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A S CERÂMICAS E O CRESCIMENTO URBANO DE C ARUARU

Com toda certeza, a primeira cerâmica instalada que utilizou o barro das margens do Ipojuca foi a Cerâmica São Caetano, sediada no sítio Camboa, no vizinho município de São Caitano. Ela é de fundamental importância porque inaugurou, com a utilização de máquina, a retirada e o preparo da argila plástica depositada durante milênios, da qual também se beneficiam os artesãos do Alto do Moura. Mas não devemos esquecer que os primeiros a utilizarem esse estoque natural de argila foram os oleiros, utilizando-se de fornos ou mesmo

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caieiras, cujos produtos contribuíram para o crescimento do sítio urbano de Caruaru que, segundo Pernambuco (2002ª, p. 44), em 2001, contava com 42.177 casas, construídas de tijolos ou adobe (tijolo cru), representando 97,6% das residências. Nesse mesmo ano, a cidade possuía 877 casas de taipa, 2% do total.

Desde o começo da povoação de Caruaru que o barro foi utilizado para a construção de casas e da rede de esgotos, com as famosas manilhas. Provavelmente os primeiros habitantes que aqui se fixaram construíram suas casas de taipa. À medida que o povoado foi evoluindo, começaram a utilizar o tijolo cru (adobe) e depois, visando obter mais segurança e durabilidade, o tijolo cozido.

Segundo Pernambuco (2002ª, p. 172), o núcleo urbano de Caruaru tende a ocupar o espaço de duas formas:

a) espontânea: procura dos moradores e mercado imobiliário;

b) induzida pelo setor público: conjuntos habitacionais populares a leste e a noroeste. Atualmente ocorre um processo de verticalização em algumas áreas da cidade, demonstrando que a construção civil, dentro dos parâmetros da produção capitalista, está em crescimento neste município do interior pernambucano, onde o metro quadrado de terreno chega a custar mais caro que na capital, como aponta Jornal Extra de Pernambuco (2006, p. D 1).

As pessoas que têm menores rendimentos compram casas ou lotes de terrenos em lugares distantes, onde as condições de venda a longas prestações tornam possível esse sonho/necessidade, mesmo que o local não disponha de equipamentos e serviços públicos de extrema necessidade àqueles habitantes (transporte coletivo, rede de água e esgoto, serviço médico, escola, etc.). A essas pessoas de baixa renda, resta a alternativa da autoconstrução, utilizando a própria mão-de-obra nos finais de semana, realizando a edificação aos poucos, porque não têm condições de pagar a terceiros (SILVA, 2006, p. 97). A autoconstrução está vinculada apenas parcialmente ao circuito imobiliário urbano. Nos dois casos: produção nos parâmetros capitalistas e autoconstrução, o material da construção estará presente, não dispensando os tijolos e as telhas, feitos de argila.

A produção do tijolo e da telha comuns se intensificou a partir de 1920, quando a população absoluta começou a obter altos índices de crescimento (Tabela 13). As olarias eram muitas. Relatos nos asseguram que se espalhavam desde o extremo leste da cidade até o extremo oeste do Município, na divisa com São Caitano (Figura 03). O crescimento populacional continuou aumentando nas décadas seguintes, desacelerando a partir dos anos

oitentas. Isso contribuiu para a implantação das cerâmicas, que começaram a aparecer a partir de 1946.

TABELA 13 – ÉPOCA DE FORMAÇÃO DAS CERÂMICAS EM ESTUDO

PRINCÍPIO COMO (ANO):

CERÂMICA INÍCIO

(ANO) OLARIA CERÂMICA

SITUAÇÃO ATUAL

São Caetano 1946 --- 1946 Funcionando

São José 1947 1947 1952 Funcionando

São Geraldo 1950 1950 1965 Funcionando

Santa Luzia 1957 1957 1977 Encerrada

Bernardino 1959 1959 1969 Funcionando

São Miguel 1960 --- 1960 Encerrada

Zé Alves 1962 --- 1962 Encerrada

Vale do Ipojuca 1975 1975 1979 Funcionando

E. B. Cerâmica 1992 --- 1992 Funcionando

Kitambar 1989 --- 1989 Funcionando

Lampião 2000 --- 2000 Funcionando

Várzea da Picada 2002 --- 2002 Funcionando

São Jorge 2003 --- 2003 Encerrada

Fonte: Elaboração própria, com base nas entrevistas.

Nas olarias, a matéria-prima é retirada do mesmo local ou jazida. Nas cerâmicas, desde o início, é realizada a mistura do barro da beira do Ipojuca com o barro vermelho da Serra dos Cavalos, região brejeira de Caruaru, na razão de 5 x 1, para que se obtenha a liga adequada. A partir dos anos noventas, após a criação do Parque Ecológico Vasconcelos Sobrinho, a retirada da argila da Serra dos Cavalos foi proibida, forçando a busca noutros municípios: Moreno, Belém de Maria e Barra de Guabiraba são os principais. Mesmo assim, vez em quando há desobediência. Jornal Vanguarda (1995, p. 10) veicula denúncia do vereador José Ailton e de moradores da Serra dos Cavalos de que a Cerâmica São Caetano retirou mais de 1.000 caminhões de argila do Parque Vasconcelos Sobrinho e não do seu próprio terreno, enganando a Justiça que havia expedido liminar em favor da retirada no terreno particular.

A lenha é o combustível de queima usado nos fornos das cerâmicas. Não foi possível obtermos todos os dados referentes às cerâmicas estudadas porque seus donos fizeram um

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pacto para impedir informações que pudessem levá-los a responder perante os órgãos fiscalizadores. Mas deu para perceber que o setor funciona dentro da informalidade, não assumindo as exigências legais, como os cuidados com o meio ambiente e o pagamento da CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais. Entre 1995 e 1999, o Município de Caruaru contribuiu com R$ 1.276,95 (1998) e R$ 7.233,00 (1999), valor irrisório para toda a atividade de mineração, que inclui também os fornos de cal e as pedreiras.

Excetuando-se os problemas ambientais e o esgotamento das reservas aluvionais, devemos reconhecer que as olarias e as cerâmicas tiveram e ainda têm grande importância para o desenvolvimento de Caruaru e região. A produção é insuficiente para atender o mercado local, havendo a inserção de produtos cerâmicos de outros municípios. Ministério de Minas e Energia – Governo de Pernambuco (2001), baseado na FIEPE, apresenta o seguinte quadro sobre a cerâmica vermelha no Estado:

PERFIL DA CERÂMICA VERMELHA NO ESTADO DE PERNAMBUCO: 90% - usam sistema de operação mecanizado;

38% - têm jazida própria; 44% - usam jazidas de terceiros;

18% - usam jazidas próprias e de terceiros;

36% - jazidas situam-se a menos de 5km de distância; 20% - jazidas situam-se entre 30 e 40km de distância. Consumo médio de argila: 2.700 toneladas/dia. Custo da produção:

a) mão-de-obra e encargos sociais...32%; b) combustível para queima...20%. Quanto ao tipo de combustível:

a) 72% - lenha (46% nativa, 15% replantio, 11% ambas); b) 28% - óleo combustível.

Perguntando sobre a chegada do gasoduto Recife-Caruaru, os ceramistas não mostraram empolgação para implantarem um sistema novo, mesmo reconhecendo que poderia tornar mais eficiente a queima dos produtos, salientando que a modificação ficaria muito onerosa para as possibilidades econômicas existentes.

TABELA 14 – PRODUÇÃO MINERAL DE PERNAMBUCO – ARGILAS COMUNS E PLÁSTICAS 1990- 1997. ANOS 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Produção bruta (m3) 526.415 473.773 531.590 530.113 484.406 536.060 432.761 429.166 Valores anuais (US$ 1.000) 911 2.498 6.137 6.137 5.725 6.970 3.737 3.305

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CAPÍTULO 5

O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DE CARUARU E DO ALTO DO MOURA

O mundo altera-se, o valor dos locais varia de acordo com o proveito que deles se possa extrair. A geografia deve acompanhar este processo, para cumprir a sua missão de arquivista do patrimônio e de ciência política ou económica das relações ente as sociedades e entre as sociedades e o seu meio ambiente (GEORGE, 1989, p. 10).

5 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DE CARUARU E DO ALTO DO MOURA

Para que não exista confusão no entendimento do que seja o Alto do Moura, devemos diferenciar o bairro Alto do Moura do antigo povoado Alto do Moura, onde viveu Vitalino. O bairro foi criado em 1980 e engloba o antigo povoado e outras áreas. É necessário que nos adentremos no conhecimento histórico e recorramos ao desenvolvimento da cidade de Caruaru e do antigo povoado do Alto do Moura, para que possamos entender a necessidade da argila para a construção de edificações e o conseqüente crescimento urbano.