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Capítulo 3 MARCOS FUNDADORES DA HISTÓRIA NACIONAL NOS

3.1 João Ribeiro e a independência do Brasil

3.1.2 Entre perguntas e respostas: a Independência em Ribeiro e

O livro Pequena História do Brasil por perguntas e respostas foi editada pela primeira vez em Paris, no final dos anos 70 do século XIX, mediante esforços

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Ver: FONSECA, Thaís Nívia de Lima e, “Ver para Compreender”: arte, livro didático e a história da nação, In: _______. (Org.). Inaugurando a história e construindo a nação: discursos e imagens no ensino de história. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. Ver também: MELO, Ciro Flávio de Castro Bandeira. Senhores da história: a construção do Brasil em dois manuais didáticos de história na segunda metade do século XIX. 1997. 295f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.

do próprio Joaquim Maria de Lacerda26. Segundo Bittencourt27, nesse período, verificou-se o início do crescimento da rede de ensino escolar e o surgimento de autores de formação e experiência diferenciadas dos escritores-sócios do IHGB. Esses novos autores de livros escolares provinham das Escolas Normais, acumulando, portanto, uma vasta experiência pedagógica. Segundo a autora, essa experiência levou a uma maior preocupação com as questões educacionais, e a uma mudança de escrita das obras didáticas, antes destinadas somente à formação das elites. Por esta razão, aumentou o número de escritores especializados em escrever manuais para o público infantil, abrindo assim caminhos para que muitos se tornassem grandes campeões de vendas, entre os quais encontramos o livro de Lacerda.

A interpretação de Lacerda acerca da Independência, diferentemente de João Ribeiro, enfatiza mais as ações de D. Pedro I do que as de outras personalidades, como Gonçalves Ledo ou José Clemente, lembrados em História

do Brasil como os fomentadores da Revolução. Lacerda refere-se uma só vez a

José Clemente e silencia quanto à atuação de Gonçalves Ledo. A ausência de menção aos personagens considerados por Ribeiro como “os fomentadores da revolução” atesta o comprometimento da escrita de Lacerda com a afirmação do regime monárquico. Dar voz a Gonçalves Ledo, por exemplo, seria uma forma de contestar o regime em vigor pois essa personagem era tida como um dos líderes da corrente popular, agitador político na campanha da Independência e ainda com

pendor ultraliberal, com tendências francamente republicana28.

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Em nossa pesquisa, temos considerado que as edições de Pequena Historia do Brazil por perguntas e respostas e Historia Universal correspondem ao ano de 1906. Esta é uma informação que consta apenas em um dos livros, mas, como ambos foram organizados seguindo um plano de escrita semelhante, contém a mesma narrativa, exercícios e praticamente contém as mesmas imagens, chegamos à conclusão que a publicação deve corresponder ao mesmo período. Na pesquisa de livros didáticos, encontrar as datas de publicação das obras constitui uma grande dificuldade. Raramente os manuais nos chegam completos, uma ou outra página se perde no tempo. Às vezes, o conhecimento da data da edição é obtido por meio de alguma informação que consta do corpo do texto. Outras vezes, por meio de outros pesquisadores, que também se dedicaram aos mesmos autores. No caso específico do Dr. Joaquim Maria de Lacerda, somente a obra Pequena Historia do Brazil por perguntas e resposta traz a data da publicação. Não há, contudo, indicação do número da edição.

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BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. 1993. 369f. Tese de Doutorado – Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 207. Bittencourt encontrou, no catálogo da Editora F. Briguiet & Cia, edições “revistas e atualizadas”, deste livro até o ano de 1936 e considera impossível contabilizar o número total de edições.

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Quanto a José Bonifácio de Andrada e Silva, o autor segue a tradição antiandradina, que já se apresentava em Ribeiro. Lacerda sequer lhe confere o tradicional título de Patriarca da Independência. O que podemos observar nos manuais é que a ação de Bonifácio é mais enfatizada pelo recurso iconográfico do que pelo texto. Das quinze perguntas destinadas a explicar as lições “Medidas tomadas pelas côrtes de Lisboa” e “Independência do Brasil”, apenas uma se refere ao Andrada. Sua importância, entretanto, logo pode ser percebida diante do fato de ele ter sido escolhido, ao lado de José Clemente e D. Pedro I, para compor a memória iconográfica da Nação, ocupando o centro da página que inicia a lição sobre os eventos do Ipiranga.

Lacerda, em seus dois livros, limitou-se a mencionar a nomeação de Bonifácio ao ministério do reino e, logo em seguida, concentra sua atenção nas atitudes do Príncipe Regente, como se pode perceber no questionário que se segue ao texto de Historia Universal:

Que medidas tomaram as côrtes de Lisboa para reduzir o Brazil ao antigo estado colonial? Que effeitos produziram no Brazil esses actos arbitrarios? Que representações foram dirigidas ao príncipe regente, e que resposta deu ao presidente da camara municipal do Rio-de-Janeiro? Que fez D.Pedro depois de sua declaração? Como foi recebida a esquadra portugueza que devia conduzir D.Pedro a Portugal? Que fez o príncipe depois da partida d`essa esquadra29?

No uso da iconografia em ambos os manuais30, verificamos a mesma

tendência, todavia, um dado chama a atenção: antes de Lacerda apresentar a ilustração de D. Pedro I, procurou em Historia Universal fixar a iconografia de Bonifácio. Ora, se textualmente a ênfase no ministro não ganhou tanto espaço, o recurso iconográfico preencheu a lacuna, favorecendo a compreensão de que as atitudes de D. Pedro rumo ao Sete de Setembro foram uma decorrência da orientação do Patriarca.

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LACERDA, Joaquim Maria de. Compendio de historia universal. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, Paris: Imprimèrie E. Desfossés, [1906?], p. 252.

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Apenas os livros do Dr. Joaquim Maria de Lacerda apresentam iconografia. O manual escolar de João Ribeiro trazia imagens somente na versão para o ensino primário. A edição que analisamos foi elaborada para o Curso Normal.

Fonte: LACERDA, Joaquim Maria de. Compendio de historia universal. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, Paris: Imprimèrie E. Desfossés, [1906?], p. 251 e 253.