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CAPÍTULO 3 – DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2. Natureza da pesquisa

Segundo Mc Donough (1997, p.201), não há fórmula garantidora de uma boa pesquisa, bem como não há necessidade de um só método. O autor argumenta a favor da

conjunção de várias técnicas na coleta de dados, como a forma de garantir a maior plausibilidade na interpretação. Para ele, num estudo de caso como o nosso, por exemplo, sob o paradigma qualitativo, é o emprego de combinações de vários métodos e diferentes técnicas, na investigação de um objeto de estudo que o caracteriza.

Nessa perspectiva, para fins da investigação do trabalho e para responder as questões da pesquisa já formuladas e pelo que nos assegura Mc Donough (1997, p.201), adotamos vários procedimentos ou frentes de coleta de dados que envolvem: observação das aulas, entrevistas gravadas em áudio e breve análise dos materiais empregados no ensino do Português.

Adotamos a pesquisa aplicada qualitativa de cunho etnográfico, centrado num estudo de caso. Conforme Chizzotti (2006,p.28-29), a pesquisa qualitativa deriva da compreensão de que as pessoas constroem no contato com a realidade, consideração às interações humanas e sociais, buscam interpretar o sentido do evento a partir do significado que as pessoas atribuem ao que falam e fazem, levando em conta a liberdade e a vontade humana. Geralmente, a pesquisa qualitativa tem como método a entrevista, observação participante, história da vida, testemunho ofertado, análise do discurso e estudo de caso.

Moura Filho (2000, p.04), ao falar das pesquisas educacionais, apresentou-nos as principais correntes de pesquisa em sala de aulas, assegurando que o método qualitativo tem como foco a natureza, a realidade socialmente construída, a íntima relação entre o pesquisador e o objeto da pesquisa e as restrições circunstanciais que a moldam. O enfoque qualitativo é fenomenológico, indutivo, descritivo, holístico e assume uma realidade dinâmica, aponta (MOURA FILHO, 2000, p. 06).

Método qualitativo na pesquisa educacional é aquele centrado na sala de aula, como metodologia que visa entender o que se passa nas situações de ensino e aprendizagem, por exemplo, nas interações em sala de aulas, requerendo a participação intensiva (prolongada no campo), registro cuidadoso dos acontecimentos, a partir das anotações num caderno de campo e de coleta dos outros tipos de evidência documental, reflexão analítica dos registros feitos no campo e elaboração de relatório detalhado, utilizando material recolhido no local da pesquisa (MOURA FILHO, 2000, p. 07).

Segundo o mesmo autor, as pesquisas realizadas buscam identificar variáveis pedagógicas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem de línguas. As variáveis

podem estar relacionadas ao aprendiz, ao professor, ao contexto, ou de alguma forma podem estar todos relacionados.

Os pressupostos ou a teoria desses dois autores, Chizzotti (2006) e Moura Filho (2000), sobre a pesquisa qualitativa, contemplam os procedimentos ou frentes da coleta de dados por nós adotados, como também contemplam os objetivos desta pesquisa, visto que descrevemos o que observamos na sala de aula, nas situações de ensino e aprendizagem, adotamos reflexão analítica sobre os registros e procuramos, por meio das entrevistas, as demais variáveis envolvidas na questão em estudo, além do observado na sala de aula, com intuito de ter um entendimento integral do problema e descrevê-lo relatando as conclusões, os fatos observados ou apurados.

Justamente por percebermos que, além das abordagens, outras variáveis podem estar relacionadas ao ensino e aprendizagem do português fora de sala de aulas e que podem influenciar negativamente, realizamos as entrevistas a fim de coletar as outras informações que complementam o estudo. Tomamos como instrumento de coleta de dados a entrevista como o método de recolha de informações primárias, pois através dela se ouve alguém que provavelmente fala como testemunha (RODRIGUES, 2007).

Adotamos, também, a pesquisa de cunho etnográfico, pois de acordo com Van Lier (1998,p.53, apud, Turbin, 2016, p. 66), nos últimos anos a etnografia se desenvolveu mais no campo da educação e da LA. Parcialmente, pela insatisfação com resultados positivistas que se apoiam em dados controlados. O autor ainda aponta que a etnografia é orientada por dois princípios, nomeados como êmico e holista. O princípio êmico, que por nós é adotado, pede que o pesquisador abra mão dos paradigmas, modelos já estabelecidos e que focalize na sala de aula, sob o ponto de vista reflexivo e crítico, derivado de significados que os participantes desenvolvem, no contexto social da sala de aulas, através da relação interativa entre outros elementos documentais disponíveis (VAN LIER, 1998, p.56, apud, TURBIN, 2016, p.66).

O cunho etnográfico da pesquisa procurou dar conta da participação no contexto da sala de aulas, pois nisto consiste o objetivo principal, que é observar e descrever as abordagens, a metodologia e os procedimentos metodológicos, incluindo as técnicas e métodos adotados na sala de aula para ensino de Português na Guiné-Bissau. Erickson, (1987) argumenta que, em educação escolar, a principal característica da etnografia é

preocupar-se com todo o contexto social da sala de aula e com o que os participantes pensam sobre o que acontece a respeito do caso em estudo.


O cunho etnográfico está centrado num estudo de caso. Conforme Moura Filho 2005, p.106), o estudo de caso “compreende uma investigação detalhada de um objeto ou fenômeno e de suas relações com o contexto no qual está inserido”. Segundo esse autor, “no caso das pesquisas educacionais, um estudo de caso pode tanto ser simples quanto complexo e envolver um único aluno, uma turma da escola, todas as turmas da escola e, até mesmo, o processo de mobilização da comunidade escolar com vistas à melhoria de processos de ensino-aprendizagem”, ou a opção de ensino de línguas dessa escola.

Todas as informações e registros obtidos na entrevista e nas observações das aulas foram analisados de maneira minuciosa, para apurar as evidências e identificar a qual abordagem de ensino de línguas essas evidências se relacionam. Por isso, julgamos que a pesquisa também é analítica, pois de acordo com Rodrigues (2007, p.29), a pesquisa analítica busca efetuar um estudo meticuloso de cada parte de objeto de estudo com finalidade de melhor conhecer a sua essência, causas, funções e relações. Assim, o pesquisador busca cotejar o assunto em estudo e os demais objetos a ele relacionados.

Uma vez estudado de maneira minuciosa, com base na reflexão analítica, conforme já apontava MOURA FILHO (2000, p.07), percebemos os demais objetos relacionados à pesquisa e agregamos os dados relacionados ao ensino de português na Guiné-Bissau. Esses dados foram descritos, analisados e interpretados e assim chegamos à pesquisa interpretativa que, segundo Moreira e Caleffe (2006 apud PEIXOTO, 2007, p.70), é que tem como finalidade descrever e interpretar as ocorrências ou acontecimentos com intuito de compartilhar as acepções com as pessoas que nos rodeiam no mundo. É o que buscamos realizar neste trabalho com os dados de que dispomos.

Em suma, recorremos a todas essas frentes da pesquisa, a fim de desenvolvermos um estudo coerente, pelo interesse em entender as peculiaridades, as circunstâncias e a realidade do ensino da língua portuguesa em Guiné-Bissau, na atualidade.

Com essa pesquisa, descrevemos o processo de ensino de língua portuguesa no país africano, com o olhar voltado à sala de aulas, por meio da observação das aulas gravadas e com anotações no caderno de campo. Após coleta de dados, fizemos a reflexão analítica sobre esses dados coletados, conduzimos breve análise do material didático empregado nas

aulas, não nos limitando à sala de aulas. Através da entrevista, verificamos outras variáveis conectadas à questão em estudo, aos professores, alunos, diretores e ao contexto, como forma de ter maior proximidade com o problema, explicitando-o e construindo hipóteses. Agregamos dados, interpretamo-los, descrevemos os fatos observados, explicamos as ocorrências e compartilhamos as acepções, utilizando material recolhido no local da pesquisa, conforme já preconizava o método qualitativo na pesquisa educacional, centrada na sala de aulas, visto em Moura Filho (2000, p. 07), citado neste trabalho.