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A Trajetória do Desenvolvimento Económico em África 3.1 Enquadramento Introdutório

O desenvolvimento de uma região depende das características geográficas, da extensão territorial, do passado histórico, da cultura, da população e riquezas naturais, dito isto podemos dizer que o desenvolvimento é um processo complexo que engloba aspetos económicos, psicológicos e políticos da vida em sociedade. As diferenças de desenvolvimento, de civilizações, e das assimetrias de poderes são basicamente os fatores de quebra ligados a África. A configuração geográfica tem implicações políticas e económicas, um continente com uma superfície três vezes superior à da Europa, convive com uma acentuada fragilidade das suas infraestruturas em virtude da insuficiência técnica e financeira.

Os indicadores macroeconómicos e socias de África em comparação com outras regiões do globo e apresentados de forma estática ajudam a classificar e ordenar o continente situando-o no último lugar na hierarquia económica internacional. Contudo, um processo de democratização gradual, a sucessão de elites com um grau de formação universal, o surgimento de uma sociedade civil atuante, o desenvolvimento de infraestruturas escolares, sanitárias, de transportes aéreos e marítimos trazem para os africanos nos primórdios do século XXI uma esperança diferente da vivida no período pré-colonial, colonial e da sua descolonização.

3.2 Evolução e fracasso das diferentes políticas de desenvolvimento

As evoluções das políticas de desenvolvimento em África correspondem a períodos distintos. De 1960-1975, período oficialmente marcado pelas independências com a exceção do Gana, os governos resultantes tiveram como prioridades nas suas tarefas a construção de verdadeiros Estados, o reajustamento da sua população do meio rural para o urbano, organizar a estrutura administrativa

62 de direção económica, com a agravante de não existirem quadros capacitados na época e a gestão do fenómeno do crescimento exponencial da população, bem como o inicio das campanhas de escolarização obrigatória.

Cabia então, nesta fase inicial aos Estados recém-criados a grande tarefa de criar condições de funcionamento do sistema económico adotando políticas de fomento industrial com o objetivo de minimizar as importações a semelhança do modelo Brasileiro e a política de nacionalização do património nacional. Este ciclo prolongou-se até 1973, altura em que os países que formavam a Organização dos Países Exportadores de petróleo (OPEP), pararam a sua produção, resultando da falta de oferta global que fez duplicar o preço do petróleo, consequentemente nesta fase verifica-se uma tendência de crescimento.

A etapa que se seguiu também designada de etapa de endividamento, (1975- 1985), os países africanos começam um novo ciclo resultante do fracasso do modelo de substituição das importações devido ao elevado custo das divisas da própria fragilidade dos mercados. O setor público entrou em crise e os empréstimos contraídos não financiaram o setor produtivo para sustentabilidade da economia. Este período foi até 1980-1981, momento em que se verifica o segundo choque petrolífero que permitiu sair gradualmente da crise e entrar numa fase de estabilização.

De 1980 a 2000, foi um período marcado pela implementação de políticas macroeconómicas de âmbito monetária, fiscal e orçamental, tendo como objetivo a estabilização, ou seja, a prossecução de equilíbrios financeiros. Foram praticamente 20 anos de ajustamento traduzidos em estabilização e não em termos de crescimento económico. Esta política tinha como pressupostos à desvalorização das moedas, a unificação das taxas de juro e a redução do défice orçamental. As políticas de ajustamento procuram efetuar reformas estruturais no que respeita à propriedade (privatização e liquidação das empresas públicas), ao direito, a redução dos direitos aduaneiros e à transição fiscal, que levaram a que as receitas assentassem nos impostos diretos e no valor acrescentado. Foi uma fase de transição retirando ao Estado o monopólio da atividade económica e social atribuindo-o a economia privada internacional. De economia intervencionista para economia liberal.

63 Chega-se finalmente ao último período no qual se implementam políticas de luta contra a pobreza na década de (2000-2012), início do século XXI, combinada com a diversificação das parcerias na arena internacional. Na primeira década do milénio e com os auspícios das nações Unidas à prioridade foi concedida à luta contra a pobreza, ao resgate da APD, ao desendividamento, aliadas a certas medidas estimuladoras tais como as parcerias com os BRICS, e outro conjunto de políticas que serviram de alavanca para a reconquista do crescimento económico. Porém, muita coisa falta por fazer, passados 50 anos da conquista das independências o quadro de pobreza permanece quase inalterável, os níveis de rendimento per capita são de longe os permissíveis para dar uma certa dignidade as pessoas, apesar das melhorias registadas em infraestruturas, na criação de novos produtos agrícolas comerciais, e no desenvolvimento de mercados urbanos. Mesmo com este conjunto de estratégias e de políticas de desenvolvimento modernos aplicadas, certas zonas, convivem ainda com os métodos tradicionais herdados do colonialismo.

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Parte II

O Desenvolvimento Económico como um desafio para o Direito

Enquadramento introdutório

A ajuda ao desenvolvimento entendida como expressão de uma obrigação ética universal sobre a qual fizemos referência aquando da fundamentação do dever de auxílio ao desenvolvimento permite-nos abrir um parêntesis quanto a problematização deste tema que do ponto de vista moral vai de encontro aos interesses universais de cooperação internacional para o desenvolvimento, não faltando aqueles que procuram apenas o lado conotado de incertezas protecionistas. Alinhamos a ideia de Eduardo P. Ferreira, quando nos diz, “sem negar a utilidade pontual de algumas dessas ideias, parece mais importante do que nunca afirmar a natureza ética da obrigação de desenvolvimento, num momento em que a afirmação de um mundo unipolar pode contribuir para que apenas considerações de oportunidade prevaleçam, reforçando a discriminação e o tratamento diferenciado entre os vários Estados”. A obrigação da ajuda ao desenvolvimento foi desde sempre o motivo de divergências entre os países pobres e as nações ricas, esta divisão, entretanto entendemos que deve ser banida uma vez que o dever do desenvolvimento internacional está acima de qualquer interesse de um Estado. Logo, o desenvolvimento deve ser acertado como uma questão prévia às próprias relações internacionais.

A admissão da universalidade do desenvolvimento económico como intrínseco a todas as nações, incluindo os que expõem altos níveis per capita de rendimento não deve ser assunto para discriminar os países cuja situação é totalmente diferente. Em África, existem países que vivem de privações mais elementares, este quadro implica forçosamente apoios financeiros dos países com economias em situação mais favorecida. O dever de combater as desigualdades e as suas consequências são exigências indispensáveis para concretização da justiça nas relações económicas mundiais. A Declaração Universal dos Diretos Humanos consagra nos seus princípios o Direito ao desenvolvimento económico, incorporando um conjunto de direitos nas constituições dos Estados e assegurando ao mesmo tempo a sua implementação através dos respetivos ordenamentos jurídicos.

65 O Direito ao desenvolvimento económico73 é, assim, um direito que se constitui na esfera de todos os seres vivos, mas que tem uma especial expressão nos cidadãos que vivem em situação de se puderem considerar excluídos de uma vida decente. Esse direito é um direito dirigido em primeiro lugar aos próprios Estados, todavia é, também, para à comunidade internacional.

CAPÍTULO 1 ‒ O Desenvolvimento Económico e o Direito