A sociedade de Medicina de Pernambuco

Octávio de Freitas também participou ativamente da Sociedade de Medicina de Pernambuco. Ao regressar ao Recife, recém-formado, havia na verdade uma associação Medico-farmacêutica, em substituição a primeira Sociedade da Medicina, à qual ele se associou em 1895. Todavia, o médico relata que começou a frequentar a associação com mais assiduidade, somente a partir de 1897, quando Rodolpho Galvão também passou a frequentá-la121_{, que, além de ser seu amigo, era alguém por} quem Freitas possuía bastante estima pelo seu trabalho. Foi nessa gestão que se decidiu a mudança do nome para Sociedade de Medicina de Pernambuco, como havia sido antes. Após a mudança de nomenclatura foi elaborado um novo estatuto e iniciou- se a publicação de uma revista, Os Annaes, a que Octávio contribuía como redator122_.

120 _{FREITAS, Octávio. Os nossos médicos e a nossa medicina. Recife: s.n., 1904. p. 9-10.}

121 _{Médico bacteriologista, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, exerceu cargos}

importantes em Pernambuco. Esteve na direção da Inspetoria de Higiene do Estado e no posto antirrábico de Pernambuco alcançando prestígio no campo da medicina científica. Cf. PEREIRA, Cosme de Sá. A pedidos: ao ilustre professor bacteriologista Dr. Rodolpho Galvão. Diário de

Pernambuco, Recife, anno77, n. 45, p. 2, 14 jun.1901. Disponível em: <http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital>. Acesso em: 19 jul. 2017.

Em 1898, Octávio foi reeleito como secretário e o médico e professor Constâncio Pontual, como presidente da Sociedade da Medicina de Pernambuco. Ao ser eleito, o novo presidente comprometeu-se em realizar uma palestra sobre a temática da sífilis e do casamento. Com um assunto polêmico para o período, essa conferência nunca ocorreu devido a rumores de que haveria pessoas para avaliar os seus conceitos e concepções. Nas palavras de Freitas acerca dessa falta de Pontual, “não era de seu feitio [...] a função de gladiador”123_{. Por esse motivo o presidente não} compareceu no dia marcado para a sessão e nem para as outras subsequentes.

Diante dessa circunstância, em conjunto com outras questões, a sociedade da Medicina foi extinta e despejada em 1900, por ordem do governo do Estado. Após esse acontecimento, Octávio ofereceu no instituto Pasteur uma sala para acondicionar todo o imobiliário, livros e documentos da extinta instituição. Ele passava horas lendo e relendo várias obras daquele acervo, com destaque para livros que pertenciam aos antigos médicos do Recife, sendo que muitos deles possuíam anotações com informações dos pagamentos referentes aos atendimentos médicos. Foi com base no contato com essa documentação que foi possível a escrita de sua obra Os nossos médicos e a nossa medicina.

Após dois anos de hiato, Freitas em conjunto com parte do antigo grupo de associados, decidiram em 1902 construir uma nova Sociedade da Medicina com o mesmo nome da que fora abolida. Nas reuniões discutiam-se conteúdos práticos e debatiam-se propostas em relação ao saber médico e as questões de cunho social.

Octávio de Freitas assumiu pela primeira vez a presidência da Sociedade da medicina no ano de 1908. Mesmo quando não esteve à frente da presidência era um associado assíduo, como consta nas atas das sessões em que esteve presente, participando ativamente dos debates124_{, por meio de temas relacionados aos seus} estudos sobre os problemas sociais de Pernambuco ligados à saúde, discorrendo sobre variáveis como a sífilis e o alcoolismo125_{. Integrou comissões, como a de} Higiene126 _{da respectiva instituição, tema esse constante em sua carreira profissional.}

123 _{FREITAS, 1940, p. 257.}

124 _{SESSÃO ORDINÁRIA DA SOCIEDADE DA MEDICINA DE PERNAMBUCO, 1911, Recife. Ata...}

Recife, 1 abr. 1913.

125 _{SESSÃO DA SOCIEDADE DA MEDICINA DE PERNAMBUCO, 11., 1914, Recife. Ata... Recife, 20}

jul. 1914.

126 _{SESSÃO DA SOCIEDADE DA MEDICINA DE PERNAMBUCO, 1911, Recife. Ata...Recife, 3 abr.}

Constata-se que as sessões científicas da respectiva entidade, permitiam a circulação do saber médico no Estado de Pernambuco e também de outras regiões, visto que havia vários professores convidados de outros Estados para a exposição de suas pesquisas, como a ocasião da visita do Professor da Faculdade de Medicina da Bahia, José Carneiros de Campos, que presidiu a sessão de 16 de agosto de 1910, “proferindo palavras de agradecimento e fazendo honrosas referências à classe médica de Pernambuco”127_.

Durante os anos de 1914 a 1916 exerceu a função de presidente da Sociedade da Medicina de Pernambuco, na qual pode elaborar o II Congresso médico Pernambucano, que se realizou em 1916.

É válido destacar a importância e a visibilidade que a agremiação foi adquirindo no Estado, recebendo convites em variados eventos que compunham o círculo da sociedade pernambucana das primeiras décadas do século XX.

Ao participar de instituições importantes, como a Sociedade da Medicina, Octávio estava em contato direto com importantes profissionais do campo médico e se trocavam saberes relativos à medicina científica, que estava se configurando no país. Desse modo, compreendemos a importância do discurso em relação ao lugar social em que esses sujeitos ocupavam no campo da medicina e que deu a esses profissionais suporte para os seus deslocamentos, nos diversos espaços institucionais em que transitavam.

Em outras palavras, ao ocupar por diversas vezes cargos importantes, em diferentes instituições ligadas à higiene e à saúde pública, não podemos deixar de destacar que, numa instituição como a Sociedade de Medicina, havia a construção de uma rede de amizades e contatos que evidenciam com quais estratégias nosso protagonista se utilizava do seu capital cientifico128 _{para a execução de seus projetos} profissionais e pessoais. Assim, compreendemos melhor com quais moedas Freitas negociava seus deslocamentos na área da medicina higienista.

127 _{DIÁRIO de Pernambuco, Recife, anno 86, n. 206, 18 ago. 1910. Vida social, p. 2. Disponível em:}

<http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital>. Acesso em: 5 jun. 2016.