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A Sala de Recursos como dispositivo de “alívio”

5.2 ENCONTROS COM SUBJETIVIDADES EM PROCESSO DE

5.2.4 A Sala de Recursos como dispositivo de “alívio”

A professora Rubi escolheu a pergunta: estudante com deficiência atrapalha a turma? Foi uma questão boa para debater porque essa também é uma fala que faz parte das conversas dentro da escola.

Acho que não. A partir do momento que você coloca seu aluno na sala vai interagindo com ele e com os outros colegas, está socializado e conscientizar que você tem que desenvolver um trabalho diferente do que está fazendo com a turma pra que ele possa avançar tanto no convívio com as crianças quanto na aprendizagem. Agora se você não tiver essa consciência e não trabalhar com a turma e não fizer um trabalho de aceitação, não funciona (Informação verbal, Professora Rubi em Roda de Conversa I).

Quando Rubi diz sobre “trabalhar com a turma” e “trabalho de aceitação”, está falando sobre o combate ao preconceito e à discriminação ao estudante com deficiência.

Na sequência da pergunta da opinião de Rubi, a professora Ônix pediu pra falar sobre o que pensava sobre o tema e colocou sua opinião sobre a presença desse estudante.

Ela falou que não atrapalha. Eu acho que em parte. Tudo é muito relativo. Depende do comportamento dessa criança. Quando a criança tem aquele comportamento de grito, de ficar com agressividade você tem que interromper o seu trabalho sucessivas vezes e vai cortando o raciocínio daquele que está tentando acompanhar. Eu defendo a causa. Eu tenho que aceitar, mas esse meu aluno tem que ter um tempo numa sala de recurso fazendo uma atividade pra eu ter um tempo focando em uma outra coisa aqui. Não é um momento de exclusão. É um momento que vai ser um trabalho de atendimento individual com esse aluno, porque tem coisas que tem que ser trabalhado individualmente. Vou dar uma atenção só pra ele e nesse momento vou dar atenção aos outros. Principalmente quem tem que alfabetizar se toda hora te interrompe, não rende o seu trabalho. Não é que você está excluindo, mas você também tem o compromisso com o resto. Porque você vai chegar no final do ano e tem uma metade da turma que não está lendo e a outra metade não alcançou a competência que devia alcançar. Mas também não é culpa dele, mas também não é culpa do outro. É porque não houve uma organização, porque tanto aquele que está na categoria dos ditos normais e aquele que está na inclusão precisam daquele atendimento e os outros precisam de concentração, todos precisam de concentração, porque você controla com mais facilidade. Você bate o apagador na mesa e eles atendem (Informação verbal, Professora Ônix em Roda de Conversa I).

A sala de recursos passou a ser o local do estudante quando está incomodando. O papel da sala de recursos não está claro para as professoras. Vemos processos de heterogestão da sala de aula. Da mesma forma que a mediação toma um caminho de dependência a sala de recurso passa a ser vista como um instrumento de alívio para a sala de aula regular. Ônix diz que defende a causa, que ir para a sala de recurso não é exclusão, que o trabalho não rende, mas percebe que não é a inclusão que os teóricos defendem. Também mostra a preocupação com o rendimento dos estudantes ditos normais e de manter a disciplina da sala.

Quando o Marcos veio pra minha sala eu não tive medo. Foi tranquilo. As nossas crianças já acostumaram com essa ideia. A gente tem uma menininha cadeirante e eles querem empurrar, eles têm um carinho enorme. As nossas crianças não têm preconceito. Também tive o Roger. Agora eu não me assusto mais de forma nenhuma. Seja qual for a deficiência. Eu vejo que essas crianças precisam de muito carinho. Elas precisam estar naquele meio. Tem gente que fala que elas atrapalham a turma. Tem momento que tem que parar. Sozinha você não vai conseguir. É difícil você sozinha, mas a partir do momento que você tem uma ajuda dentro da sua sala, de alguém que fica com aquela criança, dá pra levar. Tem aquele momento dela poder ir ficar naquela sala. Eu não vejo que aquela sala arrumadinha que tá lá, o aluno estar excluído, não. Lá tem até mais ferramentas pra eles que a gente não pode colocar na sala de aula porque some. Lá tem muita coisinha que eles podem manusear. Lá na sala de recursos. Eu não vejo exclusão tirar o aluno um pouquinho da sala de aula pra ir lá. Acho até legal. Acho que o aprendizado é muito maior. Ele cansa um pouquinho de ficar na sala de aula (Informação verbal, Professora Jade em Roda de Conversa I).

Não ficou esclarecida para a professora a função da Sala de recursos. Para as professoras a Sala de Recursos é um instrumento para possibilitar à professora um momento de “alívio” da presença que incomoda ou um momento para atender sua turma sem interrupção.

O Conselho Nacional de Educação, Resolução 04/2009 no artigo 5° define o momento em que o estudante deverá ser atendido na sala de recursos.

Art. 5º O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins

lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios.

O atendimento na escola acontece no turno em que os estudantes estão em aula, e acaba sendo usado como instrumento de “alívio” ao incômodo que a presença do aluno deficiente gera ao professor. O estudante de acordo com artigo citado deveria ser atendido no contraturno para não atrapalhar seu horário escolar.