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A exportação como força propulsora na economia do setor de pedras preciosas

No documento 2009GilmarPalmeira (páginas 65-70)

3º CAPÍTULO – O POTENCIAL ECONÔMICO DAS PEDRAS PRECIOSAS NO MUNÍCIPIO DE SOLEDADE DE 1997-2006.

3.1 A exportação como força propulsora na economia do setor de pedras preciosas

A exportação sempre fez parte da economia de Soledade, a qual nunca foi das mais diversificadas. Segundo Helen Scorsatto Ortiz98, durante o século XIX, a economia era baseada na criação de gado, no fabrico de erva-mate e na agricultura de subsistência. Era de vital importância a exportação de erva-mate, porque os impostos sobre sua exportação representavam a maior fonte de receitas municipais.

Sobre a importância das exportações nesta época, Paulo Afonso Zarth99coloca que:

“a erva-mate, ao lado da pecuária, foi um dos principais produtos da região serrana

durante o século XIX. A erva-mate era a principal receita das câmaras municipais devido aos tributos que incidia sobre sua exportação. No entanto, apesar de o gado ser o principal produto regional, o tributo destas exportações para outras províncias

ou mesmo para o exterior era arrecadado pelo governo provincial”.

Além das exportações da erva-mate, as pedras preciosas também já faziam parte da economia regional no século XIX. Maximiliano Beschoren100, ao descrever a principal renda do Lagoão, refere-se à produção de erva-mate, ressaltando que “importante é o comércio de 98

ORTIZ, Helen Scorsatto. O banquete dos ausentes: a Lei das Terras e formação do latifúndio no norte do RS (Soledade – 1850-1889). Dissertação de mestrado em história – UPF, 2005, p. 146-147.

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ZARTH, Paulo Afonso. História agrária do planalto gaúcho 1850-1920. Ijuí: Unijuí, 1997, p. 56. 100

BESCHOREN, Maximiliano. Impressões de viagens na Província do Rio Grande do Sul (1875-1887). Porto Alegre: Martins Livreiro, 1989.

ágatas, que anualmente são exportadas em grande quantidade. É a única fonte que faz circular o dinheiro”.

Na década de 1960, era muito difícil fazer exportação, pois havia problemas de transporte e o desembaraço alfandegário era confuso. Para sair a mercadoria do Brasil, muitas vezes, demorava mais de 30 dias. A exportação era feita apenas pelo Rio de Janeiro, a mercadoria era embalada em caixas de madeira e saía de Soledade para Porto Alegre, depois seguia de barco para o Rio, onde aguardava em torno de 10 dias para marcar com os fiscais a inspeção da mercadoria que estava exportando. Esse processo era feito através de um manifesto enviado para a fiscalização liberar a exportação.101

No mundo dos minerais, Soledade revela de forma evidente um crescimento econômico baseado nas exportações de pedras preciosas. Em 1975 havia lavras em M ormaço, Tunas, Quebra-dente, Formigueiro, Salto do Jacuí e Barros Cassal. Nesses garimpos, havia emprego na extração mecanizada à procura de geodos e drusas de ágata e de ametista.

A ametista ocorre em formas tanto não-cristalinas quanto cristalinas, mas sempre numa tonalidade púrpura clara ou escura. É uma pedra preciosa antiga no sentido de que fez seu aparecimento quando as pedras da crosta da Terra ainda estavam bastante sólidas. As cores das gemas são produzidas por vestígios dos metais ferro, man ganês e titânio, entre outros. [...] A cor púrpura é devido ao manganês ser mais acentuado no topo do cristal. Encontra-se principalmente no Brasil e no Uruguai. Essas rochas podem ter um metro de comprimento e apresentar uma forma oval; no Brasil descobriu-se uma rocha com 10 metros de comprimento e 5 metros de altura que continha 700 toneladas de ametista. Na idade Média seu valor era superior ao de um diamante.102

As pedras preciosas ametistas são as mais vendidas na região, disputando com a ágata a preferência dos compradores estrangeiros. Tanto uma como a outra servem para ornamentos e confecção de jóias de padrão internacional.

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GIOVANELLA, Eugênio. Entrevistado por Gilmar Afonso de Matos Palmeira em 17 de julho de 2008. Com 77 anos, empresário aposentado do setor de pedras preciosas.

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Conforme Furtado103, as exportações são fundamentais para o país obter as divisas internacionais necessárias, para adquirir bens e serviços essenciais ao seu crescimento econômico, cobrir déficits das transações unilaterais e para atender ao serviço de sua dívida externa. O aumento das exportações concorre para a elevação da taxa de crescimento do produto real, maior oferta de emprego e credibilidade externa do país, independente do fluxo de capital líquido recebido do exterior.

Nesse sentido, vale a pena lembrar que o Brasil teve uma desaceleração industrial e econômica na década de 80, e a década de 90 foi marcada pela abertura de mercado; além disso, o déficit da balança comercial era constante, sendo inevitável incentivar a exportação para que a indústria fosse aquecida.

Os países em desenvolvimento enfrentaram sérios problemas para equilibrar suas contas externas e recorreram a muitos meios para cobrirem seus déficits (ver gráfico 1). Entre eles, os investimentos fixos, a entrada de capital especulativo, a captação de empréstimos no exterior. Mas ao longo da década de 90, a economia brasileira sofreu grandes mudanças nos aspectos econômicos e institucionais. O principal foi a abertura comercial e financeira. Dessa forma, terminando com qualquer tipo de protecionismo para a indústria brasileira, que precisava se adequar aos novos tempos ou não sobreviveria à concorrência estrangeira.

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Gráfico 1 – Balança comerical brasileira

Fonte: MDIC( Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Gráfico elaborado pelo autor

Para Kandir104, a única saída era a redução dos custos tributários para incentivar as exportações. Iniciaram, assim, os primeiros estímulos através da nova lei do ICMS, promulgada em setembro de 1996, que ficou conhecida como a “Lei Kandir”.

Tal medida desonerava o imposto sobre os produtos primários e semi-elaborados, tendo um alcance mais amplo. Do lado das exportações, resulta em aumento de receitas de no mínimo US$ 1 bilhão/ano. Maior, no entanto, foi seu impacto sobre as taxas de investimentos, visto que permitiu compensação de crédito na aquisição de bens e capital, o que antes era vedado.

Essa lei resultou na redução média de 10% no custo de aquisição de máquinas e equipamentos. Em consequencia, houve uma aceleração no processo de atualização do parque produtivo brasileiro. No curto prazo, a aceleração tende a produzir impacto negativo na balança comercial. Mas, para Kandir105, tem que se olhar o processo em toda a sua dinâmica, desde a aceleração do processo de atualização do parque produtivo, que acentuará a dinâmica já em curso de ganhos crescentes de produtividade e competitividade da economia brasileira,

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KANDIR, Antonio. O caminho do desenvolvimento do Brasil hiperinflacionário ao Brasil competitivo e solidário. São Paulo: Atlas, 1998, p. 204.

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o que irá traduzir-se, mais à frente, em aumento da capacidade exportadora do país. Isso, se atendidos, como é o objetivo da agenda de exportação, os demais requisitos de redução de custo e acesso adequado ao crédito.

A partir da promulgação da lei Kandir, em 1996, a exportação de pedras preciosas beneficiou-se muito. O setor teve um aumento significativo nas exportações e as empresas conseguiram adquirir novos equipamentos através dos créditos de ICMS, bem como tinham a liberdade de negociar esses créditos com outras empresas, podendo, assim, renovar frotas de carros e equipamentos necessários para industrialização de pedras preciosas.

Contudo, a Lei Kandir causou perdas importantes na arrecadação de impostos estaduais. Apesar de o governo federal ter se comprometido a compensar tais perdas, as regras para esta compensação não ficaram tão claras, havendo um impasse entre o governo e os estados sobre este assunto. O que ocorria era que o governo apenas estabelecia valores parciais para compensação e os lançava no orçamento público da União. Os Estados eram obrigados a indenizar as empresas do ICMS cobrado sobre insumos usados para as exportações. Parte desses recursos era repassado pela União, contudo, o repasse às empresas era lento, pois os créditos que elas possuíam muitas vezes eram referentes a um ICMS pago sobre um insumo comprado em outro Estado.

Esses repasses da União para os estados nunca foram resolvidos. O Rio Grande do Sul ainda tem valores significativos para receber, que seriam referentes às perdas da isenção do ICMS nas exportações. Mas para o governo federal, a lei foi de grande valia porque cumpriu com o intuito que era aumentar as exportações e terminar com o déficit da balança comercial, elevando, dessa forma, sua taxa de crescimento e seu respeito como potência econômica no mundo.

Essas mudanças nas políticas econômicas, juntas com a globalização da economia mundial, proporcionaram efeitos diferentes no Brasil, por ser um país maior que os países europeus, e com regiões de grandes distinções. Nesse sentido, a abertura de mercado favoreceu mais as regiões mais industrializadas, prejudicando muito as regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essas eram, em 1990, muito incipientes no ramo industrial e não tinham capacidade de competir com no mercado internacional.

Contudo, a abertura de mercado contribui para a especialização regional, a exemplo do setor de calçados no Rio Grande do Sul. O setor desenvolveu-se tecnologicamente para o mercado mundial com novos designs e mais qualidade nos produtos. Apesar de o Rio Grande do Sul estar entre os maiores exportadores brasileiros, durante a abertura de mercado, as importações foram enormes, enquanto as exportações foram menores. Com relação a es se desequilíbrio na balança comercial na região, as empresas buscaram maior especialização produtiva para adequarem-se aos novos tempos.

No documento 2009GilmarPalmeira (páginas 65-70)