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A resolução 225 de 2016 e sua importância no âmbito brasileiro

3. AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DIANTE DA APLICAÇÃO DA JUSTIÇA

3.2 JUSTIÇA RESTAURATIVA

3.2.1 A resolução 225 de 2016 e sua importância no âmbito brasileiro

Através das recomendações da ONU, Organização das Nações Unidas para a instauração de uma Justiça Restaurativa na legislação dos países, o CNJ, Conselho Nacional de Justiça, elaborou a Resolução n. 225 de 31 de maio de 2016, para que fosse norteada a Justiça Restaurativa no Poder Judiciário brasileiro.

O Conselho Nacional de Justiça está elencado na Constituição Federal de 1988 através da Emenda Constitucional de 2004, com Reformas ao Poder Judiciário, descrito no artigo 103, § 4º:

[...]

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:

35

BRASIL, Resolução nº 150 de 09 de agosto de 2016, dispõe quanto à criação de Núcleo de Solução

Alternativa de Conflitos e outras providencias. Disponível

I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;36

Nota-se que compete ao CNJ a expedição de atos regulamentares, desta feita, cumpre ressaltar que as resoluções não têm força de Lei, tendo em vista que não passam pelo procedimento necessário junto ao Poder Legislativo, sendo apenas uma orientação, ou seja, um documento onde constam diretrizes visando a implementação e realização da prática, como por exemplo no caso em questão, da Justiça Restaurativa nos Tribunais de Justiça do Brasil.

Apesar de não ser obrigatória pelos juízes e Tribunais sua relevância e prática são fundamentais no país, pois visam a melhoria tanto em relação aos tribunais, como também entre pessoas, na sociedade em si, buscando formas céleres e com práticas eficientes.

Essa Resolução dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no Poder Judiciário, com diretrizes para a implementação dessa nova prática, advinda de um resultado desenvolvido através do CNJ em que o presidente era o Ministro Ricardo Lewandowski.

No § 1º do artigo 1º da Resolução n. 225/2016, dispõe sobre os efeitos da resolução, em que menciona a prática restaurativa e o procedimento restaurativo, que compõe um conjunto de atividades e etapas a serem promovidas objetivando a composição das situações em quaisquer casos elencados no caput do artigo já descrito anteriormente, inclusive quanto à sessão restaurativa, participam as pessoas diretamente envolvidas com uma abordagem diferenciada.37

A Justiça Restaurativa possui também princípios, assim como a legislação brasileira, quais sejam o de corresponsabilidade, de reparação de danos, do atendimento Às necessidades dos envolvidos, informalidade, voluntariedade, imparcialidade, participação, empoderamento, consensualidade, da celeridade e da urbanidade.

Verifica-se a aplicação de diversos princípios para que ocorra uma aplicabilidade embasada de forma clara e objetiva, demonstrando a preocupação quanto sua eficácia nos tribunais brasileiros.

36

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 26 jul. 2018.

37

Cf. Resolução n. 225 de 31 de maio de 2016, que dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa

no âmbito do Poder Judiciário e outras providências. Disponível em :< http://www.cnj.jus.br///images/atos_normativos/resolucao/resolucao_225_31052016_02062016161414.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.

Quanto às atribuições do CNJ perante à Justiça Restaurativa, pauta-se dentre seus objetivos, conforme artigo 3º, o caráter universal, o amplo acesso aos usuários do Poder Judiciário, o caráter sistêmico, interinstitucional, interdisciplinar e formativo.38

Cumpre mencionar que para a realização da justiça restaurativa há o prévio consentimento de todos os participantes, inclusive a possibilidade de retratação até a homologação do procedimento restaurativo, ademais, os participantes são informados sobre o procedimento e possíveis consequências.39

Para a implementação do projeto da Justiça Restaurativa, os tribunais devem observar as diretrizes elencadas na Resolução n. 225 de 2016, em que se devem destinar um espaço físico para o atendimento, magistrado responsável para coordenação dos serviços, com apoio administrativo, possuir uma equipe de facilitadores restaurativos, entre servidores do próprio quadro funcional, ou designados pelas instituições conveniadas para dedicar exclusiva ou parcialmente, inclusive aceitando apoio voluntário.40

O atendimento também consta na Resolução, em que a sessão contará com a participação voluntária das famílias, junto com a Rede de Garantia de Direito local e da comunidade para a realização da solução, buscando evitar a repetição do crime praticado, bem como na sessão é vedado a forma de coação ou emissão de intimação judicial para sua realização.

No artigo 8º, seus parágrafos dispõem sobre o facilitador restaurativo.

§ 1º O facilitador restaurativo coordenará os trabalhos de escuta e diálogo entre os envolvidos, por meio da utilização de métodos consensuais na forma autocompositiva de resolução de conflitos, próprias da Justiça Restaurativa, devendo ressaltar durante os procedimentos restaurativos:

I – o sigilo, a confidencialidade e a voluntariedade da sessão; II – o entendimento das causas que contribuíram para o conflito; III – as consequências que o conflito gerou e ainda poderá gerar; IV – o valor social da norma violada pelo conflito

§ 2º O facilitador restaurativo é responsável por criar ambiente propício para que os envolvidos promovam a pactuação da reparação do dano e das medidas necessárias para que não haja recidiva do conflito, mediante atendimento das necessidades dos participantes das sessões restaurativas.

38 Cf. BRASIL. Resolução n. 225 de 31 de maio de 2016, que dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível em :<

http://www.cnj.jus.br///images/atos_normativos/resolucao/resolucao_225_31052016_02062016161414.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.

39 Cf.op.cit. 40

§ 3º Ao final da sessão restaurativa, caso não seja necessário designar outra sessão, poderá ser assinado acordo que, após ouvido o Ministério Público, será homologado pelo magistrado responsável, preenchidos os requisitos legais.

§ 4º Deverá ser juntada aos autos do processo breve memória da sessão, que consistirá na anotação dos nomes das pessoas que estiveram presentes e do plano de ação com os acordos estabelecidos, preservados os princípios do sigilo e da confidencialidade, exceção feita apenas a alguma ressalva expressamente acordada entre as partes, exigida por lei, ou a situações que possam colocar em risco a segurança dos participantes.

§ 5º Não obtido êxito na composição, fica vedada a utilização de tal insucesso como causa para a majoração de eventual sanção penal ou, ainda, de qualquer informação obtida no âmbito da Justiça Restaurativa como prova.

§ 6º Independentemente do êxito na autocomposição, poderá ser proposto plano de ação com orientações, sugestões e encaminhamento que visem a não recidiva do fato danoso, observados o sigilo, a confidencialidade e a voluntariedade da adesão dos envolvidos no referido plano.41

Nota-se que a realização da Justiça Restaurativa quem realizada é o mediador que está presente no encontro entre a vítima e ofensor, bem como pessoas que são importantes estarem presentes, buscando uma solução aceitável para ambas as partes.

Todavia, conforme artigo 12 da Resolução n. 225 de 2016, há possibilidade de o procedimento restaurativo ocorrer antes da judicialização do conflito, possibilitando às partes submeterem os acordos e planos de ação à homologação através do magistrado responsável pela Justiça Restaurativa.42

Quanto à figura do facilitador, suas atribuições, bem como o que é vedado, constam na resolução, desta forma, denota-se a preocupação do Presidente do CNJ, ao criar a Resolução, para que constem limites ao facilitador e de uma forma que ele possa verificar claramente, primeiramente as atribuições do facilitador:

I – preparar e realizar as conversas ou os encontros preliminares com os envolvidos; II – abrir e conduzir a sessão restaurativa, de forma a propiciar um espaço próprio e qualificado em que o conflito possa ser compreendido em toda sua amplitude, utilizando-se, para tanto, de técnica autocompositiva pelo método consensual de resolução de conflito, própria da Justiça Restaurativa, que estimule o diálogo, a reflexão do grupo e permita desencadear um feixe de atividades coordenadas para que não haja reiteração do ato danoso ou a reprodução das condições que contribuíram para o seu surgimento;

41 BRASIL. Resolução n. 225 de 31 de maio de 2016, que dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências. Disponível em :<

http://www.cnj.jus.br///images/atos_normativos/resolucao/resolucao_225_31052016_02062016161414.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2018.

42 Cf. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Restaurativa: Horizontes a partir da

Resolução CNJ 225. Disponível em

<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/08/4d6370b2cd6b7ee42814ec39946f9b67.pdf>/. Acesso em: 26 jul. 2018.

III – atuar com absoluto respeito à dignidade das partes, levando em consideração eventuais situações de hipossuficiência e desequilíbrio social, econômico, intelectual e cultural;

IV – dialogar nas sessões restaurativas com representantes da comunidade em que os fatos que geraram dano ocorreram;

V – considerar os fatores institucionais e os sociais que contribuíram para o surgimento do fato que gerou danos, indicando a necessidade de eliminá-los ou diminuí-los;

VI – apoiar, de modo amplo e coletivo, a solução dos conflitos; VII – redigir o termo de acordo, quando obtido, ou atestar o insucesso;

VIII – incentivar o grupo a promover as adequações e encaminhamentos necessários, tanto no aspecto social quanto comunitário, com as devidas articulações com a Rede de Garantia de Direito local.43

No artigo 15 possuem elencadas condutas vedadas ao facilitador, possuindo pena de responsabilização;

I– impor determinada decisão, antecipar decisão de magistrado, julgar, aconselhar, diagnosticar ou simpatizar durante os trabalhos restaurativos;

II – prestar testemunho em juízo acerca das informações obtidas no procedimento restaurativo;

III – relatar ao juiz, ao promotor de justiça, aos advogados ou a qualquer autoridade do Sistema de Justiça, sem motivação legal, o conteúdo das declarações prestadas por qualquer dos envolvidos nos trabalhos restaurativos, sob as penas previstas no art. 154 do Código Penal.44

Para se tornar um facilitador, deve-se submeter ao curso de aperfeiçoamento permanente, constituído sua forma também na Resolução.

Numa obra organizada pelo CNJ, Justiça Restaurativa: horizontes a partir da Resolução CNJ 225 mencionam que, “No Brasil, a Justiça Restaurativa teve seu primeiro surgimento teórico na década de 90, quando o tema passou a ser atraente para os pesquisadores como uma possível alternativa ao sistema penal tradicional.”45

A justiça restaurativa busca como proposta a inclusão e responsabilidade social, envolvendo o prejudicado e o autor do ato delitivo, possibilitando um diálogo entre eles, para que busque uma solução para ambas as partes, inclusive fortalecendo o papel da justiça pacificadora.

Segundo Flores e Brancher:

43 Cf. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Restaurativa: Horizontes a partir da

Resolução CNJ 225. Disponível em

<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/08/4d6370b2cd6b7ee42814ec39946f9b67.pdf>/. Acesso em: 26 jul. 2018.

44 Op. cit. 45

Considerando que as repercussões da aplicação das práticas restaurativas, tanto no que se refere ao trato dos conflitos em si quanto aos impactos que podem produzir com relação ao contexto em que serão inseridas, sublinha-se o seu potencial de desencadear um amplo processo de aprendizagem e empoderamento social, tendo no Poder Judiciário – ou mais amplamente, no Sistema de Justiça – uma referência central na difusão do paradigma restaurativo.

Sendo assim, por mais que constitua um objetivo relevante por si, a apli- cação de práticas restaurativas na esfera judicial não deverá constituir um fim em si mesma, senão representar um fator de difusão operacional dessas novas concepções e habilidades junto às redes de serviços (segu- rança, assistência social, educação e saúde) e comunidade.46

Verifica-se que não se trata de apenas inserir uma prática restaurativa no âmbito judicial, mas sim da sua aplicação com difusão dessas práticas visando um conjunto de concepções e certa dinâmica na ordem jurídica e institucional.

Conforme Salmaso:

É certo que, em estrita observância às competências normativas do CNJ, a Resolução nº 225/2016 disciplina princípios e fluxos da Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário. Todavia, dentro dessa visão ampla e integrativa da Justiça Restaurativa, a Resolução determina aos Tribunais a observância de diretrizes voltadas à articulação interinstitucional e sistêmica com a Rede de Garantia de Direitos e com redes comunitárias e, ainda, o apoio à expansão das ações, dos princípios e dos procedimentos restaurativos para outras ambiências institucionais e sociais, como um verdadeiro irradiador dos valores e princípios restaurativos.47

Nota-se que a Justiça Restaurativa, disposta na Resolução n. 225 de 2016, possibilita a aplicação de metodologias de acordo com o caso concreto, todavia sem especificar qual metodologia utilizar, mas sim a importância da aplicabilidade da Justiça Restaurativa para solucionar conflitos através do diálogo e da ideia de responsabilização, diferentemente da punição.

De acordo com entendimento de Salmaso:

Por outro lado, uma das ideias centrais da Justiça Restaurativa é apresentar ao ofensor a possibilidade de ele, após refletir sobre o erro cometido, assumir novos caminhos, reparar os danos, ou seja, voltar atrás na trilha dos passos errados, com o apoio da comunidade, sem que haja punição. Por- tanto, o fato de o processo convencional caminhar paralelamente com o procedimento restaurativo irá esvaziar este último e o trabalho da Justiça Restaurativa. Assim porque, se a pessoa tiver a perspectiva de cumprir uma punição ao final, ou efetivamente for condenado a tanto, irá se desinteressar do trabalho restaurativo, que requer um grande esforço emocional, para lidar com o erro cometido e assumir novos caminhos, e

46

BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Restaurativa: Horizontes a partir da Resolução

CNJ 225. Disponível em

<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/08/4d6370b2cd6b7ee42814ec39946f9b67.pdf>/. Acesso em: 26 jul. 2018.p. 102.

47

físico/financeiro, para reparar os danos causados, tanto à vítima como à comunidade. Ademais, a conflituosidade deflagrada no processo punitivo formal acabaria por obstar o que se busca no processo circular restaurativo, ou seja, a construção de uma solução pacífica para o problema. Isso tudo somado ao risco de as informações do processo circular restaurativo serem usadas no processo penal, quebrando-se o sigilo.48

Como forma de um novo modelo de pacificação social e enfrentar a criminalidade através dos princípios elencados na Resolução, mas principalmente o de empoderamento, no qual apesar de ter praticado o ato delitivo, não deve se tornar um indivíduo qualquer, mas sim com direitos e garantias a serem respeitados, bem como uma nova reflexão diante do enfrentamento da criminalidade.

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