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A tríade — Responsabilidade Social, Pregação e Educação — no segundo momento

— como paradigma missionário na formação do metodismo

brasileiro

Somente quando se observa a missão da Igreja situada dentro da missão de Deus é que podemos afirmar que compreendemos a missio Dei. A ênfase principal que se pretende dar sobre a responsabilidade missionária no contexto da implantação do metodismo brasileiro, no final do século XIX, é repleta de tensões e ambiguidades. Os grupos protestantes, sejam da Europa ou dos Estados Unidos, não davam conta das dimensões políticas, sociais e econômicas para a implantação dos projetos missionários na América Latina. E, como consequência dessas ambiguidades e percepção, “esses líderes resistiram em investir importantes recursos financeiros e humanos para a evangelização protestante desse continente”.98

É no contexto da primeira conferência missionária ecumênica de Edimburgo, em 1910, que haverá uma reação dos missionários, em especial os norte- americanos, que atuam na América Latina. “A conferência de Edimburgo chocou-se com a mentalidade missionária desenvolvida durante o século XIX, que incluía os povos católicos entre os pagãos”.99 Para dirimir esse conflito, as decisões de

Edimburgo serão discutidas em congresso próprio para os missionários que atuam na América Latina, no Panamá, em 1916. E as missões norte-americanas que tinham seus missionários na América Latina ratificarão o projeto norte-americano em confronto com Edimburgo. Robert Speer fará a defesa da presença protestante na América Latina com o seguinte argumento:

97 RENDERS, Helmut. Andar como Cristo andou: a salvação social em John Wesley. São Bernardo do Campo:

Editeo, 2010, p. 303.

98 PIEDRA, Evangelização protestante na América Latina.

A Igreja Católica não fora capaz de garantir a educação e a moralidade do subcontinente; não dera a Bíblia ao povo na sua própria língua; não formara um clero idôneo, intelectual ou eticamente; pregara um evangelho deformado e não tinha recursos para evangelizar toda a América Latina.100

Essa atitude, entre outras, sinalizará um projeto missionário com fortes resistências ecumênicas. O protestantismo brasileiro será herdeiro deste ranço anticatólico e, mesmo após um século de Edimburgo, com todas as análises e contribuições de pesquisadores, a dimensão da ecumenicidade da Igreja ainda representa um espaço de tensão.

José Míguez Bonino discute algumas limitações historiográficas do Congresso Evangélico do Panamá. Primeiramente, “trata-se preponderantemente de um congresso ‘missionário’: neste sentido, serve para delinear a concepção e estratégia da empresa missionária”101; em segundo lugar, tem a ver com a limitação que

acompanha a nossa tese do compromisso com a responsabilidade social dentro do pensamento liberal, pois, segundo Míguez Bonino,

Trata-se de um congresso realizado sob a hegemonia das denominações históricas ‘liberais’ (utilizo este termo aqui em sua acepção norte-americana de ‘progressista’ ou ‘avançado’), influenciadas em diversos graus pela teologia liberal e do evangelho social dos Estados Unidos: metodistas, presbiterianos, discípulos de Cristo, Convenção Batista Americana (do norte dos Estados Unidos) e, mais ainda, pelos setores missionários ‘liberais’ dessas denominações.102

Esta tensão revela que, na realidade, não foi diferente no movimento missionário metodista, desde a sua gênese inglesa e sua movimentação para outros continentes, em especial, para a América do Norte. Pois a visão de mundo de John Wesley, segundo Theodore W. Jennings Jr., é “uma cosmovisão profética”103, o que

significa entender o mundo como espaço de missão de Deus, valorizar a dimensão comunitária da salvação e considerar a experiência pessoal como parte de um todo e não experiência isolada.

100

Ibidem, p. 31-32.

101

MÍGUEZ BONINO, José. Rostos do protestantismo latino-americano. São Leopoldo: Sinodal, 2003, p. 13.

102 MÍGUEZ BONINO, Rostos do protestantismo latino-americano.

O objetivo central desta pesquisa é analisar as razões da tríade —

Responsabilidade Social, Pregação e Educação — no desenvolvimento missionário no metodismo brasileiro. A não ecumenicidade nas igrejas de missão face às dificuldades de relacionamentos com o catolicismo romano no período de implantação não se justifica para o metodismo. Segundo Souza,

No caso particular dos metodistas e demais herdeiros do legado wesleyano, negar a ecumenicidade da Igreja não é apenas rejeitar um traço de sua identidade confessional, mas é renunciar ao seu propósito histórico, a sua razão de ser.104

Diante do desafio para compreender as motivações missionárias que estabeleceram o metodismo brasileiro se encontra a análise de Arturo Piedra sobre o início da evangelização na América Latina. Em sua pesquisa, Piedra identifica que “a história das relações entre católicos e protestantes caracterizou-se pela confrontação”.105 Essa constatação no mundo latino-americano não é diferente no

Brasil, uma vez que no metodismo nascente a conversão do ex-padre Antonio Teixeira Albuquerque foi utilizada como estratégia evangelizadora. Segundo José Carlos Barbosa, o ex-padre, poucos dias após sua recepção na Igreja Metodista do Catete, já fazia suas pregações. Que segundo Barbosa,

Contribuiu decisivamente para dar mais visibilidade ao movimento metodista, foi a palestra pública que passou a dirigir nas noites de quarta-feira, abordando temas polêmicos e ‘perigosamente inflamáveis’, tais como purgatório, adoração de imagens, autoridade da Bíblia, etc106.

Tendo a dimensão da tríade — Responsabilidade Social, Pregação e

Educação — é importante assinalar, no contexto da ecumenicidade, no projeto missionário metodista, que se, por um lado, um ex-padre ao ser recebido na Igreja Metodista já recebe as credencias para ensinar e pregar, por outro, o seu conhecimento sobre o maior “concorrente” religioso, a saber, a Igreja Católica, será atacado por um ex-militante. Portanto, está na gênese metodista brasileira, assim como em toda a América Latina, uma disputa pelo campo religioso. Desta forma, a

104 SOUZA, José Carlos de. Leiga, ministerial e ecumênica: a Igreja no pensamento de John Wesley. São

Bernardo do Campo: Editeo, 2009, p. 222.

105 PIEDRA, Evangelização protestante na América Latina, p. 20.

presente investigação se torna necessária para compreender como o metodismo brasileiro se portará em relação à tríade — Responsabilidade Social, Pregação e

Educação.

3.1 Paradigmas missionários do protestantismo de missão na

implantação do metodismo brasileiro e suas mutações

O movimento missionário no século XIX deixou um legado significativo na reflexão teológica sobre o tema da missão. Como primeiro momento, destaca-se a articulação, em especial leiga, para a formatação de um projeto de cooperação missionária que se concretiza na primeira Conferência Mundial Missionária, realizada em Edimburgo (1910), que pode ser considerada “o ponto de partida do movimento ecumênico em todas as suas formas”.107 O elemento motivador, ou a

ênfase no movimento ecumênico, articulado por leigos, em especial no movimento estudantil, está ligado às preocupações sociais. Conforme discorre Mendonça:

É possível que as raízes mais robustas do movimento ecumênico tenham sido as associações leigas mundiais de jovens, que começaram a surgir a partir da segunda metade do século XIX. Talvez os leigos e jovens não estivessem tão picados pelas animosidades teológicas e pelo orgulho denominacional e, assim, suas organizações puderam ter vida longa e prestar grande serviço ao ecumenismo, principalmente no preparo dos seus futuros líderes108.

A observação de Mendonça corrobora a tese das discussões sociais da época e do compromisso com a solidariedade e Responsabilidade Social, pois na linha do tempo do movimento ecumênico se encontra o objetivo principal do “Conselho Internacional Missionário ‘para promover a solidariedade dos cristãos em escala mundial e a unidade de intenções e de ação na obra de evangelização’”.109

107

NEILL, Stephen. História das missões. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1989, p. 566.

108

MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O movimento ecumênico no século XX - algumas observações sobre suas origens e contradições. Tempo e Presença Digital, ano 3, n. 12. Disponível em: <http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=236&cod_boletim=13&tipo=Artigo>. Acesso em: 02 mar. 2010.

109

Extratos da Constituição do CMI. In: BOYER, C.; BELLUCCI, D. (Org.). Unità cristiana e movimento

ecumenico, p. 86-89, doc. 18 apud VERCRUYSSE, Jos. Introdução à teologia ecumênica. São Paulo: Loyola,

No segundo momento se destaca o Congresso Evangélico do Panamá (1916), que delineou a proposta missionária para a América Latina. Em outras palavras, “o congresso significou o começo de um esforço consciente para estender seu trabalho ao longo do continente latino-americano, como nunca antes tinha sido feito”.110

A reflexão historiográfica desse evento, já analisada por Míguez Bonino, será ampliada nas pesquisas de Lauri Emilio Wirth, quando este discute os processos evangelizadores na perspectiva do imaginário eurocêntrico e as culturas locais. Wirth entende que as ações missionárias desenvolvidas pelo protestantismo de missão nos séculos XIX e XX não se diferem daquelas utilizadas pelo catolicismo romano nos séculos XVI e XVII, pois ambas “trazem no seu bojo a idéia de uma hierarquia interna”111 — o que configurará um processo colonizador e civilizatório hegemônico.

Por isso, Wirth entende que:

O Congresso Evangélico do Panamá foi uma espécie de saída pragmática para solucionar os impasses criados nos bastidores da Conferência Missionária de Edimburgo a respeito do continente latino-americano, enquanto campo de missão protestante.112

O terceiro momento desta jornada ecumênica que se pretende destacar nesta pesquisa trata dos desdobramentos da Conferência Missionária Mundial de Edimburgo (1910) que, em 1925, desemboca, em Estocolmo, no movimento Vida e

Obra. Este tinha por objetivo a unidade dos cristãos por meio da ação social. As

influências do movimento Vida e Obra podem ser interpretadas à luz das expressões teológicas, “como a do Evangelho Social nos Estados Unidos na passagem do século XIX para o século XX”.113 Outro movimento a ser considerado nesse período

é denominado Fé e Constituição (Lausanne 1927), o qual enfatizava a doutrina comum e a ordem eclesial como pressupostos da unidade cristã:

110

PIEDRA, Evangelização protestante na América Latina, p. 159.

111

WIRTH, Lauri Emilio. Protestantismos latino-americanos: entre o imaginário eurocêntrico e as culturas locais.

Revista Estudos de Religião, ano XXII, n. 34, p. 105, jan./jun. 2008.

112

PIEDRA, Evangelização protestante na América Latina, p. 122.

113

CUNHA, Magali do Nascimento. Quando a vida supera as fronteiras. Revista Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 12, n. 19, p. 121, jan./jun. 2007.

O reconhecimento de que Vida e Obra não podem existir sem Fé e Constituição e que, em conjunto devem se dedicar ao reino de Deus levou à decisão de se conjugar as duas organizações numa só: o Conselho Mundial de Igrejas teria sua primeira assembléia em 1941. A Segunda Guerra Mundial, porém, impediu a concretização desse plano. [...] Em 1948, sob o tema As desordens do ser humano e o desígnio de Deus, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) esteve convicto de que os desastres da Segunda Guerra Mundial se deviam, em boa medida, ao silêncio das igrejas em relação aos acontecimentos mundiais.114

Depois desses eventos de nível mundial, em setembro de 1978 as igrejas e os movimentos evangélicos da América Latina lançaram os princípios fundantes para a organização do Conselho Latino-Americano de Igrejas e, em novembro de 1982, na cidade de Huampani (Peru), o CLAI foi constituído oficialmente. Esse movimento ecumênico latino-americano influência a Igreja Metodista no território brasileiro e, em 1982, o XIIº Concílio Geral da Igreja Metodista, realizado na cidade de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, aprova o documento norteador para o seu projeto missionário. Tal documento se torna conhecido como “Vida e

Missão”115 Este, em primeira instância, sinalizará uma nova esperança para a Igreja

e será um documento normatizador ao ser incorporado aos Cânones da Igreja Metodista. Servirá para dirimir a vida ministerial dos metodistas e, concomitantemente, inserirá oficialmente a Igreja Metodista nas relações ecumênicas. É nesse mesmo concílio que se aprova, dentro do espírito do “Vida e Missão”, a participação oficial da Igreja no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs

(CONIC). No campo missionário, a tese fundante das igrejas membros do CONIC se resume nas afirmações:

Cristo é o libertador do homem do pecado e de todas as suas conseqüências. A Igreja, serva do mundo, continua no tempo a missão de Cristo. Sua ação no campo social consiste na evangelização libertadora, esperança para os homens no desespero, que caracteriza o tempo presente. Procura, com sua pobreza, a promoção do próprio homem na transformação do mundo e de si

114

DREHER, Martin Norberto. A igreja latino-americana no contexto mundial. São Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 195.

115

Cf. CÉSAR, Ely Eser Barreto. Por que o Plano para a Vida e Missão falou? Revista Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 12, n. 20, p. 58, jul./dez. 2007. O Plano Vida e Missão foi acolhido, em seu tempo, pelas lideranças de um corpo eclesial em profunda crise como uma resposta promissora.

mesmo, em benefício do homem todo e de todos os homens, numa dimensão comunitária.116

Não se podem ocultar, nesta pesquisa, as tensões que o “Vida e Missão”

gerou em alguns setores da Igreja Metodista. Diante das reações dos referidos setores, por questões políticas a publicação do texto para a Igreja ficou parada por um tempo. Sua primeira publicação se dará por iniciativa de uma instituição de ensino, o Instituto Educacional Piracicabano / Universidade Metodista de Piracicaba (IEP/UNIMEP), que obviamente tinha interesse em que o documento fosse conhecido e fortalecido na Igreja Metodista. O livro celebrativo dos vinte anos de implantação do “Vida e Missão”117 denuncia alguns equívocos da trajetória do plano,

tais como:

A prática da Igreja Metodista vinte anos depois parece estar negando o que ela mesma assumiu no “Vida e Missão”: contraditoriamente hoje fala-se de e promovem-se “missões”. Por que missões? Diz o “Vida e Missão” que a missão é de Deus e é uma só: estabelecer o Reino de Deus. O termo plural –“missões”- reforça um sentido negativo de que a missão é da Igreja e por isso pode ser realizada de diferentes formas e lugares longínquos. Trata-se de uma outra teologia e uma outra pastoral.118

Portanto, a pesquisa deseja focar a Responsabilidade Social como parte integrante da missão e percebe-se que uma das falhas do plano está na retomada do “caminho que separa a evangelização da ação social; ou seja, a ação social fica praticada como estratégia para atrair pessoas a Cristo”.119 A crítica de Ely Eser

Barreto César revela bem as tensões que a igreja enfrentou ao assumir uma nova dimensão da missão, em especial na sua tarefa solidária para com os pobres e na transformação da realidade social.

Essa resistência na mudança paradigmática por parte de boa parte do corpo clérigo e de alguns segmentos leigos também se dá por causa da proposta

116 Do relatório do encontro apud HORTAL, Jesus. “CESE”. In: Guia ecumênico: informações, normas e diretrizes

sobre ecumenismo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2003 (Estudos da CNBB, 21), p. 82s.

117

RIBEIRO, Claudio de Oliveira; LOPES, Nicanor. 20 anos depois: a vida e a missão da Igreja em foco. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.

118

CUNHA, Magali do Nascimento. Tempo de nostalgia ou de recriar utopias? Um olhar sobre os anos de 1980 vinte anos depois. In: Ibidem, p. 43.

ecumênica do “Vida e Missão” e da participação da Igreja Metodista nos organismos

ecumênicos. Sustenta-se aqui que isso ocorre em meio às igrejas de missão, em especial aquelas que iniciaram seus projetos missionários no Brasil no final do século XIX e sofreram perseguição católica romana. O contexto histórico religioso desse período se dá pela influência dos resultados do Concílio Ecumênico de dezembro de 1869, convocado por Pio IX. Esse Concílio, em que se pese a denominação ecumênica, é exclusivo para a Igreja Romana; seu caráter “ecumênico” objetivava a unidade e catolicidade do romanismo no mundo, uma vez que, por traz dos conflitos entre os latinos e os anglo-saxônicos, estava em disputa a hegemonia da Igreja Romana. Segundo Mendonça:

De modo geral, o Concílio preocupou os governos liberais por causa de questões como pretensões medievais da Igreja quanto ao governo civil, casamento civil, ensino leigo, liberdades constitucionais e o impacto antiprogressista do Silabo. O principio da autoridade papal também não deixou de preocupar os bispos liberais quanto às suas prerrogativas.120

O movimento missionário protestante na América Latina, e por isso, no Brasil, não seria diferente. É carregado de ambiguidades. Se, por um lado, a expansão religiosa se dá pela motivação da experiência da fé, por outro, não é possível negar os interesses de Estado, com o desejo de expansão de domínio político e econômico dos Estados Unidos. E, com isso pode-se aferir que a implantação das igrejas denominadas de missão no Brasil é beneficiada por um governo liberal que, segundo Maria Lúcia Spedo Hilsdorf, justifica-se com um formato de governo republicano.

O novo governo que se organiza tem, então, traços do liberalismo moderado. De outro lado, o quadro mental da geração que fez a Independência, de matriz ilustrada e regalista, tem também traços liberais e filantrópicos devidos à predominância britânica sobre toda a região dos “libertadores” americanos.121

Portanto, a mentalidade republicana que se inicia no campo político brasileiro é composta de um forte acento nas ações filantrópicas e facilitar “a abertura para o

120

MENDONÇA; VELASQUES FILHO, Introdução ao protestantismo no Brasil, p. 69.

121

Cf. HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. História da educação brasileira: histórias. São Paulo: Thompson, 2003, p. 43.

mundo anglo-saxão significou a abertura para o universo protestante”.122 Tal

comportamento afetará as relações com o mundo católico romano, que até então era a religião da Coroa. Daí a suspeita de que igrejas com esta herança histórica têm suas dificuldades para compreender projetos missionários.

3.2 A Responsabilidade Social como elemento de inclusão social na

implantação do metodismo brasileiro

A primeira expedição missionária metodista com destino ao continente sul- americano foi a de Fountain E. Pitts, pastor metodista norte-americano, que no dia “28 de junho de 1835 embarca em Baltimore nos Estados Unidos rumo ao Brasil. Pitts desembarcou no porto do Rio de Janeiro em 19 de agosto de 1835”.123 É

possível verificar na missão de Pitts o interesse norte-americano da Doutrina

Monroe, pois ao desembarcar no Rio de Janeiro o mesmo era portador de cartas

de recomendação de pessoas influentes dos Estados Unidos como, por exemplo, “Andrew Jackson, Presidente da República, e de Henry Clay, presidente do Senado Norte Americano.124

O trabalho metodista iniciado por Pitts terá sequência com a chegada de Justin Spaulding. Seu envio ao Brasil acontece graças ao apelo de Pitts, que escreve para a Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal:

Estou nesta cidade (Rio de Janeiro) há duas semanas, e lamento que minha permanência seja necessariamente breve. Creio que uma porta oportuna para a pregação do Evangelho está aberta neste vasto império. Os privilégios religiosos permitidos pelo governo do Brasil são muito mais tolerantes do que eu esperava achar em um país católico (...). Já realizei diversas reuniões e preguei oito vezes em diferentes residências onde fui respeitosamente convidado e bondosamente recebido pelo bom povo.125

122

MENDONÇA, O movimento ecumênico no século XX, p. 73.

123 KENNEDY, L. James. Cincoenta annos de methodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928, p.

13.

124 BARBOSA, Salvar & educar, p. 12.

Apesar da permanência de Pitts no Brasil ter sido breve, suas ações foram eficazes. Com a chegada de Spaulding, em 29 de abril de 1836126, a tríade missiológica — Responsabilidade Social, Pregação e Educação — fica evidente. Já em maio ele organiza a primeira Escola Dominical Metodista no Brasil, bem como o projeto da abertura de uma escola que, segundo Barbosa, não era sua iniciativa, mas “alguns amigos recomendaram e até pediram que abrisse uma escola, alegando que faltava na cidade uma escola de qualidade”.127 — certamente

envolvidos pelo espírito metodista norte-americano nas questões da Responsabilidade Social:

Animados pelas idéias filantrópicas nascidas no movimento metodista, da revolução norte americana e da revolução francesa. No decorrer da primeira metade do século XIX, assistimos à abertura de bibliotecas públicas nas principais cidades da Europa e Estados Unidos.128

A dimensão da Responsabilidade Social, neste primeiro período missionário metodista, será verificada no trabalho que Spaulding desenvolve com os marinheiros. Ele será “o primeiro a assumir o trabalho de capelão dos marinheiros”129, conforme comentário de Kennedy:

Houve, também, reuniões de oração regularmente; e todos os domingos, com seus ajudantes, ele pregava em algum navio aos milhares de marinheiros que constantemente entravam na baía do

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