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Capítulo 02: A formação em saúde

2.3 A Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade (RMSFC) UFSCAR

Em 2006, no sentido de contribuir com a qualificação dos trabalhadores para o SUS, a UFSCar propôs o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, em parceira com a Prefeitura Municipal de São Carlos. Este programa, que usa uma concepção pedagógica pautada no referencial participativo e construtivista e utiliza metodologias ativas de ensino-aprendizagem (BRASIL, 2006; UFSCAR, 2012), vem provocando um importante movimento de interação ensino-serviço-comunidade na Rede- Escola de Cuidado à Saúde, inclusive nos processos de formação em saúde.

A metodologia ativa se apresenta com uma inovação pedagógica no processo ensino- aprendizagem, principalmente na área da saúde. A problematização ou ensino baseado na

N ú m er o de resi den tes p o r área

investigação (inquiry based learning) e a aprendizagem baseada em problemas (ABP) são os dois caminhos estratégicos que vem contribuindo para um processo de ensino e aprendizagem mais ativo e significativo para os estudantes. São baseados na aprendizagem significativa e por descoberta, bem como na superação do domínio cognitivo do conhecimento. Além disso, qualifica o estudante como centro do processo de ensino (CYRINO, PEREIRA, 2004).

No projeto pedagógico da RMSFC da UFSCar, o processo de formação visa formar profissionais “capazes de compreender a família, identificando os fatores de risco que ameaçam seu equilíbrio, suas necessidades nas diversas fases de seu ciclo vital e os aspectos da dinâmica familiar, além de habilidades que passam pela organização das ações a partir do planejamento local de saúde, intersetorialidade, vigilância da saúde e determinantes sociais”. (UFSCAR, 2012, p. 34).

A inserção dos residentes neste Programa acontece nas USF, ou seja, no trabalho conjunto com as equipes de SF, de maneira corresponsável pelas atividades desenvolvidas nesses serviços. A carga horária total prevista é de 5.670 horas, distribuída em atividades teóricas (20%) e práticas (80%) destinadas ao cuidado individual e coletivo nas USF, à criação de espaços de simulação da prática e às atividades em outros cenários da Rede Escola de Cuidado à Saúde. Essas atividades proporcionam ao residente o desenvolvimento de competências e habilidades nas áreas e subáreas de Cuidado à Saúde, Gestão, Educação e Pesquisa (Tabela 1).

Tabela 1. Áreas de Competência e critérios de excelência, que compreendem a Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, UFSCar, 2012.

Área de competência: Saúde

Subárea: cuidado às necessidades individuais de saúde

Identifica necessidades individuais de saúde

Realiza história clínica

Realiza exame clínico, de acordo com a especificidade de sua profissão.

Formula necessidades do usuário e a gestão do

cuidado

Formula e prioriza problemas Promove investigação diagnóstica Constrói e avalia planos

terapêuticos

Constrói plano terapêutico Avalia o plano terapêutico

Área de competência: Saúde

Subárea: cuidado às necessidades coletivas de saúde

Identifica necessidades coletivas de saúde

Investiga problemas coletivos de saúde Formula perfis de saúde-doença Constrói e avalia projetos

de intervenção em saúde coletiva

Constrói projetos de intervenção em saúde coletiva Avalia projetos de intervenção em saúde coletiva

Área de competência: Gestão

Subárea: organização do trabalho em saúde

Organiza o trabalho em saúde

Identifica problemas no processo de trabalho individual e/ou coletivo Constrói planos de ação orientados aos problemas do processo de

trabalho Avalia o trabalho em

saúde

Avalia planos de ação orientados aos problemas do processo de trabalho

Subárea: gestão do cuidado

Gerencia o cuidado à saúde

Área de competência: Educação

Identifica necessidades individuais e coletivas de aprendizagem Promove a construção e socialização de conhecimento

Área de competência: Pesquisa

Identifica os passos da pesquisa bibliográfica Formula o Projeto de Pesquisa

Executa o Projeto de Pesquisa

Fonte: Manual do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, 2012 – Modificado.

Todo o processo de aprendizagem do programa é construído por atividades práticas e de reflexão, que são acompanhadas por preceptores e tutores. Os preceptores são profissionais dos serviços (dentistas e enfermeiros) vinculados à Secretaria Municipal de Saúde de São Carlos com experiência de atuação em equipes de SF e que têm o papel de orientador de campo.

O preceptor atua facilitando a integração dos residentes no espaço da USF e ainda acompanha diariamente o desenvolvimento dos residentes frente às competências estabelecidas. Vale salientar que competência se refere a capacidades, domínio de quem sabe apreciar e resolver determinado assunto.

Os tutores, na sua maioria, são docentes da UFSCar que tem o papel de orientador de núcleo, orientador de pesquisa e orientador técnico-docente; podem ser profissionais das áreas de fisioterapia, farmácia, psicologia, nutrição, serviço social, educação física, terapeuta ocupacional, enfermagem e odontologia. No programa os tutores são divididos em tutores de área e de campo.

Os tutores de área são profissionais das respectivas especialidades dos residentes. A tutoria ocorre semanalmente e é dedicada à discussão do núcleo profissional e saúde coletiva além de outras atividades diversas que são programadas em conjunto pelo tutor e residentes. Estas podem contemplar ações e responsabilidades relativas às áreas de saúde (cuidado às necessidades individuais e coletivas de saúde), gestão da atenção à saúde e educação em saúde.

Por sua vez, o tutor de campo acompanha os residentes no cenário de práticas (USF), na organização do serviço, no manejo dos casos, na problematização da realidade vivenciada e em atividades comunitárias de promoção e educação em saúde.

Considerando todo o contexto de aprendizagem deste programa de residência, são realizadas reflexões da prática pedagógica para os preceptores e tutores. Com efeito, estes podem ser considerados preciosos espaços de educação permanente (EP).

No seu primeiro ano de atuação (2007) o programa ofereceu 46 vagas em 08 áreas da saúde distribuídas nas 08 USF do munícipio. Estes residentes foram distribuídos em equipe de referência (enfermeiros e dentistas) e apoio matricial (educadores físicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e terapias ocupacionais). Esses dois tipos de arranjo organizacional buscam priorizar objetivos comuns na construção compartilhadas dos saberes, utilizando ferramentas tecnológicas como o Projeto Terapêutico Singular (PTS) e ampliando o olhar para as diversas dimensões do cuidado.

O programa adota como metodologia de gestão do trabalho em saúde os conceitos de apoio matricial e equipe de referência, tal como sugerido por Campos (2007) e têm como intuito a clínica ampliada, a integralidade e a construção de autonomia dos usuários (CAMPOS, DOMITTI, 2007).

A proposta de apoio matricial em saúde pretende assegurar suporte assistencial e técnico-pedagógico às equipes ou profissionais responsáveis pelo cuidado dos usuários. O apoiador matricial deve manter uma relação horizontal e uma comunicação ativa, compartilhando conhecimento com os profissionais de referência, a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações. (CAMPOS, 1999; CAMPOS, DOMITTI, 2007).

Por sua vez, a equipe de referência busca a construção de um vínculo terapêutico entre profissionais e usuários, atuando com responsabilidade sanitária no acompanhamento longitudinal de casos individuais, familiares ou comunitários (CAMPOS, 1999; CAMPOS, DOMITTI, 2007).

Campos (1999, p. 395), sugere que seja constituído um novo arranjo para os serviços de saúde, pautados nos princípios de equipe de referência e de apoio matricial que:

... estimulasse, cotidianamente, a produção de novos padrões de inter-relação entre equipes e usuários, ampliasse o compromisso dos profissionais com a produção de saúde e que quebrasse obstáculos organizacionais à comunicação.

O sistema de avaliação é feito a partir de instrumentos específicos e critérios diferentes de desempenho denominadas avaliação formativa e avaliação somática. Residentes, preceptores, tutores de área e de campo e programa são avaliados de maneira formativa nos diferentes espaços teóricos e práticos de aprendizagem. O processo de avaliação formativa é contínuo e processual compreendendo todo processo de ensino-aprendizagem do residente fundamental para a sua formação (UFSCAR, 2012).

No final do programa, é realizada uma avaliação somativa para a certificação de competência vinculada à obtenção do conceito satisfatório. Os residentes devem entregar o comprovante de submissão do artigo para a revista ao tutor de área e a secretaria do programa de residência (UFSCAR, 2012).

Na Tabela 2, podemos observar a redução do número de formandos ao longo dos anos. Em 2010, houve um aumento do número de programas de residência o que ocasionou a redução de financiamento e consequentemente a redução do número de vagas das residências pelo MS.

Tabela 2: Distribuição do número de residentes formados por turma e área profissional, 2013.

Ano e turma Área Profissional 2007 1ª Turma 2008 2ª Turma 2009 3ª Turma 2010 4ª Turma 2011 5ª Turma Enfermagem 03 05 08 04 04 Odontologia 08 06 04 03 03 Educação Física 03 01 04 --- 01 Fisioterapia 04 02 04 01 01 Fonoaudiologia --- 06 --- --- --- Farmácia 01 06 --- 01 01 Nutrição 05 01 04 01 01 Psicologia 04 02 05 01 01 Serviço Social 02 --- 03 01 01 Terapia Ocupacional 02 01 04 --- 01 Total de Residentes 32 30 36 12 14