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3.2 O PROCESSO DE REAPROVEITAMENTO NA CRIAÇÃO DE DINIZ

3.2.2 Cenas de outros carnavais

Nos esboços elaborados para a construção do CAA, pudemos observar muitos elementos presentes em outros momentos da criação de Raul Diniz. Isto nos mostra que ele construiu um estilo próprio, que se revela por alguns dos elementos que são uma constante em seus trabalhos. Vejamos, então, alguns exemplos que passaram ilustrar estas marcas estilísticas.

Nesse carnaval, Diniz expôs um animal à frente do CAA. Esta característica pôde ser notada em outros carnavais dirigidos por ele, em outras escolas. Na Escola de Samba Gaviões da Fiel, onde ficou por muitos anos e cujo símbolo é um gavião, o carnavalesco constantemente colocava a ave nos CAAs para apresentar a escola (figura 72). As diferenças criadas para mostrar este símbolo surgiam de acordo com o tema enredo de cada ano.

Também nas imagens de desfiles de outras escolas, por onde o carnavalesco passou, notamos a presença de vários tipos de animais nas alegorias criadas por ele que, diferente do caso da Gaviões da Fiel que acabamos de citar, não precisariam, obrigatoriamente inserir essas imagens nos carros.

Em duas fotos de carnavais diferentes, selecionadas do arquivo de fotos de Diniz, podemos observar a apresentação de animais na parte da frente do CAA. Em ambas, a presença dos aspectos mitológicos. Foram alegorias do carnaval de 1999 e 2002, na Escola de Samba Rosas de Ouro. Elas vieram, respectivamente, com um dragão (figura 73), que discutia o tema “A divina comédia de um folião”, com base na obra de Dante Aliguieri e, no outro ano, um mamute (figura 74), como parte da ilustração do enredo “O pão nosso de cada dia”, quando Diniz relatou a relação deste alimento, que veio do trigo, e sua participação na vida dos homens.

Figura 72 - Raul Diniz à frente de um CAA da Escola Gaviões da Fiel Fonte: acervo de Raul Diniz

Figura 73 - Dragão no CAA da escola de Samba Rosas de Ouro, em 1999 Fonte: Acervo de Raul Diniz

Figura 74 - Mamute no CAA da escola de samba Rosas de Ouro, em 2002 Fonte: Acervo de Raul Diniz

Figura 75 - Figura alada exposta no CAA do carnaval de 2007 Fonte: Do próprio autor em 16 fev.2007

Quando o profissional se transferiu para a Escola de Samba X9 Paulistana, no carnaval de 2007, também apresentou um animal à frente do CAA. No caso, uma esfinge, com corpo de leão e cabeça humana, dourado e alado, com o intuito de simbolizar um rico império. O tema, então, discutiu “Força Brasil. O país que surge da tinta delira num carnaval de cores” (figura 75).

Como podemos notar, em relação a esses três últimos exemplos, mesmo com temas que não tenham relação direta com animais, o autor os usa, transformando-os em destaque na alegoria. Podemos trasladar essa situação para esse carnaval da Vai-Vai, em 2006, onde ele escolhe um monstro marinho, com as características também mitológicas, para apresentar a Escola, conforme pudemos relatar.

Ao compararmos o desenho do dragão (figura 76), pensado para o CAA de 2006, com o do carnaval de 1999 (figura 73), observamos uma grande semelhança entre eles. Nos dois casos, os animais foram desenhados com uma carranca e foram concebidos para virem à frente da alegoria.

A caravela criada para o desfile de 2006, aqui analisada, também trouxe informações de outros carnavais já desenvolvidos pelo carnavalesco. No ano 2000, Diniz desenhou um carnaval para uma escola de samba, da cidade de Santos, em que apresentou uma caravela para o CAA (figura 77). A embarcação foi feita nos moldes tradicionais, assim como vistos nas ilustrações de temas históricos.

Figura 76 - Dragões desenvolvidos por Diniz. À esquerda, o de 1999 da Rosas de Ouro, e o da direita, o que representaria o mar tenebroso, do carnaval de 2006.

Fonte: Acervo de Raul Diniz

Muitas semelhanças podem ser notadas entre essas duas caravelas criadas por ele, tais como: o da proa em que tremula uma bandeira; as duas velas com a aplicação da cruz de malta; o aspecto dado ao casco, com tábuas de madeira na horizontal e, em ambas, a apresentação do balaústre. O uso do galo como representação e sua disposição espacial na

caravela de 2000, pode ser comparado com o esboço da embarcação de 2006, em que ele utiliza, à semelhança do galo, um cisne na proa da caravela (figura 29).

Figura 77 - Registro do CAA desenvolvido por Diniz, para uma escola de Santos, em 2000 Fonte: Acervo de Raul Diniz

O tema tratado, no desfile de 2000 em questão, foi “Santos, do sonho ficou a herança”. A agremiação discutia a vinda dos portugueses para Santos, cidade geograficamente geminada a São Vicente. O texto da sinopse daquele carnaval, usado por Diniz para orientar sua criação, não foi escrito por ele. O relato enfatizava os aspectos históricos da região da baixada santista59 e a herança deixada pelos lusos na região.

Naquele ano 2000, devido aos 500 anos do descobrimento do Brasil, o tema estava em evidência. Ocorreram várias comemorações, em todo o território nacional, como eventos, exposições e lançamentos de livros. Diniz, inclusive, tem em sua biblioteca um fascículo

59 Região do litoral do estado de São Paulo. É dado o nome da cidade de Santos para a baixada, pois foi o

editado em comemoração a esta data. Esta mesma referência serviu de fonte bibliográfica para abstrair imagens e elaborar o próprio texto da sinopse do carnaval de 2006, na Vai-Vai.

Essas vivências ocorridas com o carnavalesco no ano 2000 foram relevantes para o processo de criação do carnaval que analisamos nesse estudo. Elementos históricos e a própria caravela estiveram muito presentes em sua experiência profissional e parecem ter sido imprescindíveis para Diniz em 2006, haja vista a cidade de São Vicente, tema do enredo, por ser considerada a primeira Vila foi bastante lembrada nas comemorações dos 500 anos de Descobrimento do Brasil.

É possível, ainda, que muitas outras informações, como as divulgadas pela mídia ou as transmitidas ao carnavalesco, em suas passagens por essa cidade, tenham proporcionado informações as quais não nos foi possível documentar. São Vicente, por exemplo, nos meses de janeiro, para comemorar o seu aniversário, desenvolve uma grande encenação da chegada de Martim Afonso em sua orla. Em 200460, esta apresentação entrou para o livro dos recordes como o maior espetáculo teatral em areia de praia do mundo61.

A encenação revive a fundação da cidade, a chegada da expedição de Martim Afonso desembarcando junto com soldados, marinheiros e padres. Na continuidade, a performance ilustra o contato entre portugueses e indígenas, e a importância de João Ramalho nesta primeira comunicação. É um evento bastante divulgado pela mídia, pois ocorre no período das férias de verão, quando vários turistas visitam a região. Por ser transformado em um grande espetáculo, a presença de artistas famosos da televisão brasileira como protagonistas dos principais personagens da história, sempre é esperada pelo público da região.

Essa encenação e o quadro de Calixto contêm informações bem próximas do que é narrado pela comissão de frente, proposta por Diniz, no carnaval de 2006.

Em 2002, Diniz também tomou como referência um quadro de um artista plástico para ser representada pela comissão de frente. A obra encenada foi a Santa Ceia, de Leonardo da Vinci e apresentava o tema “O pão nosso de cada dia” na Escola de Samba Rosas de Ouro (figura 78).

Para o carnaval da Vai-Vai, em 2006, o carnavalesco foi mais arrojado e, para representar o quadro de Calixto, criou uma interação dos componentes da ala com a estrutura do CAA, mais especificamente com a caravela.

60 Vimos através dos registros, que o carnavalesco iniciou neste mesmo ano as pesquisas em relação a esta

cidade.

Figura 78 – Encenação da obra de Leonardo da Vinci, a “Santa Ceia”, pela Comissão de Frente da Escola de Samba Rosas de Ouro, em 2002.

Fonte: Acervo de Diniz, por Valdemi Silva, em15 fev. 2002

A proximidade de Raul Diniz com as artes plásticas é grande, por ele também ser pintor. Grande admirador da obra de Pablo Picasso, ele assume a influência que recebe deste artista em suas criações. Técnicas mistas e o jogo óptico com cores fortes, com uma tendência ao figurativismo cubista, caracterizam-no como artista plástico.

Nos últimos anos, seus quadros ganharam traços com fortes motivos carnavalescos (figura 79). Colagens de materiais usados no carnaval são aplicadas sobre a tela e geram contrastes de relevo (figura 8 e 80). Os temas dos quadros são recorrentes em seus enredos como arlequins, dominós ou figuras que sugestionam temas carnavalescos, como malandros batucando instrumentos ou casais de mestre-sala e porta-bandeira. As imagens surgem e misturam-se a elementos abstratos e geométricos (figura 81).

As cores e as formas dos quadros dialogam com seus trabalhos nos barracões e são vistos em suas produções para o desfile (figura 82). Podemos ver o passado e as experiências do carnavalesco em plena sintonia com suas criações e suas diferentes manifestações. Estas memórias de Diniz exemplificam o pensamento de Lotman (1996, p.160), quando afirma que “a memória não é para a cultura um depósito passivo, mas que constitui uma parte de seu mecanismo formador de textos”.

Figura 79 - Quadros de Diniz que sugerem temas carnavalescos, expostos no Museu Florestal “Octávio Vecchi”, em São Paulo, em janeiro de 2006 .

Fonte: Acervo de Raul Diniz

Figura 80-Quadros de Diniz, com colagens de materiais, na exposição do Museu Florestal “Octávio Vecchi”, em São Paulo, em janeiro de 2006.

Figura 81- Quadros de Diniz na exposição do Museu Florestal “Octávio Vecchi”, em São Paulo, em janeiro de 2006, com base no figurativismo cubista. O último quadro, pintado em 2005 (abaixo e à direita), tem grande semelhança com a imagem criada pelo artista para ser o símbolo do carnaval de 1998 (figura 10).

Fonte: Acervo de Raul Diniz

No uso ou descarte de informações, de tempos e espaços variados, Diniz faz novas conexões em seu processo criativo. O profissional pratica um exercício de mobilidade na busca das escolhas de sua memória. Salles (2006, p.82) esclarece: “A memória e suas materializações preservam aquilo que interessa ao artista e que, conseqüentemente, poderá servir para as futuras obras”.

Os acabamentos usados nas alegorias desenvolvidas por Diniz carregam particularidades que podem ser vistas em vários momentos de seu processo de criação.

Os frisos , feitos por esse profissional, usados nas decorações dos carros, e que aparecem principalmente nos queijos63, são sempre elaborados com figuras geométricas (figura 83). Ele mantém as cores fortes e o brilho, uma característica que identifica a plástica usada no carnaval. Para decorar e fazer o acabamento, Diniz usa aviamentos com brilho, que contornam cada uma das formas ali apresentadas.

Figura 82 – À esquerda, painel produzido em um carro alegórico, com a colaboração de sua equipe, no barracão da X9, no carnaval de 2007. À direita, no mesmo ano, também no barracão da Escola, o carnavalesco desenvolve painel para ser exposto na Europa, com materiais usados nas alegorias.

Fonte : Do próprio autor em jan.2007

Figura 83- Figuras geométricas usadas nos frisos dos queijos. A do CAA de 2006 (esquerda); no centro, friso do carro da Ponte Pênsil, usado também no mesmo carnaval e, em vermelho, um dos frisos usados em alegoria do carnaval 2007, na X9.

Fonte: Do próprio autor

62 Tiras decoradas que enfeitam os queijos e a lateral da alegoria.

63 Local onde ficam as composições/destaques das alegorias. Normalmente são redondos e ficam suspensos, na

Figura 84 – As gravatas usadas nestas fantasias da Gaviões da Fiel, no carnaval de 95, com figuras geométricas, semelhantes aos frisos usados na decoração dos queijos das alegorias.

Fonte: Acervo de Raul Diniz

Figura 85 – Alegoria da Gaviões da Fiel de 1994, desenvolvida por Diniz. Aqui notamos que o profissional já usava os frisos que decoram os queijos do carro.Também podemos verificar bastante semelhança das figuras animalescas desta alegoria, com os dragões feitos por ele nas tentativas de desenvolver o monstro marinho do CAA de 2006.

Pudemos ver, nas fotos do acervo de Diniz, que o carnavalesco usou como acessório de figurinos de uma comissão de frente peças bastante semelhantes aos frisos aqui ilustrados (figura 84). A similaridade no modo como são confeccionadas essas faixas, com figuras geométricas e normalmente com uso de formas curvas, são características notadas nos acabamentos de outros carnavais (figura 85), antes do de 2006, como também são mostras encontradas nos seus quadros, como artista plástico.

Notamos técnicas ou uso de determinados aviamentos nos acabamentos das alegorias, como brocais e cordões, que ganham a preferência do carnavalesco e são mantidos de um carnaval para outro. São, geralmente, opções por materiais que tenham brilho, pois este recurso possibilita esconder as falhas no acabamento da decoração. Diniz tem grande preocupação com a estética de seus trabalhos (figuras 86, 87 e 88). Como já dissemos, antes de ser carnavalesco, ele atuou muitos anos como publicitário, e como tal, descobriu que os detalhes e um bom aspecto visual são fundamentais para um bom profissional desta área. Logo, o cuidado apresentado por ele, em relação aos detalhes na decoração dos carros, é uma marca que vai além da preocupação de ser bem avaliado pelos jurados. São escolhas em seu procedimento que revelam, também, alguns aspectos notáveis da sua trajetória profissional.

Figura 86 - Detalhes do acabamento dos frisos: são todos contornados com fitas ou cordões e, preferencialmente, que tenham brilho. À esquerda, friso do CAA de 2006. À direita, frisos expostos no barracão da X9 (2006) para serem visualizados pela equipe e produzidos por eles.

Figura 87- Diniz se atém aos detalhes, e o acabamento se torna fundamental. À esquerda, uma flor fixada no queijo do CAA de 2006 para dar acabamento na ferragem. À direita, o segundo carro do carnaval de 2007, na X9, onde ele aplica também uma flor para dar acabamento ao friso que decora a alegoria.

Fonte: Do próprio autor

Figura 88 - Decoração do degrau do CAA aqui estudado (à esquerda) e, em vermelho, a dos degraus da lateral do CAA de 2007. Uso da geometria e o cuidado com os detalhes no acabamento.

Fonte: Do próprio autor

Diniz tem o hábito de ensinar aos aderecistas alguns procedimentos necessários para decoração dos carros, de acordo com as suas experiências de carnavais anteriores. Além de o profissional orientar como fazer os frisos (figura 89), também ensina como aplicar papéis autocolantes, na cor prata65, sobre a ferragem (figura 91) e, também, transmite a técnica do corte de tecidos ou materiais sintéticos (figura 90) para serem transformados em uma cortina de cachos para decorarem os queijos (figura 92). Estes conhecimentos e técnicas foram usados no carnaval de 2006 e repetidos em 2007, na escola X9 Paulistana.

Figura 89 – Diniz, na década de 1990, orienta aderecista como montar um friso. Em outubro de 2006, a cena se repete.

Fonte: Primeira imagem, acervo de Raul Diniz; a segunda, do próprio autor.

Figura 90 –Aderecista da X9, aprende a cortar as tiras para montar a cortina de cachos para decorar as alegorias. Fonte: Do próprio autor, em 19 dez.2006

64 Pessoas responsáveis pela decoração das alegorias

65 As ferragens já são pintadas em prata, mas o carnavalesco aplica o colante para dar acabamento e mais brilho

Figura 91 – Queijo e ferragens do CAA de 2006 com acabamento em papel colante prata. Ao lado, ferragem do terceiro carro do carnaval de 2007, com o mesmo acabamento.

Fonte: Do próprio autor

Figura 92- À esquerda, o carnavalesco orienta aderecista na montagem da cortina de cachos para decorar o CAA da Vai-Vai. À direita, a segunda alegoria do carnaval de 2007, da X9, decorado com a mesma técnica usada no CAA do carnaval anterior.

Fonte: do próprio autor

Notamos, no processo de criação de Diniz, uma continuidade no uso das informações. São vários elementos que ele recolhe de múltiplos momentos de sua experiência de vida e que

podem ser reconhecidos no seu trabalho (figura 93). Isso configura o que afirma Fayga (1977, 74-75):

a criação deriva de uma atitude básica da pessoa. Não se trata de momentos singulares, ‘momentos de inspiração’[...] O indivíduo não precisa ‘buscar inspirações’. Ele se apóia em sua capacidade de intuir nas profundezas de concentração em que elabora seu trabalho [...] Será ele, dentro de sua seletividade, a discriminar o caminho, os avanços e os recuos, as opções e as decisões que o levarão a seu destino.

Sua orientação interior existe, mas o indivíduo não a conhece. Ela só lhe é revelada ao longo do caminho, através do caminho que é o seu [...] [o caminho] Engloba, antes, uma série de experimentações e de vivências onde tudo se mistura e se integra [...] jamais seu caminhar será aleatório. Cada um parte de dados reais.

3.3 - OS SELOS – UM DIFERENCIAL NA CRIAÇÃO DE RAUL

DINIZ

Desde o final da década de 1980, Diniz inovou no carnaval de São Paulo, ao criar selos de identificação, com desenhos e dizeres específicos, relacionados a cada tema de enredo que ele desenvolve. Em alguns casos, ele também incorpora ao “logo” o seu nome marca com o seu nome e o da agremiação de que faz parte.

O objetivo desses selos é identificar os trabalhos produzidos por ele, como uma assinatura, e aparecem nos desenhos das alegorias e das fantasias. Esta é uma característica própria de Diniz, um procedimento, segundo relatos, bastante valorizado, visto como um diferencial pelas pessoas do ambiente carnavalesco. A aplicação do selo nos desenhos, de modo geral, identifica uma etapa encerrada de sua criação. As artes finais de Diniz mostram a cor, o traço feito em nanquim, a margem no contorno do desenho e o selo.

Como vimos, o profissional, para o CAA da Vai-Vai, em 2006, desenvolveu três desenhos com tais características, os quais nomeamos como artes finais. As três tentativas demonstram a sua insatisfação em relação às duas primeiras.

Figura 93 – Semelhanças de elementos e formas usados por Diniz em diferentes momentos. Acima, o CAA da Gaviões da Fiel, de 1994. Abaixo, a parte de cima de um sol, sendo transportado, para ser montado no CAA da X9, no carnaval de 2007.

Os selos são assim apresentados: com um texto, para indicar o assunto tratado na imagem do desenho, onde ele é fixado. Ao analisarmos esses textos, podemos compreender parte da busca de Diniz e o que ele pretendia ilustrar no Carro 1, o CAA.

O carnavalesco desenvolveu duas versões para os selos que acompanharam as três artes finais do CAA. O primeiro ilustrou a primeira arte final e foi substituído pelo segundo, para ser aplicado nas duas últimas artes.

O primeiro selo (figura 93) trazia o dizer: “Torre de Belém, o ponto de partida das caravelas portuguesas”. O desenho, onde ele foi afixado (figura 29), mostrava uma caravela, com o cisne integrado a ela, o caranguejo e a torre. A construção portuguesa se apresentava com algumas modificações, em relação ao monumento luso original.

O texto do segundo selo (figura 93), aplicado na segunda (figura 46) e terceira e última arte final do CAA (figura 20), dizia: ”Navegar é preciso. Enfrentar os monstros e mitos desse mar tenebroso, com isso, Portugal descobriu esse gigante chamado Brasil”.

Figura 93 – Os dois selos, primeiro e segundo respectivamente, desenvolvidos para aplicar nos desenhos do CAA

Esse segundo selo foi fixado no desenho, em que a caravela aparecia de forma estilizada e com traços retos. As características plásticas, com formas em linhas retas, que se aproximam mais da arte moderna, não são normalmente encontradas nos traços de Diniz, em que prevalecem os curvos.

No segundo selo, Diniz expõe em palavras a questão do mar tenebroso e dos mitos. O desenho da segunda arte, com a caravela feita com traços retos, que segue a plástica do moderno, transmite uma sensação de afastamento e endurecimento à embarcação, e a forma que o carnavalesco pretendia, seria uma caravela que se envolveria nas marés e pudesse enfrentar um mar bravio e tenebroso.

Um oceano com ondas redondas e volumosas, assim como ele expôs no terceiro desenho, se tornou mais compatível com a idéia de um mar tenebroso, e o formato de uma caravela tradicional, com suas formas curvas, estaria mais apto a enfrentá-lo. Como citamos no primeiro capítulo, as características do barroco, bastante apresentadas no carnaval, com