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A tendência de evolução das emissões europeias e os limites do crescimento

3. Oportunidades de novas abordagens à mitigação: os sectores não

3.2. Dificuldades e limitações na continuação do cenário actual

3.2.1. A tendência de evolução das emissões europeias e os limites do crescimento

Em 2005, a União Europeia emitiu 5 211 Mt CO2e, menos 6% que as emissões em 1990 (5 578 MtCO2e). De forma a avaliar o impacte deste pacote legislativo específico, nos diversos Estados Membros, em Junho de 2008, a Comissão Europeia encomendou um estudo22 que projectou as expectativas de crescimento das emissões dos diversos países da UE, até 2020 e 2030 e simulou diversos cenários relativos à forma como os diversos Estados Membros se iriam adaptar e adoptar este pacote de acção climática e de promoção de renováveis.

Tal como a Tabela 1 indica, estes modelos da União Europeia projectam que as emissões irão crescer cerca de 5,5% em 2020 relativamente a 2005, caso as tendências de crescimento e as políticas dos diversos Estados Membros actuais se mantiverem (CAPROS, 2008). A nível europeu a tendência dos sectores abrangidos pelo comércio europeu de licenças de emissão (CELE) também é, neste cenário tendencial, um aumento da ordem dos 6,7% em relação a 2005 (8% se incluirmos as projecções para a aviação) e as emissões dos sectores não abrangidos pelo CELE é de 2,4%.

22 Neste estudo foi utilizado o modelo PRIMES para a modelização dos cenários dos sistemas de energia dos vários estados

membros e o modelo GAINS que foi usado para os gases que não o CO2, ou seja: metano, CH4; óxido nitroso, N2O;

hidrofluorocarbonetos, HFCs; perfluorocarbonetos, PFCs; Hexafluoreto de enxofre, SF6. Este estudo encontra-se disponível em

Tabela 1 - Tendência de emissões de emissões de GEE da União Europeia – no cenário Business as usual – UE 27 GEE (Mt CO2e) 1990 2000 2005 2020 2030 GEEs total 5578 5101 5211 5496 5380 CO2 total 4379 4128 4267 4610 4639 Sectores CELE 2290 2340 2557 2573

CELE sem aviação Aviação 2156 134 2193 147 2339 218 2319 255

Sectores não CELE 2811 2671 2940 2806

Sectores não CELE relacionados com energia

GEEs excepto CO2 1199 1838 973 1927 944 2054 886 2065 741

Fonte: (adaptado de CAPROS, P., et al; 2008)

Neste exercício prospectivo, num cenário tendencial, que reflecte a tendência do passado e todas as políticas e medidas, implementadas e planeadas, espera-se assim um aumento generalizado das emissões, a nível europeu, sectorial e ainda ao nível dos diferentes gases envolvidos. Perante as metas definidas no Pacote Clima Energia, a União Europeia, em 2020, só poderá emitir 4 462 Mt CO2e; os sectores abrangidos pelo CELE só poderão emitir 1 880 Mt CO2e e os sectores não CELE 2 582 Mt CO2e. Na Tabela 2 é apresentado o esforço de redução para cada sector em relação ao cenário tendencial:

Tabela 2 - Metas de GEE de acordo com a proposta da Comissão Europeia e respectivo esforço de redução perante o cenário tendencial23

Máximo permitido de emissões de GEE (Mt CO2e) em 2020

(proposta da CE)

Alteração em relação à base de referência (%) GEEs total 4462 = 20% menos que 1990 -18,8

CELE sem aviação Aviação

1732 = 21% menos que 2005 147 = estável desde 2005

-25,9 -32,3

Sectores CELE 1880 = Soma dos tectos CELE -36,5

Sectores não CELE 2852 = Diferença GEE - CELE -12,1

Fonte: (adaptado de CAPROS, P., et al; 2008)

A aplicação do Pacote legislativo Clima Energia induzirá um esforço de redução europeu de 18,8% relativamente ao que seria o cenário tendencial em 2020. Isto significa que os sectores abrangidos pelo CELE terão de suportar um esforço de redução de 26,5% e para os sectores não CELE representará um esforço de redução de 12,1%. É ainda de referir, que as emissões dos gases que não o CO2 foram incluídos na categoria dos sectores não CELE e que representavam 33% das emissões destes sectores em 2005.

Enquanto o tecto de emissões para cada Estado Membro, nos sectores abrangidos pelo CELE, será definido ao nível da União Europeia, nos sectores não CELE, serão os próprios países no âmbito das suas políticas nacionais que definirão o tecto de emissões de cada sector (CAPROS, P., et al; 2008).

3.2.2. O que nos dizem as projecções das emissões para 2020, em Portugal?

Nos cenários desenvolvidos nos modelos da União Europeia, apresentado no ponto anterior, foi assumida a execução integral das políticas e medidas em vigor ou planeadas, ou seja, um cenário tendencial, projectando-se para Portugal, um aumento de 2,3% das emissões de GEE nos sectores não CELE, em 2020. Este valor é muito próximo da média dos 27 países da União Europeia (2,4%) tal como o gráfico seguinte indica.

Figura 13 – Projecção das emissões de GEE dos sectores não CELE para o cenário Business as Usual em 2020 nos países da União Europeia. Portugal está assinalado a vermelho.

Fonte: (CAPROS, P., et al; 2008)

Tal como se pode constatar, neste cenário tendencial, nos outros países europeus, também se esperaria um aumento generalizado das emissões em 2020, principalmente nos países de leste, com um valor de PIB per capita infraeuropeu em 2005, e outros países com um PIB per capita superior como Espanha ou Itália. O país da União Europeia que se espera vir a controlar melhor as emissões dos sectores não abrangidos pelo CELE, só com medidas domésticas é o Reino Unido, com uma redução esperada de 9,4%, seguido da Finlândia (-6,5%), Alemanha (-4,5%), Bulgária (-3,9%), Dinamarca (-2,5%), Irlanda (-2,1%) e Holanda (-0,6%).

Uma vez que em 2005 as emissões totalizaram 88 949 kt CO2e24 (INERPA, 2009), e as emissões verificadas no âmbito do CELE, neste ano, totalizaram 36 426 ktCO225 (APAb,2008), considerando um aumento máximo de 1%, as emissões dos sectores não CELE, em 2020, não poderão superar as 53 048 kt CO2e.

Por sua vez, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Comissão Executiva da Comissão para as Alterações Climáticas (CECAC), em conjunto, encomendaram um estudo prospectivo aplicado só a Portugal permitindo avaliar os cenários de emissões de GEE até 2020. Neste

24 Para o efeito, e como se pretende aplicar um limite máximo de crescimento das emissões, considera-se mais conservador

contabilizar o efeito das florestas, uso do solo e alterações do uso do solo, que neste ano contribuiu para uma redução das emissões totais situadas nos 89229 kt CO2e

25 Considera-se mais conservador entrar em linha de conta com a estimativa apresentada pela APA, para além das emissões

estudo consideraram-se cenários prospectivos para a economia portuguesa26, as políticas e medidas já adoptadas e com impacto nas emissões de GEE até 2020, e a partir daqui construíram-se cenários reforçando as políticas e alterando os parâmetros socioeconómicos. Para as projecções utilizou-se um modelo de optimização da Agência Internacional de Energia, o TIMES_PTa, calibrado e validado para o sistema energético nacional (RIBEIRO, F.; SEIXAS, J. et al. 2008).

As conclusões principais deste estudo foram:

 “(…) os indicadores que caracterizam a evolução esperada da intensidade energética e carbónica da economia portuguesa até 2020 (…) revelam uma tendência significativa em matéria de eficiência energética da economia portuguesa e, assim, no sentido da sua descarbonização. Esta evolução é justificada, em parte, pela maior eficiência no consumo, com a manutenção do indicador relativo ao consumo de energia per capita e à redução da intensidade carbónica do sector eléctrico (…)”;

 “(…) No universo não abrangido pelo CELE, constata-se sempre uma redução de emissões de GEE em 2020, face a 2005, da ordem dos 4%” (com um crescimento tendencial e todas as politicas existentes implementadas) “e 5%” (nos cenários de mudança do crescimento económico e no cenário com maior incorporação de renováveis), “sendo a implementação das medidas adicionais do PNAC essencial para garantir o cumprimento com a meta proposta pela CE de +1% em 2020, relativamente a 2005”.

 “As estimativas de GEE decorrentes das actividades não abrangidas pelo CELE revelam um comportamento no sentido da sua descarbonização, para o que se revela fundamental o esforço de redução contido nas medidas do PNAC, em particular nas designadas ‘medidas adicionais’ e novas metas 2007 que, neste exercício, são assumidas como implementadas na totalidade, para todos os cenários analisados” (RIBEIRO, F.; SEIXAS, J. et al. 2008);

Comparando estes resultados com os da União europeia, verifica-se que são contrastantes, uma vez que, em cenários equivalentes, a União Europeia previa um aumento de 2,3% das

26 Estes cenários prospectivos foram desenvolvidos pelo Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais

(DPP) do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional geram necessidades de bens e energia, que o sistema energético e as actividades industriais devem satisfazer, com as respectivas emissões de GEE.

emissões de GEE, e o estudo referido para Portugal, aponta para uma diminuição de emissões na ordem dos 4%, para 2020. As diferenças explicar-se-ão pelos parâmetros de crescimento socioeconómico utilizados, muito mais pormenorizados e adaptados a Portugal, no segundo estudo. Contudo, os dois estudos são concordantes, no ponto fulcral: só com o cumprimento rigoroso das políticas e medidas nos sectores não CELE, é que Portugal poderá perspectivar o cumprimento deste objectivo específico do Pacote Clima Energia, em 2020.

Das conclusões do estudo de modelização e cenarização, já referido no ponto anterior, destacamos as seguintes:

 O esforço necessário para cumprir as metas deste pacote é considerado ambicioso mas exequível;

 Os sistemas de energia dos diversos países europeus têm 12 anos para se adaptar a estes desafios;

 O custo para o cumprimento destas metas é estimado entre 0,4% e 0,7% da União Europeia em 2020, dependendo do cenário considerado;

 Este custo reduz o investimento na importação de energia em relação ao cenário tendencial, e aumenta o potencial de investimento em bens e serviços produzidos no espaço europeu;

 A eficiência energética27 é considerada a forma mais custo-eficaz para atingir as metas e deverá ser a força motriz das mudanças;

 A coexistência das duas metas garante um reforço mútuo porque um aumento da quota de fontes de energia renovável, livres de emissões de carbono, promove também as fontes endógenas, garantindo a segurança energética. Por outro lado, a meta das renováveis previne que se use mais gás como substituto do carvão devido à meta de redução de emissões. Ambas as metas maximizam os efeitos da “aprendizagem com a experiência” e promoção de economias de escala, promovendo ao mesmo tempo a redução do custo das tecnologias renováveis.

 Apesar dos sinais de preço serem um factor determinante para a promoção da eficiência energética, só um vasto leque de políticas complementares ao Pacote, nomeadamente as que serão definidas por cada estado membro nos sectores não CELE, tornará a Europa capaz de atingir as metas.

Relativamente aos sectores não abrangidos pelo CELE os dois estudos aqui apresentados apontam no mesmo sentido: será necessário um esforço acrescido para o cumprimento dos objectivos definidos no Pacote Clima Energia, e caberá a cada Estado Membro tomar

importantes decisões ao nível da aposta em medidas complementares às actuais políticas domésticas.

O próximo capítulo pretende, através de uma breve apresentação do enquadramento histórico que levou à adopção das actuais políticas e medidas, de uma análise do seu grau de cumprimento actual e do próprio potencial e abrangência das mesmas, avaliar a necessidade de desenvolver esforços no sentido de complementar/reforçar ou modificar as actuais políticas domésticas.