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3 Políticos paraibanos suspeitos na suspeita mídia

3.1 A revista Veja como construtora de identidades

mecanismos intelectuais derivados de suas convicções que os protegeriam de choques, cercas que impedissem assaltos a suas mentes.

No Brasil, há os privilégios dos políticos em conseguir concessões para emissoras de rádio e televisão, de como a ditadura militar, de 1964 a 1985, impôs a censura, aprendeu edições de jornais e revistas, ao mesmo tempo em que aparelhou as Organizações Globo para jogar no seu time. A revista Veja e a Rede Globo de Televisão, além de outros veículos, elegeram e derrubaram o ex-presidente Fernando Collor de Melo, enquanto a Folha de São Paulo agiu em favor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Todos trabalharam com o objetivo de impedir a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Se o jornalismo pretende manter seu capital simbólico outorgado pela sociedade, a legitimação de domínio da informação, deve saber que tal privilégio somente encontra espaço no meio do povo, lugar com presença de muitas mentes atentas querendo saber da verdade e sem se dispor a manipulações.

Rubim (1995, p. 140), comenta sobre as construções sociais no entrelaçamento da comunicação, política e imaginário, em que “os próprios cenários construídos na dimensão pública originária da comunicação mediática não podem prescindir, para sua composição e eficácia, de significativas remissões ao imaginário social”.

Procuro examinar discursos midiáticos que se propuseram a construir simbolicamente a identidade política paraibana.

Analisarei casos exemplares da práxis jornalística que sobrevive em meio a grandes paradoxos, envolta ativamente em dúvidas e incertezas, em tratamentos desiguais tal qual o perfil do mundo em que vivemos, afinal a mídia vive em mão dupla com a sociedade, conforme o célebre dizer de Abramo (1988, p. 109): “Não há uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão.”

3.1 A revista Veja como construtora de identidades

Na minha seleção quantitativa destinada a referendar a hipótese de que a identidade política paraibana é projetada negativamente por enunciações discursivas, optei, principalmente por matérias de veículos impressos de circulação nacional, pela sua abrangência no imaginário dos “outros” brasileiros. Lembro, de acordo com o já antecipado

na introdução deste estudo, que selecionei enfoques jornalísticos sobre o “Caso Gulliver”, “Operação Confraria” e cassação do governador Cássio Cunha Lima.

Para tratar do primeiro objeto, o “Caso Gulliver”, recorto o gênero revista de informação e análise113, que doravante nomearei apenas como revista, especificamente o semanário Veja, considerando-o em virtude de suas estratégias jornalísticas de formulação da atualidade, e também com notório potencial para a construção simbólica de identidades.

Estabeleço como parâmetro estrutural deste tópico a acepção de que a revista por dominar as estratégias discursivas e imagéticas, a interação da linguagem verbal e não verbal, ao construir a realidade faz o mesmo com identidades. Linha de entendimento em que me direciono para demonstrar, num exercício de interpretação metadiscursiva, a partir do conteúdo da reportagem “Viola calibre 38”114 do semanário Veja, como um ator social e político paraibano assumiu o papel de agente de perpetuação de estigmas sobre a Paraíba. No caso, o político Ronaldo Cunha Lima, como sujeito colaborador e indutivo para que Veja reiterasse, depreciativamente, a identidade política regional.

Destaco o gênero revista, incluindo todas as publicações do país do segmento de informação e análise, a exemplo de Veja, Época e Isto É, segundo suas técnicas gráfico- editoriais que as fazem se legitimar como veículos especialistas em configurar a imagem do “outro”, com maior visibilidade e amplitude em virtude da grande circulação e credibilidade que alcançam115. Particularmente à Veja cabe ainda um reconhecimento especial pela sua posição de liderança, registrando a maior tiragem do país.

Os jornais publicam o conteúdo de interesse coletivo, distribuídos e fixados em molduras retangulares, geralmente na medida 33,5 x 54 centímetros, tamanho padrão da página do jornal. Cada um deles ordenado e diagramado em posições irregulares, blocos e colunas de palavras, imagens, fios, fundos coloridos e espaços em branco, fragmentos desconexos da história plural diária da humanidade. De acordo com as editorias, fatos

113

Informação e análise é a classificação taxionômica da revista que não trabalha apenas com a notícia pura e seca, mas sim também com sua interpretação, de forma crítica e analítica. Vallada (1983, p. 75) assim explica as revistas de informação e análise: “Embora também semanais, seu conteúdo difere substancialmente do conteúdo de revistas de interesse geral. Em lugar das frivolidades, apresentam informação, interpretação e opiniões. Podem ser consideradas como um híbrido entre jornal e revista, ou um jornal semanal com forma e formato de revista, apresentando um resumo dos fatos mais importantes ocorridos no país, no continente e no mundo”.

114 Viola Calibre 38. Veja. São Paulo, 10 de novembro de 1993, edição 1 313, p. 32-37

115 “Revistas como a Veja, Isto É e Época, na ótica de alguns leitores, pelo fato de publicarem apenas o mais

importante da semana, acabam alcançando conceitos de seletividade, de importância superior ao jornal, alcançando um grau de seriedade superior ao de outros gêneros de revistas e nunca inferior aos diários mais austeros e respeitados” (CARVALHO, 1998, p. 128). Na mesma linha de entendimento Sobreira (1993, p. 85) afirma: “Cada exemplar da revista Veja e Isto É tem uma “família” de cinco leitores em média. O assinante forma uma espécie de religião ou fã-clube, acredita em tudo impresso na revista que coleciona e que usa como fonte de consulta. O tempo de exposições de revistas – uma semana e mais alguns dias – nas ante-salas de dentistas e cabeleireiros e nas casas e apartamentos de leitores é quase dez vezes superior ao de qualquer jornal.”

variados, temas e assuntos diversificados, aparecem em mosaicos dispersos, uma vez que o jornal para concorrer com o imediatismo da televisão procura ser o mais completo possível e o principal intérprete do mundo, dotado de macro visão, tentando abarcar incontáveis tendências e culturas, além de servir como um prestador de serviços indispensável para a comunidade.

A revista também procura ser uma intérprete do mundo, porém com uma visão mais seletiva e analítica que os diários. Se este procura abarcar todo o mundo com uma macro- visão, ela filtra a generalidade dos acontecimentos ficando com os fatos mais importantes, aplicando-lhes maior interpretação. Trabalha com o conceito de que o homem contemporâneo, mediante a necessidade de estar bem informado, atento à realidade (construída pelo jornalismo) que o cerca, se satisfaz por meio de seu imaginário provocado pela informação: o que se lê e vê atrai, encanta, inquieta, provoca e surpreende.

Na estruturação da revista há uma categorização dos acontecimentos que atribui maior ou menor grau de relevância às ocorrências da semana, processo que é amplamente auxiliado pelas manchetes de outras mídias diárias.

A importância da revista ainda se potencializa se observados seus mecanismos de construção da realidade ou de aferição da atualidade em estratégias que, com o objetivo de suplantar os demais meios, apossa-se dos fatos de forma definitiva e em maior amplitude informativa e interpretativa que o jornal impresso, telejornalismo e o site noticioso da Internet. Veículos que se sustentam fundamentalmente por pautar a atualidade de cada dia. Dependentes da renovação diária, ao optar por continuar enfocando um mesmo assunto, empregam a técnica da suíte, o enfoque contínuo, em dias seguidos, relatando os desdobramentos do fato e repercussões. No entanto, a revista toma para si o fato e seus sucedâneos, sendo mais eficaz para dar conta de todo o conjunto, com o privilégio de apresentar sua totalidade assim como a análise interpretativa, valorizada pela linguagem síntese. Mantém, assim, o capital simbólico de ser, ao mesmo tempo, mais completa, porém sucinta.

A realidade ou a história bem recente surgem como representações daquilo que o semanário elegeu na semana como acontecimento para ficar na memória da sociedade. Comumente as pessoas guardam revistas, dificilmente jornais. Elas se tornam documentos históricos, guardando para a posteridade o resumo informativo e interpretativo dos fatos mais importantes de determinada semana de tempos passados.

O procedimento técnico estratégico dos semanários também realiza um processo de hierarquização, em função de suas diversas seções (política, economia, cotidiano, esportes,

artes, cultura, etc.), filtrando o mais relevante para ser matéria de capa. Tais seções podem ser comparadas a verdadeiras janelas para a exposição da realidade, estruturadas para que a revista seja reconhecida como um dispositivo de compreensão da realidade. Se não houvesse essa preocupação com a estrutura das seções hierarquizantes a lógica dos discursos da atualidade do relato jornalístico utilizado pela publicação, caracterizada pela periodicidade semanal, seria inócua, seria engolida pelos meios diários.

Na montagem gráfica do jornal as matérias são distribuídas numa espécie de quebra- cabeça, ordenado, pronto e acabado para a leitura. Cada matéria é confrontada com as outras, passando pelo processo de hierarquização que resulte num encaixe perfeito no diagrama entre as variadas formas dos blocos de textos acompanhados ou não de imagens de forma a condensar os diversos acontecimentos numa única moldura. Forma um quadro do mundo, uma janela privilegiada para ver passar os fatos de determinado período histórico-social. A revista faz o mesmo, porém segundo suas próprias especificidades. Ao dedicar páginas exclusivas aos fatos, realiza a estratégia técnica que lhes denota proeminência.

Se o conteúdo das revistas é parâmetro mediador da mídia brasileira para hierarquizaros fatos da semana, assim como dispositivo para sintetizar a história do presente, construir a atualidade, é efetiva para preencher o imaginário informativo do brasileiro, direcionar, quando for o caso, sua conotação da identidade de um “outro”, no aspecto apontado por (França, 2002, p. 27): “A discussão da identidade é, no mesmo movimento, a discussão da ‘alteridade’, da diferença. ‘Nós e o ‘outro’ são pares indissociáveis”. Surgem discursos que se ocupam em construir identidades, optando por um dos dois sentidos antagônicos fundamentais: a interpretação positiva que exalta, ou a negativa da depreciação.

Desse modo, no aspecto identitário que reputo à revista, penso no seu potencial para proporcionar ampla visibilidade aos personagens que enfoca, dotando-lhes de maior notoriedade possível, enaltecendo-os ou execrando-os. Quantas formulações discursivo- imagéticas sobre identidades individuais e sociais se fazem presentes em qualquer edição de um semanário de circulação nacional?

O aspecto quantitativo dos fatos narrados é pronunciadamente minimizado diante do qualitativo, mais relevante ainda se associado à práxis de hierarquização dos acontecimentos da semana pela revista que reserva para sua capa o fato mais notável, quando, segundo o discernimento dos editores, sua relevância ser considerável a ponto de merecer a escolha. O processo de seletividade é tão esmerado que em não havendo assunto noticioso digno da capa, a opção é para pautas relativas a comportamento, saúde, vida moderna, ciência, esporte, enfoque sobre celebridades, arte etc.

A partir deste parâmetro, a capa proporciona interessantes estudos nos campos da interpretação teórica voltados para o conhecimento do jornalismo de revistas, mediante as especificidades de suas estratégias enunciativas com peculiar interação entre imagens e chamadas verbais116.

Roberto Muggiati (1990), no seu ensaio “Capa de revista - momento de decisão” fornece a precisa informação da relevância da capa para determinar o sucesso da edição em termos de venda: “Capa de ‘Manchete’ é como aquela história de pênalti no futebol: tão importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube. O próprio Adolfo Bloch [editor- proprietário da publicação] participa da escolha, num verdadeiro corpo-a-corpo com a redação” (p. 8).

Na mesma linha de entendimento, Vallada

(1983, p. 110), considera os aspectos

do marketing editorial: “A capa de uma revista pode ser comparada à embalagem de um

produto, cujas funções são protegê-lo, atrair a atenção do comprador potencial, exibir seu conteúdo, valorizá-lo e destacar sua marca, nome ou logotipo.”

Os quadros coloridos e sedutores em que se caracterizam as capas de revistas são ordenados simetricamente pelo jornaleiro, “sobrepostos e superexpostos” (Gomes, 1992, p. 8), de forma atrativa, irresistível para os olhares de alguns aficionados, cujo comportamento revela aspectos curiosos mediante sua disposição para perscrutar bancas de jornais e revistas, conforme comenta Crespo (1990, p. 16):

O verdadeiro viciado em cheiro de tinta e em papel-jornal ou “couché” - este não resiste a nenhuma banca - pode ser facilmente reconhecido quando anda pela rua: é aquele indivíduo que, mesmo apressado, entorta o pescoço, cada vez que passa por uma banca, e às vezes dá paradas bruscas, quando algo chama sua atenção. É a maior fonte de informações para os leitores especializados porque, mesmo que nunca leia determinada revista, sabe sempre onde tem. Este devoto de Gutemberg jamais se livra da sensação de que, por mais que procure, há sempre uma novidade que ele não conhece.

Na perspectiva da construção identitária individual pela revista, qualquer ator social presente na capa é automaticamente elevado a um patamar de acentuada relevância, passando a fazer parte da história atual que fica para a posteridade. Se de forma positiva, em sentidos de enaltecimento, alcança a elevação simbólica ao estatuto de celebridade. Ao contrário, se

116 “Os semanários de informação e análise se esmeram na confecção de suas capas. Veja, por exemplo prima

sempre pelo aspecto visual por meio de diagramação atrativa com muitas fotografias, cores, vinhetas, recursos infográficos – o emprego das técnicas de diagramação proporcionada pelos programas de artes gráficas para computador – etc. Assim como acontece com qualquer outra publicação do gênero a capa de Veja é confeccionada para promover a circulação da revista.” (CARVALHO, 1998, p. 170-171)

aparecer numa denotação depreciativa, ocupará os espaços marginais do juízo de valor público.

Nesse sentido, o semanário é eficaz para enunciar em suas capas alguns eleitos que recebem o privilégio de serem enaltecidos, promovidos positivamente aos olhos da opinião pública, conforme os exemplos das figuras 10 e 11, conteúdos das capas de Veja de números 1 374 e 1 394, reproduzidas no capítulo 2, ambas retratando o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso.

Na perspectiva, antagônica, surge o exemplo da edição (figura 1), com a matéria de capa que pautou o paraibano Lafaiete Coutinho Torres, na época presidente do Banco do Brasil, na produção de sentidos que acusava tal personagem de perseguir e pressionar os adversários do presidente da República do período, Fernando Collor de Melo.

Lafaiete Coutinho foi associado, na capa da referida edição, à mítica figura do cangaceiro e sua violência, enunciado como “O pistoleiro do Planalto”, numa projeção discursivo-imagética estigmatizada e depreciativa da identidade política nordestino-paraibana.

Logo, “ser capa” do semanário significa ser alçado ao céu ou empurrado ao inferno. As duas situações vividas, por exemplo, pelo político Fernando Collor de Mello, conforme procurei contextualizar em trabalho anterior (CARVALHO, 1998, p. 252):

A revista Veja teve seus posicionamentos político-ideológicos bem definidos, porém variáveis, em relação ao político Fernando Collor de Mello [...]. Tivemos Veja aceitando e carimbando Collor como “o caçador de marajás”, legitimando-o como o candidato “das mudanças”, ideal para o país, festejando sua eleição, elogiando sua performance como presidente, para depois passar a criticá-lo perante sua incapacidade de resolver os problemas do país e, finalmente, apresentar o discurso antecipatório de seu impeachment.

Veja elabora capas com a intencionalidade de até mesmo ir além da depreciação, chegando mesmo, em alguns casos, a acusar e condenar. Procedimento presente na formulação discursivo-imagética da capa referente à edição (figura 2) que enfocou o personagem Francisco de Assis Pereira, “o maníaco do parque”, preso e indiciado pela polícia como o “serial killer” responsável pela morte de nove mulheres.

Num furo jornalístico policial, a revista, ao entrevistar Francisco, ouviu, pela primeira vez, sua confissão da autoria dos homicídios. Inclusive a chamada de capa era “Veja ouviu: Fui eu”.

O semanário utiliza seu poder “panóptico”, segundo o pensamento de Foucault (1979, p. 116), para vigiar e esclarecer. Aquilo que a investigação policial e o julgamento jurídico-

criminal tanto precisa, Veja consegue. E enuncia objetiva, sucinta e “panopticamente” que obteve a desejada confissão do acusado.

Figura 1: Capa de Veja, ed. 1 244, 15 de julho de 1992. Figura 2: Capa de Veja, ed. 1 559, 12 de agosto de 1998.

Seccionando particularmente apenas o texto verbal de tal capa, destaco sua eficácia expressiva no aspecto da nomeação identitária. Entretanto, ela pouco representaria se desacompanhada da linguagem não verbal, a imagem fotográfica que retrata o personagem enfocado.

Nas estratégias técnicas de elaboração da capa, a linguagem não verbal, interagida com a verbal, é indispensável. No caso, a imagem se coloca como o grande trunfo da revista na utilização de fotografias e demais recursos visuais, procurando explorar toda a potencialidade da narrativa visual.

É na particularidade da apresentação gráfica que historicamente as revistas se destacam e se diferenciam das demais mídias impressas. Além de utilizar papel de qualidade superior, com melhor textura e maior brilho que valoriza imagens e cores, destina os espaços de suas páginas de modo a melhor distribuir as matérias com maior quantidade de fotos, já que suas reportagens de maior relevância, de acordo com a hierarquia editorial, chegam a ocupar várias páginas.

A presença de alguma pessoa na capa naturalmente potencializa sua construção identitária, a exemplo da edição já apontada de Veja (figura 2) que enfocou o “maníaco do parque”. A fotografia estampada na capa é dotada de eficiente potencial enunciativo para demonstrar que o personagem retratado é realmente um assassino compulsivo, em evidente quadro de patologia criminal, conforme o perfil de um “serial killer”, traço que a revista procura destacar com o emprego do close, a técnica mais recomendada para explicitar detalhes do rosto do personagem enfocado. Precisa para denotar traços de beleza, caso em que geralmente a pessoa retratada, especialmente modelos, é devidamente preparada com maquiagem, inclusive para esconder imperfeições, empregando-se também controles especiais de iluminação, lentes e filtros especiais, uma série de estratégias, enfim, para que a fotografia promova e valorize o belo. Entretanto, se a intenção for outra, contrária, justamente depreciar o indivíduo fotografado, a aproximação do close procura captar imperfeições da face e outros detalhes plasticamente depreciativos. Caso da imagem de Francisco de Assis Pereira que expõe um rosto com barba por fazer, pele com acnes, poros dilatados preenchidos por cravos escuros visíveis, feição evasiva denotando uma personalidade indecifrável, uma acepção de criminoso, enfim.

O conhecimento técnico do close e das possibilidades instrumentais mais eficazes para registrar imperfeições da pele, ou mesmo captar os poros abertos, indica que tal efeito exige o uso de lentes especiais. Geralmente teleobjetivas que, projetadas para aproximar imagens longínquas, ao serem utilizadas em objetos próximos, com o devido foco, proporcionam a ampliação de pequenos objetos, o registro de detalhes imperceptíveis a olho nu, como se fossem microscópios e a câmara tivesse a função de uma lupa.

A aproximação e ampliação visual das feições das pessoas sugerem a revelação de sua intimidade, inclusive psíquica, de acordo com a percepção de Aumont (1993, p. 141):

O close [...] transforma o sentido da distância, levando o espectador a uma proximidade psíquica e a uma “intimidade” (Epstein) extremas, [...]. Essa intimidade pode às vezes ser excessiva, como no famoso pequeno filme de Williamson, “A big swallow” (Um grande bocado), em que o personagem filmado em “close” abre a boca e, ao aproximar-se mais, acaba por engolir a câmara.

A imagem do “serial killer” na capa de Veja, em close, sugere que a revista, exercendo seu poder “panóptico” entrou no âmago de um criminoso, descobriu suas verdades, suas paranóias e seu instinto assassino.

No levantamento de conteúdo que realizei na série histórica das capas do semanário, registrei que políticos paraibanos somente foram selecionados em capas com sentido

negativo. Por se tratarem de personagens proeminentes acabam reconhecidos como representantes da Paraíba, em sentidos depreciativos, conforme as estratégias discursivas selecionadas pelos editores de Veja, em enunciações que projetam a identidade política regional eivada de suspeições, recuperam estereotipias, estigmas e preconceitos. Caso da capa, já referida (figura 1), que retratou o personagem político paraibano Lafaiete Coutinho.