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Parte III A Marcha do Desenvolvimento Económico em África Realizações e Constrangimentos

Capítulo 1. A Macroeconomia dos países Africanos

1.1 Considerações gerais

A macroeconomia sendo uma área de estudo das ciências económicas, responsável pela análise dos fatores económicos de determinada região, permite fazer uma análise global visando o estudo do desenvolvimento do crescimento económico, a geração de empregos, o mercado monetário, a construção de um comércio internacional vantajoso, o estudo do rendimento e da produção, a taxa de câmbios e juros, o nível geral de preços, entre outros fatores. Neste capítulo vamos analisar as condições macroeconómicas nas diversas regiões e países de África particularmente da África Subsariana, patenteando as tendências de crescimento verificadas no passado, no presente e no futuro, tendo por base as dinâmicas vigentes ao nível internacional, regional e interno.

São examinados os principais fatores de crescimento por cada região baseados na estrutura das economias dos países de África e subsarianos. Outras questões analisadas neste capítulo pendem com as políticas orçamental, financeira e monetária, assim como o comércio intra-africano tido como componente de sustentabilidade no desempenho do crescimento e como fator de modelação da trajetória de desenvolvimento dos países africanos futuramente. Uma visão positiva de África leva-nos a confluência de ideias partilhadas entre intelectuais, académicos, políticos, economistas, juristas, psicólogos, Organizações internacionais, sedeadas no continente e fora deste a ideia latente de que África é o continente do futuro. Esta

92 visão futurista enfrenta, todavia, três fatores cruciais que devem ser ultrapassados, já referidos em capítulos anteriores, onde sobressaem o fator demográfico, político e o endividamento. A democracia é um desafio permanente no continente, e a sua experiência coloca os países em estágios de maturidade diferentes. Nos Estados da União Magrebina ela é diferente entre os seus membros, o Marrocos e o Egipto lideram a região. Na África subsariana se passa exatamente o mesmo não há semelhança na sua generalidade, porém ao nível dos países anglófonos constata-se alguma uniformidade.

A saída pacífica de alguns líderes africanos representa uma vantagem histórica no domínio da democracia comparativamente ao mundo Árabe, esta inversão do quadro coube a ação prática tomada pela UA, posicionando-se contra os golpes de Estado, favorecendo a implantação dos atos eleitorais. Alguns focos de instabilidade ainda pairam um pouco em todo o continente, só para citar um exemplo temos o caso do conflito étnico-religioso na RCA, onde os grupos rebeldes muçulmanos desencadearam entre 2012 e 2013 um massacre contra os cristãos, a Nigéria com cerca de 182 milhões de pessoas deixou para trás a triste rotina de golpes de Estado. Os fatores como o terrorismo e a corrupção constituem sérios entraves para o desenvolvimento económico e social em África.

A consolidação do Estado de Direito Democrático vai-se ganhando paulatinamente nos países outrora afetados. A maturidade da democracia em África continua a inspirar cuidados, pois em muitos países africanos os atos eleitorais chegam a ser conflituosos e instáveis gerando uma escalada de violência como o que aconteceu no Congo, Uganda, Ruanda, Burundi e os aflitivos casos em Moçambique um país por sinal da lusofonia onde a alternância da liderança é motivo de disputa, afluindo em atos de guerra pela simples razão da limitação constitucional de mandatos. O dinamismo económico e político engendrado por algumas Nações africanas leva-nos, não obstante aos aspetos menos bons retratados no computo da democracia observar as alterações ocorridas. A África do Sul, a Nigéria, Angola, Quénia, Marrocos, Egipto, são sem sombra de dúvidas a força motriz do continente, liderados pela África do Sul, dado o seu substancial desenvolvimento socioeconómico e político. A Nigéria aposta seriamente na industrialização substituindo as importações e dando primazia ao consumo interno em detrimento do

93 mercado internacional. Assim, tendo em conta a maturidade e a trajetória de desenvolvimento económico podemos agrupar o continente em três grupos político económicos de destaque103:

• Grupo A: África do Sul, Nigéria, Marrocos, Egito, Quénia, Etiópia, Cabo Verde, Angola, Ruanda e Namíbia.

• Grupo B: Zâmbia, Zimbabwe, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Gana, Guine Equatorial, Gabão e Camarões.

• Grupo C: Níger, Guiné-Bissau, Mali e Chade.

Um prestigiado economista e professor da escola de economia de Paris, Daniel Cohen, na sua reflexão apontou ironicamente que “o destino trágico de África” se deve a três fatores: a exploração da mulher, das terras e a corrupção das elites104. Merece especial atenção a análise do último fator como principal geradora do atraso económico. As Nações africanas são exploradas exclusivamente pelas elites políticas e económicas ligadas ao poder, assim foram os casos da RDC, a própria Nigéria cuja exploração do petróleo ao longo dos anos da governação em nada beneficiou a transformação do país. Partindo da classificação dos fatores de produção (trabalho, capital e o progresso técnico), e aplicado este modelo em África notamos com clareza a existência de divergências, faltam recursos humanos, materiais e financeiros que suportem o tão almejado estádio de desenvolvimento. As economias africanas precisam de uma performance dos seus recursos, a semelhança dos países asiáticos, pois estes conquistaram a riqueza não por inspiração, mas sim pelo suor vertido pelos seus cidadãos. O estágio do desenvolvimento só poderá ser atingido em África se as altas taxas de crescimento do PIB traduzirem-se em transformação socioeconómica estrutural.

103Cfr., Adebayo Vunge, Pensar África, 1.ª edição, Editora Rosa de Porcelana, Lisboa, abril de 2017, p. 35. 104 Idem, p. 36.

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