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O Nordeste, mesmo na condição de região político-geográfica com menor desenvolvimento do país, registra índices econômicos que hierarquizam seus nove estados, colocando a Paraíba entre os últimos. Enquanto os três estados mais produtivos, Bahia,

Pernambuco e Ceará somam 75 por cento do PIB nordestino, a Paraíba contribui com apenas cerca de cinco por cento. Tal incipiência econômica sempre relegou em demasia o Estado e sua gente à dependência de ações governamentais que comandam ou influenciam diretamente nas instituições sociais, numa estrutura que se sobressai pelos meandros da movimentação partidária eleitoreira, com seus vícios em prol de interesses individuais e de grupos, as regras “do poder pelo poder”.

Nesse modelo estrutural grande parte dos políticos paraibanos há muito tempo vêm se aperfeiçoando, habilmente, para a prática de atos de improbidade permeados por notório cinismo. Homens públicos que deixaram de lado seu oficial compromisso com o povo e decidiram por relevar a ética e defender seus interesses particulares à frente das necessidades e aspirações da sociedade, do bem comum. Agentes muito eficazes em manter sua hegemonia, a partir da política, que diretamente leva às benesses financeiras, ao poder econômico, sendo, porém, focos, junto a seus atos, de discursos de denúncias, no meio social e na mídia. Forma- se, então, a rede de construções simbólicas que projetam, segundo a tese defendida nesta pesquisa, a identidade política paraibana, num viés depreciativo.

Na linha de procedimento escolhida trago a cultura para esta pesquisa seguindo trajetos de suas representações que definem identidades socioculturais paraibanas, no âmbito da política e do turismo. Isso significa que vejo a política e o turismo como sub-dimensões culturais, nas suas caracterizações derivadas de construções discursivas identitárias, de acordo com a visão de Sovik36: “A identidade é um lugar que se assume, uma costura de posição e contexto, e não uma essência ou substância a ser examinada”.

A identidade social, portanto registra-se nas vivências societárias. Manifesta-se em situações de consensos, mas também de luta social e política, de gêneros, raças, etnias nacionalidades e antagonismos ideológicos. Por isso o desafio de compreender suas fragmentações e fluidez em variáveis instâncias, mesmo em comunidades ligadas pela proximidade físico-geográfica ou por interesses culturais.

Por isso, os ambientes de tensões sociais foram oportunos objetos de pesquisa para os Estudos Culturais Britânicos darem o forte pontapé inicial para as investigações sobre cultura e identidade, mediante sua original iniciativa de reunir diferentes áreas do conhecimento, vinculando seus trabalhos às questões suscitadas por movimentos sociais, em especial o interesse pelas sub-culturas, questões de gênero, raça e etnia.

Os pesquisadores dos Estudos Culturais Britânicos inauguraram o enfoque contemporâneo sobre identidade como ações de resistência das classes populares num contexto de atenção às diferenças culturais humanas e às “alteridades identitárias”. Nessa linha, Stuart Hall (2000) pensa a identidade na conjuntura da “Diáspora”, no ineditismo de considerar a cultura e os aspectos identitários dos “outros”, imigrantes da Europa com origem em países periféricos, que lutavam para serem inseridos como beneficiários das políticas públicas européias nos preceitos da cidadania, trabalho, educação, saúde e cultura.

Hall, jamaicano e negro, presente na intelectualidade inglesa, tratou de expressar os dramas vividos por seus pares, envoltos nas generalidades dos problemas das classes economicamente desfavorecidas, junto a outros colegas imigrantes, tais como Paul Gilroy, Homi Bhabha e Gaiatry Spival. Estudiosos do tema cultura e identidade que, segundo Moura (2005, p. 78), “invadiram a praia dos países centrais e instalaram a problemática da identidade de maneira performática”.

Esses pesquisadores destacaram o fato de a sociedade possuir fenômenos emergentes que possibilitam novas identidades populares, diferentes daquelas impostas pelas instâncias de dominação, normalmente ativados pelos poderes econômicos e políticos. A presença do “outro”, então, que protestava ao não ser ouvido e exigia sua inclusão social e cidadã, aspirando por participação em projetos educativos, políticos, econômicos, culturais e direitos civis, enfrentando, assim, as organizações sociais historicamente estabelecidas. Com motivações e posicionamentos político-ideológicos, diretamente relacionados a questões identitárias, chegando a um maior dinamismo nos últimos anos, segundo a acepção esclarecida por Moura (2005, p. 89):

A recente moda da identidade é o prolongamento do fenômeno da exaltação da diferença que surgiu nos anos setenta e que levou tendências ideológicas muito diversas e até opostas a fazer a apologia da sociedade, por um lado, ou, por outro lado, a exaltação da idéia de “cada um por si” para manter sua identidade.

Surgiram as comunidades ou grupos em diversas partes do mundo, de negros asiáticos e árabes na Europa, homossexuais, feministas, grupos religiosos, indígenas e diversos outros tipos de minorias que passaram a desenvolver ações políticas para fazer valer seus direitos e reivindicações, suas condições de “outros” nas praias dos “iguais”.

Entretanto, na Paraíba, o “outro” é grande parte do povo paraibano, em seu próprio território, em decorrência dos acentuados processos de exclusão em que é submetido, notadamente por causa das estruturas políticas locais.

O Estado, envolto em continuidades inexoráveis de pronunciadas viciosidades políticas, escreve poucos e isolados episódios de resistência em que movimentos populares refutaram a submissão, além de alguns significativos movimentos de ativistas combativos e avessos a conformismos. Porém, infelizmente, os perfis identitários ponteados por tentativas de igualdade justiça social reúnem muito mais histórias de derrotas do que de vitórias. O desfecho não é aquele típico de Hollywood em que os malfeitores acabam sendo vencidos. Ao contrário, episódios reais em que o povo oprimido sempre é derrotado, e conta com muitos poucos heróis para reverenciar.

A historiografia regional reúne tristes e revoltantes episódios históricos de espoliação econômica, estratificação social, corrupção política e uso da máquina pública para interesses particulares, violências de toda a ordem no campo, inclusive com assassinatos impunes a mando de poderosos, notadamente usineiros latifundiários, além de políticos homicidas ou acusados de crassas improbidades e atos de corrupção ativa que nem são julgados, protegem- se nas brechas da lei, aproveitam-se de imunidades parlamentares, jogam com as prescrições jurídicas nos processos de julgamento de seus delitos.

Nesse quadro, a política paraibana se caracteriza, historicamente, como instância de total domínio, em caráter superestrutural, de acordo com o pensamento marxista37, no controle dos demais segmentos da sociedade local, com direta influência nas formulações simbólicas da identidade social paraibana, num plano macro e de forma generalista. Apresenta uma substancial história em que os políticos se identificam por seculares e contumazes improbidades, conseguindo, mesmo parecendo impossível, nos últimos tempos, suplantar a si próprios, com muito esmero, em suas práticas fisiológicas, nepotismos, abusos de poder, desvios de verbas públicas e outras ignomínias, em diferentes instâncias da política estadual.

No imaginário social se cristaliza memorialmente a projeção material de atos eticamente condenáveis na condução das coisas públicas por mandatários nordestinos, com a consequente refração no campo discursivo. Ninguém melhor para atestar tal fato que uma voz regional pautada pelo bom senso analítico:

A bancada nordestina em Brasília sempre foi poderosa. Nem por isso – e talvez principalmente por isso – a região Nordeste viu nenhuma de suas seculares mazelas ser extinta ou sequer amenizada. Como se diz por aqui, “nem um tiquinho”. Quanto mais poder os políticos nordestinos possuem, mais distante a região fica de melhorias nos deprimentes índices de pobreza e educação, para dizer o mínimo38.

37 Em seus escritos na obra A Ideologia Alemã Marx e Hegel (2006) prega que a estrutura determina ou

condiciona a superestrutura, pensamento que, sinteticamente, procura interpretar o fato de o aparato organizacional do Estado decidir sobre o funcionamento da sociedade articulada em função de seus meios de produção.

A riqueza fenomenológica que tanto preenche o universo simbólico que discrimina o Nordeste, em particular a Paraíba e seu povo, decorrente de décadas de projeções imagético- discursivas estereotipadas, confirma-se na materialidade real. Do lado da seca, atraso, miséria, messianismo, dependência econômica, conformismo, preguiça, indolência, além de outras peculiaridades, há também as representações negativas sobre os sistemas políticos do Estado, a partir das ações de agentes com longa folha corrida eivada de atos comprometedores.

Ao lado dos preconceitos articulados com base nos estereótipos derivados da história sócio-econômica surgiu memorialmente também o corolário de estigmas que responsabilizam os políticos da região pela manutenção do estado de atraso e abandono da região. Zaidan Filho (2003, p. 30-31) observa:

Não deixa de ser curioso que um Estado39 (e uma região) que possui o “melhor prefeito do Brasil”, o “maior líder da oposição ao presidente da República”, além de único porta-voz de uma política de desenvolvimento regional integrado, e o melhor vice-presidente da República desses últimos anos se encontre - como Estado e região - em uma situação tão melancólica. Afinal, por que esse capital político tão expressivo não se reverteu até agora em benefício da região? O que há com o Nordeste e as elites políticas nordestinas para que se mantenham esses padrões de miséria e estagnação econômica que infelicitam nosso Estado?

O estigma caracterizado por ser uma interpretação reducionista, sem contextualizar causas e efeitos dos fenômenos, permite a possibilidade de ser reconhecido como que desvinculado do estatuto de verdade. Logo, políticos nordestinos podem sempre arguir serem vítimas de velhos preconceitos, o que realmente se confirma, na análise do seguinte texto jornalístico:

Renan Calheiros não é um qualquer. Preside o Senado. Foi aliado de todos os governos pós-ditadura militar: Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula. Tem sotaque nordestino. É o protótipo do político marcado para ser detestado no Sul e no Sudeste – mesmo que os eleitores dessas regiões despachem para Brasília certos clones caucasianos do mesmo Renan40.

O discurso media e interpreta o real, com o papel de dispositivo de construção do imaginário social na acepção de nada ficar devendo à realidade em termos de configuração sociocultural. Nas intersecções das representações simbólicas com o real coexistem os processos que acabam influenciando sensivelmente na representação do perfil identitário nordestino para outras regiões, como também entre sua própria gente. No processo, destacam-

39 O autor, particularmente por ser pernambucano e conhecer a política local, refere-se ao seu Estado de origem,

numa visão crítica sobre suas vicissitudes políticas comuns às demais unidades federativas da Região, inclusive a Paraíba.

se as projeções discursivas críticas aos políticos, a exemplo de suas históricas ineficiências para resolver os problemas derivados das estiagens e seus efeitos que regularmente assolam a região, além se serem alvos de acusações de se locupletarem com as verbas de assistência do governo federal.

Insisto, assim, precipuamente, na tese de que as principais mazelas socioeconômicas da Paraíba, genealógica e genericamente se devem, principalmente, pela estrutura política. Conto com o registro de ocorrências com detalhes oportunos e emblemáticos para multiplicar a sustentação de meu posicionamento, embasado em pesquisas historiográficas, coleta pessoal de informações e depoimentos de quem domina o tema em vivências empíricas, a exemplo da declaração colhida do jornalista Rubens Nóbrega, profundo conhecedor e analista da política paraibana contemporânea: “A classe dirigente do Estado não cumpre seus mandatos com projetos políticos para a sociedade, mas para atingir os propósitos de seu grupo partidário, conseguindo se eleger com o voto da dependência do povo.”(informação oral)

E para sedimentar meus posicionamentos conto com a imensa e prolixa rede discursiva articulada pela mídia regional que diuturnamente aponta para as improbidades dos políticos da terra que, quando exageram, são pautados pela mídia nacional, a exemplo dos casos abordados neste estudo, particularmente no capítulo 3.

Acontecem lutas por reconhecimento identitário, nas quais a identidade social de um grupo procura ser diferente ou mesmo oposta à do outro grupo, tecendo formulações imagético-discursivas que demarcam fronteiras culturais, que exaltam suas qualidades. De modo que “lutar pela identidade enquanto reconhecimento social da diferença significa lutar para manter visível a especificidade do grupo [...] e existir socialmente é também ser percebido como distinto” (PENNA, 1992, p. 68). No caso, a diferença do nordestino, na projeção simbólica de seus políticos, tende a ser, em representações etnocêntricas, num estatuto de inferioridade, mesmo que surjam tantos discursos contrapostos no sentido de que “mau políticos existem em cada recanto do país”.

A realidade existe fora da linguagem, mas é constantemente mediada pela e através da linguagem; e aquilo que podemos saber e dizer tem que ser produzido dentro e por meio do discurso. O “conhecimento” discursivo é o produto não de uma representação transparente do “real” na linguagem, mas a articulação da linguagem em relações e condições reais. (HALL, 1997b, p. 95)

Os Estudos Culturais Britânicos, ao apontar para as posições populares resistentes a ordens político-sociais historicamente estabelecidas, surgiram como observações precisas para indicar uma história social permeada por modelos de forças dominantes estruturadas em

políticas arbitrárias, unilaterais e excludentes, comuns às sociedades hierarquizadas. Entre tantas delas, aquelas dos territórios e nações que se formaram sob o julgo colonial, utilizando mão de obra escrava em bases econômicas de exploração extrativista ou agrícola, e tiveram seu povo impedido de vivenciar liberdades políticas. Nesses lugares, o regime colonialista estabeleceu um perverso modelo destinado a se perpetuar. De péssima distribuição de renda, no qual a riqueza se concentra nas mãos de minorias enquanto a grande parte da população fica excluída, caso do Brasil, cuja região Nordeste coleciona inúmeros episódios do processo. Configurou-se, assim, em terra de modelos estratificantes, objeto de intensa rede imagético- discursiva, emblemática para se demonstrar como a riqueza e o poder de poucos foram estabelecidos com o julgo de muitos.

O historiador Albuquerque Júnior (2006) em seu trabalho de “arqueologia”41, observando as concepções de Foucault, reuniu um substancial repertório de construções discursivas que, segundo o autor, fizeram o Nordeste surgir no imaginário nacional como uma invenção simbólica42, num campo de visibilidade e “dizibilidade” depreciativos. O pesquisador indica e contextualiza sobre os prolixos discursos inerentes aos problemas nordestinos que acabam redundando em estereotipias, além de denunciar, com ênfase e veemência, que as nomeações pejorativas não perduram por causa dos olhares preconceituosos de fora. Mas sim por questões internas, havendo relações de poder e de saber na região que articulam estratégias com o objetivo de fazer os nordestinos ser sujeitos ativos de sua própria discriminação, opressão e exploração.

Há quem discorde das idéias do autor por elas insistirem num entendimento de as questões regionais estarem restritas às interpretações de suas projeções imagético-discursivas, como se a história fosse apenas produto de elaborações discursivas43. Contudo, considero a perspicácia de seu texto sobre o apontamento de os nordestinos serem responsáveis pela sua própria discriminação, e a compreensão do problema passar pela procura das relações de poder e de saber que formularam os significados estereotipados sobre o Nordeste e os

41 A busca do autor, apoiada em Foucault (2008), para interpretar os textos e imagens que aborda, diferentemente

dos sentidos históricos e mais comuns impostos pela força do poder sobre o saber, é por novas interpretações, diferentes daquelas originariamente estabelecidas e continuamente reproduzidas.

42 Denominando sua obra como A invenção do Nordeste e outras artes o autor analisa exaustivamente as

formulações imagético-discursivas na mídia e trabalhos artístico-culturais produzidos entre 1910 e 1960, que insistiram na estereotipia do povo nordestino sob signos da discriminação, estigma e estereotipia.

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“Negando historicidade às regiões, a não ser no domínio restrito à produção e reprodução dos discursos, Muniz procura deixar órfãos todos aqueles que escolheram a região como objeto de estudo. Mas, a história (com “h” minúsculo) é o juiz que julga toda e qualquer querela acadêmica. Entretanto, mesmo com esse golpe que se pretendia mortal, a região continua a cobrar de nós, historiadores, análises, definições, estudos, pesquisas. E o motivo é que, especialmente em espaços como o Brasil e o Nordeste, a desigualdade não vai ser abolida porque a afirmaram como invenção.” (VIEIRA, 2006. p. 140).

nordestinos. Albuquerque Júnior (2006, p. 21), afirma: “Pois tanto o discriminado como o discriminador são produtos de efeitos de verdade, emersos de uma luta e mostram os rastros dela.”

Nessa linha de entendimento, considero as estruturas políticas locais como as principais responsáveis por uma projeção imagética negativa da identidade nordestino-paraibana, mediante seus fatos históricos e ocorrências contemporâneas especialmente ampliadas e interpretadas pela mídia. A configuração histórico-social política se define de acordo com os parâmetros indicados por Foucault (1979, p. 153- 165), sobre “geografia e poder”, envoltos também nas relações entre “poder e saber”, na conjuntura em que o saber é visto conforme as realidades regionais, sob domínios que decidem pela sua implantação, deslocamentos e transferências, em sistemas que regulam seu funcionamento e reprodução de seus efeitos. “Existe uma administração do saber, uma política do saber, relações de poder que passam pelo saber e que naturalmente, quando se quer descrevê-las, remetem àquelas formas de dominação a que se referem noções como campo, posição, região, território” (p. 158).

Procuro abordar redes discursivas inerentes à política paraibana contemporânea, alicerçado no princípio teórico-metodológico proposto por Foucault (1979, p. 5) da genealogia, aplicando seus parâmetros na interpretação de sentidos existentes na história que procuram dar conta de “constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, etc., sem ter que se referir a um sujeito, seja ele transcendente com relação ao campo de acontecimentos; seja perseguindo sua identidade vazia ao longo da história”, na procura por detalhes ainda não vistos, “segundo a inteligibilidade das lutas, das estratégias, das táticas”.

Há truísmos sobre as representações do Nordeste, da Paraíba, do mundo nordestino- paraibano, válidos e pertinentes porque simbolizam o real de forma precisa e convincente, numa incomensurável rede de formulações imagético-discursivas que podem ser condensadas nas seguintes representações:

A seca continua cruelmente presente em toda a região, sem mudança alguma de paradigmas. Usada como gancho para políticos de reduto ganhar notoriedade e votos de pobres-coitados, quando estes recebem cestas básicas e poéticos carros-pipa. Sempre em caráter emergencial, é claro. (...). E os livros didáticos ainda ensinam que o voto de cabresto acabou e que o coronelismo foi extinto. Quer dizer, só nas escolas particulares, porque nas públicas vai ser difícil encontrar até professor, quanto mais livros.44

Endosso todos os enunciados que têm a mesma interpretação da referência acima, de modo que nas minhas abordagens genealógicas, ao afastar o campo simbólico histórico e

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continuísta, as estruturas significantes estabelecidas, não procedo num formato de “recusa de saber ou de ativar ou ressaltar os prestígios de uma experiência imediata não ainda captada pelo saber” (FOUCAULT, 1979, p. 171); nem estabeleço uma insurreição do meu entendimento contra os conhecimentos e discursos já estabelecidos sobre as enunciações simbólicas do mundo nordestino-paraibano, mas intervenho uma concepção particular contra sentidos centralizadores organizados por vozes sociais unificadoras que se ocupam da matéria.

Destaco, portanto, a identidade nordestino-paraibana sobrestada pela política, conforme a estrutura histórico-social crônica e assertiva, como configuração instigante para aplicar analiticamente a produção teórico-epistemológica sobre “identidades” ofertada pelos conhecimentos multidisciplinares organizados segundo os parâmetros de estudos culturais.