• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 A Teoria da Atividade (TA)

A Teoria da Atividade iniciou-se a partir dos trabalhos de Vygotsky e seu prin- cípio está na ação de um sujeito mediada por uma ferramenta e destinada a um ob- jetivo, numa relação homem-mundo de caráter histórico. Dessa forma, a relação his- tórica entre o sujeito e seu objeto, de maneira recíproca, é que determina o resultado final da ação, ou seja, a ação está condicionada ao modo como uma atividade é rea- lizada e como ela se desenvolve e evolui, de maneira permanente.

Segundo Jonassen e Rohrer-Murphy (1999 apud MOTTA 2009), a Teoria da Atividade é um sistema conceitual útil, que permite uma compreensão mais comple- ta do trabalho e da práxis humana, pois a análise da atividade é contextualizada. Leontiev (1983) vê a atividade como a unidade da vida que orienta o indivíduo no mundo dos objetos, sendo mediada pelo reflexo psíquico da realidade e provocada por uma necessidade ou emoção.

As convicções de Leontiev (1981) acrescentam às reflexões de Vygotsky a distinção entre atividade, ação e operação.

Para exemplificar essa ideia de distinção entre atividade, ação e operação, Leontiev mostra a atividade de caça, a qual se apresenta da seguinte maneira: Ao saírem para caçar, os membros de uma tribo têm, individualmente, metas separadas e estão encarregados de várias ações, ou seja, uns têm a função de afugentar um bando de animais na direção de outros caçadores, e esses caçadores, por sua vez, têm a função de abater os animais, enquanto que os demais terão outras funções. O principal motivo dessas ações é a caça, propondo que essas pessoas, em conjunto, têm por objetivo comida e roupa, e por conseguinte, continuarem vivas.

Dessa maneira, Daniels (2003 apud Cavichioli, 2008, p.45) ao abordar Leonti- ev salienta que para compreender por que ações separadas são significativas, é ne- cessário entender o motivo que está por trás da atividade como um todo. Nesse sen- tido, Leontiev descreveu o comportamento dos caçadores para conceituar a diferen- ça entre atividade, ação e operação, a qual é a base do modelo para a Teoria da A- tividade.

Assim, de acordo com Leontiev a atividade deve ser concebida como uma trí- ade formada por sujeito, objeto e instrumentos, em três diferentes níveis de análise: atividade, ação e operação. Toda atividade humana está orientada para um objeto, de forma que a atividade tem sempre um caráter objetal. O êxito de uma atividade está em estabelecer seu conteúdo objetal. Dessa forma, o ensino tem a ver direta- mente com isso:

É uma forma social de organização da apropriação, pelo homem, das ca- pacidades formadas sócio-historicamente e objetivadas na cultura material e espiritual. Esta apropriação requer comunicação em forma externa. Em suas formas iniciais, esta comunicação não está mediatizada pela palavra, mas pelo objeto (LIBÂNEO, 2004, p.07).

Segundo Leontiev (1981) o primeiro nível, o da atividade, está relacionado di- retamente às necessidades humanas e, de acordo com Engeström (1987), o objeto pode diferenciar uma atividade de outra, pois, por não ter um fim em si mesmo, pre- cede e busca um resultado. As ações e operações individuais ou sociais podem concretizar a atividade em um determinado contexto, não de forma imediata, porque envolve diferentes etapas e um processo. Conforme essas variadas etapas, seu ob- jeto pode ser revertido em resultado, o qual nesse segmento poderá transformar-se em um novo objeto de outro resultado e assim sequencialmente.

O segundo nível, referente às ações, as quais são dependentes da atividade, realizam-se pelo grupo ou de maneira individual através de operações. As ações são conscientes e se iniciam a partir de um planejamento devidamente orientado a uma meta em questão, podendo fazer parte de uma rede, todas direcionadas à mesma meta. Depois de efetuar várias vezes as ações, elas podem evoluir para o nível das

operações, ou seja, passam a ser automatizadas e podem ser executadas a partir de certas condições.

O terceiro nível é das operações, que são realizadas de maneira inconsciente e adaptadas através de condições existentes no contexto de atividade (Engeström, 1987). A operação sempre tem início a partir da análise das condições para depois realizar-se. Desse modo, é permitido declarar que ela é uma ação que evoluiu e dessa maneira acaba por se constituir em algo habitual no contexto de certa ativida- de. Esses níveis não são estáticos, por isso uma ação pode se transformar em uma operação e vice-versa, por meio de práticas sucessivas.

Assim, de acordo com Motta (2009):

Os participantes precisam, também, entender os objetivos e o lugar que esses ocupam no processo de busca de determinado bem soci- al/individual. Essa compreensão implica concordância com regras estabe- lecidas, que têm função reguladora e vão desde valores até leis instituídas pelo Estado. A quebra de contratos, por parte de qualquer um dos envolvi- dos, compromete o desenrolar de todo o processo e, principalmente, dos seus resultados. Em um contexto colaborativo, os instrumentos são deline- ados de acordo com as necessidades manifestas dos sujeitos (neste caso, alunos), numa tentativa de facilitar o progresso de professores e de estu- dantes na construção de saberes. (p. 63)

Nesse contexto Engeström (1987), vai além da preocupação com a ação in- dividual, expandindo a tríade organizada por Vygotsky. Assim, o autor destaca a importância dos aspectos sociais e comunicativos da atividade, acrescentando ele- mentos sociais, organizado num sistema de regras, divisão de trabalho e comuni- dade. (Motta, 2009).

Entrelaçado a esse conceito, está a primeira versão da Teoria Holística da A- tividade, enfatizando o papel de cada sujeito dentro da noção de atividade-ação- operação. O que será explicado, de maneira detalhada, na próxima seção.