• Nenhum resultado encontrado

A tecnologia educacional aplicada no Sistema Penitenciário

A (re)qualificação profissional e a ocupação são aspectos de extrema urgência num núcleo de custódia, pois, no geral, o que se tem visto é a ociosidade, a baixa auto-estima, a falta de perspectiva de vida e o aumento da criminalidade dentro do presídio.

Apesar de comprovado que o confinamento em penitenciárias, onde a grande maioria dos detentos passa os dias em um pátio, sem qualquer atividade produtiva, a política do Governo Federal não prioriza a ressocialização.

Segundo Elizabeth Susseking, Secretária Nacional de Justiça, em entrevista dada ao jornal Hoje em Dia de 14 de janeiro de 2001,

a política nacional para o setor é voltada para a construção de novas penitenciárias. Quanto mais tradicional o Estado e quanto menos projetos de reabilitação ele tiver, mais ele vai pedir recursos na área de penitenciárias.

E, além disso, a Secretária afirma:

o Ministério da Justiça separa recursos orçamentários para educação, treinamento profissional, assistência jurídica e penas alternativas, mas esse recurso representa, no máximo 5% do orçamento para essa área.

Para a Secretária, o Sistema Penitenciário brasileiro não está falido, entretanto, precisa de investimentos sérios, pois é uma área de difícil manejo, que lida com pessoas completamente carentes, que precisam de todas as coisas que o sistema dá e mais todas aquelas que o sistema não dá.

Segundo Lorena (2001), o Ministério da Justiça distribuiu cem equipamentos para salas de vídeo em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo, e quer que isso se transforme em política pública de educação para detentos.

Tomando Brasília como exemplo, no Centro de Internamento e Reeducação – CIR, existem cinco telesalas e um “laboratório” de informática com dez computadores (material sucata doado pelo Superior Tribunal de Justiça).

As tecnologias de informação mais utilizadas no Sistema Penitenciário são a teleducação e o computador.

Teleducação, por sua formação etimológica, remete ao termo grego tele, que quer dizer longe. Niskier (1999, pág.155-156) afirma que para que a teleducação resulte em eficiência e eficácia, alguns fatores têm que ser considerados tais como: a análise dos meios mais adequados para atingir o objetivo; a análise das variáveis sociais, políticas, econômicas e culturais que interferem nesses meios; a seleção dos conteúdos programáticos; a criação de metodologia adequada. Pode-se dizer também que a teleducação demanda uma didática e uma pedagogia diferentes, de modo que o acesso ao saber possa ser alcançado por vários recursos tecnológicos e não apenas por recursos restritos, como giz e a explanação do professor.

Segundo Niskier (1999) a Educação a Distância tem suas peculiaridades a começar por uma estrutura modular, dotada de seqüência lógica que satisfaz às seguintes condições:

• interação do educando com o processo, o que eqüivale dizer que o interesse é o elemento catalisador;

• individualização do processo, ou seja, o processo se desenvolve de acordo com o ritmo de cada um;

• conhecimento prévio das metas a alcançar;

• informação dosada de modo que possa ser assimilada e reelaborada; • motivação continuada, porque estimulada à medida que se avança no domínio do saber e da auto-realização progressiva.

A teleducação não se restringe a uma única ferramenta. Ela dispõe de um estoque de instrumentos, suscetíveis de utilização alternada, combinada e até única. Concebida como uma das tecnologias educacionais que integra o contexto da Tecnologia Educacional, proporciona o processo de ensino aprendizagem, tornando a instrução mais efetiva.

No CIR, por exemplo, num universo de 1296 (hum mil duzentos e noventa e seis) internos, 75% cursaram ou estão cursando o Ensino Fundamental e 25% o Ensino Médio neste sistema de teleducação segundo dados fornecidos pela FUNAP – Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso.

É visível e comprovado, na sociedade hodierna, a importância do uso do computador; além de ser algo inovador, pois a cada dia há um Software novo, o qual, dentre muitas funções tem a de motivar, informar e explorar novos conteúdos.

Segundo Sousa (2000, p.1), o conceito de Tecnologias de Informação

(...) surge enquanto conjunto de conhecimentos, refletidos quer em equipamentos e programas, quer na sua criação e utilização pessoal e empresarial. Das várias ferramentas, métodos e técnicas que coexistem, o computador destaca-se na medida em que é o elemento em relação ao qual existe uma maior interação com componente humano das organizações. Então, as Tecnologias de

Informação surgem como elemento de concepção e suporte de comunicação.

Tenório ( 2001, p.19-21) afirma que:

A automação da vida social, econômica, política e mesmo cultural cresce rapidamente no mundo todo. O computador, elemento tecnológico central desse processo, também faz a sua entrada educacional, não só na sua administração, mas também no processo de ensino-aprendizagem.

A informática e os computadores têm contribuído para abrir novos caminhos do saber. É relevante o valor da difusão e do alargamento desses novos caminhos pois, a educação é fundamental e não pode ser esquecida.

O computador pode ser entendido como:

• Instrumento técnico que pode servir como ferramenta de trabalho prático na produção ou no ensino;

• Veículo didático para a transmissão de conteúdos;

• Conteúdo de ensino enquanto corpo teórico elaborado no processo de produção moderna.

Então, a informática pode proporcionar uma nova dinâmica no processo de construção do conhecimento. Se até há pouco tempo livros, apostilas, jornais e revistas eram a principal fonte de pesquisa, hoje também se integram a esses recursos os CD-ROMs e as páginas de Internet, bem como as áudio e videoconferências. Se a biblioteca era a referência para pesquisas nas diversas áreas do conhecimento, o próprio conceito de biblioteca hoje muda com os sistemas de pesquisa on-line nas bibliotecas digitais e virtuais.

Cabe destacar que em pouquíssimas penitenciárias o preso pode ter acesso à Internet por inúmeros motivos e entre eles estão: a falta de equipamentos e a falta de pessoal especializado, que trabalhe dentro da penitenciária, para monitorar e auxiliar os presos.

No Centro de Integração e Reeducação – CIR, por exemplo, só existe o curso básico o qual tem como conteúdos Word, Windows e Excel. Não há acesso à

Internet e também não existe um curso mais aprofundado, no que se refere à informática.

De hum mil duzentos e noventa e seis internos, quarenta e cinco fizeram ou estão fazendo o curso de informática oferecido pela penitenciária e, nos questionários distribuídos, 99% responderam que o curso de informática é muito importante e interessante e profissionalizante.

Apesar de poucos equipamentos e tele-salas há uma oportunidade de profissionalizar, educar e reintegrar o preso à sociedade.

É importante que se promova a ressocialização do preso. Ressocializar significa fornecer ao preso um canal pelo qual ele possa reentrar na sociedade.

A Educação a Distância pode ajudar nessa ressocialização auxiliando no aumento da escolaridade e no desenvolvimento de uma habilidade profissional.

Hoje em dia, segundo reportagem da revista Super Interessante, Especial Segurança, página 51- abril de 2002, a única atividade existente para os presidiários é o trabalho, pelo qual os presos diminuem suas penas. Trata-se de um serviço mal- remunerado ( os presos recebem três quartos de um salário mínimo). Ainda nessa reportagem, fala-se que o Ministério da Justiça está estudando a regulamentação da remissão da pena para quem estudar dentro da cadeia, como acontece hoje com o trabalho. A medida certamente ajudaria a diminuir o índice de reincidência.

Em São Paulo, por exemplo, 82% dos presos não terminaram o Ensino Fundamental e, sendo assim, quando são soltos, eles não conseguem emprego. Essa é uma informação da revista supracitada.

Nesse capítulo foram feitas algumas considerações a respeito do direito à educação, cultura e trabalho, elementos primordiais para a vida do ser humano.

Foi exposto, além desses temas, um histórico do Sistema Penitenciário, falando-se da origem das prisões, do Sistema Penitenciário e das funções da pena de prisão que são a retribuição, a intimidação, a ressocialização e a incapacitação.

Por fim, foi abordada a importância da inserção da tecnologia educacional no Sistema Penitenciário, importância muito grande, pois, com ela, o indivíduo preso poderá estudar, profissionalizar-se e obter conhecimentos para o objetivo almejado neste trabalho: a reintegração do preso na sociedade.

No capítulo 5, serão mostrados alguns sistemas diferentes de penitenciária no Brasil.

5 SISTEMAS DIFERENTES DE PENITENCIÁRIAS NO BRASIL

Elisabeth Susseking, Secretária Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, diz em entrevista ao jornal O Globo 30/01/02

O que chamamos de sistema penal é um conjunto muito complexo, que inclui 337 penitenciárias, 479 casas públicas, 25 hospitais de tratamento psiquiátrico, 28 casas de albergado, e apenas 22 colônias agrícolas, num total de 895 instituições, espalhadas pelo país inteiro.

São todas de responsabilidade dos governos estaduais, exceto a penitenciária da Papuda, em Brasília, que é federal.

Nesse universo há todos os tipos de instituições: instituições exemplares, médias e horrorosas e as quase medievais. As piores condições de detenção são as carceragens superpovoadas das delegacias de polícia das grandes cidades. Há um esforço dos governos estaduais, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, para esvaziar essas carceragens, redistribuindo os presos para o centros de detenção provisória. Em São Paulo, constroem-se cadeiões para 500 (quinhentos) presos, financiados grande parte pelo governo federal.

Uma medida importante que se está sendo negociada com a justiça, é a possibilidade de os detentos prestarem depoimento via eletrônica. Isso evitaria o grande número de viagens diárias que se fazem entre as penitenciárias, as cadeias e o Fórum para levar presos a depor. É importante frisar que essas viagens não só abrem possibilidade de interceptação das viaturas para a liberação de presos como mobilizam um grande número de Policiais Militares nas escoltas.

É importante destacar que, segundo Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa (apud O GLOBO, 2002), 18.763 (dezoito mil, setecentos e sessenta e três) detentos estão espalhados em carceragens das Secretarias de Segurança e da Justiça. O número de condenados é 12.919 (doze mil, novecentos e dezenove), mas apenas 3951(três mil, novecentos e cinqüenta e um) estão em presídios que oferecem condições adequadas.

Muito se é falado a respeito da melhoria do funcionamento do Sistema Penitenciário; entretanto, pouco se é feito para que isso aconteça.

Porém, existem alguns sistemas interessantes que podem ser destacados como de ajuda ao preso; são sistemas alternativos em que a própria sociedade, voluntários participam, auxiliando, apoiando e dando assistência no que for preciso para que haja a ressocialização do preso para que ele seja tratado com dignidade, ou seja, como ser humano. São exemplos disso, dentre outros, o Centro de Reintegração de Itaúna, a Penitenciária Industrial Regional e o Centro de Ressocialização de Bragança Paulista.