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De qualquer forma, as autoridades brasileiras pareciam convergir com as americanas. Do Palácio do Catete, o general Caiado de Castro, chefe da Casa Militar da Presidência da República, confirmava aos jornalistas que o tema era de

55 O governo britânico há pouco (outubro de 2008) liberou informações oficiais sobre os OVNI’s. Por que ele agiu dessa forma, logo diante de uma crise econômica que parece estar apenas no início?

suma importância. Já Pedro Costa Leite, coronel daquela instituição, categoricamente afirmava: “Eu acredito no disco”. Depois que o general Ciro do Espírito Santo Cardoso, ministro da Guerra, relatava não duvidar mais da “indiscutível (...) existência dos discos” e que naquele momento o assunto estaria sob as atribuições do general Góis Monteiro (Diário de Notícias, 11/05/1952: 24), a existência do fenômeno, ao menos para a sociedade traduzia-se em verdade.

A imprensa brasileira corroborava definitivamente ao imaginário acerca dos OVNI’s, enquanto os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) jogavam maquetes de discos voadores de madeira para o céu da Barra da Tijuca no sentido de se provar a fraude de O Cruzeiro. Os periódicos pertencentes a Chateaubriand opinavam sobre a queda de um avião da Companhia Pan American Airways: o “ ‘Presidente’ (...) chocou-se com um disco voador” (Diário de Notícias, 17/05/1952: 12). O laudo dos especialistas havia identificado que os motores paralizaram-se, e isso era suficiente para que os jornalistas produzissem os boatos, alimentando a crença de que os discos teriam provocado o acidente. A demanda por notícias referentes ao fenômeno fez com que O Cruzeiro traduzisse a obra do major reformado Donald E. Keyhoe, Os Discos Voadores Existem. De 07 de junho até 30 de agosto, os editores da revista publicaram o livro de Keyhoe, dividindo-o em 40 capítulos, sendo alguns deles ilustrados por artistas provavelmente contratados pelo próprio semanário. E as imagens visuais confirmavam o mito.

No início dos anos 1950, os governos preocupavam-se em censurar qualquer assunto referente ao comunismo, tudo de acordo com os valores maniqueístas do senador americano Joseph McCarthy. Mas já os temas relacionados a OVNI’S tinham total liberdade de serem veiculados pela imprensa. Em 1947, o Incidente em Roswell causou um grande constrangimento no governo Truman – muito provavelmente devido ao Projeto Mogul – e que provocou, conforme os especialistas no tema, um profundo embargo nas informações. Por que, em 1952, ocorria o contrário? O que levou Truman a incentivar o esclarecimento sobre o fenômeno, através de uma pesquisa oficial especialmente criada para aquilo, o Project Blue Book, ao qual rerá destacado logo a seguir?

E as visões de objetos luminosos voadores multiplicaram-se. Não era para menos, pois até mesmo os cientistas famosos corroboravam com que as sociedades criassem mais e mais imagens acerca do que seriam as Luzes no Céu. Um daqueles foi o professor Paul Becquerel, pois o mesmo estava convencido da vida em Marte. Segundo a sua opinião, já que Marte aproximava-se da Terra naquele momento, bem que os discos voadores podiam ser daquele planeta e que os marcianos

Figura 7 - “ Os Discos Voadores Existem”

podiam estar pilotando-os. Conforme o seu imaginário científico, Becquerel acreditava que em Marte havia não somente uma atmosfera, com um “clima (...) não (...) mais frio do que a Sibéria ou Antártida, mas [também] cidades. (...) De minha parte posso dizer” que em 30 dias será determinado “se há homens no planeta Marte” (Diário de Notícias, 14/05/1952: 01).

Enquanto os 30 dias de Becquerel eram aguardados, do Rio de Janeiro, às 20h08 de 29 de maio, o Diário de Notícias noticiava que a Torre de Comando de Vôos do aeroporto Santos Dumont, enviava uma mensagem via-rádio a um avião da companhia aérea Varig: “Atenção, VBN! Queira informar se avista na altura de Niterói um globo de grande luminosidade”.

O comandante daquele vôo, Fenucio Carbone, respondeu que o “descomunal globo está bem à frente e pouco acima” de seu VBN enquanto voava sobre a Pedra da Gávea. A partir dali, Carbone minuciosamente comunicava à Torre as evoluções da estranha esfera que “irradiava ofuscante luz vermelha, da cor do por do sol”. O comandante, então, aproximou-se do objeto, cuja luminosidade descrevia “(...) espirais ascendentes e descendentes, ora subindo perpendicularmente, ora parando no espaço como se não estivesse sujeito” as leis gravitacionais, e baixou seu aparelho cerca de mil e quatrocentos metros. Fenucio afirmava aos controladores do Santos Dumont que a luz assemelhava-se em estrutura, a um Douglas DC-3 dos EUA. Por volta das 20h16 o globo de luz, inesperadamente, traçou uma circunferência iluminada em torno do PP-VBN, postando-se daquela vez, cerca de mil metros à esquerda de Carbone que novamente tentava aproximar-se do objeto. No entanto, o globo iniciou uma nova espiral “(...) largando (...) uma enorme cauda de fogo”, desaparecendo no céu. Por causa daquilo, o comandante ainda teve que corrigir a rota de seu VBN, perdida pelo co-piloto que “involuntariamente foi iniciando uma curva para o lado da deslumbrante luminosidade”. Entretanto, depois que Fenucio Carbone preparava a sua nave para o pouso, o “insistente objeto luminoso” novamente surgia, fazendo a sua última aparição (Diário de Notícias, 30/05/1952: 12).

Depois da entrevista cedida por Carbone ao Diário de Notícias, o capitão Oswaldo de Moura, oficial do Centro de Adestramento Almirante Marquês de Leão, afirmou aos jornalistas que as Luzes no Céu eram exercícios militares da Marinha de

Guerra que, ao realizar táticas anti-submarinas, lançou paraquedas luminosos para a identificação dos navios. Mas a explicação do capitão Moura pareceu não satisfazer ninguém. Os próprios pilotos das linhas comerciais duvidaram daquela declaração, alegando que a “zona onde se deu a aparição não é usada para exercícios por ser de intenso tráfego aéreo comercial”. E se o mesmo “(...) se tratasse (...) de [um] para-quedas luminoso, ele só poderia perder altura e nunca subir em espiral, descrevendo giros completos e até parar no ar” (Diário de Notícias, 30/05/1952: 05). Era claro que a imprensa cobria somente aquilo que lhe interessava cobrir, pois nada na documentação mencionou qualquer verificação dos ventos naquela noite. De qualquer forma a imagem mental do disco voador estava presente no imaginário social da época: as Luzes no Céu só poderiam ser astronaves alienígenas – ou soviéticas ou de outros planetas. E a imprensa e os governos auxiliavam naquelas construções.