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A saúde ocupacional dos garimpeiros e lapidadores

No documento 2009GilmarPalmeira (páginas 61-65)

2º CAPÍTULO AS PEDRAS PRECIOSAS E SUA DINÂMICA PRODUTIVA

2.8 A saúde ocupacional dos garimpeiros e lapidadores

As relações de trabalho e o modo de produção no garimpo configuram-se em três esferas principais: o dono da terra, o fornecedor e o garimpeiro. O dono da terra é o proprietário do terreno explorado. O fornecedor é aquele que mantém o garimpo, custeando alimentação e os equipamentos necessários à exploração. O garimpeiro é o indivíduo que vende sua força de trabalho, ou seja, a mão-de-obra.93

Assim, a saúde dos garimpeiros e a preservação do meio ambiente, no início das extrações em jazidas, não eram preocupações dos donos de garimpos, dos fornecedores e nem dos garimpeiros. Pressupõe-se que pela falta de conhecimento, esse assunto não era discutido na sociedade. Alem disso, também não existiam leis nem órgãos controladores das atividades garimpeiras.

Conforme Elaine Medianeira Pagnossin94, o histórico das doenças em mineiros são estudadas desde a antiguidade. No antigo Egito, era comum a existência de doenças ocupacionais, principalmente de dermatites e lesões de mãos e braços em pedreiros. Devido a isso, em certos locais de trabalho, como minas e pedreiras, havia atendimento médico no local.

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Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai. 93

Simpósio de Geologia de Minas Gerais, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de Geologia – MG, 1985, p. 332.

94

PAGNOSSIN, Elaine Medianeira. A atividade mineira em Ametista do Sul/RS e a incidência de silicose em garimpos. Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação em geociências e geografia. UFSM, Santa Maria-RS, 2007.

Para René Mendes95, entre os trabalhadores da mineração subterrânea, a mortalidade era precoce e em maior número. Associou-se o trabalho dos mineiros com os riscos à saúde, constatando que as doenças dos mineiros eram sistêmicas. Diante da realidade, observou-se que muitos problemas de saúde poderiam ser evitados, se fossem adotadas medidas preventivas.

A silicose é a mais antiga doença conhecida nos garimpeiros; mais grave e mais prevalente das doenças pulmonares relacionadas à inalação de poeiras minerais, confirmando a sua importância na lista das pneumoconioses. A descrição da doença foi relatada há muitos séculos. É crônica e incurável, com uma evolução progressiva e irreversível que pode determinar incapacidade para o trabalho, invalidez, aumento da suscetibilidade à tuberculose e, com frequência, ter relação com a causa de óbito do paciente afetado. É uma fibrose pulmonar nodular causada pela inalação de poeiras contendo partículas finas de sílica livre cristalina que leva de meses a décadas para se manifestar.96

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da OMS, considera a sílica livre cristalina inalada como um câncer. Apesar do muito que se conhece sobre esta doença ocupacional, ainda a silicose continua a matar trabalhadore s em todo o mundo. Milhares de novos casos são diagnosticados a cada ano em várias partes do mundo, com predominância nos países em desenvolvimento, onde as atividades que envolvem a exposição à sílica são muito frequentes.

No Seminário Internacional sobre Exposição à Sílica – Prevenção e Controle, realizado na Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná, no período de 06 a 10 de novembro de 2000, foi abordado que o risco de se adquirir silicose depende de três fatores: concentração de poeira respirável, porcentagem de sílica livre e cristalina na poeira e a duração da exposição. As poeiras respiráveis são frequentemente invisíveis a olho nu e são tão leves que podem permanecer no ar por período longo de tempo. Essas poeiras podem também atravessar grandes distâncias, em suspensão no ar, e afetar trabalhadores que aparentemente não correm risco.

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MENDES, René. Patologia do Trabalho. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2003, p.18.

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GOELZE, Berenice; HANDA, Zuher. Programa Nacional de Eliminação da Silicose. Seminário Internacional Sobre Exposição á Silica “Prevenção e Controle” realizado em Curitiba de 06 a 10 de Novembro de 2000, p.1-2.

A poeira de sílica é desprendida quando se executam operações tais como: cortar, serrar, polir, moer, esmagar, ou qualquer outra forma de subdivisão de materiais q ue contenham sílica livre e cristalina, como areia, concreto, certos minérios e rochas, jateamento de areia e transferência ou manejo de certos materiais em forma de pó.

No Brasil, a identificação de casos novos é epidêmica e a silicose é considerada a principal doença ocupacional pulmonar devido ao elevado número de trabalhadores expostos à sílica. Na região de Soledade, a doença é bem conhecida. Nas fabriquetas de lapidação não existe o cuidado com o pó da pedra (sílica). Infelizmente não há uma estatística exata sobre os casos de doentes.

Entre os problemas relativos à saúde e à segurança do trabalho nos garimpos, os mais graves são: riscos físicos, como deficiência de oxigênio, ventilação, ergonomia e organização do trabalho, riscos decorrentes do trabalho em espaços confinados, riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos, veículos e trabalhos manuais e inexistência de equipamento de proteção individual de uso obrigatório.97

Em entrevista, os proprietários da empresa Lodi Pedras Preciosas, Bagatini Pedras e Legep Minerações, revelaram que em suas empresas todos os operários do processo produtivo de pedras preciosas usam luvas e máscaras para executar suas funções. Em nossa visitas notamos que o problema da falta de equipamentos adequados para o trabalho é nas fabriquetas. Nelas foram raros os casos onde encontramos trabalhadores usando máscaras e luvas durante o trabalho.

A proposta do capítulo foi fundamentar o início da extração das pedras preciosas no Rio Grande do Sul, principalmente em Soledade, considerando a importância dos alemães no processo econômico e no desenvolvimento do setor. A relação comercial de Soledade com a Alemanha deu-se através dos primeiros imigrantes alemães estabelecidos no município.

Num outro olhar, o texto traz informações sobre as formações das pedras e seus processos produtivos a partir do século XVI, na Alemanha, bem como as consequências

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SEMINARIO. Geologia e Mineração em áreas de garimpo de pedras preciosas no estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2005.

causadas no meio ambiente nas áreas de garimpo. Também faz uma branda análise da questão da saúde do trabalhador na lapidação de pedras preciosas.

Assim, no próximo capítulo, será feito uma abordagem das influências econômicas do setor de pedras preciosas no crescimento econômico do município de Soledade, salientando as exportações do setor, além de se analisar sua real importância nas receitas municipais e na geração de empregos e renda.

3º CAPÍTULO – O POTENCIAL ECONÔMICO DAS PEDRAS PRECIOSAS NO

No documento 2009GilmarPalmeira (páginas 61-65)