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CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6 O conceito de aquisição instrucional de Rod Ellis

A Teoria de Rod Ellis, de certa forma engloba as ideias de Van Patten. Por esse motivo, nessa seção será exposto algumas considerações acerca desse autor.

O processo de aprendizagem de uma língua pode ocorrer de forma conscien- te ou através de práticas mais subjetivas, as quais vão gerar diversos tipos de repre- sentações mentais, ou seja, os saberes de ordem explícita e implícita. A natureza desses saberes e as suas possíveis inter-relações são ainda muitos discutidas, as- sim como é o papel da instrução formal na construção desses conhecimentos.

Segundo Ellis (2005), não se pode ainda estipular com segurança teórica a exatidão da contribuição da instrução ao processo de aquisição da linguagem, por- que esse processo encontra-se em etapa inicial de investigação. No entanto, o autor acredita que algumas generalizações são consideráveis, servindo como base para o ensino da linguagem, como também encontra apoio em outros pesquisadores em re- lações a essa opinião. O autor, na tentativa de estruturar as reflexões acerca de ins- trução e ensino de línguas, organizou dez princípios, os quais possibilitam um refe- rencial que pode servir como o início para um trabalho em sala de aula, desde que ajustados de acordo com as necessidades dos alunos e os objetivos do professor.

Em relação a esses princípios, o terceiro princípio pretende assegurar “que os alunos foquem atenção à forma”, ou seja, refere-se à Instrução com Foco na Forma (Form-Focussed Instruction) Rod Ellis (1998), como uma situação formal de ensino em um contexto comunicativo, contendo atividades previamente elaboradas pelo professor, a partir de um planejamento baseado nas dificuldades apresentadas pelos aprendizes ao longo do processo. Para ratificar esse princípio, Ellis (2005), refere-se

a Schmidt (1994), o qual sustenta a ideia de que não há aprendizagem sem uma a- tenção consciente do aluno às formas da língua. Além disso, Schmidt (1994) salienta que dar atenção à forma não está diretamente ligada à consciência de regras gra- maticais; mas, sim, de itens linguísticos que aparecem no input aos quais os alunos são expostos. Conforme Ellis (2005), essa atenção pode ser incitada de muitas for- mas, como a utilização de lições gramaticais para o ensino de características grama- ticais específicas, conforme o processamento do input ou output.

Essa visão reconhece que tanto o conhecimento explícito quanto o implícito são fundamentais na aquisição de LE, sendo que o desenvolvimento do conheci- mento explícito, via foco na forma, pode vir a contribuir para a construção do conhe- cimento implícito, que deve ser a meta do ensino de LE, porque está intrinsecamen- te relacionado com a fluência na comunicação (Rod Ellis, 2005).

Rod Ellis (1998) apresenta quatro macro-opções de atividades de intervenção pedagógica com foco na forma: (a) input estruturado, o qual engloba o trabalho de compreensão dos estímulos verbais e/ou não verbais, exigindo determinada atitude pragmática do aprendiz, executando comandos, relacionando sentenças, expres- sando concordância ou discordância, não existindo necessariamente a produção da estrutura; (b) prática da estrutura, que pode apresentar-se de diferentes maneiras, havendo desde atividades mais controladas até as de produção livre de frases com a forma-alvo; (c) feedback negativo, que pode ser aplicado através de correção ex- plícita, pedidos de esclarecimentos, feedback metalinguístico, elicitação e repetição; e, (d) instrução explícita, que pode ser realizada através do método dedutivo, no qual o professor expõe as regras e dá explicações orais e/ou escritas sobre a estru- tura-alvo, e do método indutivo, em que são propostas tarefas que visam a despertar a consciência do aprendiz, na descoberta da regra-alvo (consciousness-raising tasks).

Conforme Ellis (1997), o fator instrução conduz a atenção do aluno para de- terminados elementos do input. Esse input pode não ser percebido caso não esteja de acordo com as expectativas desse aprendiz. Em outras palavras, determinados dados são reconhecidos no input, porque já estão condicionados à memória de lon- go prazo, os quais já foram sedimentados como conhecimento adquirido. De certa maneira, isso pode dificultar a percepção do aprendiz em relação às características desconhecidas para ele. A instrução, nesse sentido, é a possibilidade de clarear de-

terminadas características, contribuindo para que ocorra o noticing, ou seja, o “dar-

se conta”.

Desse modo, o “dar-se conta” (noticing) é primordial para uma visão meta- cognitiva, visto que para Schmidt (1995), noticing é um processo cognitivo que impli- ca prestar atenção às manifestações linguísticas recebidas e produzidas pelos falan- tes. E qual é o papel do professor neste processo? Para Ellis (2002), é favorecer a percepção consciente no aluno, ou seja, elicitar neste a consciência de alguns pa- drões existentes na nova informação contida no input. A contribuição dessa consci- ência é a percepção do aprendiz acerca de certas regularidades na informação re- cebida e, por meio desta percepção há a possibilidade de internalizar determinadas estruturas, as quais se referem ao conteúdo ou à parte formal da linguagem, incitan- do, dessa maneira, a aquisição. Ellis, afirma ainda, que o conhecimento implícito de alguém é um processo interno e sendo assim, não se pode interferir diretamente.

Para ter um maior entendimento do papel do noticing na aquisição, far-se-á necessário considerar a relação entre conhecimento implícito e input. Ellis (1997), considera o noticing como mediador entre o input e o sistema de memória, isto facili- ta que regularidades percebidas no input sejam transformadas em input compreen-

dido (intake), que depois será usado na produção do output.

QUADRO 2 - Conhecimento implícito: o processo de aprendizagem – Ellis (1997, p. 119)

Segundo Rutherford et al (1985) e Ellis (1994), consciousness-raising significa projetar a atenção do indivíduo para certas propriedades formais da linguagem, esse é um processo que precede o próprio noticing. Para que isso aconteça, é necessário promover atividades que conduzam à atenção e o dar-se conta, em relação à produ-

ção textual, nesse caso, mais particularmente à aquisição do léxico, justificando, as- sim, todo o processo deste trabalho que envolve a leitura, a escritura, a ação, a re- flexão, a produção e a reflexão.