam

anteriormente e acabam preferindo os peixes de tanque mais baratos vendidos nos mercados próximos; (iii) a NESA beneficiou os indígenas vizinhos das Resex - TI Cachoeira Seca) que contam com suporte notável (gelo e caminhão, por exemplo) para a pesca e vendem por um preço

70Como, por exemplo, 5 a 7 reais o kg do Tucunaré, dependendo do tamanho.

71 São cinco RUCs em Altamira - Jatobá, Água Azul, Laranjeiras, São Joaquim e Casa Nova – que abrigam mais

melhor para a empresa contratada pela NESA (DBCavalli).

Grupo focal realizado na comunidade de São Francisco – RESEX do Iriri

O objetivo após esta etapa, foi acompanhar os desembarques pesqueiros no porto de Maribel66, localizado na Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca. Cabe destacar que a proximidade

espacial entre a Resex do Iriri e a TI Cachoeira Seca foi importante para a escolha desta UC como foco do segundo campo, já que esta TI, além de abrigar o porto de Maribel, representa – durante a seca - a única conexão terrestre das populações tradicionais do alto Iriri e do Riozinho do Anfrisio para as cidades médias da região.

Durante as duas visitas ao porto, foi possível realizar entrevistas semiestruturadas tanto com ribeirinhos como com indígenas e representantes de empresas contratadas pela NESA que atuam no mosaico. Esta etapa permitiu o acompanhamento do monitoramento do recurso pesqueiro da Terra do Meio realizado pela NESA, através da empresa contratada Tractbel Engie. A Quality Max, uma outra empresa contratada pela NESA, é a responsável por monitorar, registrar e informar à DB Cavalli, o desembarque pesqueiro realizado pelos indígenas e ribeirinhos aos atravessadores de Altamira e Santarém, para, posteriormente, transmitir as informações coletadas à Tractbel para então chegar à NESA. São estas as duas empresas que estão envolvidas na avaliação de impacto da barragem de Belo Monte, no que diz respeito ao pescado oriundo das APs da Terra do Meio.

Desembarque pesqueiro no porto de Maribel, TI Cachoeira Seca

Os últimos dias do campo foram na cidade de Altamira e quatro atividades merecem destaque por terem contribuído para a pesquisa: (i) observação participante do GT pesca organizado pela NESA; (ii) entrevista com o responsável pelo projeto de assistência à pesca da NESA; (iii) conversa informal com representantes da NESA e do Ministério da Pesca.

Atividades com stakeholders desenvolvidas na cidade de Altamira