• Nenhum resultado encontrado

2.2 A CONSTRUÇÃO VISUAL DO CARRO ABRE ALAS

3.1.2 A História ilustrada numa alegoria

3.1.2.1 A Torre

Posto isto, falaremos do processo de criação da torre, para identificarmos os elementos expostos na construção que permitiram essa nossa leitura.

A Torre de Belém (figura 22), situada em Lisboa, é um dos monumentos portugueses mais significativos do período das grandes navegações portuguesas. Será este o signo

escolhido pelo carnavalesco para representar Portugal neste período da história. Diniz constrói praticamente uma réplica deste marco para expor e narrar o ponto de partida dos viajantes.

Como já vimos no capítulo anterior, a Torre de Belém já era uma imagem presente em suas pesquisas no período da redação da sinopse. Diniz se apropria do monumento, mas adiciona a ele traços estéticos vindos da linguagem carnavalesca, como o brilho e as cores (figura 39).

Figura 39 – A torre no desfile do Anhembi Fonte: Acervo do próprio autor, 25 fev.2006

Dos primeiros rascunhos para a criação da torre (figura 40) à sua construção (figura 39), foram poucas as modificações feitas pelo carnavalesco.

Há bastante fidelidade na forma da apresentação da torre do CAA com a arquitetura do monumento português. Em alguns casos, o artista procurou manter até mesmo a proporcionalidade com a construção observada (figura 41). O estilo manuelino, com guaritas e gomos nos ângulos da construção, os barbacãs, as frestas e a aparência das pedras da construção, são todos mantidos nos projetos de Diniz.

Para enfatizar a mensagem da torre como representação de Portugal, o carnavalesco agregou alguns signos ao objeto para firmar esta idéia. Na decoração, por exemplo, o uso da cruz de malta e o brasão lusitano foram usados. Para ratificar ainda mais a mensagem no desfile, são agregados, à construção, pessoas de um grupo folclórico português, vestidos a caráter (figura 39).

Figura 40 - Parte do possível primeiro rascunho da torre Fonte: Acervo de Raul Diniz

Figura 41- Registro do CAA onde ele expõe o personagem Dom Henrique em destaque. A torre aqui apresenta uma base maior e acompanha a mesma proporção observada na imagem da Torre de Belém. Este desenho demonstra indícios que poderia ter se transformado em uma arte final, pois o autor o fez sobre papel renaut e à caneta do tipo nanquim.

Outra marca lusitana, exposta na torre, será o destaque. No topo da construção, o figurante destaque representando o nobre Infante Dom Henrique, trajado com um figurino de época, tendo nas mãos uma caravela (figura39).

Esse personagem, considerado fundador da escola de Sagres (apesar de não haver documentos que comprovem este fato), é trazido por Diniz, de forma indireta. No primeiro momento do texto do desenvolvimento, que ele intitula “Navegar é preciso”, escreve: “[ ] Com habilidade e o nascimento da escola de ‘Sagres’, os portugueses se colocaram na frente de outros povos circundando o litoral africano em busca de um caminho para a Ásia, com isso, descobriram esse gigante chamado Brasil.”

Notamos, aqui, como o carnavalesco justifica o sucesso das pioneiras navegações portuguesas e a própria chegada ao Brasil, devido à existência dessa escola de navegação. A figura de Dom Henrique aparece, então, como o herói português, responsável pelo sucesso em conseguir desbravar o Mar Tenebroso.

Na busca por informações precisas, Diniz faz uso de livros que discutam a história não apenas do Brasil, mas também de Portugal. É importante ressaltar que as fontes escolhidas trazem textos repletos de figuras (figura 42).

Figura 42- Os livros com imagens são os escolhidos por Diniz, para a busca de informações Fonte: acervo de Raul Diniz

Como já foi dito, o tema discutido nesse carnaval, por ser histórico, faz com que o autor tendencie a criar um relato que se aproxime dos fatos reais, e as imagens por ele observadas servirão como elo para dar conta de narrar esses eventos.

Em suas pesquisas, o profissional encontra uma obra, de 1960, erigida em Lisboa: o “Monumento aos Descobridores” (figura 43). Ele foi construído com o propósito de comemorar os 500 anos da morte do nobre Dom Henrique (figura 44), tido como um dos impulsionadores dos descobrimentos portugueses.

Figura 43- Monumento aos Descobridores. Estrutura em Figura 44- Dom Henrique forma de caravela com Dom Henrique à frente, em destaque. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/

Fonte : http://flickr.com/photos/danieljove/ 395223984

Padr%C3%A3o_dos_Descobrimentos

acesso em : 07 jun.2007 acesso em : 10 ago.2007

A imagem observada aqui, de Dom Henrique, será desenhada em alguns rascunhos, na tentativa de agregar este fato histórico ao CAA (figura 41 e 45). Assim como no exemplo da criação da torre, Diniz, ao expor o nobre em seus registros, se apropria da imagem observada e o desenha com uma caravela à mão, como visto no monumento.

O herói é exposto nos desenhos com uma altura quase proporcional à torre. Diniz demonstra com isso, a sua preocupação em evidenciar o nobre na alegoria, dada sua relevância para a narrativa. Apesar de a idéia original não ter se concretizado, o personagem não perdeu status no desfile. Um destaque, posicionado sobre a torre e caracterizado com vestimentas da época, mantendo a caravela na mão (figura 39), acabou por personificá-lo.

Figura 45- registros mostram tentativas do carnavalesco em expor o nobre Dom Henrique, da escola de Sagres, como parte do CAA.

Fonte : Acervo de Raul Diniz

Vejamos como Diniz tenta se afastar dos moldes tradicionais, mas retorna e mantém a fidelidade das imagens históricas que toma como referência.

Dom Henrique não será exposto em forma de escultura gigante e sim sobre a torre, em tamanho natural, dramatizado por um ator, conforme já exemplificamos. Para a torre, ele abandona algumas tentativas de modificação da obra, como os arcos, que apareceram no seu processo de criação (figura 29) e manterá as características originais da Torre de Belém (figura 22), com suas linhas retas. Este comportamento do profissional, em relação à fidelidade às imagens que toma como referência, será também estendida à criação da caravela.