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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1. Descrição e análise das aulas observadas

4.1.10 A10 Tipologia Textual e suas características

Instituição onde foi observada a aula

Uma das universidades guineenses visitadas na pesquisa. Nível de

escolaridade

Segunda aula observada com alunos do 2º. ano do curso de Sociologia.

Tópico da aula Tipologia textual para dar a conhecer as 5 principais caraterísticas e regras gramaticais de cada tipo de texto.

Breve descrição da aula

A professora começou a aula argumentando que muita gente confunde os tipos textuais e os gêneros textuais. Sendo assim, ela propos-se a ensinar aos alunos a estrutura, as regras gramaticais e as características de cada tipo textual. Ela foi explicando cada tipo

textual e as regras gramaticais que os caracterizam, um por um.

Começou pelo tipo narrativo e depois prosseguiu com os tipos

descritivo, dissertação, expositivo e injunção.

Breve análise da aula

Preocupada com a confusão que as pessoas fazem entre o que é

gênero textual e tipo textual, a professora deu uma aula gramatical,

começando pelo tópico, o desenvolvimento e até a exposição da professora na sala de aula. Essa foi uma aula expositiva, cheia de explicação de categorias gramaticais. A mestra pediu que os alunos memorizassem as características de tipo textual para nunca mais fazerem confusão. Além de memorizarem/conhecerem as características, eles deveriam memorizar as regras gramaticais de cada tipo textual que ela acabara de ensinar.

A tarefa dos alunos era o simples reconhecimento das regras gramaticais de cada tipo textual. Não existiu qualquer interesse pela comunicação, a interação, e nem pela prática da língua que estava a ser ensinada. O que foi ensinado nessa aula restringiu-se à língua em si e não ao seu uso comunicativo precípuo.

Num bloco geral de dez (10) aulas observadas no campo e conforme apresentadas e analisadas até aqui, considerando os pressupostos teóricos de Almeida Filho (2018), Paiva (2014), entre outros, vimos que todas elas se caracterizaram, predominantemente, pelo ensino centrado na forma de língua, na perspectiva da língua como sistema de regras prescritivas do seu funcionamento. O ensino de LP em todas essas aulas é baseado na memorização das regras gramaticais prescritas pela gramática normativa/tradicional, no conhecimento e reconhecimento das categorias e elementos gramaticais, na produção e preenchimento das palavras em lacunas localizadas em sentenças, de acordo com a categoria gramatical solicitada pelo professor, na produção de frases soltas e pequenas para usos específicos, no uso abundante de metalinguagem gramatical verbalizada e cobrada, e na recomposição de frases mediante elementos dispersos com emprego de tempos verbais.

A prática, o uso intensivo da língua como meio que pode proporcionar o desenvolvimento na língua em aprendizagem em tarefas ou atividades similares que geram comunicação e interação entre pessoas na língua que se deseja promover, não ocorre nem sequer numa única atividade registrada. Os professores pedem, sistematicamente, aos alunos que estudem e memorizem as regras e as definições de cada categoria gramatical ensinada. Os professores explicam as categorias gramaticais, em seguida fazem uma pergunta didática de natureza elicitadora, o aluno responde e ele corrige a resposta do aluno, assumindo a posição de autoridade na turma. Esse esquema pergunta-resposta- avaliação é um clássico que poderia ser citado aqui.

Ainda em busca da abordagem subjacente e orientadora de todo esse acervo instrucional no ensino de LP na Guiné-Bissau, na secção a seguir, refletirei sobre alguns princípios teóricos que nos orientam a usar práticas desejáveis na sala de aulas de ensino de Línguas e que não foram observadas durante as aulas de LP na Guiné-Bissau. A inexistência dessas práticas pode nos servir de evidência para a caracterização da abordagem vigente no corpus de ensino coletado nas escolas selecionadas como amostra representativa do ensino de LP no país.

4.2 Princípios teóricos relevantes no processo de ensino de línguas

Na seção anterior, vimos que os professores observados apresentam a língua que percebem como sistema de regras a ser aprendido no sentido de memorização. Assim, eles ensinam, de fato, a forma da língua.

Nessa seção, a nossa discussão está relacionada aos princípios de interação, de comunicação, de criatividade, do ensino de língua na língua-alvo, como potenciais princípios almejados no plano do ensino de línguas.

Partimos da ideia de que, na sala de aula de ensino de Línguas, a primeira característica que se deve observar é se língua-alvo está circulando, se está havendo interação verbal, a suficiente comunicação entre alunos e o professor, possibilitando que ocorra aquisição/aprendizagem. Então, nesse caso, a comunicação constitui o primeiro o princípio da sala de aulas de ensino de língua que vise à aquisição de uma real nova capacidade de uso.

Durante a observações de aulas e conforme se pode constatar na análise, o princípio da comunicação é quase inexistente, em todas as dez (10) aulas observadas. A língua-alvo não aparece circulando entre os alunos e, às vezes, nem mesmo no discurso do professor. Cabe aos alunos aprendentes da LP tão somente anotar, memorizar e demonstrar reconhecimento das estruturas gramaticais ensinadas pelos professores. Os professores atuam como o centro linguageiro irradiador nas turmas, comandando o leme das ações em sala, desde o anúncio dos tópicos das aulas, passando pelo escasso acervo de exemplos e atividades de confirmação até o registro do que é legítimo gravar no quadro ou na oralidade que os alunos repetem e anotam com quase insensibilidade e, certamente, muito pouco interesse.

Esperava-se também que os professores fossem capazes de ensinar, dar instruções e oferecer retorno abundante na língua que ensinam, como procedimentos relevantes no plano do ensino de Línguas (Almeida Filho, 2013). O princípio interacional que a esses procedimentos subjaz teve de ser relativizado, pois, nas aulas observadas em várias situações, as explicações sobre regras gramaticais da língua e turnos com os interlocutores