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CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Discutindo o Conceito de Abordagem

De acordo com Costa (2016, p.37), para ter a consciência da percepção que os alunos e os professores têm sobre a língua, linguagem, aprendizagem, aquisição, o conceito de ensinar e aprender, principalmente do próprio ato de ensinar e aprender, as crenças que tanto professores quanto alunos possuem, é preciso ter, antes de tudo, o entendimento e reconhecimento das ações exercidas na sala de aula. Porém, a obtenção dessa consciência ou entendimento não se dá de maneira simples ou fácil. É preciso fazer observação, pesquisa sobre o fato, ter disponibilidade, interesse, tempo, simplicidade, paciência, buscar manter interação, integração e o envolvimento com o fenômeno e os envolvidos.

É preciso, de acordo com Costa (2016), ter noção da teoria, ou seja, dispor de competências teórica e profissional (ALMEIDA FILHO, 1993). Isso porque, ao longo dos tempos, a história de ensino de línguas tem sido marcada pelo uso de termos idênticos em diferentes contextos e com diferentes significados, fato que na maioria das vezes, influenciou negativamente o processo de ensino e aprendizagem de línguas e a

compreensão da própria Linguística Aplicada, como ciência, com a sua teoria própria (idem).

Perante tal situação, alguns estudiosos e pesquisadores da area da LA, Anthony (1963) e Almeida Filho (1993), por exemplo, sentiram-se preocupados e se colocaram a estudar, a refletir e redefinir os termos da área, para que assim possam ser definidos e usados de forma adequada e coerente no processo de ensino de línguas.

Segundo Freitas (2013) e Grant (2016), preocupado com o uso desconcertante dos termos da área de LA, Anthony (1963) introduziu uma discussão na qual ele propunha uma nova conceituação e hierarquização sobre o construto de abordagem, método e técnicas, pois os mesmos estavam sendo usados de maneira equivocada e inadequada na área. Para Anthony (1963), era necessário definir e organizar hierarquicamente esses termos, para evitar confusões oriundas do uso inapropriado dos mesmos, por parte dos professores, pesquisadores e até por alguns profissionais da área de ensino e aprendizagem de línguas (FREITAS, 2013, p. 21).

Assim, Freitas (2013) e Grant (2016) afirmam que o Construto abordagem foi inicialmente introduzido por Anthony em 1963, definido por ele “como conjunto de pressupostos que tratam da natureza da língua, de ensino e aprendizagem”, podendo assim ser visto como uma filosofia.

Com base na perspectiva de Anthony (1963), o construto de abordagem vem sendo trabalhado e sofrendo algumas modificações e acréscimos. Em 1993, Almeida Filho nos assegura que abordagem além de ser uma filosofia de ensino, envolve, também, crenças, conceitos e pressupostos e se situa no âmbito das ideias orientadoras do ensino e também da aprendizagem que ocorrerá. Nesse sentido, Almeida Filho (1993) argumenta que abordagem é “força potencial que orienta todas as decisões e ações do aprender e ensinar línguas” acrescentando à proposta de Anthony (1963) o termo metodologia, uma espécie de abordagem específica do método. A partir dessa contribuição de Almeida Filho (1993), o construto de abordagem foi redefinido, reconfigurado, contemplando na sua composição e hierarquização os elementos como a própria abordagem, a metodologia (uma explicação do uso do método e das técnicas que o sustentam).

Conforme o mesmo autor, a metodologia é sempre ancorada numa definição de ideias que apoiam o método numa linha de influência de uma dada abordagem e ela pode

ser definida como “conjunto das ideias que justificam a prática, os princípios que orientam as ações visando ao ensino e aprendizagem, portanto relacionado à pedagogia”.

O método, por sua vez “é o plano para apresentação da língua, trata-se dos procedimentos. O método é fundamentado na metodologia, está relacionado às experiências do dia a dia da prática docente, do agir do professor com a língua-alvo em sala de aulas. A técnica nada mais é do que as atividades propriamente ditas, artifícios ou truques usados para alcançar o objetivo. Vale salientar que as técnicas ou procedimentos podem depender diretamente da abordagem do professor ou professora. Freitas (2013, p.22), de acordo com Almeida Filho (1993) e Anthony (1963), argumenta que são as técnicas que executam o método e que o método também é consistente com uma metodologia e abordagem, essa acima de todos os demais aspectos ou elementos.

Então, na hierarquização temos a abordagem, em seguida a metodologia ligada às ideias que nos levam a ensinar do jeito que ensinamos, com base na abordagem que adotamos, temos métodos referentes aos procedimentos adotados para efetivar a nossa metodologia e as técnicas que se referem às atividades que desenvolvemos para atender os nossos procedimentos (método), na sala de aulas. Todos esses elementos funcionam de maneira linear e harmoniosa, conforme pode se ver no desenho que segue, sobre a constituição da Abordagem de ensinar Línguas.

Figura 2

Em suma, agregando os pressupostos teóricos dos autores ANTHONY (1963), ALMEIDA FILHO (1993; 2018) e FREITAS (2013) e conforme o que consta no Glossário de Linguística Aplicada (2018), tomamos para essa pesquisa, a seguinte definição de abordagem como:

Composto de concepções dos agentes sobre língua, aprender e ensinar uma nova língua que orienta o processo real de ensino e aprendizado dessa língua-alvo marcando-o com os traços distintivos de uma filosofia de trabalho. Na abordagem se aninha a base de conhecimentos composta majoritariamente por crenças, mas também por pressupostos explicitamente teorizados que vão se agregando e transformando as crenças. Além da base de conhecimentos, no plano das abordagens estão, ainda, os condicionantes afetivos de cada agente e as atitudes mantidas por eles. No ensino contemporâneo de línguas, duas grandes reduções de abordagens co-existem: a estrutural-sistêmico-gramatical e a comunicativa- interacional centradas na forma e no sentido em construção da/na língua-alvo, respectivamente (ALMEIDA FILHO, 2018).

A partir dessa definição de abordagem como uma filosofia que direciona o processo de ensinar e aprender línguas e que nos dias atuais ou na contemporaneidade, no processo de Ensino de línguas coexistem duas grandes abordagens, a saber, a gramatical sistêmica estrutural e a comunicativa, interativa, valorizadora da significação do que se lê, escreve e diz.

Buscamos analisar e descrever qual das duas abordagens é empregada no Ensino de Línguas em Guiné-Bissau na amostra de ensino de cinco (5) professores colaboradores descritos no capítulo de metodologia de pesquisa. Procuramos definir se os professores de língua portuguesa L2 na Guiné-Bissau praticam uma abordagem gramatical ou se já enveredam por outra abordagem de base comunicacional segundo nossa definição neste trabalho. Seriam as abordagens dos professores focadas no sentido da língua, proporcionando ao aprendiz da língua o seu uso real e concreto, em diferentes contextos de uso da linguagem, preocupado com a fala ou seriam voltadas à prática e exercitação da forma gramatical da língua alvo?

Discutiremos e aprofundaremos as duas abordagens polares nas duas subseções que se seguem.