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2.2 PRINCÍPIOS PECULIARES AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

2.2.5 Oralidade e simplicidade

O princípio da oralidade surge como uma reação burguesa ao formalismo do processo romano-canônico e comum, especialmente por impor regras altamente legalistas e

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Art. 889 - Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal.

72 SOUZA, Wilson Alves de. Princípios do direito processual do trabalho: o princípio da adequação e suas

variantes. Revista LTr, São Paulo, v. 50, n. 2, p. 166-179, 1986, p. 171.

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SOUZA, loc. cit..

74

SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei nº 13.467/17. São Paulo: LTr, 2017, p. 49.

burocráticas. A possibilidade de exposição oral no processo facilitou o ingresso de demandas no Poder Judiciário.

Não é à toa que o movimento do acesso à justiça – conjecturado por Mauro Cappelletti e Bryant Garth – defendeu a simplicidade dos procedimentos e o uso da oralidade no processo judicial. Em que pese este princípio tenha tido início no direito processual comum, foi no processo do trabalho que a oralidade recebeu destaque, em face da concentração dos atos processuais em audiência, maior interatividade entre juiz e partes, irrecorribilidade das decisões interlocutórias e identidade física do juiz. Nesse entendimento, Schiavi assevera: “Sob a ótica do processo do trabalho, o princípio da oralidade constitui um conjunto de regras destinadas a simplificar o procedimento, priorizando a palavra falada, concentração dos atos processuais, com um significativo aumento dos poderes do juiz na direção do processo [...]”75. Nos artigos 84576 e 852-H77, dentre outros dispositivos da CLT, tem-se a previsão expressa do princípio da oralidade, sendo a realização da audiência a sua exteriorização. Nela, são colhidos os depoimentos das partes e testemunhas, permitindo ao magistrado observar a veracidade e firmeza das declarações prestadas.

Além disso, compete ao juiz estimular a conciliação tanto na audiência inaugural quanto na de instrução e julgamento, podendo ainda as partes formular requerimentos finais oralmente78. O princípio da oralidade divide-se nos seguintes subprincípios, em síntese:

a) Identidade física do juiz: “[...] o juiz que instruiu o processo, que colheu

diretamente a prova, deve julgá-lo, pois possui melhores possibilidades de valorar a prova, uma vez que a colheu diretamente, tomou contato direto com as partes e testemunhas”79, logo, tal magistrado poderá decidir com mais verossimilhança dos fatos que realmente ocorreram, contribuindo para a realização da efetiva justiça.

b) Prevalência da palavra oral sobre a escrita: considerando a importância da

realização da audiência, em que o magistrado tem contato direto com as partes e testemunhas, há de se reconhecer a sobreposição da palavra oral em relação à palavra escrita, pois as provas orais permitem uma maior sensibilidade do juiz para com o caso em concreto.

75

SCHIAVI, Mauro, op. cit., p. 30.

76

Art. 845 - O reclamante e o reclamado comparecerão à audiência, acompanhados das suas testemunhas, apresentando, nessa ocasião, as demais provas.

77

Art. 852-H. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente (Incluído pela Lei nº 9.957, de 2000).

78

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 765.

79

SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei nº 13.467/17. São Paulo: LTr, 2017, p. 30.

c) Concentração dos atos processuais: fundado no princípio da economia

processual, a concentração dos atos procedimentais ocorre mormente na audiência una, nos termos do art. 84980, da CLT, que impõe a regra da unicidade da assentada, salvo por motivo de força maior.

d) Imediatidade: segundo Mauro Schiavi, o princípio da imediatidade se baseia na

ideia de que os atos instrutórios devem ocorrer na presença do juiz na audiência de instrução e julgamento, momento em que existe contato direto entre o magistrado e as partes, assim como as testemunhas. Ademais, o autor lembra que “A imediatidade propicia maior participação das partes no procedimento, dando efetividade ao contraditório real, e também maior democratização do processo”81.

e) Irrecorribilidade das decisões interlocutórias: fundamenta-se na premissa de

que o processo do trabalho precisa ser célere, já que, majoritariamente, os bens da vida tutelados são de natureza alimentar. Decorre do princípio da oralidade e, embora as decisões interlocutórias não sejam recorríveis de imediato, compete às partes registrar o protesto em ata durante a audiência, a fim de possibilitar seu posterior questionamento. Portanto, é uma inverdade dizer que, na Justiça do Trabalho, as decisões interlocutórias são irrecorríveis, notadamente porque são passíveis de impugnação após a prolação da sentença.

f) Majoração dos poderes do Juiz do Trabalho na direção do processo: Mauro

Schiavi sustenta que “Diante do caráter publicista da jurisdição, do forte interesse social na resolução dos conflitos trabalhistas e da própria dinâmica do direito processual do trabalho, o Juiz do Trabalho tem majorados seus poderes na direção do processo, como forma de equilibrar a relação jurídica processual e resolver, com justiça, o conflito trabalhista”82.

Dessa forma, o art. 765 da CLT se justifica, como foi exposto no item 2.2.3, uma vez que compete ao magistrado da Justiça do Trabalho promover a igualdade substancial no processo, permitindo a paridade de armas no conflito trabalhista.

Ao que se refere ao princípio da simplicidade das formas no processo do trabalho, este é oriundo do princípio da instrumentalidade e também da oralidade. O artigo 899 do texto Consolidado83 afirma que “os recursos serão interpostos por simples petição”, logo, os

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Art. 849 - A audiência de julgamento será contínua; mas, se não for possível, por motivo de força maior, concluí-la no mesmo dia, o juiz ou presidente marcará a sua continuação para a primeira desimpedida, independentemente de nova notificação.

81

SCHIAVI, Mauro. A reforma trabalhista e o processo do trabalho: aspectos processuais da Lei nº 13.467/17. São Paulo: LTr, 2017, p. 34.

82

SCHIAVI, Mauro. op. cit., p. 35.

83

Art. 899 - Os recursos serão interpostos por simples petição e terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a execução provisória até a penhora (Redação dada pela Lei nº 5.442, de 24.5.1968) (Vide Lei nº 7.701, de 1988).

requisitos de admissibilidade recursal devem ser os mínimos possíveis, porquanto a exigência de formalismos exacerbados contraria o princípio da simplicidade.

Nesse mesmo pensamento, Francisco Gérson Marques de Lima expõe o seguinte: “[...] o juiz do trabalho não é um magistrado comum (nunca foi), não é um juiz de Direito – pelo contrário, nasceu como um contraponto a ele, uma reação necessária à sua ortodoxia e solenidade; seu papel diferenciado é criador e afiançador dos anseios sociais”84

. Noutras palavras, o magistrado trabalhista deve se preocupar menos com formalidades processuais e se atentar para a concretização da justiça social, para o qual foi incumbida a Justiça Especializada.

Em face do exposto, depreende-se que os princípios da oralidade e simplicidade das formas surgiram para promover a efetividade e celeridade no processo do trabalho, na medida em que buscam desburocratizar o Poder Judiciário e viabilizar o substancial acesso à Justiça do Trabalho.