• Nenhum resultado encontrado

A tendência de redução das cargas tributárias nacionais

CAPÍTULO 2. GLOBALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA

2.1. A tendência de redução das cargas tributárias nacionais

O processo de globalização tributária provoca em praticamente todos os países movimentos muito específicos em relação a carga tributária suportada pelos vários segmentos sociais e econômicos integrantes das respectivas sociedades. Destacam-se dois processos claramente vinculados entre si:

a) a redução (seletiva) da carga tributária sobre o agentes econômicos globalizados (com poder de pressão sobre as autoridades governamentais e com a possibilidade de “fuga” do território “hostil”);

b) a ampliação (seletiva) da carga tributária sobre os agentes econômicos não globalizados (com reduzido poder de pressão sobre as

autoridade governamentais e com mínima ou nula possibilidade de fuga dos limites territoriais do Estado).

Uma das mais significativas indagações relacionadas com a globalização tributária diz respeito à identificação, para a carga tributária macroeconômica da maioria dos países mais importantes no cenário internacional, de qual a resultante dos dois processos antes referidos. Afinal, as cargas tributárias nacionais apresentam tendências de crescimento ou de decréscimo?

Apesar da ausência de conclusões seguras e definitivas, notadamente pela necessidade de observação de uma série histórica mais robusta, são inúmeras as indicações de uma significativa retração e mudança de composição na arrecadação tributária por conta dos fenômenos relacionados com a globalização tributária66.

Essa redução de arrecadação dos tributos é uma das causas mais relevantes para superação do Estado-Providência (ou Estado de Bem-

66 “Globalization and the consequent international integration, together with rapid technological progress, is likely to affect both the ability of countries to collect taxes and the distribution of the tax burden. Moreover, as time passes, globalization's impact on tax revenues appears likely to increase and to become evident in countries' revenue statistics.

The total tax burden of the member countries of the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) has increased substantially over the past three decades, from 26 percent of GDP on average in 1965 to 37 percent of GDP in 1997. This growth, which has slowed or even stopped in several countries in recent years, has been accompanied by some changes in the composition of tax revenue. While the share of personal income tax has fallen and that of corporate income tax has remained relatively stable, social security contributions have increased substantially. At the same time, there has been a distinct shift from specific taxes to general sales taxes. In the 1990s, the impact of globalization began to be felt more intensely as capital markets were liberalized and economies became more integrated”. TANZI, Vito. Globalization and the work of fiscal

termites. Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2001/03/tanzi.htm>. Acesso em: 17 abr.

Estar Social), como referido anteriormente. Argumenta-se com o “peso” crescente dos encargos sociais no orçamento público, sem uma análise criteriosa das razões de tal acontecimento, notadamente a identificação da evolução dos recolhimentos tributários dos setores com maior capacidade econômica ou contributiva. Assim, de forma propositalmente superficial e acrítica, formulam-se programas e políticas de eliminação de direitos sociais, particularmente previdenciários, conquistados duramente67.

Não é incomum que as reformas previdenciárias, administrativas, trabalhistas, entre outras, veículos jurídico-formais de efetivação da redução dos direitos sociais, sejam acompanhadas de campanhas publicitárias na grande imprensa onde as referidas conquistas são rotuladas de privilégios odiosos e inaceitáveis. Curiosamente, não se cogita, na grande imprensa e nos círculos acadêmicos “oficiais”, de reformas significativas no sistema bancário ou financeiro.

67 “Na Europa nenhum país sentiu isso mais que a Suécia. Sempre louvado por sua abrangente política social, o país se empenhava na possível realização de um capitalismo socialmente justo. Hoje, pouco resta dessas boas intenções. Desde o fim da década de 1980, grupos empresariais e proprietários de bens foram deslocando mais e mais empregos e ativos de risco para o Exterior. Mesmo diante de uma queda de arrecadação, o governo reduziu suas alíquotas para rendimentos maiores. O déficit orçamentário explodiu e forçou uma restrição dos numerosos programas sociais. (...)

O mesmo e conhecido roteiro está sendo seguido pela Alemanha na desmontagem do Estado de bem-estar social, que costumava manter dentro de limites toleráveis as disparidades sociais, mediante tributação progressiva. Corte por corte, a coalização conservadora-liberal do governo obedeceu às exigências do setor industrial e bancário quanto à reformulação do sistema tributário. Por duas vezes, em curto intervalo, foi reduzida a alíquota do imposto de renda das pessoas jurídicas, proporcionando lucros adicionais às grandes empresas. Também a incidência máxima foi reduzida de 5%. Bruscamente, o número de vantagens em abatimentos na declaração anual de renda foi aumentado para os autônomos. Com isso, o peso dos encargos da unificação alemã recaiu sobre os menos abonados, em particular sobre a classe média assalariada e todos os que pagam impostos de consumo. O resultado é óbvio: quando Helmut Kohl assumiu o mandato de chanceler (primeiro-ministro) no ano de 1983, as empresas e os autônomos ainda arcavam com 13,1% do total da carga tributária. Treze anos depois, essa participação havia sido reduzida a 5,7%, metade da metade”. MARTIN, Hans-Peter; SCHUMANN, Harald. A armadilha da globalização: o assalto à democracia e ao bem-estar