• Nenhum resultado encontrado

A trama urbana e o Plano de Extensão

A Cidade dos Anos 30 A construção dos espaços públicos

4.1 A EXPANSÃO E A TRAMA

4.1.2 A trama urbana e o Plano de Extensão

“João Pessôa é uma das poucas cidades que possuímos com um pittoresco tão accentuado dentro de seu conjuncto regional inconfundivel. Ella tem recursos naturaes para ser mais linda. O mar, o rio, a planicie e a montanha, juntaram-se, pedindo a mão do homem para harmonizal-a. (...) Faltava, porém, o plano coordenador que unificasse o rythmo e realizasse a obra de conjunto que deve ser o plano de uma cidade” 347.

341 Nestor de Figueiredo trabalha, naquele momento, no Plano de Remodelação do Bairro de Santo Antônio e no Plano de Remodelação

e Extensão da Cidade do Recife, ambos apresentados em 1932.

342 “Urbanização de João Pessoa e Cabedelo” A União. João Pessoa, 10 mar 1932, n. 56, p. 1.

343 Nos anos 10 e 20, a cidade passa por alterações no seu meio urbano, as quais se tornam, gradativamente, mais intensas. A

profusão de demolições, ruas abertas, alinhadas, alargadas, criação de praças, etc, de forma geral não faz parte de um plano urbanístico, mas de uma intenção administrativa de alteração geral da trama urbana, que é feito por partes, sem um estudo que as una. A exceção dessa atuação é o plano elaborado por Saturnino de Brito em 1913 e implantado entre 1924 e 1926. Executado em meio a muitas ações pontuais, esse plano é mais direcionado ao sistema de saneamento, além de não pensar uma grande área de expansão, como o fez Nestor de Figueiredo. Assim, a proposta deste urbanista é aqui abordada como pioneira nessa visão global da cidade e de sua extensão futura.

344 LEME, Maria Cristina da Silva (org.). Urbanismo no Brasil – 1895-1965. Salvador: Edufba, 2005, p.20 – 38. 345 OSELLO, Marcos Antônio. “Planejamento urbano em São Paulo: 1899-1961. Revista Projeto. n. 87 ano 1986. p. 81. 346 Ibid.

A idéia de instituir uma nova ordem às cidades, direcionando seu crescimento, ganha crescente espaço entre os urbanistas do século XX. Nas décadas de 1920 e 1930 as referências urbanísticas européias ainda prevalecem entre os urbanistas paulistanos. Porém, Anhaia Mello é um dos principais profissionais que defendie a adesão ao urbanismo americano, onde se destaca a organização de governo aos instrumentos e planos. É incentivada a elaboração de planos, cuja principal referência é o Regional Plan of New York and its Envirom, de 1920. As idéias nele contidas difundidas por Anhaia Melo ao longo de trinta anos, apresentando-se posteriormente em sua proposta “O Plano Regional de São Paulo - uma contribuição da universidade para o estudo de Um Código de Ocupação Lícita do Solo”, apresentada em 1954. Assim, a década de 1930 pode ser considerada um momento importante de difusão do urbanismo americano entre profissionais brasileiros. Essa referências é visível nos textos de profissionais brasileiros, influenciando também os planos e a formação profissional de urbanistas.

Nesse momento, outros centros urbanos, como Rio de Janeiro, Recife e São Paulo passam por reformulações de grandes dimensões. O caso de São Paulo tem como um dos focos o Plano de Avenidas, elaborado por Prestes Maia e publicado em 1930. Esse plano é responsável pela abertura e alargamento de avenidas para promover a “ampliação do centro e a ligação com bairros dele distantes, ocasionando a demolição

de um grande número de construções e a escalada dos preços dos terrenos em seu entorno”348.

Delimitar áreas para usos específicos e estudar a forma de interligá-las torna-se algo cada vez mais recorrente, contribuindo, principalmente nos anos trinta, para a prática e divulgação do zoneamento, que tem na figura de Anhaia Melo um grande difusor. Acompanhando essa questão a nível internacional, principalmente quando se trata dos Estados Unidos, ele a divulga em São Paulo, através de seus estudos urbanísticos, já nos anos 20, colocando-a em prática nos anos 30, através da implantação de leis de zoneamento. Segundo ele, o zoneamento busca evitar o caos na Metrópole, promove a garantia da propriedade, evita densidades incovenientes e promove o trânsito fluido e descongestionado.

“Nada mais detestável sob todos os pontos de vista, do que, numa avenida de palacetes senhoriaes, bombas de gazolina e engraxatadores de automóveis; as esquinas, que são, justamente os pontos de melhor perspectiva, manchadas de armazens, vendas e emporios; garagens alternando com escolas; fabricas e officinas entremettidas com residencias e mais disparates”349.

Grande conhecedor do urbanismo americano, Anhaia Melo admira a experiência americana de envolvimento da população civil na ordenação da cidade, considerando o urbanismo uma questão de educação. Nesse sentido, defende a idéia que as leis e os planos devem ter o apoio do poder público e da população. Sua intenção é conter o crescimento da cidade, utilizando-se, inclusive, do cinturão verde como elemento de contenção, pois ao seu ver, o crescimento indefinido da cidade é patológico, gerando sua decadência.

Prestes Maia tem outra postura diante do crescimento da cidade: “... defende o esgotamento das

potencialidades ainda não exploradas da metrópole e a remoção dos problemas por meio de novas obras e novos planos”350, ou seja, promover um ajuste permanente e contínuo da metrópole às novas exigências da sociedade. Para ele, não se deve evitar o crescimento das cidades, mas possibilitá-lo através da implantação de uma infra-estrutura adequada. Assim, entende que reformas, cirurgias e remodelações de serviços são inerentes ao processo de crescimento ordenado da cidade. No Plano de Avenidas, introduz a questão do zoneamento, sugerindo áreas de maiores possibilidades de verticalização e de instalação de atividades específicas.

348 FELDMAN, Sarah. Planejamento e Zoneamento. São Paulo: 1947-1972. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/Fapesp,

2005, p. 18.

349 Anhaia Melo, apud FELDMAN, Sarah. Planejamento e Zoneamento. São Paulo: 1947-1972. São Paulo: Editora da Universidade de

São Paulo/Fapesp, 2005, p. 32.

Dissertação de Mestrado - Maria Cecília Almeida

131

Capítulo 4 - A cidade dos anos 30: a construção dos espaços públicos segundo os interesses expansionistas Na Paraíba, elaborado por Nestor de Figueiredo em 1932, o plano de Remodelação e Extensão da Cidade João Pessoa, é o primeiro passo nesse sentido. Nele, percebe-se um forte caráter viário e a intenção preliminar de zonear a cidade, em consonância com os trabalhos executados em outras capitais. Nestor de Figueiredo é enfático ao anunciar a importância dessas questões:

“... não se admite nem um nucleo de população superior a dez mil habitantes que não tenha organizado o seu plano de remodelação e desenvolvimento systematico, da mesma forma as cidades actuaes não surgem mais ao acaso, desenvolvendo-se em torno da sinuosa estrada de origem”351.

Na Paraíba, essas questões são difundidas nos jornais locais, a exemplo dos artigos publicados por Josa Magalhães, que esclarece questões sobre o urbanismo, sua natureza e suas formas de atuação nas cidades:

“Sob o duplo aspecto de sciencia e arte, póde ser elle [o urbanismo] considerado. Como sciencia trata da construcção das cidades, discutindo os phenomenos de ordem espiritual, economica, social e política. Como arte se interessa pelo traçado das ruas, a disposição das praças e a physionomia das edificações”352.

A divulgação do pensamento urbanístico nos jornais locais busca legitimá-lo, influenciando a receptividade das intervenções por parte da população, que passa a assimilar os novos ideais em relação à configuração da cidade. Assim, os discursos urbanos, associados às intervenções promovidas pelas administrações, ampliam o campo de atuação dessa disciplina, incluindo novas localidades, a exemplo dessa capital, na ordem do dia da história urbana brasileira, como explicita Nestor de Figueiredo:

“A cidade de João Pessoa e a villa de Cabedello vão incorporar-se ás organizações urbanas universaes e constituirão, com mais algumas cidades do Brasil, a vanguarda do movimento urbanista de nossa patria” 353.

O Plano de Remodelação e Extensão da cidade de João Pessoa é, de certa forma,legitimado por matérias sobre urbanismo divulgadas nos jornais locais, que reivindicam uma nova postura administrativa em relação à intervenção e ao direcionamento do crescimento dessa cidade. Os discursos são reforçados por críticas à estrutura urbana local, diretamente relacionadas à falta de planejamento.

São vários os críticos locais que apresentam, nos meios de comunicações, uma relação entre o contexto urbano paraibano e as intervenções realizadas em outras partes do país. Nesses discursos, fica explícita a troca de conhecimento de profissionais locais e de outras regiões a respeito das inovações urbanísticas, como se constata nos artigos de Josa Magalhães. Nestor de Figueiredo, em um momento anterior, trabalha com Alfredo Agache, experiência que influencia em seus planos posteriores. Também “entrou na discussão da

urbanística moderna recifense ao apresentar um esboço de um plano urbanístico para a cidade no IV Congresso de Arquitetura, realizado no Rio Janeiro em 1930”354. Na passagem pela Paraíba, detém-se a três casos: João Pessoa e Cabedelo, Campina Grande e Brejo das Freiras. Sua atuação é de grande representatividade nas análises urbanísticas desse momento, como apresenta o jornal A União:

“Dr. Nestor de Figueiredo, que é engenheiro architecto laureado pela Escola Nacional de Belas Artes, presidente do Instituto Central de Architectos, da Associação dos Artistas Brasileiros, já ocupou idêntico posto em várias outras comissões nacionaes e internacionaes, nos domínios de sua especialidade, tendo, ultimamente sido convidado para presidir a comissão designada

351 “O Plano de Desenvolvimento Systematico desta Capital e da Villa de Cabedello”. A União. João Pessoa, 4 fev 1932, n. 27, p.1. 352 MAGALHÃES, Josa.“Urbanização de João Pessoa e Cabedelo”A União. João Pessoa, 15 mar 1932, no 56, p.1.

353“O Plano de desenvolvimento sustematico desta capital e da villa de Cabedelo”, op.cit., p.1.

pelo nosso conterraneo dr. José Américo de Almeida, ministro da Viação, a fim de estudar a localização e programma para elaboração dos planos do futuro Palácio dos Correios e Telegraphos do Rio de Janeiro. Tem ainda s. s. a laurear-lhe o nome outras honrosas designações, obtendo medalha de ouro na VI Exposição Pan-Americana de Architectura, Primeiro Premio no concurso para o monumento à Marinha, Grande Prêmio na Exposição Internacional do Centenário, etc. Membro fundador e honorário de diversas associações de Architectura do país e do estrangeiro, o nome do dr. Nestor de Figueiredo está assim ligado ás mais honrosas iniciativas e organizações daquele gênero”355.

Essa forma de apresentar o urbanista no jornal da cidade em que está intervindo, expondo um currículo extenso e “vitorioso”, com ampla atuação na área e projeções e nacional e internacional, reflete a intenção de anunciar o momento de prosperidade administrativo e sua sintonia com os acontecimentos urbanísticos de outras localidades. Essa imagem é reforçada pela ênfase dada, nessa mesma matéria, à utilização de um avião da Marinha de Guerra para possibilitar ao urbanista uma visão global da área a ser estudada.

Em relação à capital paraibana, ao apresentar um esboço do plano em duas plantas à Comissão do Plano, no dia 9 de março de 1932, o urbanista deixa claro “não se trata[r] de uma iniciativa de execução

immediata”356. A intenção é finalizá-lo ao longo de um ano de estudos e combinações, acompanhados de relatórios parciais fornecidos pela Comissão, com sugestões de ajustes e modificações.

A Comissão do Plano da Cidade, segundo Prestes Maia, tem caráter cívico e é “destinada a traduzir as

necessidades e aspirações mais geraes da população, propagar a idéa, zelar pela regularidade dos estudos e pela execução do plano”357. Deve ter perfil técnico, com profissionais de vários ramos e um urbanista chefe, que deve coordenar as atividades e introduzir idéias próprias. Seu corpo técnico deve ser dividido em duas secções, consultiva e de serviço, e dispor da colaboração das repartições públicas.

A Comissão do Plano da Cidade de João Pessoa é apresentada à população através do jornal A União no dia 9 de março de 1932. Segundo Fábio Gutemberg, “nela tinham assento todos os grupos e instituições a

quem aqueles senhores atribuíam interesse pelo empreendimento”358. É formada pelo governador Antenor Navarro, pelo prefeito Borja Peregrino, o arcebispo, diretores de obra do estado e do município, diretores de saúde, água e esgoto, ensino primário, Escola Normal, Lyceu Paraibano, presidentes da Sociedade de Medicina, do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, diretores de diversos jornais, representantes do comércio, da indústria e dos proprietários, gerente da Empresa de Tração Luz e Força, o capitão dos portos e um representante das classes operárias. Esse último incluído na Comissão três meses após essa apresentação no jornal.

Durante a sua passagem pela cidade de João Pessoa, Nestor de Figueiredo expõe suas observações a respeito dessa capital e apresenta à população, através do jornal local A União, o plano por ele elaborado. Em seu discurso, o urbanista explicita suas preocupações, declarando que seu trabalho é de natureza “social, hygienica, economica, e esthetica” 359. O plano apresentado abrange a área existente da cidade de João Pessoa, uma grande área de expansão e a vila de Cabedelo, sendo as maiores e mais enfáticas intervenções as propostas para a área de expansão da capital.

Na intervenção proposta por Figueiredo, a cidade é organizada em duas áreas, “cidade existente” - área urbana já consolidada e objeto de intervenções anteriores, para a qual ele faz indicações para intervenções pontuais – e “cidade futura” - área proposta para expansão do tecido urbano -, esta formada por núcleos de

355 “O Plano de Desenvolvimento Systematico desta Capital e da Villa de Cabedello”. A União. João Pessoa, 4 fev 1932, n. 27, p. 1. 356 “Urbanização de João Pessoa e Cabedelo”A União. João Pessoa, 10 mar 1932, n. 56, p. 1.

357 MAIA, Prestes, AZEVEDO, Washington. Relatórios dos Drs. Prestes Maia e Washington Azevedo sobre os trabalhos do Dr.

Nestor de Figueiredo. Recife: Prefeitura do Recife e Livraria Imperatriz, p. 4.

358 SOUSA, Fábio Gutemberg Ramos Bezerra de. Cartografia e Imagens da Cidade: Campina Grande – 1920-1945. Campinas:

Universidade Estadual de Campinas, 2001 (Tese de doutorado), p. 248.

Dissertação de Mestrado - Maria Cecília Almeida

133

Capítulo 4 - A cidade dos anos 30: a construção dos espaços públicos segundo os interesses expansionistas atividades articuladas pelo sistema viário, estendendo-se até a região praieira.

Um dos primeiros pontos comentados pelo urbanista em relação a esse plano é a respeito da entrada na cidade pela estrada de ferro Great Western que vem do interior, apresentada por ele como de “aspecto defeituoso

e pouco attrahente”360. Esse é um dos pontos que denuncia a postura estética do urbanista, que fica evidente em vários outros aspectos dessa mesma proposta. Essa é uma questão comum a muitos planos desse período, a exemplo do plano elaborado por Agache em 1930 para o Rio de Janeiro, denominado de remodelação e embelezamento.

Para alterar a aparência da entrada da capital pela estrada de ferro, Nestor de Figueiredo propõe modificações na área baixa da cidade, próxima ao rio Sanhauá, sugerindo, inclusive, o recuo da estação Great

Western. Para essa área, onde se encontram terrenos devolutos, o urbanista apresenta uma grande esplanada

e a praça da estação, denominada no plano de Praça de Desembarque, com objetivo de promover “a melhor

impressão para as pessoas que chegam aqui pela primeira vez pela via ferrea”361. Em relação aos usos, destina essa área baixa da cidade às atividades da indústria e do comércio: bairro comercial, setorizado em armazéns grossistas na região mais próximo ao rio, e comércio a varejo na parte mais próxima à cidade; mais adiante da estação, reserva para a implantação de estabelecimentos industriais. A parte alta da cidade fica destinada aos núcleos comerciais de bairro e às zonas residenciais, que se estendem em diferentes regiões, inclusive com a indicação de um bairro jardim em Cruz das Armas, região das Trincheiras. Essa disposição segue a ocupação inicial da cidade, onde a parte baixa é destinada às atividades portuárias e comerciais, e a parte alta à habitação, administração e clero.

As indicações de setorização, comentadas pelo urbanista na apresentação do plano, encontram-se em uma planta de zoneamento e são organizadas “a fim de que as atividades de uma não prejudiquem o trabalho

da outra”362. Ao que se percebe nos artigos publicados na imprensa local, Nestor de Figueiredo descreve sua proposta a partir de um plano preliminar, com várias questões apontadas mas nem todas definidas de forma exata. Um dos pontos que, no momento da entrevista de apresentação do plano, não está detalhado é a planta de zoneamento. O plano apresentado naquela ocasião ainda é um documento preliminar, constando de idéias gerais e da promessa de serem, posteriormente, complementadas de forma mais detalhada.

Também faz parte dessa proposta a ampliação das ligações entre as cidades baixa e alta, criando novas vias que seguem os caminhos de menores inclinações entre as duas cotas. Mas é na parte referente à área de expansão da cidade que o plano propõe maiores intervenções, abrangendo a região a partir do Parque Solon de Lucena em direção à praia. Dele, segundo o plano, partem avenidas arborizadas com áreas diferenciadas para os tráfegos de veículos, pedestres e equitação, em concordância com a praça Vidal de Negreiros, que por sua vez se liga à Lagoa por uma avenida larga, formalizando, nesse conjunto, a união da cidade antiga com a área de expansão, articuladas pela avenida circular que contorna a Lagoa.

A ênfase dada ao sistema viário, atribuindo-lhe a função de ordenar a cidade e conduzir seus usos e ocupações em setores diferenciados, é comum aos planos desse período. Da mesma forma, a hierarquia das vias, destinando-as a usos distintos, é uma característica desse urbanismo moderno. Nesse sentido, a terceira perimetral do plano de Prestes Maia para São Paulo é composta, principalmente, pelas marginais do Tietê e Pinheiros, onde “à margem direita do rio Tietê seria reservada às vias férreas e à esquerda destinada à

circulação de luxo com calçamento, arborização e iluminação apropriadas”363. Da mesma forma, a avenida Centenário, construída em 1949, em Salvador, tem

360 “Que será de futuro a cidade de João Pessoa”. A União. João Pessoa, 2 out 1932, p.3. 361 Ibid.

362 Ibid.

“Sua concepção base[ada] nas chamadas parkways e caracteriza-se por ter duas pistas em cada sentido, com canteiro central, onde, no talvegue corre um riacho que coleta as águas pluviais da bacia. Esse eixo central é ladeado por pista de acesso local às edificações residenciais”364.

Ao longo do sistema viário proposto para a capital paraibana, são Indicadas a locação de centros de atividades propostos. Da Lagoa, a avenida-parque se bifurca em direção ao Centro Cívico, que é destinado à administração do Estado, e ao Centro Universitário, ambos propostos pelo urbanista. A área em torno do Parque Sólon de Lucena é destinada ao Centro Municipal, cujos serviços são de contato mais direto com a população. Entre os centros Universitário e Municipal é locado o Bairro de Saúde, próximo à Maternidade e ao Hospital de Isolamento já existentes. No Centro Municipal, onde se dá a bifurcação viária para outros centros, Nestor de Figueiredo prevê a construção de um “Arco do Triumpho do Presidente João Pessoa”365, visível tanto a partir da ramificação viária para os centros como na região da praça Vidal de Negreiros. Esse elemento aponta o caráter monumental da proposta do urbanista.

Essa característica também é apresentada pela disposição formal dos centros, integrados às parkways e em evidência no conjunto devido à locação e escala de seus elementos que enfatizam sua importância funcional e sua hierarquia sinalizada pelo nível de destaque no tecido urbano e nas proximidade do parque. Considerando a lagoa o elo entre a área consolidada da cidade e sua região de expansão, nela fica o Centro Municipal, de maior acessibilidade e visibilidade. O direcionamento dos demais centros segue a partir de uma avenida congruente à que liga a praça Vidal de Negreiros ao Parque Solon de Lucena, localizada na região de expansão. Assim, o trajeto entre as duas porções da cidade apresenta uma linearidade articulada e não interrompida pela Lagoa, que possibilita, diante da área urbana ainda de pouca ocupação, uma relação visual dos centros com o parque e com a cidade consolidada, que se encontra em região mais alta que a área de expansão . O Centro Municipal é o foco das perspectivas urbanas, o que valoriza sua visibilidade diante dos demais conjuntos que são organizados segundo uma hierarquia referente às funções que eles abrigam: Centro Municipal, Centro Cívico, Centro Universitário, Centro de Saúde; e na parte antiga da cidade a Praça de Desembarque.

Plano de Remodelação e Extensão da Cidade de João Pessoa. FONTE: Jornal A União (Vermelho - Centro Municipal, amarelo - demais