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A “súmula vinculante” no contexto do Código de Processo Civil

1.3 Os mecanismos próprios ao controle de constitucionalidade

1.3.2 A “súmula vinculante”

1.3.2.3 A “súmula vinculante” no contexto do Código de Processo Civil

O Código de Processo Civil contempla a possibilidade de serem proferidas decisões com bases em precedentes – o que, reiteramos, merece a crítica anteriormente copiada de JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, à vista e quando da falta de regulamentação do instituto.

No conflito de competência, o parágrafo único do art. 120 do aludido diploma codificado, estabelece que:

“Art. 120 – (omissis)

Parágrafo único – Havendo jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada, o relator poderá de plano decidir o conflito de competência, cabendo agravo, no prazo de cinco dias, contado da intimação da decisão às partes, para o órgão recursal competente”.

No reexame necessário124, o § 3º do art. 475 do Código de Processo Civil, prevê que:

124 Sem o propósito de discutir a natureza jurídica do reexame necessário, apenas registramos nossa

contrariedade à manutenção do pouco eficaz e historicamente ditatorial instituto no Brasil; segundo pensamos, não há necessidade da adoção deste instituto no processo civil brasileiro e, portanto, de lege ferenda, deveria ser abolido. Recente etapa reformista, do Código de Processo Civil teve a oportunidade para fazê-lo, mas preferiu

“Art. 475 – (omissis)

§ 3º – Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente”.

Em sentido bastante próximo do que se propugna – a adoção, em certa dose, da “súmula vinculante” no contexto, do Código de Processo Civil – é ainda destacável a regra inerente ao processamento da declaração de inconstitucionalidade por meio do controle incidental na forma do parágrafo único, do seu art. 481, onde:

“Art. 481 – (omissis)

Parágrafo único – Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a argüição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão”.

É bem verdade que, aqui, dá-se uma extensão ao instituto mas, no fim e ao cabo, não deixa de ser uma vinculação às decisões proferidas sobre determinado tema.

Também nesta linha paralela de identidade, a própria uniformização de jurisprudência pode ser mencionada como mais um instituto processual civil que impõe dever de vinculação às decisões proferidas anteriormente.

Nesse sentido, o art. 478 do Código de Processo Civil estabelece que:

“Art. 478 – O tribunal, reconhecendo a divergência, dará a interpretação a ser observada, cabendo a cada juiz emitir o seu voto em exposição fundamentada”.

A partir da uniformização, todos os julgamentos havidos naquele Tribunal deverão obedecer aquele entendimento.

apenas limitar sua incidência e regulamentar o processamento (Lei 10.352/01). Cumpre mencionar que, no âmbito do Juizado Especial Federal, já não existe previsão legal para o reexame necessário.

No título dedicado aos recursos, podemos encontrar vários dispositivos que tangenciam a adoção da “sumula vinculante” – sempre mantida, reitere-se, a crítica de JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA.

O inciso I do art. 527 do diploma processual civil estabelece que o relator de agravo de instrumento negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos, do art.

557.

O mencionado art. 557, por sua vez, dispõe que:

“Art. 557 – O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”.

Ato contínuo, o § 1º-A estabelece que:

“§ 1º-A – Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso”.

Em igual sentido, a regra da primeira parte do § 3º do art. 544 do Código de Processo Civil (aplicável também ao agravo contra decisão de inadmissão de processamento de recurso extraordinário, exceto quando, na mesma causa, houver recurso

especial admitido e que deva ser julgado em primeiro lugar”, por força do § 4º, do mesmo dispositivo), segundo a qual:

“Art. 544 – (omissis)

§ 3º – Poderá o relator, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, conhecer do agravo para dar provimento ao próprio recurso especial (...)”.

Percebe-se a adoção de “efeito vinculante” para decisões jurisprudenciais, mesmo não sumuladas, em diversas passagens do Código de Processo Civil, lei meramente ordinária da esfera federal.

A pergunta que até 2004 se fazia era a seguinte: por que não, a sério, introduzir por meio de emenda constitucional o regramento da “súmula vinculante” no Brasil?

E a resposta, até dezembro daquele ano era que talvez o que à época impedisse esta tomada de posição fosse o medo, inerente às novidades e o descrédito no instituto, no sentido de que já vinha sendo questionado se realmente proporcionaria um processo mais rápido.

Para tais restrições, temos estas respostas: (i) o medo deve ser corajosamente, porém não aleatoriamente, enfrentado e (ii) o descrédito na rapidez decorrente da adoção da “súmula vinculante” pode ser objetado por um outro atributo do instituto, que é a segurança jurídica. Assim, ainda que não se consiga um processo mais rápido com a introdução da “súmula vinculante” no ordenamento jurídico brasileiro, não se pode menosprezar que, da mesma ou até maior importância que a celeridade processual – que depende também da simplificação das formas, de ajustes recursais e dependia, sobretudo, da reforma mais que urgente do processo de execução, no campo processual; de uma reforma absoluta da mentalidade dos operadores do Direito, sob o ponto de vista social e, entre outros, de uma reformulação da estrutura do Poder Judiciário, até mesmo com revisão de temas relacionados à Lei de Responsabilidade Fiscal, na sede legislativa – há o atributo da segurança jurídica ínsito à “súmula vinculante”.

Em dezembro de 2004, veio à lume a Emenda Constitucional n.º 45, cujo teor, dentre outras tantas inovações, introduziu no seio da Constituição Federal o art.

103-A, versando exatamente sobre a possibilidade de aprovação, pelo Supremo Tribunal Federal, de súmula de efeitos vinculantes.

1.3.2.4

A disciplina da “súmula vinculante” fora do Código de

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