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A seqüência dos sete milagres

No documento O Evangelho segundo João (páginas 75-86)

Nossas explanações de ontem terminaram com a recomendação de observarmos o mais importante no âmbito do impulso do Cristo: a morte e seu próprio significado.

Antes, porém, de chegarmos à narração da morte do Cristo e, com isso, ao ápice de nossas considerações neste ciclo, será necessário falar hoje alguma coisa sobre o verdadeiro sentido e o significado de muitos trechos do próprio Evangelho de João, e das relações entre o que aí é relatado e os outros evangelhos.

Nos últimos dias tentamos compreender o impulso do Cristo a partir de fontes totalmente diferentes — a partir da observação clarividente da Crônica do Akasha —, situando-o como um acontecimento real na evolução da humanidade. E de certa forma só nos referimos ao que, nos Evangelhos, se apresenta como confirmação do que podia ser previamente declarado verdadeiro pela pesquisa clarividente. Hoje, porém, visando ao prosseguimento de nossas considerações, enfocaremos o próprio Evangelho de João e caracterizaremos, de um lado, esse importante documento da humanidade por seu

próprio teor. Esse Evangelho de João — do qual dissemos ontem que a pesquisa teológica da atualidade, enquanto estiver impregnada de materialismo, não poderá posicionar-se corretamente a seu respeito, não atingindo a compreensão da realidade histórica —, esse evangelho se nos evidenciará, se o observarmos com visão científico-espiritual, como um dos mais maravilhosos documentos que a humanidade possui. Pode-se dizer que o Evangelho de João pertence não só aos maiores documentos religiosos, mas aos maiores

— usemos a palavra profana — documentos literários universais. Examinemos mais de perto, deste lado, o conteúdo desse documento.

Esse Evangelho de João é, no que respeita à sua composição já nos capítulos iniciais

— quando bem compreendido, sabendo-se o que realmente subjaz às palavras —, um dos mais estilísticos e completos documentos que existem no mundo. Obviamente isto não pode ser captado por uma observação superficial. À primeira vista se evidencia que*o escritor do Evangelho de João — já o conhecemos agora —, com relação ao relato dos milagres até o próprio evento de Lázaro, enumera exatamente sete desses milagres. (No significado do número sete nos aprofundaremos mais nos próximos dias.) Quais são esses sete milagres ou prodígios?

1)o milagre das bodas de Cana, na Galiléia;

2)o milagre da cura do filho do oficial;

3)o da cura, junto ao lago Bethesda, daquele que fora doente por 38 anos;

4)a alimentação dos cinco mil homens;

5)o milagre da visão da caminhada do Cristo sobre o mar;

6)o milagre da cura do cego de nascença; e finalmente

7)o maior milagre, a iniciação de Lázaro — a transformação de Lázaro no próprio escritor do Evangelho de João.

Estes são sete dos milagres. Na verdade, devemos perguntar agora: que significado acompanha esses prodígios, esses milagres?

Se ouviram atentamente o que lhes foi dito nos últimos dias das mais diversas maneiras, os Senhores recordarão que no decorrer de toda a nossa evolução humana o estado consciente do homem se modificou. Nós retrocedemos o olhar aos tempos primordiais. Vimos que os homens não saíram de um simples estado animal na evolução, mas de uma forma em que os homens ainda possuíam o dom da clarividência como uma capacidade natural. Outrora os homens eram clarividentes, embora sua forma de consciência não lhes permitisse dizer “eu sou”. A capacidade da autoconsciência teria de ser conquistada pouco a pouco por eles; mas isto exigiu em troca a antiga clarividência.

No futuro retornará um tempo em que todos os homens serão clarividentes, apesar de haverem conservado o ‘eu sou’, a autoconsciência. Estes são os três estágios que a humanidade percorreu em parte, e em parte terá ainda de percorrer. Na Atlântida os homens ainda viviam numa espécie de consciência onírica, porém clarividente. Então veio a época em que conquistaram gradualmente a autoconsciência, a consciência exterior dos objetos, em troca do antigo dom clarividente nebuloso. E finalmente o homem terá, no futuro, uma consciência clarividente ligada à autoconsciência. Assim caminha ele de uma antiga clarividência obscura, através de uma consciência não-clarividente, para reascender a uma clarividência autoconsciente.

Mas além da consciência, também todo o resto se alterou no homem. É realmente sinal de curta visão acreditar que as coisas sempre se passaram como se passam hoje.

Tudo evoluiu. Não foi sempre assim, e tampouco a relação de homem para homem foi sempre como é hoje.

Já pudemos deduzir, das indicações dos últimos dias, que nas antigas épocas, até o período em que o impulso do Cristo interferiu na evolução humana, existia uma

influência muito maior de uma alma sobre outra. Os homens estavam predispostos a isso.

A pessoa não apenas ouvia o que o interlocutor lhe dizia com palavras exteriormente audíveis; quando o outro sentia ou pensava algo de forma vivida, ela podia de certa maneira senti-lo e sabê-lo. O amor, nas antigas épocas em que era mais ligado ao parentesco sangüíneo, era muito diferente do que é hoje. Hoje ele recebeu um caráter mais anímico, mas tornou-se mais fraco. Só retomará sua força quando o impulso do Cristo se introduzir em todos os corações humanos. Quando atuou nas antigas épocas, esse amor tinha ao mesmo tempo como que uma força curativa e balsâmica em relação à outra alma. Com a evolução do intelecto e da inteligência, que só pouco a pouco se formaram, desapareceram essas antigas influências de alma para alma.

Atuar na alma do outro, deixar extravasar a força contida na própria alma, era um dom peculiar aos povos das antigas épocas. Por isso devemos também pensar num poder muito maior que naquele tempo uma alma podia receber de outra, e numa muito maior influência exercida mutuamente. Embora nenhum documento histórico exterior mencione algo a respeito, embora as pedras e monumentos nada digam, a observação clarividente da Crônica do Akasha mostra-nos que nesses antigos tempos, por exemplo, podiam ocorrer curas de doentes em amplo sentido pela influência psíquica de um homem sobre os outros. E muitas outras coisas podia a alma realizar então. Aquilo que ao homem de hoje soa como um conto de fadas — o fato de a vontade humana ter, por exemplo, quando aspirava a isso e para tal era treinada, o poder de atuar de maneira a regular o crescimento das plantas, ativando-o ou retardando-o — era real naquela época.

Hoje restam de tudo isso apenas escassos resíduos.

Portanto, a vida do homem era então completamente diferente. Ninguém se teria admirado, nos tempos antigos, que ao haver uma acertada relação de homem para homem se transmitisse tal influência anímica de uma para outra personalidade. Aliás, devemos insistir: era sempre necessário haver duas ou mais pessoas presentes para que tal influência anímica pudesse ser exercida. Em nossa época também se poderia conceber que um homem com a força do Cristo surgisse entre os homens. Seriam, porém, escassos aqueles cuja fé nele fosse muito forte, e ele não poderia realizar o que pode ser exercido pela influência anímica de alma para alma. Para tal não é apenas necessário atuar, mas haver alguém maduro para receber tal atuação. Se nos antigos tempos eram abundantes as pessoas capazes de receber essa atuação, não nos admirará se for dito que naquela época existiam, para as curas de doentes, justamente os meios pelos quais se atuava mediante influência psíquica, tendo ocorrido, no entanto, também outras interferências psíquicas que hoje só seriam possíveis por meios mecânicos.

Em que época, pois, o evento do Cristo incidiu na evolução humana? Numa época bem determinada, e isto deve ser fixado. Dessas correntes anímicas de uma pessoa a outra havia apenas os últimos vestígios, como uma herança da época atlântica. A humanidade se dispunha justamente a penetrar cada vez mais no âmbito material e a ter cada vez menos a possibilidade de deixar atuar essas correntes anímicas. Aí teve de incidir o impulso do Cristo, o qual, justamente através de sua entidade, podia atuar infinitamente naqueles que ainda eram receptivos.

Quem realmente conhece a evolução da humanidade achará natural que, após haver penetrado no corpo de Jesus de Nazaré por volta de seu trigésimo ano de vida, a entidade crística pudesse atuar de forma muito especial nesse corpo, nesse envoltório.

Pois esse envoltório havia amadurecido desde épocas remotas. Ontem mencionamos que a individualidade de Jesus de Nazaré já se havia encarnado, numa vida anterior, na antiga Pérsia, tendo passado por repetidas encarnações, nas quais se elevara sempre mais em sua evolução espiritual. A isso se deveu o fato de o Cristo haver podido habitar tal corpo, que lhe pôde ser oferecido em sacrifício. Isto era muito bem sabido dos

evangelistas. Por isso eles relataram tudo de forma a torná-lo compreensível à visão do pesquisador espiritual.

Só que precisamos tomar tudo literalmente nos Evangelhos, isto é, aprender primeiramente a lê-los. Por que, por exemplo, é especialmente frisado justamente no primeiro dos milagres (como foi dito, ainda conheceremos o mais profundo significado dos milagres), na narração das bodas de Cana, na Galiléia, que isto aconteceu “em Canaã, na Galiléia” ? Não existe — os Senhores poderão pesquisar, se o quiserem — na antiga Palestina, nas regiões provavelmente conhecidas, nenhuma segunda Cana. Será necessário, para lugares de existência única, uma menção adicional? Por que, não obstante, ao falar desse milagre o evangelista diz que aconteceu “em Canaã, na Galiléia”? Porque se trata de acentuar que na Galiléia ocorreu algo determinado a ocorrer aí. Isto significa que o Cristo não teria encontrado em lugar algum, a não ser na Galiléia, as pessoas necessárias para tal. Eu já disse que para uma atuação importa não só quem atua, mas também os outros, adequados para recebê-la. O Cristo não teria podido efetuar sua primeira aparição dentro da comunidade judaica, mas sim na Galiléia, naqueles lugares onde se haviam mesclado as mais diversas estirpes e os mais diversos grupos étnicos. Justamente pelo fato de haverem confluído para um mesmo lugar os mais diversos povos das mais diversas partes da Terra é que na Galiléia não existia mais o mesmo parentesco sangüíneo e, sobretudo, a fé nesse parentesco como na Judéia, no seio do estrito povo hebraico. Na Galiléia os homens estavam miscigenados.

Mas para onde o Cristo se sentiu chamado, em razão de seu impulso?

Já dissemos que um de seus mais importantes pronunciamentos foi: “Antes de existir Abraão existia o Eu-Sou”. E ainda: “Eu e o Pai somos Um.” Com isto queria dizer:

entre aqueles que pertenciam às antigas instituições, o eu só está abrigado dentro de um parentesco sangüíneo. Aquele que era um adepto do Antigo Testamento sentia algo de muito especial nas palavras: “Eu e o Pai Abraão somos Um” — algo que ao homem de hoje é difícil de sentir também. O que o homem denomina seu próprio self, encerrado entre o nascimento e a morte, é visto por ele como transitório. Mas quem professava corretamente o Antigo Testamento e era afetado pelas doutrinas que naquela época fluíram pela humanidade dizia — e não simplesmente como uma afirmação alegórica, mas como um fato —: “Para mim eu sou único, contudo sou um membro num grande organismo, num grande contexto vital que ascende ao Pai Abraão. Tal como o dedo só pode existir como membro vivo enquanto está em meu corpo, eu também só possuo um sentido enquanto me sinto um membro no grande organismo étnico que ascende ao Pai Abraão. Eu dependo tanto do grande organismo étnico quanto o dedo de meu corpo.

Separando-se o dedo do corpo, logo não será mais um dedo; ele só está protegido quando ligado à minha mão, a mão ao meu braço e o braço ao meu corpo: não terá mais sentido se separado da mão. Da mesma forma, só tenho um sentido ao me perceber como um membro de todas as gerações através das quais flui o sangue do Pai Abraão. Então me sinto protegido! Passageiro e provisório é meu eu individual, mas não o é esse grande organismo étnico ascendente ao Pai Abraão. Quando me sinto totalmente dentro dele, sobrepujo meu eu temporal; torno-me então protegido num grande Eu, no Eu do Povo, que através do sangue das gerações flui do Pai Abraão até mim!” Assim pensava o adepto do Velho Testamento.

Pela força dessa vivência interior que reside nas palavras “Eu e o Pai Abraão somos Um”, acontecia tudo o que de supremo, de manifestação maravilhosa ocorreu dentro do Antigo Testamento. No entanto, por haver chegado o tempo em que os homens não mais deveriam ser chamados a possuir tal estado de consciência, isso se perdeu pouco a pouco. O Cristo não devia, pois, ir até aqueles que, de um lado, haviam perdido a capacidade de atuar através daquela força mágica existente nas ligações de sangue e, de

outro, ainda possuíam a crença na comunhão com o Pai Abraão; pois entre eles não podia encontrar a fé necessária à atuação do que podia jorrar de sua alma para as demais.

Então ele teve de dirigir-se aos que, por sua miscigenação sangüínea, não possuíam mais aquela fé: os galileus. Aqui devia iniciar sua missão. Embora no geral o antigo estado de consciência estivesse em desaparecimento, neles ele encontrou justamente uma miscige-nação étnica situada no início da mescla sangüínea. De todos os lados advinham tribos que, antes dessa confluência, ainda haviam estado sujeitas às forças dos antigos laços de sangue. Haviam chegado para encontrar a transição, mantendo o sentimento vivo de que seus pais ainda haviam vivido no antigo estado de consciência, possuindo ainda as mágicas forças que atuam de uma alma para outra. Neles o Cristo pôde atuar com sua nova missão, que consistia em dar ao homem uma consciência do eu não mais ligada ao parentesco sangüíneo — uma consciência que podia dizer: “Em mim mesmo eu encontro a ligação com o Pai espiritual, com o Pai que não faz correr seu sangue através das gerações, mas que envia sua força espiritual para cada alma individual. O eu que está em mim e tem uma relação direta com o Pai espiritual existia antes de Abraão existir. Por isso fui chamado a verter para o eu essa energia fortalecida pela consciência da ligação com o Pai-Força espiritual do mundo. ‘Eu e o Pai somos um’, e não ‘eu e o Pai Abraão’, isto é, um antepassado corpóreo, ‘somos um’.”

E o Cristo se dirigiu aos que acabavam de chegar ao ponto de compreender isto, necessitando encontrar não nos laços sangüíneos, rompidos justamente por sua miscigenação, mas na alma individual a vigorosa força que pode reconduzir o homem a exprimir cada vez mais o espiritual no físico. Não digam os Senhores: por que, então, não vemos hoje as coisas acontecer como aconteceram naquela época? Abstraindo-se o fato de poder vê-lo quem assim o quiser, deve-se considerar que os homens saíram desse estado de consciência, descendo ao mundo material, e que aquela época era justamente a linha divisória onde o Cristo mostrou, aos últimos exemplares da humanidade em evolução, o que o espírito exerce sobre o físico. Como um exemplo ou símbolo, como símbolo de fé, foram apresentados aqueles milagres então ocorridos quando ainda existia o antigo estado de consciência, embora em extinção.

Observemos agora essas bodas de Cana propriamente ditas. Se eu lhes desenvolvesse aqui literalmente todas as particularidades do Evangelho de João — seu verdadeiro conteúdo —, catorze conferências não bastariam, pois na verdade seriam necessários alguns anos. Mas esse desenvolvimento literal seria apenas uma confirmação do que posso apontar-lhes em breves explicações.

Inicialmente nos é dito, nesse primeiro milagre, que havia um casamento em Cana, na Galiléia. Ora, temos de estar conscientes de que no Evangelho de João nenhuma palavra existe sem um significado especial. Por que, pois, um ‘casamento’? Porque pelo casamento é exercida uma atuação que, pela missão do Cristo, efetua-se de forma eminente: pelo casamento as pessoas são unidas. E o casamento ‘na Galiléia’? Na Galiléia os laços sangüíneos estavam sendo rompidos, de forma que sangues estranhos se miscigenavam. A tarefa do Cristo prendia-se justamente à miscigenação sangüínea.

Trata-se, pois, de uma ligação entre pessoas não mais vinculadas pelo sangue, com a finalidade de gerar descendentes. Ora, sem dúvida lhes parecerá admirável o que vou dizer-lhes agora. O que teriam sentido as pessoas em épocas muito antigas num caso como esse aí ocorrido — quando ainda existia o que, no sentido da Ciência Espiritual, se pode chamar de ‘casamento próximo’? Pois é totalmente inerente à evolução da huma-nidade o fato de o original ‘casamento próximo’’ se haver transformado num ‘casamento distante’’. E naquilo que eu disse até aqui já está contido expressamente o que é o casamento próximo. Em todos os povos os Senhores encontram, nas antigas épocas, o fato se ser contra uma lei do povo casar-se fora da tribo, fora do parentesco sangüíneo.

O casamento era efetuado dentro da estirpe, dentro da consangüinidade, e isso produzia o maravilhoso efeito, constatado toda vez pela pesquisa científico-espiritual, de que uma grande força mágica podia ser exercida. Os descendentes dentro de uma tribo consangüínea tinham, por esse casamento entre parentes, forças mágicas que atuavam de alma para alma. Se houvéssemos sido chamados a um casamento em tempos remotos, o que teria ocorrido então? Suponhamos que a bebida usada para essa ocasião — portanto, o vinho — houvesse terminado. O que teria sucedido? Teria bastado apenas que, pelos laços da consangüinidade, existissem as condições adequadas entre os fami-liares presentes — e pelo mágico poder do amor sangüíneo se poderia ter assistido ao seguinte fato: o de que a água, por exemplo, servida em lugar do vinho num momento posterior da festa, por influência anímica dessas personalidades fosse saboreada pelos demais como se fora vinho. Esses outros teriam bebido vinho se aí houvesse existido a correta relação mágica entre um e outro. Não digam os Senhores que esse vinho teria sido água! Uma pessoa sensata deve concluir pela seguinte resposta: as coisas são, para o homem, tal qual se comunicam ao seu organismo, tal qual se tornam para ele, e não tal qual parecem. Eu acredito que ainda hoje muitos apreciadores de vinho teriam muito prazer se lhes fosse oferecida água e, apenas por uma influência qualquer, a água tivesse o sabor de vinho, exercendo sobre seu organismo o efeito do vinho. Nada mais é necessário senão a água parecer vinho aos homens. O que, pois, era preciso em tempos antigos para que ocorresse o milagre de a água contida nas talhas se transformar em vinho ao ser bebida? Era necessário o mágico poder exercido pelo parentesco sangüíneo.

Mas a força anímica para sentir algo assim existia entre as pessoas presentes às bodas de Cana, na Galiléia. Só que uma transição devia ser provocada.

O Evangelho de João prossegue: “E a mãe de Jesus estava lá. Mas Jesus e seus discípulos foram também convidados às bodas.” E como faltasse vinho, a mãe de Jesus o percebeu e disse-lhe: “Eles não têm vinho.”.

Uma transição, disse eu, tinha de ser provocada para que tal fato pudesse ocorrer.

A força anímica tinha de apoiar-se em algo; em quê? Chegamos então às palavras que, da forma como são usualmente traduzidas, constituem uma verdadeira blasfêmia. Pois eu não creio que uma pessoa com sensibilidade refinada não sentisse desagrado ao dizer:

“Eles não têm vinho!” e lhe fosse respondido: “Mulher, o que tenho eu a ver contigo?

Minha hora ainda não chegou!” É absolutamente impossível que isso seja admitido em tal documento. Deve-se pensar no seguinte: como é que o ideal do Amor, tal qual nos é descrito nos Evangelhos — Jesus de Nazaré —, podia usar, nas relações com sua mãe, a expressão “Mulher, o que tenho eu a ver contigo!”? Nada mais é preciso dizer sobre isso,

Minha hora ainda não chegou!” É absolutamente impossível que isso seja admitido em tal documento. Deve-se pensar no seguinte: como é que o ideal do Amor, tal qual nos é descrito nos Evangelhos — Jesus de Nazaré —, podia usar, nas relações com sua mãe, a expressão “Mulher, o que tenho eu a ver contigo!”? Nada mais é preciso dizer sobre isso,

No documento O Evangelho segundo João (páginas 75-86)