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3 CAPACIDADES DE INOVAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES

3.1 A PESQUISA EM INOVAÇÃO: ASPECTOS PARA SUA

3.1.1 O Manual de Oslo

3.1.1.6 Pesquisas sobre inovação em países em desenvolvimento

específicas para pesquisas sobre inovação em países em desenvolvimento. De acordo com o Manual, após a publicação de sua segunda edição, muitos países em desenvolvimento passaram a conduzir suas próprias pesquisas em inovação, contudo, apesar do desenho da pesquisa ser concebido em concordância com os padrões do Manual de Oslo, suas medidas de inovação partiram de adaptações das metodologias propostas a fim de “capturar as características particulares dos processos de inovação em países com estruturas econômicas e sociais diferentes daquelas dos países mais desenvolvidos da OCDE.” (MANUAL DE OSLO, 2005, p.153). O primeiro esforço fora do âmbito da OCDE e da União Europeia (UE) - com o objetivo de compilar as particularidades e servir como guia na concepção de pesquisas nacionais sobre inovação comparáveis - foi realizado na América Latina pela RICYT – Red Ibemoroamericana de Indicadores de Ciencia y

Tecnología. O resultado foi a publicação do Manual de Bogotá, usado

posteriormente pela maioria das pesquisas sobre inovação conduzidas na América Latina, servindo de inspiração, inclusive, para elaboração desse texto no Manual de Oslo (MANUAL DE OSLO, 2005).

A partir do Manual de Bogotá e das experiências dos países que já conduziram pesquisas sobre inovação, o Manual de Oslo desenvolveu uma série de recomendações para as pesquisas em países em desenvolvimento a fim de amparar os pesquisadores a construírem suas próprias experiências e não só baseá-las nos exercícios de mensuração dos países desenvolvidos (MANUAL DE OSLO, 2005).

Segundo o Manual de Oslo, as características das inovações em países em desenvolvimento são prioritariamente incrementais. É primordial, conhecer o tamanho e a estrutura das empresas e mercados, pois de acordo o Manual, mesmo as empresas consideradas grandes “operam com escalas de produção subótimas, com custos unitários mais elevados e longe da eficiência ótima.” (MANUAL DE OSLO, 2005, p.154). Tem-se, ainda, que a competitividade dessas empresas é baseada majoritariamente na exploração de recursos naturais, ou no trabalho barato, ficando a eficiência e a diferenciação de lado. O resultado disso, segundo o Manual, é a condução a uma organização informal da inovação e na execução de menos projetos de P&D.

O cenário da inovação descrito pelo Manual nesses países é expresso por: incerteza macroeconômica; instabilidade; informalidade; falta de infraestrutura física; fragilidade institucional; ausência de consciência social sobre a inovação; natureza empresarial de aversão ao risco; falta de empreendedores; existência de barreiras aos negócios nascentes e; ausência de instrumentos de políticas públicas para dar suporte aos negócios e para o treinamento gerencial (MANUAL DE OSLO, 2005). Esse quadro caracteriza um sistema de inovação frágil, no qual se dedica menos recursos às atividades de inovação, reduzindo o potencial de empresas, setores e regiões. Ainda de acordo com o Manual, os fluxos de informação no interior dos sistemas nacionais de inovação são fragmentados, e em alguns casos falta interação, principalmente entre instituições de pesquisa e as empresas. Essas interações fracas ou ausentes desafiariam as capacidades das empresas na superação de problemas relativos à tecnologia. A série de barreiras que se apresentam às empresas dificultam a construção ou aprimoramentos de suas capacidades para inovação.

As barreiras à acumulação de capacitações pelas empresas são elevadas e difíceis de superar, particularmente no caso do capital humano altamente qualificado, das interações locais e internacionais, e dos conhecimentos tácitos incorporados nas rotinas organizacionais. (MANUAL DE OSLO, 2005, p.157).

O Manual apresenta as seguintes características da inovação em países em desenvolvimento:

 Aquisição de tecnologia incorporada para inovação de produto e de processo;

 Atividades tecnológicas do tipo incremental e aplicações inovadoras de produtos e processos existentes;

 Heterogeneidade em relação aos padrões empresariais tecnológicos, organizacionais e gerenciais.

Em relação à mensuração da inovação em países em desenvolvimento, o Manual recomenda a elaboração de indicadores que resultem em dados comparáveis aos obtidos em países desenvolvidos que utilizam o Manual de Oslo, tendo como objetivo a construção de um sistema internacional coerente de indicadores de inovação. Todavia, as pesquisas sobre inovação precisam respeitar e ser capazes de assimilar as características da inovação em países em desenvolvimento, desta

maneira, as definições de inovação (e seus subtipos); das atividades de inovação; e da empresa inovadora; devem ser aplicadas em pesquisas sobre inovação em países em desenvolvimento (MANUAL DE OSLO, 2005).

No que tange à esfera das políticas públicas, o Manual compreende que:

Em países em desenvolvimento, a principal razão para a condução de pesquisas sobre inovação é informar a concepção das políticas públicas e a formulação das estratégias de negócios, com o principal foco na geração, difusão, apropriação e uso dos novos conhecimentos nas empresas. (MANUAL DE OSLO, 2005, p.158).

Outra disposição importante para esta pesquisa é o incentivo do Manual para que os exercícios de mensuração centrem no processo de inovação e não nos resultados em si, enfatizando como as capacitações para inovação são tratadas, dando mais prioridade a estas do que os próprios resultados (inovações). São apresentados pelo Manual, três tópicos fundamentais a serem considerados em pesquisas em inovação adaptadas aos países em desenvolvimento: as TIC´s, as interações, e as atividades de inovação. Recomenda-se também, a coleta de dados sobre recursos humanos, na perspectiva de sua composição e de sua gestão.

Sobre a aplicação da pesquisa, recomenda-se que as entrevistas sejam pessoais e realizadas por uma equipe adequadamente treinada, na intenção de melhorar a qualidade da aplicação e dos resultados dos questionários. Já o questionário, pode ser elaborado de forma a permitir que as seções sejam respondidas por diferentes pessoas da organização, de acordo com as especificidades das questões.

Quanto à frequência nas pesquisas sobre inovação, enquanto o Manual recomenda a condução de pesquisas a cada dois anos em países desenvolvidos, no contexto dos países em desenvolvimento, o mesmo sugere um período de três ou quatro anos.

Uma dificuldade crucial apresentada é a falta de cultura para inovação, ou seja, a falta de reconhecimento sobre a importância da inovação, tal configuração dificulta a obtenção de informações confiáveis sobre o processo de inovação.

Por fim, o Manual de Oslo (2005, p. 167) coloca que algumas questões sobre a mensuração da inovação em países em desenvolvimento permanecem sem resposta, entretanto, várias abordagens têm sido desenvolvidas e testadas em diferentes países, envolvendo questões como:

 O papel dos empresários e suas atitudes em relação à inovação;

 A intenção de capturar inovações conduzidas por fatores não ligados às forças de mercado e, particularmente, as inovações conduzidas pelo setor público (SALAZAR; HOLBROOK, 2004 apud MANUAL DE OSLO, 2005, p.167);

 A adaptação da metodologia para mensurar a inovação no setor primário (particularmente na agricultura);  O desenvolvimento de indicadores que refletem os

sistemas de inovação sub-nacional (regional).

O segundo item mencionado se relaciona diretamente à abordagem desta pesquisa. No próximo tópico, tenta-se identificar a natureza das inovações em organizações públicas, buscando examinar os fatores que conduzem as inovações nessas organizações, a fim de se captar os aspectos que podem influenciar em suas capacidades para inovação.

3.1.2 As pesquisas em inovação no setor público e a natureza dessas