3 A ESTÉTICA COMO UM FIM EDUCATIVO E NÃO COMO UM MEIO
3.3 UMA EDUCAÇÃO ESTÉTICA HARMONIZADORA DO SER HUMANO
3.3.1 A transdisciplinaridade da experiência estética
Nos primeiros filósofos o conhecimento não era fragmentado. Pitágoras foi o
primeiro a descobrir a ordem das coisas e criou um mundo com uma ordem religiosa
moral e política, não unicamente matemática; onde os números naturais existem
eternamente, fora do espaço e do tempo. O Universo inteiro é feito por formas e os
matemáticos procuram a compreensão dessas formas harmônicas.
A matemática, desde o Renascimento, tem três classes de símbolos
operacionais, que são “cifras”, os signos de grandeza variáveis (a, b e x) e os de
operações (+, -, :, x). A matemática grega, por sua vez , não possui signos numéricos
especialmente conhecidos, pois o alfabeto indica ao mesmo tempo: a) os sons da
língua, b) os números e c) o tom na música. Matematicamente falando, logos
significa “relação” entre duas grandezas. Primeiramente, isso quer dizer que a
indicação de uma tal relação só pode ocorrer em uma construção da língua; e isso
significa que a expressão é pensada aqui como idêntica a seu conteúdo. (TOMÁS,
2002).
Se a educação está preocupada por uma prática interdisciplinar e não
descobre esses elementos na natureza da arte que são comuns à ciência, pouco
juntá-las numa prática tendo a ciência com o conteúdo e a arte como um meio
didático ou pano de fundo que facilitará a compreensão da primeira.
A música, como as outras disciplinas matemáticas, é em todos os seus
aspectos vinculada ao sistema de números. O que se pode dizer em linhas gerais é
que o pensamento musical grego concebe o fenômeno musical de um modo
complexo e multiforme, visto que entre os gregos a música mantinha vínculos muito
íntimos com a medicina, a astronomia, a religião, a filosofia, a poesia, a métrica, a
dança e a pedagogia. Portanto, é necessário um esforço mental muito grande para
penetrar nesse universo musical, assim como abandonar qualquer juízo que
tenhamos sobre a música dentro de nossa civilização. (TOMÁS, 2002).
Em Homero, a música abarca não apenas funções recreativas, como ainda
ético-cognitivas, pois era indispensável no acompanhamento do canto ou da dança,
também um meio para colocar em evidência, suscitar sentimentos ou recordar
situações peculiares, ou mesmo essencial na educação da classe aristocrática.
Acentua-se a idéia de que a música, a arte, exerce uma direta e profunda influência
sobre os espíritos e, por conseqüência, sobre a sociedade em seu conjunto: desta
crença, o ajuste dos mundos musicais a determinados éthoi (éthos), ou seja, a
diferentes caracteres ou estados anímicos, atribuindo à música uma função
educativa.
Nos antigos tratados de teoria musical, encontram-se discussões sobre
metafísica, ciência, ética, educação, política, religião, bem como questões mais
No entanto, “questões musicais são também encontradas em escritos sobre
matemática, cosmologia, poética, retórica, arquitetura ou estética; temos ainda
noções mais gerais sobre música presente na literatura e na poesia” (TOMÁS, 2002,
p. 13).
Schiller pensa na arte de maneira transdisciplinar, este pensador se preocupa
por estabelecer uma harmonia entre o conhecimento técnico, científico e o estético e,
para cumprir este objetivo este autor propõe a educação do que ele denomina: o
gosto. Através da educação do gosto o ser humano se encontrará capaz de perceber
a ciência e uni-la a uma experiência pessoal e única que é a emocional, a união
destes dois elementos constitui a experiência estética, o estímulo que unifica é a
procura da beleza.
Para Schiller, o mundo da arte e da beleza é um mundo das aparências, mas
esta aparência estética é uma aparência honesta, porque não pretende ser outra
coisa senão aparência. Mas, pertencer ao mundo das aparências não significa que o
mundo da arte seja inferior ao mundo real, pelo contrário, Schiller coloca a aparência
estética em hierarquia superior à do mundo real (SUASSUNA, 2002, p. 79), porque
ela transborda as limitações dos sentidos e se une à imaginação.
A arte nos ensina muito sobre nosso próprio universo e nossas sensações, de
um modo específico que não fica no discurso, senão que, vai direto à experiência, ao
contacto com a obra de arte que é a que refina nosso espírito (COLI, 1988, p. 111). A
razão está intrinsecamente presente no objeto artístico, mas a obra artística possui
sua obra por diversas modalidades e, na obra de arte ele mistura conhecimento e
intuição.
Embora para Schiller a natureza seja o grande modelo de beleza e um
mistério a ser constantemente desvendado pela razão científica, ela não é capaz de
significar, ela não tem a autonomia do signo porque é só do homem a tarefa de criar
representações. A ciência através da razão pura não pretende criar arte, porque ela
não pretende ir além da natureza, a ciência está limitada pelos fatos. Mas, se ciência
se junta à intuição pode chegar à experiência estética. A intelecção e a sensibilidade
são as matérias primas do ser humano. A arte constrói com elementos extraídos do
mundo sensível, um outro mundo, fecundo. Na obra de arte há uma organização
astuciosa de um conjunto complexo de relações lúdicas, um mundo único feito a
partir do nosso.
Na experiência estética, a imaginação manifesta o acordo entre a natureza e o
sujeito, numa espécie de comunhão, a via de acesso é a razão e o sentimento, que
formam uma experiência lúdica. O artista não escolhe o seu meio (vídeo, pintura,
dança etc.) como um material externo e indiferente, ele tenta dominar de maneira
técnica o meio para poder integrá-lo com a sua intenção e plasmar ambos na obra de
arte. Para o artista, as palavras, as cores, as linhas, as formas e desenhos, os sons
(timbre) dos diversos instrumentos não são somente meios materiais de produção,
são condições do pensar artístico, são momentos do processo de criação.
A arte não isola um a um, os elementos da causalidade, ela não explica, mas
substitui a causalidade científica, nem que ela se encontra em oposição à ciência.
Nem que a arte explica de outro modo, nem que anula a explicação científica. (COLI,
1988, p. 110). A arte utiliza a ciência para criar, vale-se dela para expressar a
linguagem artística. A ciência e a técnica não constituem um fim para a arte, mas sim
um meio de poder chegar a expressões cada vez mais sofisticadas tecnicamente,
como no caso da música clássica.