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2 CONHECIMENTO, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO: EM

2.2 OS PARADIGMAS TEÓRICOS DA INOVAÇÃO

2.2.2 A Teoria Evolucionária da Mudança Econômica

Nelson e Winter (1982) podem ser classificados como os precursores da Teoria Evolucionária da Mudança Econômica, teoria esta, que critica as bases teóricas desenvolvidas pela economia neoclássica, em especial no que tange ao progresso tecnológico. Os autores propõem uma teoria evolucionária das capacidades e do comportamento das empresas que operam em um ambiente de mercado. A primeira premissa desenvolvida por Nelson e Winter (1982) é a noção de que a mudança econômica é importante e interessante. Assim, os autores lançam um novo olhar sobre o funcionamento dos mercados.

A concepção “evolucionária” da mudança econômica seria uma alternativa à ortodoxia da teoria neoclássica. Trata-se, segundo eles, de certos empréstimos feitos às ideias básicas da biologia para a Teoria Econômica. As firmas estariam sujeitas a um processo de “seleção natural”, sobrevivendo as que se mostrarem tecnologicamente mais inovadoras. Essa visão se constitui, ainda, de uma “genética organizacional”, que seriam “os processos pelos quais as características organizacionais, incluindo as subjacentes à habilidade de gerar produtos e auferir lucros, são transmitidas ao longo do tempo.” (NELSON; WINTER, 1982, p. 26). Concluem que, toda realidade conhecida é consequência da contínua evolução de um evento anterior.

A estrutura do modelo evolucionário desenvolvido pelos autores é descrita como flexível e dinâmica, assumindo uma modelagem diferenciada de acordo com propósitos específicos. Rejeita-se a noção de comportamento maximizador das decisões tomadas pelas firmas; as “regras de decisão” são desenvolvidas por essas para responder aos imprevistos do mercado, por meio de um processo reflexivo (NELSON; WINTER, 1982; MARINS, 2007).

Os três conceitos básicos desenvolvidos pelos autores de uma teoria evolucionária da mudança econômica, podem ser assim configurados:

1) A ideia de uma rotina organizacional, que seria um conjunto de maneiras de fazer as coisas e de maneiras de se determinar o que fazer. Essa configuração, entretanto, é diferente da noção ortodoxa de rotinas organizacionais. Para os autores, ter o comportamento da firma governado pela rotina não equivale a dizer que ele é imutável, ineficiente ou irracional. No ambiente dinâmico econômico, as firmas podem arriscar sua própria sobrevivência em tentativas de modificar suas rotinas. As características das rotinas podem ainda ser entendidas com referência ao processo evolucionário que as moldou. Elas (as rotinas) desempenham um papel de “genes” na teoria evolucionária, ou seja, são dependentes do passado e capazes de influenciar o futuro.

2) O termo “busca” para designar todas as atividades da organização associadas à avaliação das rotinas correntes e que podem levar à sua modificação ou até sua substituição. As rotinas de busca são parcialmente rotineiras e

previsíveis, mas também geram processos não determinísticos, ou aleatórios.

3) O “ambiente de seleção” abrange o conjunto de considerações que afetam o bem estar da firma e, consequentemente, o grau em que se expande ou se contrai. Esse ambiente é determinado por condições externas (demanda de produto, oferta dos fatores) e também pelo comportamento de outras firmas no setor.

O foco dos autores, assim, reflete uma preocupação com o destino das populações ou dos genótipos (rotinas), e não o destino das firmas (indivíduos). O conceito de um ótimo social, com isso, desaparece. O centro das atenções da teoria seriam os processos dinâmicos que determinam conjuntamente os padrões de comportamento da firma e os resultados de mercado ao longo do tempo. As firmas então evoluiriam através da “ação conjunta de busca e seleção, e a situação do ramo de atividades em cada período carrega as sementes de sua situação no período seguinte.” (NELSON; WINTER, 1982, p. 40). Acreditam ainda, que os atores econômicos têm objetivos e os perseguem, sendo o lucro, um deles. A busca pelo lucro atua nos modelos de comportamento empresarial, como critério de escolha entre determinados cursos de ação alternativos, porém, não se pode dizer que teria o mesmo significado da busca pela maximização do lucro da visão neoclássica.

Para Marins (2007), nesse contexto, o desenvolvimento de novas tecnologias é viabilizado pelos esforços intraorganizacionais em busca por uma posição competitiva de mercado, a qual é viabilizada pelo desenvolvimento tecnológico. De acordo com a Teoria Evolucionária, a atividade produtiva representa um processo de aprendizagem, que será realizada por meio de rotinas que são constantemente desafiadas pelo ambiente dinâmico no qual a firma se insere, forçando a mesma a criar soluções pertinentes. Sobre este processo, afirmam Nelson e Winter (1982, p. 304):

A qualquer momento, as firmas são vistas como possuidoras de várias aptidões, procedimentos e regras de decisão determinando o que elas fazem, diante das condições externas. Elas também se envolvem em várias operações de “busca” por meio das quais descobrem, julgam e avaliam mudanças possíveis de suas maneiras de fazer as coisas. As firmas cujas decisões são lucrativas, dentro do ambiente de mercado, conseguem

expandir-se; as que não são lucrativas se contraem.

Outro autor importante para a construção da Teoria Evolucionária é Dosi (1988), que buscou examinar os determinantes e os efeitos das atividades inovadoras nas economias contemporâneas. Dosi (1988) buscou caracterizar o processo de inovação tecnológica e sua relação com o crescimento tecnológico nos diversos países, setores industriais e firmas. Com sua pesquisa, ele conseguiu evidenciar as diferenças no desenvolvimento entre os grupos pesquisados e a relação dessas diferenças com a inovação tecnológica. A tecnologia é reconhecida como um conjunto de conhecimentos e experiências, que formam paradigmas tecnológicos – conjunto de soluções para problemas técnicos-econômicos baseado em princípios das ciências naturais. E o processo de inovação é tido como seletivo, ao estabelecer direções precisas, permitindo a acumulação de habilidades para resolução de problemas.

Assim, o processo de desenvolvimento tecnológico fica determinado pela trajetória tecnológica e, é, portanto, cumulativo e se caracteriza pelas escolhas tecnológicas e econômicas das firmas. De tal modo que, cada firma teria um modo diferenciado de desenvolver um produto ou processo, e sua capacidade de se desenvolver tecnologicamente depende de seu conhecimento acumulado e da forma com que se estrutura, utiliza e distribui os seus recursos (DOSI, 1988; MARINS, 2007).

Pode-se inferir que a Teoria Evolucionária trouxe aspectos importantes e modificadores para a noção de desenvolvimento. O mais importante talvez seja a percepção endógena das atividades científicas para o crescimento tecnológico e para a competitividade das firmas (sendo o avanço técnico entendido como um processo evolucionário). Os teóricos evolucionários mostraram, por exemplo, a importância dos escritórios de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para o incremento das atividades científicas das firmas e para seu desempenho no mercado, assim como a importância das políticas de desenvolvimento científico e tecnológico para ampliação da capacidade interna e competitividade externa dos países. Mostram, ainda, que o desenvolvimento científico- tecnológico das nações é dependente do contexto econômico e institucional-legal que essas dispõem para as atividades industriais e de pesquisa interna. Tal contexto é capaz de influenciar as capacidades das firmas de gerar inovações, podendo provocar incentivos ou barreiras à sua geração.

Ao examinar por que determinadas firmas superam as outras, a Teoria Evolucionária desenvolve uma perspectiva que rompe com os padrões econômicos neoclássicos. Mais do que colocar a inovação tecnológica no centro das análises, a Teoria Evolucionária amplia a perspectiva de tecnologia, que deixa de ser vista como um fator dado e estático. A Teoria Evolucionária lança um olhar sobre o âmbito intraorganizacional antes não visto na Economia. Por meio da noção de rotinas organizacionais, paradigmas e trajetórias tecnológicas, dá-se um passo à frente e começa-se a examinar o processo de desenvolvimento tecnológico no interior da firma. A inovação tecnológica deixa de ser abordada como um pacote fechado e inicia-se o processo de abertura da caixa-preta da firma na Economia. (MARINS, 2007, p.9)

Apesar do avanço teórico proporcionado pela Teoria Evolucionária, reconhecem-se algumas limitações, como a restrição dos estudos às organizações privadas; a importância dada à busca pelo lucro e pela competitividade; ao foco nas pesquisas intraorganizacionais, assim como, nos estudos de economias industrializadas. Assim sendo, era necessária, ainda, uma visão mais sistêmica da inovação que englobasse a importância dos agentes externos para a capacidade inovadora das firmas, o que veremos no tópico a seguir.