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A Teoria Planned Happenstance e Teoria da Aprendizagem

Happenstance, de acordo com o dicionário Merriam-Webster7, refere-se a

“something that happens by chance”, ou seja, “eventos que ocorrem pelo acaso”. O termo não se refere ao acaso em si, e sim aos eventos causados por ele.

A Teoria Planned Happenstance, de Mitchell, Levin e Krumboltz (1999), pode ser vista como um adendo à Teoria da Aprendizagem para Aconselhamento de Carreira – LTCC – (MITCHELL e KRUMBOLTZ, 1996), que foi originalmente derivada da Teoria da Aprendizagem Social para Tomada de Decisão de Carreira – SLTCDM (MITCHELL e KRUMBOLTZ, 1990). De fato, na mais recente apresentação feita por Krumboltz e Henderson (2002), os componentes de todas as três proposições da teoria estão juntos.

Ao tentar entender a proposta da Teoria Planned Happenstance em relação ao comportamento de carreira não se pode considerar o happenstance isolado de uma Teoria da Aprendizagem. Todo o corpo teórico proposto por Krumboltz e seus colegas sobre o desenvolvimento de carreira é o que dá sentido para se pensar o happenstance. A Teoria da Aprendizagem Social para Tomada de Decisão de Carreira e a Teoria da Aprendizagem para Aconselhamento de Carreira oferecem a base para que se pense a recorrência de eventos fortuitos na vida desde o nascimento até a morte, num padrão esperado de imprevisibilidade (PATTON e MCMAHON, 2006).

A Teoria Planned Happenstance pretende ajudar a explicar como e por quais razões os indivíduos perseguem diferentes caminhos ao longo da sua vida. Dentro desse panorama teórico, o comportamento humano resulta de um número incontável de experiências de aprendizagem, disponibilizadas tanto por situações planejáveis como por situações imprevistas (MITCHELL, LEVIN e KRUMBOLTZ, 1999). Um conjunto de eventos fortuitos aparentemente insignificantes pode pôr em ação uma constelação de influências que alteram o curso das vidas das pessoas, desde a possibilidade de novas carreiras até fatos na vida pessoal (SOARES e JANEIRO, 2015).

“Acaso Planejado” é sustentado por diferentes teóricos que usam outros

termos, como Watts (1996) que se refere a uma “serendipidade planejável” (p. 46), ou Gelatt (1989) que fala de uma “incerteza positiva” (p. 252) ou Patton e McMahon que incluem o “acaso” em si. As palavras “acaso planejado” estão intencionalmente colocadas lado a lado, pois as pessoas devem planejar, gerar e ser receptivos a oportunidades inesperadas (MITCHELL, LEVIN e KRUMBOLTZ, 1999).

Teoria Planned Happenstance propõe incluir a transformação de eventos não planejados em oportunidades de aprendizado para o desenvolvimento de carreira; e inclui dois princípios fundamentais (MITCHELL, LEVIN e KRUMBOLTZ, 1999, p.118): (a) exploração gera oportunidades fortuitas para aumentar a qualidade de vida e (b) habilidades permitem que pessoas aproveitem as oportunidades que têm. Com base nesses princípios, Krumboltz e Levin (2004) apresentam contribuições para que os eventos não planejados possam ser transformados em oportunidades em diferentes fases da carreira e da vida:

eventos não planejados podem gerar ainda mais eventos não planejados e mudar completamente o rumo da carreira e da vida; cada evento tem múltiplas consequências tanto para o indivíduo quanto para os outros; eventos não planejados podem levar a lugares melhores do que o planejado se o indivíduo estiver pronto para aproveitar as oportunidades; você não é o único receptáculo de eventos não planejados – você é também o gerador de eventos não planejados que podem impactar outras pessoas; quando você tenta algo que não dá certo como planejado você pode perseverar ou tentar algo diferente; a escolha é sua para decidir que caminho seguir; não há uma escolha certa; interesses mudam, prioridades mudam e circunstâncias mudam; mudar os planos não é fracassar; assuma o comando da tarefa de tornar sua vida mais satisfatória; você pode criar os seus próprios eventos inesperados no futuro oferecendo sua ajuda, se unindo a organizações, fazendo cursos, começando conversas com amigos e estranhos, navegando na internet, lendo livros e revistas, e se fazendo útil a outros. Em resumo, sendo ativo em sua própria vida (KRUMBOLTZ e LEVIN, 2004, tradução nossa).

O desenvolvimento de carreira é um processo complexo que envolve assuntos tanto profissionais quanto pessoais, conhecimento e sabedoria sobre as realidades e possibilidades da vida. Sendo assim, os estudiosos que se dedicam às pesquisas e práticas nessa área continuam desenvolvendo teorias que complementam as anteriores e trazem inovações. Assim também aconteceu nas teorias propostas por Krumboltz e colaboradores.

Originalmente, Krumboltz aceitava a crença comum de que o objetivo do aconselhamento de carreira era ajudar clientes a tomarem decisões de carreira, e escreveu uma multiplicidade de influências ambientais que favoreceram o aprendizado sobre essa tomada de decisão (KRUMBOLTZ, 1975, 1979). Essa teoria

foi modificada sutilmente em vários trabalhos subsequentes (MITCHELL e KRUMBOLTZ, 1984, 1990, 1996). Uma expansão da teoria é representada em Krumboltz (1998) e Krumboltz e Henderson (2002). O guia mais completo e prático publicado foi o livro Luck Is No Accident (KRUMBOLTZ e LEVIN, 2004), que contém várias histórias de pessoas cujas ações permitiram que elas criassem algo ou tirassem proveito de um evento não planejado.

A Happenstance Learning Theory (HLT) – Teoria de Aprendizagem Happenstance – é o último esforço, até o momento, de modificação de Krumboltz. Em artigo intitulado The Happenstance Learning Theory, Krumboltz (2009) afirma que a elaboração da teoria foi influenciada por inúmeros predecessores e contemporâneos: Bandura (1982); Betsworth e Hansen (1996); Cabral e Salomone (1990); Christensen, Hart e Rayner (1971); Ellis e Whiteley (1975); Gelatt (1989); Hatalla e Scott (1990); Kimmer (2001); Krumboltz e Ryan (1964); Krumboltz e Schroeder (1965); Krumboltz e Thoresen (1964); Krumboltz e Varenhorst (1965); Miller (1983); Watts (1996).

A Happenstance Learning Theory (HLT) – Teoria de Aprendizagem Happenstance – assume que o destino de carreira de cada pessoa ocorre em função de uma série de experiências de aprendizado planejadas, não planejadas e imprevisíveis (KRUMBOLTZ, 2009). Decisões de carreira não são um evento único, elas ocorrem continuamente ao longo de nossa vida. Ao mantermos nossas opções abertas, novas oportunidades podem ser criadas, reconhecidas e aproveitadas, assim as pessoas tendem a se sentir livres quando reconhecem que não é necessário ou esperado, ou sequer possível, que eles planejem todo seu futuro antecipadamente (KRUMBOLTZ, FOLEY e COTTER, 2013).

Aproveitando as contribuições dessa teoria, Rhee, Lee, Kim, Ha e Lee (2016) desenvolveram estudo com 515 estudantes universitários coreanos com o propósito de examinar os padrões de identidade vocacional e ver como os cinco componentes de habilidades de planned happenstance (curiosidade, persistência, flexibilidade, otimismo e assumir riscos) estão associados aos seis tipos de identidade vocacional. De acordo com os resultados, os cinco componentes de habilidades de planned happenstance foram diferencialmente relacionados com cada status de identidade vocacional. Como conclusão do estudo, Rhee et al. (2016) apontam que a maioria dos estudantes precisa aprimorar habilidades de planned happenstance para o desenvolvimento de carreira.

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