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O primeiro grupo de impactos no curso envolve desempenho acadêmico dos estudantes, sobretudo as alterações no rendimento acadêmico – redução de notas e reprovações – que estão presentes em diversos relatos dos entrevistados, a seguir delineados.

A aluna P01F menciona que seu rendimento diminuiu bastante em diferentes aspectos, como “desenvolvimento de algumas leituras, a escrita, eu tinha um bloqueio na parte escrita, eu não conseguia escrever”. A estudante P01F complementa sobre queda no rendimento acadêmico: “foi a primeira nota baixa que eu tirei na minha vida toda. E foi um seis ainda, sabe? Eu falei ‘meu Deus, eu vou morrer, eu nunca tirei uma nota baixa’ ”.

Outros estudantes corroboram, como a aluna P02F que conta: “acabei pegando DP, foi a única DP que eu peguei na faculdade (…) de nove, dez, eu fiquei com dois de média”. E ainda a entrevistada P09F: “eu vi que o meu rendimento caiu, eu me sentia mal, me sentia uma burra (...) eu tirei o meu primeiro cinco na faculdade”.

O encadeamento das consequências das alterações no rendimento acadêmico, provocadas pelos eventos casuais, pode ser observado nas falas da participante P10F que menciona: “Se eu reprovasse, ficaria retida. Então aquilo me deixou muito preocupada porque poderia interferir tanto na graduação quanto na minha vida, porque eu cogitei até desistir do curso”, portanto com enfrentamento de possibilidade final de evasão de curso. Nota-se nessa fala, o grau acentuado do impacto na trajetória de vida e carreira da estudante, uma vez que a mesma considerou a possibilidade de evadir do ensino superior.

Há ainda casos em que a queda do rendimento acadêmico levou efetivamente a reprovações, como conta P14M “todos esses alunos foram reprovados e pegaram dependência”. E P03F sobre a disciplina de Genética “eu não fiz a prova por que eu fiquei com ela no hospital, e eu fiz a segunda chamada e o meu sogro morreu na madrugada e foi enterrado na segunda chamada. A minha prova foi um desastre”.

Outros aspectos do desempenho acadêmico que sofreram alterações a partir dos eventos casuais foram o envolvimento acadêmico e a motivação dos alunos. A estudante P10F menciona que acabou “ficando um pouco desmotivada,

desanimada, porque você perde a vontade de ficar vindo para cá, largando a tua família lá, ainda mais todo mundo naquela coisa de estar enlutado”. O entrevistado P11M revela que seu envolvimento acadêmico diminuiu “eu larguei a faculdade, praticamente, porque daí eu desanimei. E aí eu fui levando”. P03F completa “isso sempre me atrasou muito, perdia aulas que eu não podia”. E P13M reforça “se eu não tiver muito bem eu não assisto a aula, porque é melhor evitar”.

Para o estudante P09F “eu não estava conseguindo acompanhar, o professor dando aula e eu só ali esperando a chamada para não ficar com falta”. E ainda o aluno P15M que relata “as coisas da faculdade comecei a deixar para trás. Só que isso começou a afetar aqui na faculdade… Não que eu deixava de fazer as coisas, só que as pessoas percebiam que eu não estava me entregando 100%, eu podia fazer muito mais. Todo mundo sabia que eu tinha capacidade de fazer muito mais. Baixou muito meu desempenho”.

Há também relatos de impactos positivos de eventos casuais sobre o desempenho acadêmico no curso, especificamente com envolvimento e motivação com os estudos. A esse respeito, P06F comenta que “me incentiva a me dedicar cada vez mais aqui na faculdade”. Assim como a entrevistada P02F que destaca “acho bom porque me incentiva (…) me impulsionou muito para o bem”. A aluna P09F complementa que “comecei só a tirar nota boa”, inclusive a professora percebeu a mudança em seu envolvimento acadêmico e verbalizou para aluna, segundo relato da entrevistada: “vejo que você gostou da matéria, que você se dedicou”.

Corroborando sobre impacto no curso vinculado com o desempenho acadêmico, agora sobre o nível do domínio do conteúdo das disciplinas e com impactos negativos, a estudante P03F comenta “Tem aula, não tem, manifestação, você está tendo aula, eles estão tentando entrar na sala. Perdemos aula. Aí você tenta recuperar dois meses em um ou em uma semana”. A entrevistada P02F complementa que “Foi bem complicado. E isso fez com que a gente perdesse muito conteúdo. A gente viu as coisas muito por cima”. E P01F acrescenta que “os próprios professores comentavam que não teria como ficar aprofundando o assunto, se a gente quisesse teria que aprofundar por conta por que eles não teriam tempo de passar tudo que estava planejado”. E P17M também percebe esse impacto “atrapalha muito o nosso andar da faculdade, nosso caminhar aqui e isso acarreta não só o lado estudantil, mas na nossa vida, fica um buraco na faculdade. Teve

coisas que foram passadas muito rápido, coisas que não foram vistas”.

A segunda subcategoria de impactos no curso, as alterações nas interações interpessoais, vincula-se às mudanças nas formas de se relacionar com pessoas, seja com fortalecimento ou rompimento de vínculos.

O entrevistado P17M menciona sobre a dificuldade que vivenciou com colegas de turma: “senti que a minha sala me excluiu. Então para mim assim, primeiro ano foi bem complicado (…) porque eu fazia tudo sozinho”. Para P09F também é difícil a relação “eu não quero mais ver a minha turma (…) é uma coisa que me deixa nervosa até hoje. Na faculdade, o que me deixa estressada é só isso. Eu me sinto violentada”.

Para o estudante P14M os novos desafios casuais vivenciados ao ingressar no ensino superior impactaram de forma diferente nas suas interações pessoais, para ele “foi bem legal chegar, calouro, cidade nova, gente nova, e se descobrindo, principalmente, encontrando pessoas diferentes da sua personalidade”. Para P06F também: “isso me uniu a outras turmas (…) que a gente começou a virar tudo amigo em diferentes anos. Normalmente a gente fica muito próximo de quem é da nossa sala. Mas isso junta as pessoas de outros anos”.

A aluna P01F comenta sobre o impacto em sua interação com um de seus professores: “tive umas briguinhas com ele no começo (...) mas depois foi uma conexão e a gente se deu super bem (...) ele me ajudou bastante”. E completa “o pessoal, meus amigos principalmente me ajudaram bastante, até meus professores” ao vivenciar um problema de saúde inesperado que a preocupava sobre a possibilidade de se manter no curso. Em outra situação casual, P10F percebeu o impacto na relação com outro professor: “motiva você ter uma pessoa que se preocupa, ainda mais um professor da faculdade se preocupando com você”.

As alterações nas condições físicas e emocionais, terceira subcategoria de impactos no curso, foram identificadas em diversas entrevistas, para P03F “a parte da greve, a parte política que está deixando o ambiente da faculdade tão conturbado. É estressante”, em outro momento, P03F “eu ficava sem dormir porque eu estava preocupada”. Para P06F “impactou pra caramba. Eu fiquei meio, não sei a palavra, mas não focada tanto, meio dispersa de tudo, super preocupada, então tudo isso me tirava do sério e me deixa muito nervosa”.

A ocorrência de múltiplos impactos físicos e emocionais pode ser notada no relato do participante P18M: “atenção, memória, cansaço. Nossa senhora,

estresse, muito estresse. É muito estressante não dormir, não dormir no horário correto. Aí toda a tensão também de você se preparar nas provas, por exemplo”.

O estudante P15M, P01F e P02F mencionam eventos casuais que também geraram impactos nas condições físicas e emocionais. Para P15M “querendo ou não acaba chateando a gente”. Para P01F “atrapalhou no desenvolvimento intelectual porque eu ficava muito preocupada e tive que faltar muitas vezes”, em outro momento, P01F menciona “fiquei desesperada (...) meu orientador até mandou eu procurar um terapeuta por que estava muito abalada”. A estudante P02F conta: “me deixou muito, muito mal mesmo. E acabou atrapalhando bastante, mas eu consegui, na parte acadêmica levar para que não me prejudicasse tanto, mas emocionalmente foi bem ruim (...) eu chorava todo dia”.

Os estudantes P08F, P09F e P15M também sofreram alterações nas condições físicas e emocionais. Para a aluna P08F, por exemplo, “parece que você não vai conseguir, que você fica trancada no quarto chorando”. Para P15M “eu vivia numa tensão, 24 horas, pressão”. Na mesma linha, a entrevistada P09F menciona: “estou bem estressada (…) na hora que eu chego na faculdade me dá muita tontura, eu fico muito estressada, eu tenho vontade de sair da sala. Eu acho que o meu corpo pede descanso e eu tenho que vir para a faculdade”.

Os entrevistados P10F e P14M também citaram esse tipo de impacto, para P10F “foi minha pior época da faculdade porque eu me afundei, tanto que os outros viam que eu estava muito mal, o pessoal da sala estava preocupado”. Para P14M “nós éramos tão apegados a ele, e causou um impacto muito forte (…) não sabemos como será. Causou um impacto emocional muito forte na nossa turma e na faculdade inteira”.

O quarto grupo de subcategoria de impacto dos eventos casuais sobre o curso envolve mudanças na visão do curso e/ou da instituição frequentada. No relato da estudante P06F, nota-se que as mudanças na visão do curso podem ser acompanhadas de outras alterações, “(…) todas essas experiências mudam o jeito que eu vejo o curso (…), muda também a realidade do que eu penso, do que você dá valor, do quanto você dá valor para estudar, para tudo”. A mesma entrevistada, ao relatar outros eventos casuais, menciona: “impacta muito e muda muito o meu pensamento em relação à faculdade (...) muda meu jeito de pensar em relação a todos os direitos fundamentais” e ainda “você estuda a teoria para passar na faculdade, mas a prática é o que vale, é a prática que faz você se apaixonar pelo

curso porque você tem contato real com a vida das pessoas”.

Para o aluno P14M, o impacto na visão do curso e da instituição ficou evidente ao relatar: “eu descobri que o que faz o profissional não é faculdade, não é curso, é quem a pessoa é, como ela se dedica, quanto ela se dedica. É força de vontade”.

Por fim, como quinta subcategoria de impactos no curso derivados de eventos casuais, há as alterações nas condições temporais, que são alterações que afetam, facilitando ou dificultando, a organização da rotina e a administração do tempo do estudante em atividades acadêmicas. Nesse sentido, P03F revela: “às vezes eu vinha três horas, quatro horas mais cedo para eu poder usar computador da faculdade. E aí eu não tinha dinheiro para manter nada e eu tinha que vir na lan house gastar tempo para eu ficar estudando e tudo eu tinha que fazer”. Na mesma linha, a entrevistada P04F traz diferentes relatos: “alguém teve que me levar na rodoviária todo dia, pegar ônibus, vir para cá. Eu tinha que vir bem devagarinho, subir todas essas escadas”. Ela também avaliou o impacto nas condições temporais em outras situações: “era o único horário que eu tinha para estudar, fazer meus trabalhos, me prejudicou com nota” e ainda: “minha aula termina quatro e meia e eu fico aqui até seis e meia esperando o ônibus (…) quando eles não avisam (…) eu aproveito para adiantar meus trabalhos, aí passa rápido”.

O estudante P18M também vivenciou impactos temporais e conta que “foi bem puxado, estava estudando, estava no terceiro ano já de faculdade e eu tinha que fazer estágio, tinha que fazer. Eu tinha que fazer o estágio obrigatório, são 200 horas de estágio. Eu dormia três, quatro horas por dia”.

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