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4.4 HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

4.4.2 A sucumbência recíproca e parcial inserida pela Reforma Trabalhista

No processo do trabalho, a Lei nº 5.584/70 – que disciplinava a concessão e a prestação da assistência judiciária e da gratuidade de justiça – estabelecia que as despesas processuais eram devidas integralmente pelo reclamado, por menor que fosse a sua sucumbência. Ora, era um raciocínio bastante diferente da sucumbência proporcional vigente no direito processual civil, em que vigora o princípio da isonomia entre as partes. Já na Justiça do Trabalho, entendia-se que o princípio da proteção ao hipossuficiente impedia que se impusesse ao empregado o ônus da sucumbência, não se aplicando os honorários advocatícios sucumbenciais ao reclamante vencido56.

Apesar disso, em 2017, a Reforma Trabalhista introduziu o art. 791-A e seus parágrafos à Consolidação. O § 3º desse artigo dispõe acerca dos honorários recíprocos e parciais, uma novidade na processualística trabalhista.

Segundo Luciano Martinez, “[...] haverá uma natural retração de quem pede em decorrência dos riscos de assumir honorários de sucumbência sobre o que não se ganhará”57

. Este tema ainda precisará ser bastante debatido pela doutrina e jurisprudência, pois, na Justiça do Trabalho, o comum é que as demandas contenham diversos pedidos.

Contudo, o caso mais emblemático é o do pedido de indenização por danos morais, visto que, por vezes, o aludido pleito é requerido apenas para que a reclamação trabalhista seja processada e julgada sob o rito ordinário, porquanto, conforme determina o caput do art.

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CASTRO, Antônio Escosteguy. O acesso à Justiça e as alterações trazidas pela Lei 13.467/17: a reforma

trabalhista e os seus impactos no processo do trabalho. Disponível em:

https://www.sul21.com.br/jornal/restricao-ao-acesso-justica-na-lei-13-46717/. Acesso em 21.jan.2018.

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MARTINEZ, Luciano. Reforma trabalhista – entenda o que mudou: CLT comparada e comentada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 211.

852-A58, abaixo de quarenta salários mínimos a reclamatória deve seguir, necessariamente, o rito sumaríssimo. Por essa razão, quando o advogado do reclamante entendia que seria mais conveniente à petição inicial seguir o procedimento ordinário (e os pedidos que o demandante faz jus não ultrapassam os quarenta salários mínimos), era de praxe que se incluísse na ação trabalhista um pedido de danos morais, no único intuito de se ter a elevação do valor da causa. Agora, porém, é possível a condenação em custas e em honorários advocatícios sucumbenciais ao trabalhador, logo, o patrono do reclamante terá que repensar as suas estratégias para não prejudicar o seu cliente. Demais disso, é corriqueiro que o pedido de danos morais seja formulado em valor superior ao que mormente é concedido pelo Judiciário, isso vale tanto para a Justiça comum quanto à Especializada.

Não por outro motivo, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula de nº 326, que dispõe sobre a inaplicabilidade da sucumbência recíproca nos casos de condenação em montante inferior ao postulado na petição inicial, nas ações por danos morais59. Esse entendimento deve ser seguido na Justiça do Trabalho, especialmente porque a legislação trabalhista pouco disciplina a temática, devendo-se observar o quanto disposto no direito processual civil60.

Convém mencionar que, nos casos de sucumbência em parte mínima de uma das partes, também deverá incidir a regra prevista no parágrafo único, do art. 86, do CPC61, uma vez que a CLT e as demais leis trabalhistas são omissas quanto ao tema.

A parte final do § 3º do art. 791-A, da CLT, discorre acerca da vedação da compensação entre os honorários sucumbenciais. Isso ocorre por uma razão lógica, qual seja: os honorários são destinados aos patronos das partes, sendo uma remuneração pelo trabalho dos advogados. De tal modo, ainda que os valores devidos de honorários sucumbenciais sejam iguais para as partes, não se admite a compensação, por se tratar de uma verba para os

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Art. 852-A. Os dissídios individuais cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação ficam submetidos ao procedimento sumaríssimo. (Incluído pela Lei nº 9.957, de 2000)

Parágrafo único. Estão excluídas do procedimento sumaríssimo as demandas em que é parte a Administração Pública direta, autárquica e fundacional. (Incluído pela Lei nº 9.957, de 2000)

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Súmula 326/STJ - 07/06/2006. Responsabilidade civil. Dano moral. Honorários advocatícios. Condenação em montante inferior ao pedido. Sucumbência recíproca. Inexistência. CPC/1973, art. 20 e CPC/1973, art. 21. CF/88, art. 5º, V e X. Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.

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CASTRO, Antônio Escosteguy. O acesso à Justiça e as alterações trazidas pela Lei 13.467/17: a reforma

trabalhista e os seus impactos no processo do trabalho. Disponível em:

https://www.sul21.com.br/jornal/restricao-ao-acesso-justica-na-lei-13-46717/. Acesso em 21.jan.2018.

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Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas.

Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.

advogados, devendo autor e réu arcar com as suas respectivas sucumbências. Mauro Schiavi62 destaca que:

A previsão da sucumbência recíproca configura a alteração mais significativa da novel legislação, pois altera, em muito, o protecionismo processual que é um dos pilares de sustentação do processo trabalhista, e pode em muitos casos inviabilizar ou ser um fator inibitório do acesso à justiça da parte economicamente fraca.

Há de se advertir, por oportuno, que o beneficiário da gratuidade de justiça somente estará dispensado do pagamento dos aludidos honorários quando não obtiver em juízo – mesmo que em outro processo – créditos capazes de suportar a despesa, de sorte que o valor da sucumbência ficará sob condição suspensiva de exigibilidade, consoante o § 4º do mesmo dispositivo legal63.

Nos termos da lei, se o beneficiário da gratuidade de justiça ficar vencido (ainda que parcialmente), as obrigações decorrentes de sua sucumbência permanecerão sob condição suspensiva de exigibilidade até dois anos após o trânsito em julgado da decisão, já que – dentro desse prazo – o credor pode comprovar que cessou a situação de hipossuficiência financeira do beneficiário da gratuidade de justiça. Entretanto, passados os dois anos, extingue-se a exigibilidade do crédito.

Demais disso, o novel art. 791-A, em seu § 5º, prevê expressamente a incidência de honorários sucumbenciais também nas reconvenções64. As ações reconvencionais seguem a disciplina do Código de Processo, haja vista que a CLT pouco estabelece sobre a matéria.

Com efeito, Escosteguy Castro65 alerta que “[...] a instituição dos honorários sucumbenciais recíprocos na Justiça do Trabalho mais uma vez caracteriza retrocesso social constitucionalmente inaceitável”, de sorte que o disposto no § 3º do art. 791-A, da CLT, afronta o princípio da proteção ao trabalhador, tutelado pela legislação trabalhista e respaldado na Constituição de 1988. Mauro Schiavi também compartilha desse pensamento,

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SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei nº 13.467/17. São Paulo: LTr, 2017, p. 85.

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Art. 791-A. (...)

§ 4º Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

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§ 5o São devidos honorários de sucumbência na reconvenção. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)

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CASTRO, Antônio Escosteguy. O acesso à Justiça e as alterações trazidas pela Lei 13.467/17: a reforma

trabalhista e os seus impactos no processo do trabalho. Disponível em:

ao escrever que “[...] de nossa parte, a sucumbência recíproca deverá ser vista com muita sensibilidade pelo Judiciário Trabalhista de modo a não obstar a missão histórica da Justiça Trabalhista que é facilitar o acesso à Justiça ao trabalhador”66

.

Por tudo quanto exposto, há de se concluir que a supra referida alteração legislativa trouxe uma significativa melhora para os patronos das partes. Contudo, para o trabalhador vulnerável economicamente, os honorários sucumbenciais podem representar grande preocupação, notadamente porque a partir de 11 de novembro de 2017 as decisões prolatadas das demandas trabalhistas poderão condenar o reclamante a custear despesas processuais e honorários. Este fato, por si só, é capaz de inibir muitos trabalhadores de ingressarem com ações na Justiça do Trabalho.