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A TIVIDADES DE APOIO À PRODUÇÃO ARTESANAL

No Alto do Moura, a produção de artesanato em barro traduz-se na base econômica. Portanto, a indústria tem a maior importância no contexto sócio-espacial. Mas, outras atividades inerentes à preparação da peça artesanal fazem-se presentes, havendo determinadas especialidades na mão-de-obra, como veremos a seguir:

6.5.1 Oleiros

Oleiro é como são denominadas as pessoas que utilizam tornos para elaborar peças arredondadas, que são a base para a elaboração de moringas e determinadas peças e figuras. O artesão encomenda uma quantidade de peças cruas de tal tamanho e, quando as recebe, coloca a cabeça, braços e alguns outros detalhes. Após o cozimento, faz a pintura e coloca a peça no mercado. Essa atividade tem sido importante atualmente porque atende à procura de um tipo de figura decorativa em forma de bilha: uma boneca arredondada que apareceu na novela Belíssima, da Rede Globo de Televisão.

Atualmente, existem 10 pessoas trabalhando com tornos. Para atender à demanda, em alguns dias da semana, três rapazes vêm de São Caitano, município vizinho, para reforçar a mão-de-obra. O rendimento desses oleiros pode ultrapassar R$ 600,00 por semana.

6.5.2 Fabricantes de Caixas de Papelão

Existem três pessoas que produzem caixas de papelão para embalagem. Uma delas faz caixas padronizadas por encomenda (Dão das Caixas). Os outros dois só fazem para embalar jogos de xadrez, porque são mais fáceis e de grande aceitação.

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6.5.3 Preparação do Barro

Quando Vitalino precisava do barro, buscava na beira do rio e levava para casa, estocando num local abrigado da chuva, deixando secar bastante. Pegava o barro seco e socava num pilão para desmanchar num pó bem fininho, sem deixar sarugo. Depois, acrescentava água aos poucos, misturando e amassando, num processo que poderia levar horas para a argila adquirir o ponto de plasticidade ideal para uso. Com a massa pronta, colocava-se um pano úmido por cima para não secar. Isso também era feito da mesma maneira pelos outros artesãos.

Não é possível precisar a data, mas algumas pessoas do lugar, usando o pilão e amassando à mão, forneceram barro pronto para o uso dos artesãos. Não era uma produção que atendia a muitos. Geralmente restrita a parentes ou amigos. Dona Iraci Maria da Silva (61 anos) conta que, ao aposentar-se, em 2000, pilou o barro para vender, porque sua nora Lindalva parou de fazê-lo. Passou cerca de um ano apenas, pois adoeceu por causa do pó inalado. Seu marido, Manuel Virgínio Neto (Mané Bofó, 64 anos), há 10 anos que prepara dois tipos de barro: para arranjos, encomendado pelas floriculturas e lojas de decoração de Caruaru, sem muitas exigências quanto à qualidade; para bonecos de barro, vendido aos artesãos do Alto do Moura, de melhor qualidade. Produz em média 10 pacotes de 15 Kg/semana. Segundo esse casal, há mais de 10 anos Maria de Expedito, que hoje não habita mais o município de Caruaru, preparava a massa e vendia a alguns artesãos, fazendo isso por alguns anos. Luiz Antonio da Silva (Lula Batista, 60 anos) prepara barro para vender aos lojistas de Caruaru, mas diz que faz pouco tempo.

De uma produção em pequena escala, totalmente manual, sem maiores significados para a economia local, essa atividade obteve um desenvolvimento significativo a partir de uma produção em maior escala, usando máquina movida a energia elétrica.

Genário Lopes da Silva tem 55 anos e nasceu em Cachoeirinha-PE, vindo morar em Caruaru aos 16 anos, arrumando emprego na Cerâmica Santa Luzia, onde passou 18 anos. Ao sair da cerâmica, foi trabalhar como artesão fazendo cinzeiros para hotéis, pousadas e empresas, colocando a publicidade do contratante. Há quatro anos começou a pilar o barro no pilão e vende-lo pronto a cinco artesãos. Um certo dia, conversando com um amigo, viu uma máquina forrageira sem uso e disse que aquilo lhe serviria muito. O amigo, pastor Sérgio, emprestou-a, mas não quis de volta. A partir daí, há três anos, começou a preparar a massa com a forrageira.

Por suas contas, uma carga de barro bruto de 4m3 é suficiente para preparar 530 pacotes de barro pronto com cerca de 12kg. Vende aproximadamente 300 pacotes por semana, quase tudo fiado para oito dias. A distribuição é feita da maneira mais simples possível: alguém encomenda e ele vai à casa entregar. Num carro de mão coloca 5 ou 6 pacotes e vai entregar o pedido. Pelo caminho, outras pessoas vão pedindo e ele volta com o carro vazio.

FOTO 22 Genário Lopes da Silva – 2007 Foto de: Laudenor Pereira

Lamartine Paes da Silva (Marquinho, 35 anos) foi a segunda pessoa a implantar a

forrageira no preparo do barro, há dois anos. Antes, preparava para as floriculturas e lojas de decoração de Caruaru. Segundo ele, entrou no ramo porque via que Genário Lopes não atendia a todos os pedidos e os artesãos pediam que ele também fizesse. Por suas informações, um estoque de 4m3 de barro bruto é suficiente para fazer cerca de 400 pacotes de barro pronto.

A preparação da massa é quase idêntica nos dois estabelecimentos. Genário passa o barro seco numa peneira de malha grossa e depois o leva para a forrageira, triturando-o até não restar resíduo grosseiro. Lamartine leva o barro seco para a forrageira e depois o peneira numa malha fina. A partir do pó pronto, ambos adicionam a água numa razão de quatro recipientes de 2 litros de pó para 1,5 litro de água. Mistura-se ligeiramente dentro de uma bacia de plástico. Depois é jogada ao lado para ser amassada, acrescentando-se pó ou água, se necessário, até dar o ponto de plasticidade. É parecido com a preparação da massa de pastel feita nas nossas residências. A massa pronta é embalada numa bolsa de plástico e está pronta para o cliente.

Com a inserção de Lamartine nesse mercado, Genário foi forçado a baixar os preços que praticava quando estava sem concorrência. Atualmente, os preços são idênticos para os dois, sendo efetuados da seguinte maneira: 1 pacote de aproximadamente 12kg custa R$ 3,00; 2 pacotes, R$ 5,00; 5 pacotes, R$ 10,00. Lamartine diz que vende cerca de 200 pacotes por semana. Ambos empregam mais dois trabalhadores.

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Como vantagem dessa nova opção para os artesãos, temos: sobra de maior espaço físico na oficina ou residência, pois não se faz necessário estocar o barro bruto; não preparando o barro, sobra mais tempo para se dedicar à produção das peças, ao comércio, às atividades domésticas, ao estudo ou ao lazer; não existe a preocupação de adquirir um barro de fraca qualidade, pois a argila é cuidadosamente tratada por esse pessoal.

6.5.4 Pintura

Mesmo que o artesão domine todas as etapas de sua produção, ele pensa em maneiras de como gastar menos tempo ocupado com atividades que sejam demoradas ou que não tenha tanta habilidade em realizar. Por isso, alguns artesãos se dedicam à pintura de peças de barro, atendendo aos colegas que os procuram. O rendimento deles pode variar entre R$ 120,00 e R$ 200,00 por semana. O contrato de trabalho é feito baseado na quantidade de peças pintadas e na complexidade do desenho que deve efetuar.

6.5.5 Forneiros

Também conhecidos como “queimadores de louças”, são pessoas que se dedicam ao cozimento das peças. Funciona da seguinte maneira: o artesão prepara a louça no forno, que geralmente fica no quintal da casa, e chama uma pessoa para controlar o fogo durante o tempo de cozimento, que pode durar o dia todo. Esse serviço rende em torno de R$ 15,00 ao forneiro. O artesão, enquanto isso, vai realizar outras atividades, mais rendosas para ele, é claro.