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Capítulo 02: A formação em saúde

2.2 A Residência Multiprofissional em Saúde

A Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (ESP/RS), em 1977 deu início a primeira Residência Multiprofissional do Brasil. Essa experiência educativa, visou a inserção de outros núcleos profissionais no modelo de residência e também promoveu uma assistência à saúde mais efetiva, equânime e de qualidade excedendo os limites da dimensão biológica na direção assinalada pelo SUS. Na década de 90, o programa de Residência Multiprofissional da ESP/RS foi extinta devido à crise econômica enfrentada pelo Brasil e por interesses políticos (FERREIRA, OLSCHOWSKY, 2010).

As Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) foram instituídas pelo MS desde 2002 e têm sido uma estratégia de qualificação e formação de profissionais para atuar sob a lógica do SUS, contribuindo para consolidação dos seus princípios e diretrizes. Esta estratégia ocorreu devido ao esforço de aproximação das políticas e ações acerca da gestão do trabalho e da educação em saúde instituídas pelo MEC, MS e pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) (BRASIL, 2005a).

Assim, em 2002, foram criadas 19 Residências Multiprofissionais em Saúde da Família, com recursos do MS na perspectiva de trabalho integrado entre as profissões da saúde e com projetos pedagógicos diversificados. Em 2003, com a criação do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges/SGTES) iniciou-se uma parceria intersetorial para garantir e fortalecer a formação de profissionais da saúde, além da criação de portaria e leis que fundamentam as bases legais das RMS sistematizado no quadro abaixo (Quadro 1) (CAMPOS, 2006).

Quadro 1: Leis e Portarias da Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade.

Portaria nº 198/GM/MS de Fevereiro de 2004

Política de Educação e Desenvolvimento para o SUS: Caminhos para a Educação Permanente: propôs eixos de ação para a formação de

Trabalhadores na área da saúde na modalidade de Residências Multiprofissionais em Saúde.

Lei Federal nº 11.129 de junho de

2005

Instituiu a Residência por área profissional em Saúde e criou a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde -

CNRMS. Portaria 1.111/MS

julho de 2005

Fixou normas sobre as bolsas para a educação pelo trabalho Portaria

interministerial 2.117 (MEC e MS)

novembro de 2005

Definiu diretrizes e estratégias para a implementação da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS)

Relatório 3ª Conferência Nacional e Gestão do Trabalho e Educação em março de 2006

Aprovou 16 propostas sobre as residências em saúde, legitimando, inclusive, a criação da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde, enquanto processo para regulamentação de

tal modalidade de formação.

Portaria Interministerial nº 2538 (MEC e MS) de outubro de 2006

Constitui grupo de trabalho para elaborar proposta de composição, atribuições e funcionamento da CNRMS.

Portaria Interministerial nº 45

(MEC e MS) de janeiro de 2007

Dispõe sobre a Residência Multiprofissional em Saúde e a Residência Multiprofissional em Área Profissional da Saúde e institui a Comissão

Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde Portaria Interministerial nº 698 de julho de 2007 Nomeia a CNRMS. Portaria Interministerial nº 506 (MEC e MS) de abril de 2008

Discussão e alteração da carga horária para 60 horas semanais da Residência Multiprofissional e em Área Profissional de Saúde.

Portaria Interministerial nº 593 (MEC e MS) de

maio de 2008

Discussão e elaboração do Regimento Interno da CNRMS.

Portaria Interministerial nº 1077 (MEC e MS)

de novembro de 2009

Dispõe sobre a Residência Multiprofissional em Saúde e a Residência em Área Profissional da Saúde e institui o Programa Nacional de Bolsas para Residências Multiprofissionais e em Área Profissional da

Saúde e a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde.

A Portaria Interministerial nº 1077/2009 definiu como eixos norteadores do Programa de Residência: os cenários de educação de acordo com a realidade sócio epidemiológica do país, a concepção ampliada de saúde, a política nacional de educação e desenvolvimento para o SUS, a abordagem pedagógica dos sujeitos no processo de ensino-aprendizagem-trabalho na

linha da formação integral e interdisciplinar, o trabalho em equipe, as parcerias que promovam a articulação entre ensino, serviço e gestão e a integração com os diferentes níveis de formação inclusive com a Residência Médica (BRASIL, 2007).

Paralelamente à criação de portarias e leis ocorreram seminários pelo Brasil com a participação de diversos atores sociais com o objetivo de debater a residência multiprofissional em saúde no sentido de fortalecer as estratégias de formação dos trabalhadores de saúde, inclusive a Residência (BRASIL, 2005; CAMPOS, 2006).

Outra questão importante foi a criação das Diretrizes Nacionais para a Residência Multiprofissional em Saúde (DNRMS), que possibilita que os programas tenham “objetivos e metas comuns para as práticas na área de saúde e a formação dos profissionais” e sejam coerentes com as Diretrizes Nacionais dos Cursos da Área da Saúde, potencializando assim as duas Diretrizes (BRASIL, 2005a).

A Residência Multiprofissional em Saúde da Família consiste em um curso de pós- graduação lato sensu, e é voltada para educação em serviço, destinando-se assim, às categorias profissionais que integram a área de saúde, supervisionada por profissionais capacitados (preceptoria e tutoria), desenvolvida em regime de dedicação exclusiva com formação mínima de 2 anos e carga horária de 60 horas semanais com auxílio financeiro, sob forma de bolsa (BRASIL, 2006). A RMS é desenvolvida em parceria com a rede de serviços nos diferentes níveis de atenção.

As categorias profissionais da saúde que incorporam esta estratégia, com exceção da médica, são Biomedicina, Ciências Biológicas, Serviço Social, Fisioterapia, Educação Física, Terapia Ocupacional, Farmácia, Fonoaudiologia, Psicologia, Nutrição, Odontologia, Enfermagem e Medicina Veterinária (BRASIL, 2007). Sob a perspectiva de um trabalho multiprofissional, esta estratégia enriquece e possibilita uma interlocução entre os atores envolvidos e a formação articulada de diferentes profissões contribuindo para a construção coletiva no trabalho em equipe (BRASIL, 2005a).

Em 2013, por meio do Pró-Residência (Programa Nacional de Apoio à Formação de Médicos Especialistas em Áreas Estratégicas) e do Pró-Residência Multiprofissional, o MS financiará mais 1.623 bolsas de residência médica e mais 1.270 bolsas de residência multiprofissional. Esta iniciativa tem o objetivo de fortalecer e apoiar a formação de especialistas em regiões e especialidade prioritárias para o SUS.

Atualmente, o incentivo financeiro às bolsas de residência multiprofissional em saúde não contemplam os preceptores e tutores. Esta questão gera uma discussão acerca da

desvalorização dos profissionais que acompanham todo processo de ensino-aprendizagem do residente, podendo em certa medida inviabilizar esta Residência.

Na Figura 1 está representado o número de residentes no Brasil em 2012, divididos por áreas multiprofissionais. Percebe-se que as áreas da enfermagem, nutrição e psicologia respectivamente tem um maior número em relação às outras categorias (Figura 1).

Figura 1 – Residentes em áreas multiprofissionais no Brasil, 2012.

2.3 A Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade