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Capítulo 3 MARCOS FUNDADORES DA HISTÓRIA NACIONAL NOS

3.1 João Ribeiro e a independência do Brasil

3.1.1 A revolução precipitada e seus fomentadores

A Independência do Brasil constitui tema clássico e ocupa lugar de destaque nos manuais escolares, pois expressa etapa importante da formação nacional. A obra História do Brasil, de João Ribeiro, escrita no alvorecer do século XX, apresenta a temática na última unidade do seu livro, que é composta por oito capítulos. O título da unidade revela o modo como o autor ordenou os acontecimentos: “O Império: Progressos da Democracia 1822-1831-1888-1889”. Ao que parece, a sucessão de datas são indicadoras de um movimento evolutivo, que tem em 1889 o seu ponto de chegada. Nessa direção, a leitura acerca da experiência monárquica se associa a um movimento interno de conquista da democracia, que se efetivou com a Proclamação da República.

De forma sintética, o autor narra os principais eventos que levaram a Colônia à separação de sua metrópole, Portugal, mas o movimento de emancipação não encontra o seu desfecho no episódio do Sete de Setembro. Os sucessos ocorridos após a Proclamação da Independência, principalmente a Constituinte e Abdicação, são apresentados nos capítulos seguintes como continuidade do movimento de conquista da democracia, conforme a orientação adotada no título da unidade.

O processo de emancipação nacional em História do Brasil é apresentado com base na idéia de revolução, que é descrita sob a ótica do envolvimento das lideranças na condução do movimento. Além do foco nas lideranças, o autor expressa o julgamento de que a Independência foi um movimento precipitado.

A estratégia utilizada pelo autor para a exposição do evento foi retirar do Príncipe D. Pedro a direção do movimento, o que está associado ao desejo de

dar visibilidade a outras lideranças, sugerindo a presença de outros projetos políticos distintos da proposição monárquica. O autor, entretanto, conserva uma atitude simpática em relação ao Príncipe, embora adote postura diferente em

outras publicações1. De algum modo, a demonstração dessa simpatia estava em

consonância com o tipo de público a ser atingido, os estudantes que iniciavam sua formação política. Talvez fosse inadequado desfazer a imagem do personagem central do movimento de Independência.

Segundo Múcio Leão, a revelação de um príncipe envolvido com muitos amores, mal-educado, oportunista e irreverente apareceu com mais freqüência em fontes não-escolares como jornais. De forma jocosa, em Cartas

Devolvidas, João Ribeiro escreveu a respeito do Sete de Setembro: “Abramos a

história. O grito do Ipiranga nasceu de uma cuia de farinha deglutida a desoras.

Depois de várias peripécias químicas o singelo bôlo quase abalou o mundo”2.

Para Leão, essa “idéia brincalhona”, que era também parte do espírito de João Ribeiro, guardava a própria concepção do autor, uma vez que escrevera com o propósito de retirar todo o heroísmo e a exaltação criada em torno do episódio do Ipiranga. Esta versão, datada de 1926, não aparece de

forma tão contumaz e irreverente em História do Brasil3. Neste, o autor apenas

limitou-se a registrar que boa parte do que se contava sobre este dia

compunha as histórias anedóticas do Príncipe.4 Assim, a respeito da imagem

de D. Pedro I não se percebe o intuito de glorificação nem de condenação,

conforme análise de Melo5, mas apenas uma preocupação em destacar os

seus préstimos:

1

Múcio Leão registra que esta simpatia não se manteve inalterada no pensamento de João Ribeiro, pois o próprio escritor conferiu outros contornos ao Regente, reduzindo-o à mediocridade. LEÃO, Múcio. O pensamento de João Ribeiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, v. 248, jul.set. 1961.

2

RIBEIRO, João. Cartas Devolvidas (apud LEÃO, Múcio, op. cit., p. 78). Procuramos a data da primeira publicação deste livro, mas a única indicação encontrada foi a de uma edição de 1926, sem referência a outras.

3

No Dicionário Literário Brasileiro, encontramos a informação de que o livro Cartas Devolvidas, de onde Leão retirou esta citação, foi publicado pela primeira vez em 1926. Ver: MENEZES, Raimundo. Dicionário Literário Brasileiro, 2. ed. Rio de Janeiro-São Paulo: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 577.

4

RIBEIRO, João. Historia do Brasil: Curso superior adoptado no gymnasio nacional. 4. Paris: Typ. Aillaud, Alves & Cia, 1912, p. 465.

5

MELO, Ciro Flávio de Castro Bandeira. Senhores da história: a construção do Brasil em dois manuais didáticos de história na segunda metade do século XIX. 1997. 295f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 261.

[...] não se lhe póde diminuir o estudado esforço, a boa vontade e ate mesmo por vezes o doloroso sacrificio com que affrontou todos os trabalhos d’essa ingente empreza; ao realizal-o, sentia egualmente fortalecer-se no sentimento da dignidade que lhe era proprio; inclinado ao apoio do povo, de preferencia ao das tropas auxiliares, cuja indisciplina já o havia magoado, coagindo-o a jurar as bases da constituição (5 de Junho), tambem elle, como o Brasil, era a victima do mesquinho despotismo das Côrtes6.

O uso de expressões como “doloroso sacrifício”, “sentimento de indignidade que lhe era próprio”, “inclinação ao apoio do povo” e por fim o destaque de que o regente era também “vítima do mesquinho despotismo das Cortes”, lhe atribui contornos heróicos que, posteriormente, são contrapostos à atitude decisiva de outros personagens, eleitos como os fomentadores da revolução, a saber: José Clemente, Januário, Gonçalves Ledo e Frei Sampaio. Na narrativa de Ribeiro, a função dessas lideranças ganha tal proporção a ponto de Ribeiro considerar que, no Rio de Janeiro, “era impossível conter o trabalho já

realizado com tão seguros elementos.”7

Outro personagem que é apresentado na mesma linha argumentativa é Antônio Carlos, irmão de José Bonifácio. João Ribeiro destaca que apesar de ele representar "o genuíno sentimento nacional", isto é, o republicanismo, acabou por concordar que, na ocasião, seria mais prudente aproveitar e aceitar a colaboração do príncipe8.

Quanto a esse personagem, é importante destacar que ele chegou a ser condenado à morte por causa de seu envolvimento na Revolução

Pernambucana de 1817, mas a sentença não chegou a ser cumprida9. A menção

ao seu nome como símbolo do genuíno republicanismo é uma forma de chamar a atenção para a Revolução Pernambucana, embora este dado não apareça explicitamente no texto. João Ribeiro, já na Introdução do livro, ao pontuar as células formadoras do Brasil antigo, destacou Pernambuco pelo radicalismo republicano e extremos revolucionários.

Neste processo de construção da memória nacional, notamos que a aproximação entre republicanos e monarquistas acaba por mitigar as

6 RIBEIRO, João, 1912, p. 457. 7 Idem, p. 459. 8 Idem, p. 459. 9

ARRUDÃO, Bias. José Bonifácio: o sábio por trás do príncipe. História Viva, Pinheiros, SP: n. 12, p. 22-27, out. 2004.

dimensões do conflito representado pelo republicanismo radical de Pernambuco. Assim, o símbolo republicano aparece oferecendo apoio à ação de D. Pedro I, conforme aconselhava Antônio Carlos, nome de expressiva representação do movimento pernambucano. Antônio Carlos, ao lado de outros políticos, integrou o Conselho de Estado instituído durante o Governo Provisório de 1817 para auxiliar a ação governamental. Nos quadros da memória nacional, seu nome disputa com Frei Caneca a autoria da Lei Orgânica, considerada a “primeira Constituição feita no Brasil por brasileiros”. Ela estabelecia os direitos e garantias individuais, tomando por modelo a

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão10.

A ruptura do tempo histórico poderia, portanto, ganhar vazão por meio das representações da Revolução de 1817, no entanto, a memória reconstruída retira os elementos de tensão, destituindo a República de força simbólica em prol da opção monárquica. Nessa perspectiva, a República não se contrapõe ao Império. Esse procedimento narrativo evita a glorificação do Império, permitindo a inclusão do movimento republicano no movimento de formação nacional. Dessa forma, a República não perde sua condição de meta a ser alcançada.

Há também que destacar uma disputa envolvendo as regiões onde os dois principais movimentos políticos, Independência e Proclamação da República, aconteceram. Na contraposição entre D. Pedro I e os fomentadores da Revolução, suas ações também estão ligadas a São Paulo – onde o Príncipe

se dividia entre “um resto de sentimento cavalheiresco e leal à corte (Lisboa)”11

e a hesitação de dar o grande golpe definitivo – ou ao Rio de Janeiro, lugar em que as decisões, segundo Ribeiro se tornaram irreversíveis. Ali também fora o lugar onde se deu toda a agitação política que levou ao golpe republicano de 1889.

Nesta disputa de memórias envolvendo representações monárquicas e republicanas e regiões, como São Paulo e Rio de Janeiro, operava-se também um processo de negociação e de reconstrução do tempo histórico. A proposição

10

QUINTAS, Amaro. A agitação republicana no nordeste. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. (Org.). História geral da civilização brasileira: o Brasil monárquico: o processo de emancipação. 6. ed. São Paulo: DIFEL. 1985. v. 1, p. 207-237.

11

de uma leitura guiada precisamente pelas demandas do presente constrói, no passado, o sentido original da República, reforçando um dos argumentos centrais de Ribeiro quanto à contínua presença do germe republicano na história brasileira. A certeza da existência de um lugar de origem no tempo pretérito validaria, portanto, a concepção de progresso e apresentando o novo regime como a mais nobre realização dos elevados destinos da Nação.

Para João Ribeiro a independência foi um movimento precipitado, mas necessário e prudente, uma vez que os “elementos naturais”, isto é, os mamelucos, concebidos como a base física da revolução e como “guardiões” do sentimento de autonomia, não estavam preparados e desde o século XVII se encontravam divididos em partidos e não tinham a consciência da “revolução” que se formava. Por esta razão, abria-se o caminho para a participação lusitana, o que, para João Ribeiro, representava a conciliação das raças brasileira e portuguesa e, portanto, o esquecimento do “odioso antagonismo”. D. Pedro I é

considerado o elemento principal da “difícil conciliação”12.

Na argumentação do autor supracitado, as rivalidades nacionais estão ligadas a duas idéias correlatas. A primeira expressa uma leitura guiada pela ótica racial, pois João Ribeiro associa raça à nacionalidade, portanto fala de antagonismo entre brasileiros e portugueses. A segunda apresenta o movimento de 1822 como momento de esquecimento do que chamou de ódios raciais. Tal perspectiva enseja a veiculação de uma narrativa pontilhada por rancor ao elemento português, pois, na primeira década de 1900, os lusitanos foram quase

exclusivo do ódio nativista13.

A crítica de João Ribeiro à conciliação não ganha, todavia, maior expressão diante da evidência de que o Brasil não estava preparado para “tão súbita regeneração”, isto é, para a emancipação por via republicana. Desse modo, a ausência de preparo justificava a participação do príncipe D. Pedro I, no processo emancipatório, a tomada de alguns elementos simbólicos, característicos da narrativa tradicional e, por fim, o apaziguamento do odioso antagonismo.

12

RIBEIRO, João, 1912, p. 457.

13

Á falta de outro que tenha exterioridades mais significativas, os brasileiros tomaram a data de Sete de Setembro como a da independencia politica. Foi tão precipitada a marcha da revolução aqui, quanto o foi a série de reacções retrogradas das Côrtes de Lisboa; mas a distancia que medeia entre o Rio e Lisboa punha grande morosidade nesse memoravel dialogo, e em nenhum d’esses pontos se esperava a deixa do outro.

Em verdade, o Sete de Setembro não se traduz por acto official algum e d’elle quasi não há noticia completa e parte é historia anecdotica do principe; mas esse rasgo de impaciencia tem grande propagação; a divisa portugueza que o principe rasgava no Ipiranga é substituida pela das côres nacionais, verde e amarela [...]

A questão da divisa que se originou no Ipiranga tornou-se caracteristica da nova situação, e certamente por isso a data de Sete de Setembro marca a da emancipação politica14.

A argumentação de Ribeiro demonstra que sua preocupação não é apresentar o relato tradicional e teatral do Ipiranga, considerada como história anedótica do Príncipe. Seu interesse é destacar a divergência entre brasileiros e portugueses representados no rasgo da divisa e que caracteriza sua interpretação sobre a Independência e a Abdicação.

O antagonismo das raças era, para João Ribeiro, um dos elementos centrais que contribuíram para se tomar o Sete de Setembro como data da Independência. Se não fosse o ódio entre brasileiros e portugueses, argumenta o autor, a história imparcial tomaria 22 de janeiro de 1808, data da chegada de D. João VI ao Brasil, como referência para a emancipação nacional. Esta data ligaria, portanto, a emancipação brasileira à mesma causa que produziu a Independência na América Latina, ou seja, os eventos europeus desencadeados por Napoleão Bonaparte, os quais forçaram a transferência do reino da Metrópole para a Colônia. O modelo latino, contudo, não era o que o Brasil desejava, pois essa experiência resultara em desordem e fragmentação, exatamente o inverso da idéia de unidade nacional que a República brasileira procurava construir. Com efeito, é a D. João VI que se dá o mérito de ter impedido a fragmentação territorial

e a formação de republiquetas instáveis15.

A menção à possibilidade de uma história imparcial remete à questão inicialmente lançada na introdução do livro de João Ribeiro: História do Brasil foi

“destinado ao esquecimento das paixões do presente”16. Como tal, sua narrativa

estaria assinalada, em grande medida, pela dissolução dos conflitos e disputas

14 RIBEIRO, João, 1912, p. 464-465. 15 Idem, p. 465. 16 Idem, p. 25.

contemporâneas a sua escrita. Neste sentido, não produziria uma história imparcial, isto é, isenta e neutra dos debates da sociedade brasileira. O próprio autor, conforme apresentado no capítulo dois, ao refletir sobre a produção do conhecimento histórico, não acreditava nesta possibilidade.

Múcio Leão, analisando os antagonismos entre portugueses e brasileiros, registra que uma das convicções mais arraigadas de João Ribeiro era a de que o Brasil cada dia mais se distanciava de Portugal. Tal posição foi veementemente debatida no jornal Imparcial atacando aqueles que defendiam a Confederação Luso-Brasileira nos anos de 1916 a 1919. Os principais representantes desse pensamento eram os portugueses Alberto d’Oliveira e João

de Barros e o jornalista brasileiro João do Rio17. A campanha realizada por João

Ribeiro no jornal Imparcial expressava o teor das discussões nacionalistas que se estruturavam no Brasil e que ganharam força na década de 20.

Anos depois, no final da década de 20, João Ribeiro voltou a expor, nas páginas do Jornal do Brasil e de O Estado de São Paulo, que cada vez mais o Brasil se distanciava do povo colonizador pelo número, pela raça, pelas tendências, pelo pensamento e pela linguagem. Os resquícios da influência portuguesa só podiam ser encontrados no Brasil antigo, sertanista, cujos dias estavam contados em razão do crescimento da imigração italiana, síria, eslava e germânica. Logo, assegurava Ribeiro, no mais tardar dentro de um século, a única lembrança dos portugueses, no Brasil, seriam as igrejas velhas, os muros, as antigas e abandonadas fortalezas, os versos de Catulo Cearense e o vestígio mais contumaz, a língua gramatical, que por esses idos estaria quase morta em

função dos dialetos vivos das gerações futuras18.

A seguir, identificaremos a versão que João Ribeiro elaborou de José Bonifácio de Andrade e Silva, que a memória nacional consagrou como Patriarca da Independência. Emília Viotti observa que a história de Bonifácio foi centro de grandes paixões políticas durante o Império e que até os anos 30, a historiografia da Independência “limitou-se a retocar as versões tradicionais, conservando

imagens idealizadas de José Bonifácio”19.

17

LEÃO, Múcio, op. cit., p. 128.

18

MARTINS, op. cit., p. 45.

19

COSTA, Emília Viotti da. José Bonifácio: mito e história. IN: Da monarquia à república: momentos decisivos. 7.ed. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999. p. 61-130.

Segundo Viotti, os personagens históricos citados por Ribeiro como os fomentadores da Revolução – José Clemente, Januário, Gonçalves Ledo e Frei Sampaio – eram todos inimigos políticos do Patriarca e por ele foram duramente

perseguidos20. Estas informações não aparecem em nenhum lugar na narrativa

de João Ribeiro, mas, certamente, encontraram eco na escolha dos inimigos de Bonifácio como fomentadores do movimento de emancipação. Apesar disso e de ser conhecido como um dos veiculadores da versão antiandradina, Ribeiro não deixa de registrar a atuação de Bonifácio em seu manual escolar. O conhecido ministro de D. Pedro I é lembrado por sua fama “nas ciências e nas letras”, as

quais aumentavam “com a aureola do patriotismo”21.

A primeira imagem que Ribeiro procurou fixar de Bonifácio diz respeito a sua ação unificadora: “o primeiro cuidado de José Bonifácio foi restituir ao Brasil a unidade politica que as Côrtes fragmentavam declarando as capitanias entre si

independentes [...]”22. Esses foram empreendimentos, argumenta o autor, que

obtiveram triunfo, mas que se realizaram “na verdade não sem immoderação e

imprudencia”23. Com essas palavras, o historiador registrava sua visão particular

daquele que, somente na década de 20, ganharia o título de Patriarca da Independência.

Emília Viotti considera que as críticas dirigidas a José de Bonifácio, durante a Primeira República, não conseguiram “esmaecer a lenda.” Em História

do Brasil não foi diferente e, por isso se inscreve em uma tendência historiográfica

que endossava a versão antiandradina, mas que também configurava uma tradição política que tomou a figura de um Patriarca Conservador.

A maioria dos veiculadores da versão andradina existentes no fim do Império era positivista e abolicionista. Entretanto, políticos e ideólogos que perseguiam o ideal de um poder executivo forte e procuravam conciliar a ordem vigente com a liberdade também se agradavam da figura de um

Patriarca politicamente conservador24. É possível, então, concordar que a

20

Cintra, no último capítulo de seu livro Na margem da história: histórias que não vem na história, cita extensivamente os inimigos políticos de José Bonifácio bem como a forma como eles foram perseguidos e reprimidos. Ver: CINTRA, Assis. Na margem da historia: historias que não vêm na historia, 2ª Série, São Paulo: Nacional, 1930.

21

RIBEIRO, op. cit., p. 461.

22

Idem, p. 461.

23

Idem, p. 462.

24

evocação da memória de Bonifácio estivesse relacionada com o debate vigente acerca das propostas centralizadoras, que identificavam, na excessiva descentralização do poder político, um dos principais dilemas do regime republicano.

Ao considerarmos que João Ribeiro elabora estratégias distintas para ler o tema da Independência, estamos também levando em conta que se trata de uma interpretação diferenciada, se comparada com a dos outros livros de História do Brasil que circulavam nos bancos escolares no mesmo período. Como foi mencionado no capítulo dois desta dissertação, seu livro é tido como uma inovação historiográfica e uma referência para a escrita de outros manuais

até a década de 3025. Apesar disso, não podemos olvidar pelo menos duas

importantes questões. Em primeiro lugar, o fato de que livros com propostas metodológicas distintas das de João Ribeiro eram utilizados simultaneamente à obra História do Brasil. Em segundo, não se pode pretender uma narrativa homogeneizadora, que seja fundamentada na proposição de Ribeiro e nos próprios programas escolares. Cada autor possui um estilo peculiar de escrita por meio do qual são encontradas pistas de seus posicionamentos e concepção de História.

A consideração desses dois pontos são relevantes à medida que procuramos comparar a narrativa de História do Brasil com as obras Pequena

Historia do Brazil por perguntas e respostas e Historia Universal, ambas de

autoria do Dr. Joaquim Maria de Lacerda e que estiveram em circulação nas primeiras décadas do século XX.